Mito do macho alfa – por que não acreditar?
A sociedade pressiona os homens para agirem como macho alfa e falhar nesta missão seria como fracassar socialmente. Mas, de onde surgiu este costume e conceito? Em 1970, o cientista Dr. L. David Mech publicou o livro The Ecology and Behavior of an Endangered Species (em tradução livre “O lobo: a ecologia e o comportamento de uma espécie em extinção”). Ao longo de décadas, foram difundidos através da obra os hábitos dos lobos em seu habitat natural.
Entretanto, anos mais tarde a comunidade científica percebeu que o livro continha um erro. O conceito de lobo alfa defendido por Mech caiu por terra quando os cientistas perceberam que o macho alfa, visto como um líder da alcateia que teria um comportamento dominador e agressivo, era apenas um lobo pai, que apresentava características opostas como espírito colaborativo e amável.
Porém, apesar deste equívoco ter sido corrigido cientificamente, não podemos dizer o mesmo sobre a apropriação cultural feita pela sociedade da ideia do lobo alfa.
Os reflexos na sociedade
Fazendo uma busca na internet, encontra-se todo tipo de cartilha de como ser um macho alfa. São dicas como “exaltar sempre suas virtudes e qualidades”, “amar si mesmo acima de qualquer mulher”, “nunca se envergonhar ou conter seus impulsos de homem”, entre outras. O termo “macho alfa” passou a designar o homem que tenha comportamento agressivo, unilateral, que domine os espaços que ocupa. É tido como um líder por natureza, confiante e decidido, que não se submete aos desejos das mulheres, ao menos que seja para conseguir sexo. Também não demonstra fraqueza, remorso ou culpa.
Como o lobo é um animal territorial e que caça para sobreviver, foi criada uma concepção equivoca de que o lobo alfa é essencialmente agressivo. Talvez isso explique por que o homem tenta reproduzir essa atitude, sendo um autêntico alfa. Porém, estudos recentes sobre alcateias revelam que os lobos não agem como o estereótipo popular supõe.
A associação dos homens com os lobos alfa tem algum sentido. No comportamento social e, principalmente, na criação dos filhos, poucas espécies são mais parecidas com os humanos do que os lobos. Eles, assim como nós, geram, cuidam e alimentam seus filhos até que cheguem na idade adulta e fiquem prontos para se virar sozinhos. Isso também pode significar, ao menos no caso dos lobos, que eles tenham apenas uma parceira durante a vida e sejam fieis a elas.
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As consequências do mito
Existem muitas consequências por trás deste falso mito. Uma delas é o comportamento agressivo do homem e a submissão imposta às mulheres. A pressão interna e social atribuída para alcançar esse padrão também pode causar vários problemas. Porém, vale destacar um desdobramento da imposição deste comportamento: assumir a existência do macho alfa é categorizar os demais que não se encaixam nestes padrões como machos betas.
Aos homens que não se adéquam no alto padrão determinado para ser reconhecido como um macho alfa, ou aqueles que simplesmente não conseguem disfarçar publicamente, são designadas características opostas como submissão, fraqueza, frustação sexual e profissional, entre outras.
Classificar a masculinidade como “alfa” e “beta” trará transtornos não apenas para os homens atualmente, como para os homens do futuro. Nem beta, nem alfa. Existem diversas maneiras de exercer as masculinidades. Ser homem vai muito além de ser “macho”.
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