Você conseguiria viver 2 anos em uma árvore para salvá-la?
Esse texto foi escrito com todo o cuidado e carinho por um autor convidado. O conteúdo é da sua responsabilidade, não refletindo, necessariamente, a opinião do WeMystic Brasil.
Dois anos. Foi esse o tempo que a ambientalista Julia Hill levou, vivendo em cima de uma árvore, para conseguir salvá-la da morte. Você pode estar pensando “era só uma árvore, eu hein”. Mas não. Falamos de uma sequoia milenar, uma árvore que havia nascida há mais de 1.500 anos. Para a ambientalista Julia, era inaceitável que essa entidade sagrada fosse derrubada por uma, adivinhem, madeireira.
“Somos os ancestrais do futuro. Qual você que quer que seja seu legado?”
Essa ideia de subir em árvores para evitar sua derrubada nasceu na década de 70, e muitos ambientalistas já fizeram o mesmo que Julia. Mas o protesto de Julia foi o mais longo de todos. Felizmente, não foi em vão.
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Maiores seres da Terra: a floresta de gigantes
Não há ser vivo neste planeta maior que as sequoias. Elas são as árvores mais altas e antigas da Terra, consideradas fósseis vivos, pois vivem milhares de anos.
Elas existem por todo o globo e vem sendo plantadas especialmente em Portugal e na região Sul do Brasil para fins ornamentais. Mas os exemplares mais antigos dessa espécie estão nos Estados Unidos, na Califórnia. É no Redwood Park que está a sequoia mais alta do mundo: com incríveis 128 metros de altura, ela é mais alta que um prédio de 30 andares. E o mais incrível é que ela pode ter mais de 4 mil anos de vida e continua crescendo.
Elas são de fato impressionantes e há quem afirme que são sagradas. Você duvida?
Maldição das madeireiras
Desde que os ocidentais chegaram aos Estados Unidos, as sequoias estão ameaçadas. Os colonos chegaram à costa oeste dos Estados Unidos com machados, serrotes e dinamite, dispostos a extrair todas as riquezas da região. E isso incluía derrubar algumas árvores. E derrubar essa entidade não era tarefa fácil: eles chegavam a levar mais de 3 dias e precisar de muitos homens para abater uma única árvore. Para os povos nativos era como se arrancassem a sangue-frio pedaços do coração do planeta…
Isso nunca mais teve fim. Apesar de terem sido criados parques para proteger essas gigantes, as madeireiras ainda perseguem essas árvores sem pudor. Aliás, consciência é o que esse tipo de empresa não possui em parte alguma do mundo; devastam, invadem florestas virgens, promovem queimadas… Por onde passam deixam um rastro de morte. Mas uma delas, a Pacific Lumber Company, não contava com a força da ativista Julia Hill, que venceu uma longa guerra contra a empresa. Eles queriam derrubar a sequoia de mais de 1.500 anos, mas Julia estava determinada a impedi-los.
Tudo começou em 1997, quando Julia vivia com ambientalistas no condado de Humboldt, no norte da Califórnia. O grupo estava precisando de alguém para ocupar uma árvore e enfrentar a madeireira que estava destruindo a região. Julia se ofereceu, pensando que só teria que subir na árvore por no máximo um mês, e prometeu que só desceria dela quando ela estivesse a salvo. Mas quem só pensa em dinheiro não desiste fácil quando encontra oposição: a guerra contra a empresa durou 738 dias, tempo que Julia viveu em cima da sequoia que apelidou de Luna.
Chuva, neve, vento e um pedaço do céu
Julia usou uma corda de escalada, suas mãos e seus pés para escalar o tronco de 55 metros de altura. Sua casa agora era uma plataforma de 2,5 por 1,5 metros, colada no céu bem no meio a uma floresta de árvores gigantes. Após 1 ano Julia conseguiu “reformar” sua casa, e a antiga plataforma do tamanho de uma cama de solteiro cresceu e ganhou uma proteção de lona plástica. Julia podia, finalmente, se dar ao luxo de adormecer em um saco de dormir com um “teto” sob sua cabeça. Ela se alimentava através de uma corda, que içava a comida que seus amigos levavam. Ela mantinha contato com mundo através de um telefone que funcionava com energia solar, então, não se sentia tão só. Ela podia, inclusive, dar entrevistas para divulgar o protesto. Porém, quando o tempo fechava, Julia enfrentava seus piores momentos. Segundo ela relatou em entrevistas, era muito úmido e frio lá em cima. Mesmo com a lona plástica, a neblina penetrava e a chuva encontrava buracos pelos quais pingava dos galhos. Se fazia calor, ela cozinhava. Quando fazia frio, morria de medo de congelar, literalmente. Ela suportou tempestades com ventos de até 150 quilômetros por hora, chuva, granizo e neve. As condições climáticas eram tão intensas que ela sofreu queimaduras severas porque não conseguiu se secar ou se esquentar por semanas.
E não era só o clima que atormentava Julia. A madeireira conseguia ser uma inimiga ainda pior. Eles tentavam de todas as formas fazê-la sair da árvore. Conseguiam interromper o fluxo de alimentos e Julia ficava com fome. Tocavam, dia e noite, buzinas estridentes para torturar a ativista e não permitir que ela dormisse. A cada semana encontravam novas formas de abalar o psicológico de Julia e fazê-la por fim ao protesto. Julia também passava horas ouvindo serras elétricas cortando outras árvores e também os machados que usavam para fazê-las cair. Um inferno, conta a ativista. Humana, Julia diz que pensou em desistir muitas vezes, mas a natureza encontrava formas de motivá-la: “Seja uma resposta da natureza, alguém chegando inesperadamente com algum tipo de presente, ou um urso passando pela floresta comendo frutas vermelhas.”
Após 2 anos, a madeireira só cedeu a um acordou quando ativistas ofereceram 50 mil dólares para preservar a região e a Luna, claro. Julia persistiu por todo esse tempo, mas foi o dinheiro que fez a empresa encerrar a guerra e assinar um documento garantindo que nem a sequoia Luna e nem as árvores a sua volta seriam cortadas. Júlia, então, finalmente desceu da árvore e colocou seus pés no chão. Logo depois sua saga virou livro: O Legado de Luna. A área onde Luna vive virou uma reserva ambiental e está protegida do interesse de qualquer madeireira ou vândalos em busca de atenção. Essa sequoia vai ter paz por pelo menos mais algumas centenas de anos.
O consumo consciente pode nos salvar
Quando falamos em espiritualidade, falamos da nossa evolução enquanto humanidade. E isso envolve consciência em relação ao nosso estilo de vida, a percepção e evolução dos valores que sustentam nossa sociedade e, principalmente, a forma como tratamos uns aos outros e a natureza. Veja só: a sequoia Luna poderia ter virado uma mobília, comprada em uma dessas fast-fashion de móveis, e hoje estaria enfeitando sua sala. Esse é o verdadeiro preço que pagamos pelas coisas que desejamos ter. Se você ainda não conseguiu conectar o seu estilo de vida e a maneira como você consome as coisas com a Luna, com as geleiras, as alterações climáticas e até o coronavírus, é porque você ainda não entendeu muita coisa.
“O capitalismo é um sistema parasitário. Como todos os parasitas, pode prosperar durante certo período, desde que encontre um organismo ainda não explorado que lhe forneça alimento”
Vivemos em uma sociedade de mercado, que tem como meta principal o acúmulo de capital. Quanto mais produzimos, mais dinheiro circula. É o consumo que faz a economia girar, por isso, o PIB é o nosso principal indicador: quanto maior ele for, mais próspera é uma região. Por isso é fundamental que as pessoas consumam cada vez mais, porque as empresas (pessoas) querem ganhar cada vez mais.
É assim que funciona o mercado, um ciclo de crescimento que não tem fim. Ele é como a ouroborus, aquela cobra que come o próprio rabo. Quanto mais ela consome seu rabo, mais próxima da morte ela fica. É por isso que as indústrias se tornaram tão vitais para nossa sociedade, a ponto de representarem um marco histórico da passagem para a era dita moderna (Revolução Industrial). Foram elas que proporcionaram crescimento econômico e geraram o capitalismo que hoje nos governa. E elas precisam crescer sempre, para não quebrarem a lógica do mercado. E pra isso precisamos consumir sempre…
O custo disso tudo é a própria vida na Terra. Por isso a analogia com a ouroborus é tão perfeita: um ciclo de crescimento voltado para si, totalmente autodestrutivo. Quanto mais as empresas crescem, mais nos estimulam a consumir. E quanto mais consumimos, mais devastação ambiental geramos.
Moda, tecnologia, móveis, veículos, combustível, energia, turismo, moradia… Nunca estamos satisfeitos e tem sempre algo mais moderno ou melhor sendo oferecido para nós. Além disso, aprendemos a medir o nosso “valor” através das coisas que temos, o que deixa tudo ainda mais sem limites. E lá se vão os índios, as florestas, a camada de ozônio, os animais, as geleiras, as águas, o ar…
“Deus perdoa. A natureza, nunca”
A isso tudo chamamos civilização, desenvolvimento, economia. A natureza chama de morte. Se não entendermos que precisamos consumir com mais consciência, votar com mais consciência, exigir que as empresas tenham culturas mais sustentáveis, vamos ter cada vez mais Lunas ao nosso redor. Até que não restará mais nada…
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