A filosofia japonesa Monttainai: cada pequena coisa tem uma Alma
Grande parte das pessoas já ouviu falar sobre como os japoneses vivem em uma sociedade organizada e preocupada com questões ambientais, desde a limpeza das salas de aula realizada pelos estudantes, a separação do lixo para coleta seletiva até o uso responsável dos recursos hídricos. O que a maior parte de nós desconhece é que toda esta consciência socioambiental está profundamente relacionada com a filosofia mottainai.
A palavra “Mottainai” – Não desperdice
Traduzida de forma simples como “não desperdice”, ou ainda como “cada pequena coisa tem uma alma” a filosofia mottainai está presente na cultura japonesa de maneira profunda.
“Mottai” é um vocábulo de origem budista e se refere à essência das coisas e de sua existência no mundo, sugerindo inclusive que nem mesmo os objetos existem isoladamente, mas estão conectados uns ao outros. O sufixo “nai” significa negação, por isso “mottainai” é uma expressão de pesar diante da possibilidade da incompreensão dos laços que conectam todas as entidades vivas e não vivas.
Mottainai é um apelo para que esses laços invisíveis sejam restabelecidos reafirmando a importância de se tratar todos os objetos animados e inanimados com muito cuidado, de forma sensata e responsável.
Evitar o desperdício: remendar, recuperar
O espírito mottainai japonês preza pelo uso de todo o valor intrínseco de um objeto e expressa pesar pelo desperdício. Um exemplo do conceito colocado em prática é a técnica de costura boro, que usava o ponto de bordado sashiko para remendar tecidos, juntando pedaços de pano e recuperando peças que de outra forma seriam desperdiçadas. Com o boro e o sashiko, cada retalho era usado até acabar.
A técnica de costura permitia que um tecido durasse muito tempo e fosse usado até o final de sua vida útil. Era comum que uma peça começasse como um quimono, por exemplo, se tornasse uma roupa de dia-a-dia, depois uma fronha de travesseiro, uma sacola e finalmente terminasse como um pano-de-chão, completando o uso integral do material, exatamente da maneira mottainai.
A questão da coleta seletiva, levada muito a sério no Japão, também se enquadra no espírito mottainai, uma vez que a reciclagem é uma forma de evitar o desperdício de recursos já produzidos, permitindo que os resíduos ganhem novas formas e tenham novos usos. Mas não apenas isso. No Japão, as usinas de resíduos são equipadas e preparadas para aproveitar qualquer tipo de resíduo produzindo, inclusive, energia limpa.
“Não basta adquirir sabedoria; é preciso, além disso, saber utilizá-la”
O uso do 5Rs
A valorização e o respeito à natureza, presentes também no incentivo ao uso de energias limpas, integram a prática do mottainai e é nesse contexto que os japoneses praticam os “5Rs”: repensar o uso e o gasto; reduzir o desperdício; reutilizar recursos finitos; recusar; e, reciclar o que for possível respeitando o ambiente em que se vive.
Contudo,estas práticas orientadas pelo espírito mottainai podem ser adotadas por qualquer um. São ações simples que evitam o desperdício de todo e qualquer recurso. No Japão, não deixar nem um grão de arroz no prato é um dos primeiros passos na direção desta filosofia.
Pegar pequenas porções de comida, evitar desperdício de alimentos é uma máxima num mundo com números alarmantes de pessoas que ainda passam fome. Em um país que já enfrentou períodos muito difíceis, como guerras, fome, tufões e terremotos, em um território com recursos naturais escassos, a filosofia mottainai tornou-se essencial ao desenvolvimento e consequente crescimento econômico.
Longe de ser uma prática institucional, o mottainai pode promover verdadeiras mudanças na particularidade de nossas vidas. Porém, ações individuais quando multiplicadas na lógica da vida comunitária, no somatório das pequenas ações cotidianas, podem ser ainda mais impactantes como foram pro Japão. Os conceitos de sustentabilidade tão disseminados no ocidente hoje, talvez, no fundo, sejam a expansão da filosofia mottainai para o mundo.
Dicas para adotar o Mottainai como filosofia de vida
-
Tenha em mente os 5Rs (Repensar, Reduzir, Reutilizar, Recusar e Reciclar)
Repense a necessidade das coisas que julga precisar, seu valor, quantidade e utilidade. Reduza o consumo desnecessário e o desperdício de tudo, da água à energia elétrica. Reutilize o que for possível, das sacolas e embalagens plásticas aos tecidos e alimentos que seriam rejeitados desnecessariamente. Recuse todo excesso, desde sacolas de papel ou plásticas nos supermercados. Recicle principalmente seu modo de vida e suas ideias. Se tem um jardim, considere fazer compostagem, por exemplo.
-
Lembre sempre que os 5Rs podem ser aplicados
Os podem ser aplicados tanto aos objetos quanto aos alimentos. Calças velhas que podem virar tapetes, capas de sofá, bolsas retornáveis; folhas, talos, cascas e sementes cujo valor nutricional pode ser aproveitado em receitas surpreendentemente deliciosas.
-
Pense localmente, haja globalmente
Muitas vezes as mudanças que promovemos em casa (como coleta seletiva) podem ser ampliadas para nossos condomínios ou associações de moradores. Que essas ideias podem ser levadas aos representantes e órgãos responsáveis. Informe-se sobre as políticas públicas de seu bairro e sua cidade. Um e-mail encaminhado para as autoridades pode resultar em grandes mudanças.
Saiba mais :