7 erros do pensamento espiritual
Esse texto foi escrito com todo o cuidado e carinho por um autor convidado. O conteúdo é da sua responsabilidade, não refletindo, necessariamente, a opinião do WeMystic Brasil.
O espiritualismo é uma denominação comum a várias doutrinas filosóficas e religiosas, que afirmam a existência do espírito. E, enquanto conjunto de doutrinas, têm uma enorme diversificação de conceitos que acabam por ser interpretados de forma diferente e, em alguns casos, levando a conclusões erradas. Charlatanismo, egoísmo desmedido e a exploração da fé alheia para obter lucros, contribuem para ideias sejam interpretadas da forma errada e prendam as pessoas em uma zona de conforto que em nada tem a ver com as verdades do espírito. Conheça os erros do pensamento espiritual.
“Não entendo: as mesmas pessoas que querem aliviar o sofrimento alheio são as mesmas que acreditam em carma”
Hoje vamos listar 7 erros comuns das leis espirituais, para que você possa refletir mais sobre a vida.
Os 7 Erros do pensamento espiritual
Carma é um castigo
É comum pensarmos que quando algo dá errado ou não funciona, estamos sendo castigados. Mas não há castigo. Deus e o mecanismo divino da vida não existe para punir pessoas. A adversidade nos faz aprender muito mais do que a bonança, mas não existem imposições divinas. O que ocorre é que, quando recobramos a consciência após a morte e entendemos nossas falhas, é natural o desejo de reparação. Nós mesmos somos responsáveis pela programação da encarnação que vivemos, com todas as alegrias e dores, para que possamos nos curar e expandir nossas potências. Se assim não fosse, qual seria o sentido de tudo?
Pense em uma pessoa que, na vida passada, cometeu suicídio. Nasceu em uma família abusiva, enfrentou o desamor e sucumbiu, chegando ao extremo de tirar a vida com um tiro na cabeça. Segundo algumas filosofias, essa pessoa iria reencarnar com muitos problemas em decorrência deste erro, como por exemplo, cegueira e surdez, já que escolheu o tiro na face para terminar com sua vida na experiência passada. Pois, veja: se, por menos, aquele espírito não conseguiu ultrapassar as adversidades, como poderíamos esperar que o faça em condições mais severas? Como é possível pensarmos que piorar as dificuldades que um espírito vai enfrentar pode ajudá-lo? Se ele não estiver pronto, vai sucumbir outra vez.
A adversidade existe sim, mas ela acontece pelos mais variados motivos e o castigo, o resgate punitivo e imposto, não é um deles.
Pessoas com deficiência, na miséria, com transtornos mentais por exemplo não estão cumprindo um castigo. Ao contrário, muitas vezes são espíritos de muita luz e que vieram nos ensinar, vieram ajudar sua família através do exemplo. Ou vieram ajudar a elas mesmas, mas porque assim desejaram e programaram, mas não porque foi imposto um castigo.
Geração de carma sem fim
A ideia de punição também faz com que muitos pensem que tudo gera um carma. Há escolas de pensamento que pregam que somos responsáveis inclusive pelo que não sabemos e pelos feitos de nossos antepassados, até mesmo pela religião que escolhem por nós. Se assim fosse, nunca mais pararíamos de gerar carma e estaríamos para sempre presos na Roda de Samsara, o que vai totalmente contra as leis divinas. Não somos escravos, somos livres. Não somos punidos, aprendemos. Nem tudo que fazemos, especialmente aquilo que não temos controle ou conhecimento, pode ser responsável por gerar um carma. Podemos, sim, carregar uma energia específica que está na família, referente aos erros cometidos pelos antepassados, mas a responsabilidade de tais atos são exclusivamente deles, não nossa.
Respondemos pelas nossas escolhas e ações, das quais estamos conscientes. Caso contrário, pode servir como aprendizado, mas não gera um débito que vamos carregar para nossa próxima experiência e que vai exigir algum tipo de reparação.
Erros do pensamento espiritual – Lei da Atração
Com relação à Lei da Atração, podemos dizer que é o campo onde existem as conclusões e ensinamentos mais desvirtuados da espiritualidade. É muito reconfortante pensarmos que comandamos a nossa vida, assim como é, também, imensamente arrogante e infantil. O ego adora pensar que é ele quem manda. Não se trata de dizer que a Lei da Atração não seja verdadeira, porque é. Mas ela não é a única lei divina a que está submetida a humanidade. A Lei do Carma por exemplo é muito ativa e pode, muitas vezes, subjugar a Lei da Atração.
Pense: você foi um governante corrupto na outra vida e, como resgate, escolheu vir nessa existência com poucas condições financeiras. Faz parte do seu planejamento de vida não ter acesso a grandes fortunas. Acha que, pensando positivo e trabalhando “crenças limitantes”, seria justo que você conseguisse alterar os planos divinos, só pela sua vontade? Faz algum sentido pensarmos que temos o controle de todos os aspectos de nossa vida? Um pouco arrogante, não?
É óbvio que o pensamento positivo ajuda, pois, sabemos que tudo é energia. Mas, façamos a seguinte analogia: está programado que você vai enfrentar uma tempestade. É o destino, o plano, a programação que você aceitou antes de encarnar. Acha que, somente pela sua vontade, por mais forte que ela seja, vai conseguir acabar com a chuva? Não vai. O que acontece é que, sendo positiva, grata, humilde e tendo fé, você vai passar pela tempestade mas pode encontrar um abrigo. Pode ser que apareça um amigo com um guarda-chuva, pode ser que chova menos no local onde você está. Enquanto que, se você for uma pessoa negativa, ingrata, amarga, que só reclama e vê o lado ruim das coisas, você vai atrair ainda mais dificuldades; não vai encontrar abrigo, não vai ter sequer um guarda-chuva.
Pode perder tudo que tem, pode até se afogar na enchente. Mas a tempestade em si, você não vai mudar, por mais positiva e otimista que seja. Se assim não fosse, veríamos inclusive mais “justiça” no mundo. Os políticos seriam sempre punidos por seus atos, coisa que quase nunca acontece. Achar que podemos ter o controle de tudo significa dizer que quem você é tem menos força e importância do que a sua capacidade de ser otimista e atrair o que você deseja. Significaria que, independente da sua índole, você poderia alcançar tudo o que deseja só com a força do pensamento sem considerar a ética do seus desejos.
Claro que o pensamento tem muita força e pode operar milagres. Mas, acima de dele, acima de nós, existe a vontade divina, perfeita, inteligente, justa. Não há quântica que possa se sobrepor a Deus.
“Todo santo tem um passado e sempre pecador tem futuro”
Política
Este também é um discurso comum, que rejeita a política. Não se trata de qual ideologia é melhor, pois isso deve ser discutido. Ocorre que, o primeiro passo para despertamos, acordarmos o espírito é compreendermos a nossa realidade e tudo que faz parte dela. Veja Buda: o início de seu despertar se deu quando ele decidiu sair de seu castelo e teve contato com o mundo, e então percebeu que o sofrimento existe, conceito que vai pautar toda a retórica budista. Foi quando ele percebeu que existia todo um universo além dos muros do castelo e que esse universo era social, que ele, em choque com o sofrimento humano do qual havia sido poupado, decidiu rumar para a iluminação e toda a jornada espiritual dele começou. Esse é mais um dos erros do pensamento espiritual.
Quase todas as dores que enfrentamos são sociais, portanto, influenciadas pela política. Se temos saúde para todos ou não, se a escola é acessível, se podemos votar, ter livre pensamento, ouvir determinadas músicas, pegar um ônibus, o preço dos alimentos no mercado, o preço dos remédios na farmácia, tudo isso e muito mais é pura política. Somos nós que elegemos os governantes e que sofremos as consequências de seus maus atos, que é justamente o que forma uma nação, uma sociedade, da qual podemos extrair mais ou menos felicidade. Pense na transição planetária: falamos em uma III Guerra Mundial, tememos a destruição do mundo, e tudo isso se deve a que? Política. Quem destrói o planeta, quem desmata, quem polui as águas, o aquecimento global, tudo o que está ameaçando a vida na Terra está diretamente relacionado à política. E nos abster de entender, de buscar uma melhora, uma saída coletiva para todos, é um engano tremendo.
Reforçando que não se trata de dizer que uma ideologia é melhor que a outra, pois, podemos constatar que todas elas estiveram, ao longo da história, submetidas a corrupção e trevas humanas. Mas somos sociais e enquanto seres sociais, a política faz parte de nossa constituição e do funcionamento do mundo, o que nos faz pensar que esse distanciamento pregado por tantas doutrinas é muito maléfico não só parta nós, como para todos os espíritos encarnados. A mudança mental que queremos ver passa pela política e pelos sistemas sociais que escolhemos alimentar.
“Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles que gostam”
Erros do pensamento espiritual – Autoajuda
Esse é um assunto muito polêmico, pois mexe com as expectativas de vida e do ego do ser humano. É terrível como essa enxurrada de “treinadores” está se mesclando com a espiritualidade e se apropriando da retórica espiritual e científica. O “coach” nasce primeiro no esporte, que para esse âmbito, é totalmente apropriado. Mas quando pensamos em vidas humanas, a ideia de que a vida é uma competição onde existem ganhadores e perdedores é horrível. No cenário corporativo, onde o coach fora dos esportes teve a sua origem, realmente ajuda executivos a trabalharem pontos específicos de sua performance, com foco na profissão. Mas o que estamos vendo agora é uma distorção total do que deveria ser um despertar espiritual, especialmente quando dizem todos podem tudo e que a felicidade é uma escolha. Isso só gera culpa e ansiedade, trazendo para as relações sociais um aura de competição e não de integração. A psicologia positiva e a felicidade como uma escolha chega a ser um discurso criminoso. Eles prometem a felicidade, os sucesso e a cura da depressão somente com alguns workshops (que custam bem caro), zombando da ciência da psicologia, dos diplomas e anos de estudo desses profissionais, tratando a depressão como uma falta de otimismo e não como uma doença grave e leva a morte.
Conforme o filósofo dinamarquês Svend Brinkmann, em entrevista para a Exame, autoajuda não traz sucesso e fazer coaching é mais perigoso do que parece. Parte da indústria da autoajuda só contribui para reforçar o problema que ela própria diz combater: a infelicidade causada pelo individualismo e pelo desinteresse em soluções coletivas. Quando as pessoas fracassam — o que acontece com qualquer um— elas se enxergam como as únicas responsáveis pela dor; se sentem culpadas por algo que não estava sob seu controle. Sem mencionar que autoajuda é um sintoma do individualismo exacerbado, parte do problema do mundo moderno. As pessoas se sentem desligadas umas das outras quando pensam que podem atingir seus objetivos por conta própria, se seguirem “passos para a felicidade e sucesso”. Não há regras, não há receita de bolo e, como já citado antes, não controlamos todos os aspectos de nossa vida e nem da sociedade. Apresentar a felicidade e prosperidade como objetivos que dependem só do indivíduo é muito atraente, mas completamente falso e extremamente egoísta. Faz com que as pessoas pensem em termos individuais e não coletivos, o que não faz o menor sentido quando sabemos que nossos males e tristezas têm natureza política, portanto, os desafios precisariam ser pensados de forma social e coletiva, nunca individual. Somos responsáveis pelos demais, impactamos nas vidas alheias pois vivemos em sociedade, e as necessidades dos outros, a dor do outro, a diversidade do outro, deveria ter enorme importância para nós. E a autoajuda nos fecha para essa dimensão alheia, se distanciando totalmente do sentido da espiritualidade. Esse é mais um dos erros do pensamento espiritual.
Fazer, superar adversidades, criar mecanismos para nossa realização são, obviamente, essenciais para a nossa felicidade e de quem está ao nosso redor. Sentar e lamentar a vida nunca levou ninguém a lugar algum, mas isso é muito diferente do nível tóxico que os discursos de autoajuda tem chegado. Cuidado.
“Tudo que te agrada te engana”
Nascemos brutos e vamos evoluindo
Somos induzidos a pensar que somos criados ruins, rudes, embrutecidos e, conforme evoluímos, vamos “subindo de nível” até chegarmos a Deus. Na verdade, faz mesmo sentido é o pensamento contrário. Se temos Deus em nós, se somos uma emanação divina, como é possível nascermos rudes? Já nascemos iluminados e, porque desejamos adquirir experiências e expandir nossas qualidades, nossas potencialidades, é que embarcamos nessa jornada de encarnações e vivências. E fazemos isso de forma gradual: primeiro, vivemos experiências mais sutis em planos mais desenvolvidos. E conforme vamos nos fortalecendo e adquirindo experiência, vamos adensando e tendo vivências em dimensões cada vez mais densas e trevosas. A Terra, nesse cenário, é quase o final da jornada, devido à dificuldade da experiência de vida na densidade da matéria. Quem se forma nessa “escola”, está muito próximo da iluminação.
Erros do pensamento espiritual – Promessas
A ideia de que podemos negociar com a espiritualidade é bastante comum, mas distorcida. Vemos com frequência pessoas querendo realizar desejos e para isso, fazem promessas estapafúrdias, como se houvesse margem de negociação com Deus. “Se eu conseguir tal coisa, paro de fumar” ou “se eu conseguir o emprego tal, farei uma doação de dinheiro para tal instituição”. A espiritualidade não trabalha com recompensas.
Devemos realizar o bem em causa própria ou comum, mas exclusivamente pelo bem, sem almejar ter uma recompensa por isso. Parar de fumar, por exemplo, deve ser feito porque nos faz mal, assim como a ajuda ao próximo deve ser uma prática humana, que vem do coração e do espanto com relação ao sofrimento alheio. Não podemos negociar e, se queremos alcançar as coisas, devemos criar meios para que elas se realizem, sem tratar questões como moeda de troca.
“Contrabalançar promessas com promessas é estar pesando o nada”
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