Ataques em massa: porque eles acontecem?
De tempos em tempos somos surpreendidos por tragédias coletivas de grande impacto, que causam uma tristeza profunda, muitos questionamentos e reflexão. Pessoas em imensa desarmonia espiritual que atiram a esmo, usam um carro para atropelar inocentes ou programam bombas para explodir em locais públicos. Quanto maior o número de mortes, mais chocados ficamos e mais questionamos o motivo pelo qual esse tipo de coisa acontece. Quase sempre nos perguntamos “como Deus deixa isso acontecer?”, indignados frente a tamanho sofrimento e dominados pela sensação de falta de justiça. Nessas situações não nos falta empatia e conseguimos com facilidade nos colocar no lugar das vítimas, principalmente dos familiares.
“A democracia é necessária para a paz e para minar as forças do terrorismo”
Nossa natureza tenta desesperadamente atribuir um sentido aos eventos, mas, quando falamos de ataques em massa, fica difícil lidar com a sintonia de revolta e a indignação que se instala. É mesmo difícil segurar a emoção e lembrar que existe uma espiritualidade justa e imparcial da qual nada escapa. Tudo está sempre certo, especialmente quando a morte chega. Ninguém morre de véspera, já diziam nossas avós.
É possível conciliar uma grande tragédia com a noção de providência, justiça divina e harmonia universal?
Desencarne coletivos trágicos e a ligação kármica
Se nada acontece por acaso, significa que estamos sempre na hora certa e no local certo, mesmo que esse “estar” implique o fim da nossa vida. E são as nossas ações do passado e do presente que estabelecem as ligações kármicas que nos inserem ou retiram de determinadas situações. Especialmente quando falamos de grupos que sofrem massacres, podemos pensar que as ligações espirituais que comandam a roda das encarnações está agindo no momento. Por mais que a dor tenda a nos cegar, é justamente durante os momentos mais complicados da existência que não podemos perder a fé.
No livro dos espíritos, Kardec pergunta aos espíritos (pergunta 737) porque Deus atinge a humanidade por meio de flagelos destruidores e a resposta é: para avançar na evolução. A destruição por vezes é necessária para a regeneração moral dos espíritos; é preciso ver o fim para apreciar os resultados. Julgar os eventos pelo ponto de vista pessoal é um grande erro, e nos impede de tentar alcançar a reflexão mais sensata sobre os acontecimentos: toda destruição exige reconstrução. A lei do mais forte sempre imperou no mundo, mas Deus sempre contrapôs essa força enviando mensageiros divinos para ensinar o caminho da luz mesmo sabendo que esses emissários seriam assassinados pelas multidões ávidas por sangue. Infelizmente, na atualidade em que predominam o individualismo, o consumismo, o exibicionismo e o egoísmo, facções terroristas degeneradas e espíritos desequilibrados vão continuar se unindo nesta vibração densa para disseminar na Terra o crime e o pavor e tentar impor aos demais sua sombra.
“Mas para mim o melhor modo de lutar contra o terrorismo e o extremismo é fazer uma coisa simples: educar a próxima geração”
Segundo a orientação dos espíritos, é devido à predominância da natureza animal sobre a espiritual que os laços kármicos do terror se formam. Um atentado terrorista tem sempre uma causa e terá um efeito. Quanto mais ignorância e violência, mas a roda dos karmas gira as encarnações e reúne esses espíritos ignorantes através desses atos pavorosos, e mais percebemos que temos muito que aprender ainda. Somente quando o amor se instalar no coração do ser humano é que o terrorismo perverso desaparecerá e a fraternidade será o principal valor que nos une.
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Intolerância e o ódio: uma luta sem fim
Se existe uma lição que devemos tirar desses eventos é que jamais devemos perder do horizonte a urgente mudança na maneira como nos relacionamos. Evoluímos em tecnologia, mas a impressão que temos ao analisar a sociedade moderna é que os corações estão cada vez mais endurecidos e o ódio está tomando conta de tudo. As “redes antissociais” nos dão uma mostra dessa incapacidade de lidar com a diferença, com o contraditório, com o outro. Na verdade, se pensarmos bem, essa é a nossa história: somos conquistadores letais e temos uma biografia na Terra de guerras e muito sangue derramado. Conquista de território, poder, imposição religiosa, vingança, exploração de recursos… As relações entre as nações sempre foram bélicas e a morte faz parte da maneira como construímos o mundo. E a exposição que a internet gera, a atomização da informação e, especialmente da desinformação, só servem para acirrar os ânimos e alimentar o ódio às diferenças. Seja contra o imigrante, o negro, o homossexual, transsexual, uma determinada ideologia política ou crença religiosa, a internet tem formado pequenos grupos e nos distanciado da humanidade que deveria nos unir.
De certa forma, todos participamos dessa vibração. Seja nas pequenas coisas, como quando repassamos uma notícia falsa, quando fechamos nossos ouvidos para as vozes das minorias, quando tentamos nos proteger do diferente. sempre que nos posicionamos contra alguém, estamos assumindo uma postura que vai contra a diversidade e a natureza da própria vida. A vida é diversa, plural e contraditória. Impor a nossa visão de mundo não ajuda em nada a florescer no coração humano a compaixão. Independente das ligações espirituais que existem, é nosso trabalho enquanto humanos ajudar o mundo a progredir e não é preciso dizer que a exclusão, a humilhação e a intolerância não são valores que nos empurram para a evolução espiritual. Vivemos tempos em que, ao invés de oferecer nosso amor, estamos querendo nos defender com armas mesmo sabendo que violência gera ainda mais violência. A luta contra qualquer tipo de intolerância é uma luta de todos nós e envolve a criação dos nossos filhos, nossa relação com nosso círculo íntimo, nossa postura enquanto cidadãos, as escolhas políticas que fazemos e especialmente a maneira como tratamos quem é diferente e que contradiz as nossas “verdades”.
Estamos cada vez mais radicais e a violência de certos discursos é reforçada a cada ataque, a cada terrível massacre. Mais do que a perda em vidas, a onda de radicalização que ocorre após uma tragédia de grandes proporções reforça ainda mais discursos xenófobos, de ódio e posições conservadoras, ajudando a construir um mundo ainda mais intolerante.
O que é violência depende do ponto de vista
Esse é um dos pontos centrais do problema da violência. Além de ignorarmos as lições que as tragédias contém, nós tendemos a classificar como violência aquilo que atinge a nossa idealização, as figuras com as quais nos identificamos. Ou seja, é muito fácil identificar a violência quando ela nos ataca, mas nem sempre conseguimos perceber a violência quando ela parte do lado que defendemos. A guerra política e ideológica deixa isso claro: violentas são as ditaduras de esquerda. O que é um fato incontestável. Mas houveram muitas ditaduras de direita igualmente mortais e autoritárias, mas usamos de subterfúgios para justificá-las. Até mesmo a concepção de tortura pode ser relativizada, dependendo da ideologia que pretendemos defender. Como disse Leandro Karnal em uma palestra, só classificamos como fanatismo os atos que vem do nosso “oponente”. Ele usa como exemplo o filme 300, onde um grupo de 300 guerreiros espartanos é tido como grandes “heróis” após massacrar um exército de 1 milhão de “inimigos”. Eles são “kamikazes heróis” que deram suas vidas por uma causa e aqui no ocidente não nos atrevemos a questionar isso. Porém, quando um islâmico se mata pelo que acredita, é um fanático, um fundamentalista. Quando Israel recebe mísseis da faixa de Gaza, o terrorismo nos fica evidente, entramos em desespero e sentimos profunda empatia, mas quando os palestinos são atacados e crianças são mortas, a nossa reação não é a mesma. E porque? Porque somos ocidentais. Toda bobagem nossa é heroica, épica e maravilhosa. E a do outro, pavorosa. Nossa história está repleta de exemplos como esses.
Essa alternância de valores que tão facilmente ocorre em nossa visão de mundo parece inocente mas é gravíssima, pois, é ela que embasa inclusive as escolhas políticas que fazemos.
“Os direitos humanos são violados não só pelo terrorismo, a repressão, os assassinatos, mas também pela existência de extrema pobreza e estruturas econômicas injustas, que originam as grandes desigualdades”
Nossa parcialidade é tão humana quanto terrível e o fato de não sermos capazes de manter as nossas posições quando os fatos contrariam as nossas convicções é que fazem de nós seres trevosos, embrutecidos e primitivos no que diz respeito a espiritualidade. É esse jogo das “razões”, das narrativas de ideologia, crenças e valores que fazem do mundo um lugar tão injusto. E é nosso trabalho refletir e começar a mudança dentro de nós e o primeiro passo é tentar não vibrar no medo e revolta quando um ataque acontece, buscando fazer deste momento de dor uma oportunidade de reflexão e crescimento.
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