Amores impossíveis: paixão platônica
Todo mundo já teve um amor platônico. Especialmente na adolescência, desenvolvemos essa identificação avassaladora por pessoas que nem sequer conhecemos, que muitas vezes nunca vamos ter a oportunidade de conhecer. Amar sem ser correspondido não é saudável, mas também não é platônico. Esse amor que vem lá de Platão é outra coisa! E segundo estudos, ele nos faz bem.
“E aqueles que apenas conhecem o amor não-platônico não precisam falar de tragédia. Em tal amor não pode haver nenhum tipo de tragédia”
O que é amor platônico
Nem precisamos dizer, pois o nome fala por si: amor platônico vem de Platão, um dos maiores filósofos da história. Ele dizia que o amor só poderia ser amor, quando desprendido de todas as outras aparências. Para amar, teríamos de ser capazes de admirar outra pessoa além da beleza física, conquistas, daquilo que é mutável, transitório e sem nenhum tipo de interesse. Tinha de ser mais profundo, puro, a essência da coisa. Ele idealizou o que seria o estado de amar, da forma mais bela e perfeita possível.
Mas foi só no século XV que o pensador Marsílio Ficino popularizou o termo amor platônico como conhecemos hoje, extrapolando a ideia da idealização do sentimento para além da aparência física. Em seu pensamento ele categorizou o amor platônico, possivelmente em função da idealização que Platão deu ao amor, como sendo aquele sentimento que nutrimos e que é impossível de se realizar, distante, inalcançável.
“É a verdadeira estação do amor, quando sabemos que só nós podemos amar, que ninguém jamais poderia ter amado antes de nós e que ninguém jamais amará da mesma forma depois de nós”
Isso é diferente de amar e não ser correspondido. Quando insistimos em uma relação afetiva que não nos valoriza, não tem nada a ver com amor platônico e devemos sair dessa enrascada o quanto antes. Isso nos fará sofrer com toda a certeza. O amor para ser platônico tem de ser impossível, o que é diferente de amar e não ser amado.
Ele tem muito mais a ver com aquela paixão louca por ídolos, atores, celebridades, talvez um professor. Alguém que você admira em silêncio e que sabe, no íntimo, que não tem a menor chance de se realizar. Mas isso não te traz nenhum sofrimento, ao contrário.
Mas, por que esse amor faz bem?
Do ponto de vista da psicologia, o amor platônico é necessário. Entre os desafios de ser um adolescente, está o esclarecimento de quem é e quem quer ser. A descoberta de si passa pela identificação com aquilo que é externo, com a idealização do que se quer ser. Como seres sociais, os humanos precisam se vincular a critérios de vida coletivos, em maior ou menor medida. Na adolescência esse processo fica mais latente, pois está se formando a identidade da pessoa, e possuir referências próximas ao estilo de vida que se almeja tem funções biológicas inclusive.
Assim, fica fácil adorar alguém que projeta uma determinada imagem e estilo de vida que cause desejo e identificação. Além disso, adorar alguém platonicamente libera no cérebro a dopamina, substância que causa a sensação de prazer e alegria. Quando se é adolescente, adicione um pouco de histeria também!
Amor platônico na era das redes sociais
As redes mudaram muito a forma de amarmos platonicamente. Antes, era preciso posters, comprar revistas e torcer para que a matéria revelasse um pouco mais. Exigia acompanhar as entrevistas pela televisão, para não perder um detalhe sequer. Mas hoje não! Está tudo muito mais fácil. As redes sociais estão aí e você pode adicionar seu ídolo em sua rede de amigos.
E os ídolos não economizam detalhes: faz parte de ser uma celebridade hoje em dia compartilhar a vida pessoal nas redes. Sabemos o que fazem, quando fazem, onde gostam de ir, o que comem, o que vestem, enfim, tudo relacionado a vida íntima dos astros é facilmente encontrado na internet. Para quem é mais enlouquecido, basta plantar-se num aeroporto, shopping ou restaurante que vai conseguir encontrar seu amor.
Por outro lado, essa intimidade toda também tem gerado muita frustração. Toda essa exposição torna mais difícil idealizarmos como queremos a figura de alguém, pois a verdade está lá, acessível, apesar da “falsidade” das vidas perfeitas que encontramos nas redes. Mas opiniões, até mesmo ideologia política ficam escancaradas para quem quiser ver, o que também vem causando frustração em muita gente. Sabe aquele ditado “de perto ninguém é normal”? Pois então. É o que vem acontecendo. Mas, sem dúvida, é muito mais fácil amar à distância na era das redes sociais.
Como saber se estou vivendo um?
Simples. Se você ama uma celebridade que não conhece, está. Mas amor platônico é só quando amamos alguém a distância? Não é bem assim. O conceito original é esse, mas hoje em dia podemos aplicá-lo de forma mais prática. Veja os sinais:
Quando a pessoa amada parece não ter defeitos, parece perfeito, e você não consegue enxergar ou identificar nada de ruim na pessoa, é um sinal de que você pode estar vivendo um amor platônico.
Você ama alguém próximo, que está no seu círculo social e te conhece, mas que jamais vai acontecer algo significativo. Um professor, o namorado de alguém, um amigo gay. Em qualquer uma dessas situações, podemos dizer que sim, seu amor é platônico.
Se você ama alguém e, por medo de estragar essa ilusão, esse sentimento, não se declara para a pessoa, também está amando de forma platônica. O medo de acabar com a ilusão criada em torno de alguém, a ponto de paralisar a pessoa no sentido dela nem cogitar viabilizar essa paixão, é também amor platônico.
É possível se livrar desse amor?
Sim! Tudo é possível. Como não há vínculos, não existe uma história entre as pessoas, é claro que esse amor não vai durar para sempre.
“Um amor platônico significa que uma pessoa está desperdiçando a chance de amar e a outra a chance de ser amada”
O primeiro passo é tentar enxergar os defeitos da pessoa, para que ela deixe de ser “perfeita” e essa relação deixe de ser idealizada. Outra forma de ultrapassar essa fase é focar as atenções nas relações “reais”, mesmo que não sejam românticas. Por fim, uma boa saída é estar disposta a dar a cara a tapa e tentar fazer da parte platônica, algo real. Fale com a pessoa amada sobre os seus sentimentos, para saber se existe a possibilidade de ela sentir o mesmo por você ou se o melhor a fazer é esquecê-la. Se não houver chance, o mundo está cheio de pessoas e uma delas com certeza pode te fazer feliz.
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