A Espiritualidade que Cura
Esse texto foi escrito com todo o cuidado e carinho por um autor convidado. O conteúdo é da sua responsabilidade, não refletindo, necessariamente, a opinião do WeMystic Brasil.
Nos últimos vídeos do meu canal eu venho trazendo questões que nos são muito sensíveis, dado que, por diversas vezes, eu faço afirmações e trago fontes que as corroboram, que a existência de vida pós morte não é tão real quanto você pode imaginar. Na verdade, ela não é nada real. Entretanto, também faço outra afirmação que deixa bastante gente confusa. Em geral, eu digo que espíritos não existem, mas incorporar um pode trazer grandes benefícios terapêuticos, lembram? Ao longo dos últimos tempos, tenho reforçado esta questão; embora não existam espíritos, isso não quer dizer que não possamos encará-los e trabalhar com eles. Confuso? Pois bem, é sobre isso que quero convidar você a pensar hoje, sobre a Espiritualidade que Cura.
Mas afinal de contas, o que é real no meio disso tudo?
Tenho recebido um número incrível de pessoas com essa dúvida e acredito que esse seja o primeiro passo mais correto a ser dado, embora ele esteja completamente equivocado. A pergunta em si é muito importante, buscar o que há de real no meio de tudo isso que você pode já ter entrado em contato é, realmente, o correto a se fazer, mas a grande questão deveria ser: por que, dentro de tudo isso, algo PRECISA ser real?
É nesse pique que vamos tentar explorar essa espiritualidade que é tão boa para nós, mas que não tem nada a ver com o que você imagina ser. Para tanto, a primeira coisa a fazer é pensar; o que é, no final das contas, espiritualidade?
Aposto que quando essa pergunta aparece a você a primeira coisa que vem a sua mente é a religião. Não necessariamente uma religião em específico, ou seja, não necessariamente o cristianismo, budismo, umbanda ou qualquer coisa assim, mas o pensamento que vem é algo que remete alguma religião, certo?
Se você for, ainda, de uma religião anímica, como a umbanda ou o candomblé, o termo espiritualidade vai remeter ainda a outra coisa: o trato com os espíritos, com entes desencarnados ou coisa que o valha, certo? É aquele mesmo tipo de pensamento que a gente tem quando alguém nos diz que tem uma autoridade espiritual ou coisa assim.
É, pois é…
Não que essas compreensões de espiritualidade estejam erradas, mas é que elas não servem para muita coisa dentro do que estamos falando. A espiritualidade que cura é outra coisa.
O diretor da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo e professor do centro de cardiopneumologia da USP Álvaro Avenuz Junior, vai definir isso de uma forma muito bem em artigo para o caderno “Ciência e Saúde” do jornal de Minas:
“A espiritualidade é um estado mental e emocional que norteia atitudes, pensamentos, ações e reações nas circunstâncias da vida de relacionamento, sendo passível de observação e mensuração científica”
Claro que, se você é uma pessoa esperta, já deve estar se perguntando o que um cardiologista pode saber sobre espiritualidade, não é mesmo? Mas então… eu escolhi pegar trechos das falas de Avenuz porque ele foi um dos principais estudiosos do país da relação entre espiritualidade e saúde, estando a frente da iniciativa da SBC, a Sociedade Brasileira de Cardiologia, na publicação das Diretrizes Brasileiras Sobre Espiritualidade e Fatores Psicossociais, que integram o conjunto de prevenção de enfermidades cardiovasculares. Sim; é uma instituição médica estudando a importância da espiritualidade do indivíduo na prevenção REAL de doenças.
Então, o que seria essa espiritualidade que cura?
Ainda segundo Avenuz:
“Queremos mostrar que é possível prevenir a doença tratando a espiritualidade primeiro, por meio do perdão e da gratidão, além de reforçar outras atitudes positivas como solidariedade, compaixão, humildade, paciência, confiança e otimismo”.
Você percebeu que não há deus ou espíritos aqui?
Mas Espiritualidade que Cura é Real?
Muito mais do que você pode imaginar. Na verdade, desde que a medicina começou a compreender o ser humano como algo biopsicossocial, a gente começou a levar em conta a espiritualidade do indivíduo para tratamento de algumas situações, entretanto, antes que vocês fiquem felizes demais, é preciso dizer que espiritualidade aqui é definida como algo ligado à busca pessoal de um propósito de vida e de uma transcendência, envolvendo também as relações com a família, a sociedade e o ambiente, pelo menos segundo o estudo “Saúde mental e espiritualidade/religiosidade: a visão de psicólogos”.
Espiritualidade que cura é, portanto, o quanto nós estamos íntegros com nossos propósitos e objetivos de vida, com a sociedade que nos cerca e com o ambiente onde estamos inseridos e muito pouco a ver, necessariamente com questões metafísicas da existência ou não de espíritos ou deuses, mas ao mesmo tempo, a espiritualidade não exclui essas questões.
Isso quer dizer que, se você vai a um terreiro, obviamente toda a questão religiosa que é envolvida pela vida em sociedade no terreiro, incluindo a visão de vida pós morte, está incluída em sua vontade de viver. Se você segue esse caminho porque, para você, ele é certo e te faz ter paz e conviver de uma forma saudável em seu grupo social e consigo mesmo, isso tem um fator terapêutico inestimável. Independentemente da existência ou não de deus, da inexistência ou não de espíritos, entendeu?
Dentro do pensamento neurocientífico, a espiritualidade é tratada de forma a levar ao paciente o melhor dos mundos e não tentar barrar a crença por algum motivo. É por isso que, mesmo eu sendo ateu e cético no que diz respeito à existência de espíritos e tudo o mais, ainda consigo obter bastante resultado com pessoas que seguem essas situações.
Pra gente continuar isso tudo, eu preciso fazer um aviso a você:
Sabe aquela passagem que nos diz “tudo que sei é que nada sei”? Um monte de pessoas gostam de usar esse pequeno axioma socrático quando está em uma conversa e visivelmente está com seu argumento sendo ultrapassado pelo argumento oposto, no que comumente a gente chama de “perdendo a discussão”.
Ou seja, em geral, as pessoas gostam de usar esse argumento para, quando em desvantagem, evocar uma pretensa humildade frente ao desafio debatido. Entretanto, seria muito bom se a gente conseguisse realmente compreender isso e começar entendendo que o ser humano é muito mais complexo do que julga nossa vã filosofia.
O real não existe, necessariamente
Sim, esse tema é bastante complexo pois ele nos dá várias formas de interpretações errôneas e formas de escape da realidade que, muitas vezes, pode ser mais prejudicial do que qualquer outra coisa.
A realidade que se apresenta a cada um de nós é ligeiramente diferente da realidade que se apresenta aos outros que interagem conosco. Ao longo de uma semana, por exemplo, entrei em uma discussão a respeito da existência ou não de exu e essa conversa extrapolou os muros do meu canal e foi para diversas outras mídias, isso porque eu estava achando muito divertido ver como o ser humano pode se comportar, dado que esta afirmação que fiz, acabou por tornar umbandistas, candomblecistas e quimbandeiros extremamente parecidos com evangélicos quando o assunto é demonização da fé alheia.
Isso acontece porque não importa o que a gente diga ou as ferramentas que tenhamos; religiosidade ou espiritualidade religiosa, por assim dizer, é algo que é composto basicamente por emoção, não importa o quanto você discorde disso.
E não se debate emoção com lógica e raciocínio, então a afirmação que fiz de nenhuma forma seria debatida de forma séria, exatamente porque a realidade das pessoas que compõem o grupo com o discurso oposto, está centrado no que podemos chamar de “vida emotiva”, e usa esta questão emocional para contrabalancear os próprios problemas, questões negativas e pesos morais que podem enfrentar ao longo da vida.
A realidade para eles é fantástica, composta por espíritos que têm vontade própria, embora essa vontade seja reflexo da vontade do médium, sempre. De uma forma ou de outra, a grande questão aqui é que, para eles, a situação da vida pós morte e existência do exu é tão real quanto é real a percepção de que exu é um demônio, criado pelos cristãos.
Essa realidade, entretanto, está circunscrita à própria mente do indivíduo que faz com que ele responda a realidade “real”, por assim dizer, através das lentes de sua própria realidade.
A espiritualidade que cura, neste sentido, se torna então uma espécie de vício, de algo sem o qual não estamos bem ou não sobrevivemos, não aquela espiritualidade que tracei junto a vocês no início.
Tudo em excesso se torna prejudicial e, acho que posso dizer aqui com alguma certeza, que a espiritualidade que cura como dissemos no início seria exatamente o ápice entre o excesso e a falta.
Seria bom se todos nós, um dia, conseguíssemos ter esta espiritualidade em dia, em vez de ter a espiritualidade tóxica da religião, que nos oprime de uma forma que, talvez, porque você está envolvido com o coração na religião que você tem, você nem consiga enxergar.
Se não for esse seu caso, talvez eu possa te ajudar de diversas outras formas que você pode conhecer no meu site. Então aguardo seu contato.
Espero que você tenha uma ótima vida, seja alguém melhor do que foi hoje e tchau!
Referências bibliográficas
- JUNIOR, Álvaro Avenuz. Cientistas investigam como espiritualidade pode ajudar a saúde do corpo. https://www.em.com.br/app/noticia/ciencia/2021/05/10/interna_ciencia,1264851/cientistas-investigam-como-espiritualidade-pode-ajudar-a-saude-do-corpo.shtml
- OLIVEIRA, Márcia Regina de, JUNGES, José Roque – Saúde mental e espiritualidade/religiosidade: a visão de psicólogos. https://www.scielo.br/j/epsic/a/w3hnsrp3wzVcRPL3DkCzXKr/?lang=pt
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