Arrependimentos comuns de quem está morrendo
Enfermeiras, médicos e profissionais da saúde em geral acompanham pessoas que passam pelo processo de alguma doença e encaram a morte. E quando ela se aproxima, muitos revelam segredos, fazem declarações e reflexões sobre a vida que tiveram, especialmente sobre os arrependimentos que possuem. E eles ficam como lição, como guias para uma jornada mais plena para quem ainda tem muita vida pela frente e consciência suficiente para perceber a riqueza escondida nestes relatos. Muitos deles foram reunidos em livros, entrevistas e até palestras, para que possam ser transformados em informação e revertidos em inteligência emocional e despertar espiritual.
Esses arrependimentos citados pelas pessoas quando estão próximas da morte, nos fazem perceber uma dimensão da vida que ignoramos, nos mostrando onde deve estar nossa atenção e dedicação, depositadas quase sempre nos locais errados. Quase tudo aquilo que parece importante e dá sentido à vida, como carreira, bens e aparência, por exemplo, não tem a menor importância perante a morte e podem se tornar grandes vilões quando recebem toda a nossa atenção, pois matam e destroem o que de fato importa. Ficamos tão hipnotizados, que passamos a vida correndo atrás delas para chegar no fim e, dolorosamente, perceber que elas nem eram tão importantes assim e que perdemos um tempo precioso. Perdemos a alma, a nossa essência contida nas relações humanas que negligenciamos. As emoções, os sentimentos e as relações estão entre as lamentações mais comuns, provando a que viemos e o quanto desperdiçamos nossa existência buscando coisas sem a menor importância.
Carregamos da vida a vida que levamos
A dimensão emocional vem à tona quando as pessoas são questionadas sobre o que gostariam de ter feito diferente em suas vidas. A mortalidade oferece uma visão diferente da vida, especialmente em relação aos valores que cultivamos e de onde extraímos nossa realização. Onde focamos a nossa energia e atenção é o pilar que dita a qualidade de vida que tivemos, servindo como parâmetro para concluirmos se tivemos ou não uma vida feliz. E essa felicidade, que com muita ignorância atribuímos às coisas, vem, na verdade, das emoções e das relações que criamos, dos laços que estabelecemos o do quanto de amor recebemos e tivemos a capacidade de retribuir.
Quando morremos, não levamos nossa empresa, nosso belo corpo, a pele devidamente hidratada. Não carregamos para o outro lado o título que alcançamos na carreira nem o belo carro e o apartamento com varanda gourmet que compramos. Não trazemos nossas jóias, nem nada de material… Levamos conosco somente o amor. Levamos as memórias que as relações proporcionam, os momentos onde quase podemos tocar o céu. Ficam em nós os primeiros passos de um filho, a relação de amor com nosso companheiro, as risadas com os amigos. É disso que a vida é feita e é atrás destes momentos que devemos correr todo o tempo. Eles são a nossa prioridade, a causa de tudo e de onde extraímos as lições que precisamos.
“Odeio esse acidental arrependimento que vem com a idade”
Quais os arrependimentos mais comuns?
Separamos os arrependimentos mais citados para uma reflexão sobre como estamos vivendo a nossa vida no agora, construindo as memórias das quais nos lembraremos quando chegar nossa hora. Estamos negligenciando nosso espírito? Nossa alma? Nossas emoções? Nossa própria felicidade? Quando ficamos focados e iludidos com a matéria, tendemos a não enxergar a jornada, o caminhar em si, as coisas que realmente importam, pelas quais, em essência, reencarnamos. Nossa evolução moral está intimamente ligada com as nossas emoções, construídas através das relações afetivas e laços familiares, além dos momentos de felicidade que colecionamos, mas nunca jamais em nossa conta bancária ou nas horas extras que fizemos no trabalho.
“Há noites que eu não posso dormir de remorso por tudo o que eu deixei de cometer”
É nas relações com o outro e como nos sentimos em relação a elas que se aprendemos a controlar nossas emoções e evoluir, seja no amor ou seja pela dor. Esse deveria ser o nosso foco, nosso maior objetivo de vida, como mostram os relatos daqueles que estão deixando a vida.
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Não viver a vida em função dos outros
Desperdiçar momentos importantes da vida em função do que outros pensam ou querem, é uma traição que cometemos a nós mesmos. Quanto de nós morre a cada escolha importante que fazemos, a cada decisão significativa que tomamos, para agradar alguém? Há quem siga uma carreira que detesta, somente para agradar os pais.
Esse foi o arrependimento mais comum de todos. Quando as pessoas percebem que sua vida está terminando, é fácil ver como muitos sonhos não foram realizados. As escolhas que fazemos direcionam a carreira de eventos que compõem a vida, e cada uma delas tem um preço e um resultado. Não se trata de ser egoísta e pensar só em si, ou ser irracional perante a flexibilidade que as relações humanas exigem. Se trata de abdicar de sonhos, de coisas realmente importantes, porque não tivemos a coragem ou deixamos que a vontade de outra pessoa prevalecesse. Ser fiel a nós mesmos, aos anseios que vem do nosso espírito, é um dos fatores que podem fazer de nossa despedida mais alegre, com uma sensação de vida bem vivida.
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Não ter trabalhado tanto
O trabalho é muito importante, mas pode ser também uma grande cilada. Precisamos pagar as contas, consumir, e esperamos enfrentar alguns desafios na carreira e construir uma vida profissional que seja agradável. Mas, quando esse é o único objetivo, a causa final, sacrificamos a nossa convivência com aqueles que amamos e não sobra tempo para mais nada, nem para nós mesmos. Quem trabalha muito, vê pouco os filhos, perde o companheirismo do parceiro, as conexões familiares se enfraquecem e a relação com os amigos também. É um arrependimento profundo passar tanto tempo da vida na esteira de uma existência profissional e não deixar tempo para as relações humanas e afetivas.
Ninguém se arrepende da reunião que não fez, da apresentação que não ficou perfeita, do negócio que não foi fechado. As pessoas se arrependem das apresentações que perderam na escola, das viagens que não fizeram, dos aniversários e natais que perderam. Da infância dos filhos que não viram passar, algumas vezes dos filhos que não tiveram, do suporte aos pais na velhice que não puderam dar. É preciso criar espaço e colocar as pessoas em primeiro lugar, para evitar esse arrependimento e a sensação no final da vida de que ela foi dedicada a um objetivo vazio, ilusório e sem a menor importância.
“O maior de todos os pecados: o arrependimento”
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Emoções
Aquela palavra não dita, um sentimento guardado, escondido, aquela emoção abafada, suprimida. Quando a morte chega, o arrependimento sobre tudo que não conseguimos expressar, revelar, declarar, tem um grande peso e amargura e ressentimento são o resultado.
Esconder o que se sente, seja um amor ou uma mágoa, algo que deveria ter sido resolvido e não foi, deixam essa pendência e essa lacuna na vida. Em alguns casos, mágoas reprimidas podem até desencadear doenças. Expressar as emoções faz parte da natureza humana e da construção do nosso universo emocional, e quando não fazemos isso, podemos nos arrepender para a vida toda.
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Dedicar tempo aos amigos
A família, a profissão e a correria da rotina da vida adulta nos distanciam dos amigos. Não temos mais o mesmo tempo que tínhamos quando jovens, e os encontros ficam cada vez mais difíceis de acontecer. Alguns mudam de cidade, outros de país, e acabamos convivendo mais com as pessoas do nosso círculo mais íntimo e com os colegas de trabalho.
Amigos são as testemunhas da nossa trajetória, quase um espelho de nossas vidas. É um amor que experimentamos mais livre, que menos exige em troca. É o apoio para os momentos difíceis e o riso alto nos momentos alegres. Quando nos privamos desse tipo de relação, deixamos de ter contato com um pedaço de nós. Quando isso acontece, só nos resta lamentar não ter passado mais tempo com algumas pessoas. Todo mundo sente falta de seus amigos quando está morrendo.
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A felicidade
A felicidade é diferente para cada pessoa, é um conceito muito subjetivo. De qualquer forma, cada um sabe como encontrar sua felicidade, especialmente quando percebe que ela é mais um estado de espírito que temos certo controle, do que uma sensação provocada por elementos externos. Não ter se permitido ser feliz, não ter aproveitado os pequenos momentos de felicidade causa imensa tristeza em quem está no leito de morte. Otimismo, fé, e alegria ajudam a discernir quando devemos estar 100% presentes, focados no agora, deixando de lado preocupações e qualquer outra coisa que interfira em um bom momento.
Se libertar de padrões assumir quem somos para viver a vida de acordo com a nossa natureza é determinante para fiquemos satisfeitos com a experiência que tivemos. Parece clichê, mas devemos ouvir nosso coração, para que possamos levar conosco mais momentos felizes do que arrependimento e tristeza.
“A verdadeira religião é a vida que levamos, não o credo que professamos”
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Dizer eu te amo
Mais do que conseguir expressar os sentimentos, dizer “eu te amo” mais vezes para quem amamos parece ser uma questão quando nos deparamos com a morte analisamos a nossa vida. Especialmente para aqueles que já morreram, muitas vezes fica a dúvida se demonstrarmos nosso amor o suficiente, se deveríamos ter falado que amávamos mais vezes. Alguns partem sem que possamos sequer nos despedir.
O amor não correspondido também vai ser mais doloroso. Pode ser difícil dizer a alguém que você o ama, especialmente se você tem medo da rejeição, mas não ser capaz de expressar esses sentimentos deixa lacunas que afetam relações futuras.
Saber valorizar as riquezas da vida e o que nos faz humanos de fato, é essencial para evitar, quando a morte chegar para nós, essa dor do arrependimento pelo que não vivemos, pelos amores que não amamos, os eventos que não estivemos e os amigos que perdemos. Viva intensamente o amor e não deixe espaço para lamentações no leito de morte.
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