Baba Yaga – conheça a lenda dessa bruxa do folclore russo
Você já ouviu falar da Baba Yaga? Ela é um dos maiores representantes do folclore do Leste Europeu e Rússia. É um personagem dúbio, com traços de personalidade ora malignos ora benignos. Descubra mais sobre ela abaixo.
Baba Yaga – sua caracterização
Existem diversos caracterizações diferentes dessa personagem. Ela é descrita como uma mulher muito velha, de aparência assustadora, corpo muito magro que vaga pelos ares montada em um almofariz (uma espécie de pilão). Com uma vassoura, ela vai apagando os seus rastros. Ela habita uma velha cabana que está assente em duas patas de galinha. A fechadura da cabana de Baba Yaga é uma boca cheia de dentes.
A ambiguidade de Baba Yaga – uma figura enigmática
Na maioria dos contos, Baba Yaga é narrada como um ser perverso, assombroso. Mas em outros, ela assume uma figura maternal. Por isso, é conhecida como um ser ambíguo, que ajuda os puros de coração, mas devora os impuros.
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A lenda de Baba Yaga
A história conta que, em algum lugar distante, possivelmente em uma floresta no Leste Europeu ou Rússia, viva uma família de camponeses com dois filhos gêmeos, uma menina e um menino. Certo dia, a esposa faleceu de uma enfermidade e a família ficou completamente desestabilizada. O homem não sabia como gerir uma casa e uma família sozinho. Em desespero e profundamente infeliz, ele resolveu casar-se novamente para tentar colocar ordem em sua vida.
Seus filhos gêmeos, pré-adolescentes, ganharam irmãos, pois a nova esposa do pai também teve filhos. Mas o seu pai tinha um carinho especial pelos primeiros filhos, pela relação com a falecida esposa, o que deixava a sua atual mulher muito enciumada. Por isso, ela tratava mal as crianças, com uma criação dura, e até os deixava passar fome como punição. Certo dia, seu ódio pelos enteados foi tão grande, que ela resolveu se livrar deles de uma vez por todas.
O plano da madastra
Movida pelo ódio e pelo ciúme, a madrasta então mandou que os enteados fossem até a casa de uma bruxa que viva na floresta não muito longe da casa onde viviam, com a esperança de que eles nunca mais voltassem. A madastra os enganou dizendo que lá ela ofereceria do bom e do melhor para que eles comessem. Mas a irmã era muito sagaz e desconfiou dos planos da madrasta. Por isso, convenceu o irmão a irem antes à casa de uma tia avó que era boa pessoa para contar-lhe sobre o plano da madrasta.
A boa senhora ouviu o caso das crianças, lamentou e disse: “Meus pobres queridos, eu lamento, mas não há nada que eu possa fazer por vocês, a não ser oferecer-lhes uma refeição”. A senhora deu um conselho: “Sejam gentis e bons para todas as pessoas. Não falem coisas ruins a qualquer um; não desprezem e neguem ajuda aos mais fracos, e sempre saiba que vocês, também, poderão um dia necessitar de ajuda”. Encheu-lhes com leite, presunto e biscoitos para que comessem durante o caminho até a casa de Baba Yaga.
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A chegada à casa de Baba Yaga
Ao chegar à casa de Baba Yaga, os irmãos tiveram uma surpresa: a casa estava suspensa sobre dois pés de galinha e próximo da chaminé havia uma cabeça de galo. Os irmãos então gritaram por alguém, para que lhe abrissem a porta e a casa se virou de frente para eles. Por uma porta aberta, as crianças adentraram e viram uma velha senhora descansando perto da parede ao fundo.
“Fou, Fou, Fou!” exclamou a bruxa; “Eu sinto o espírito russo”.
Os irmãos então ficaram muito assustados com a aparência apavorante de Baba Yaga, começaram a chorar, mas arranjaram coragem para dizer:
“Oh, avó, a nossa madrasta nos enviou para te servir.”
Baba Yaga não se opôs, concordou em ter as crianças em casa, desde que obedecessem.
“Se vocês satisfizerem todos os meus desejos, retribuir-lhes-ei, mas se me desobedecerem, comê-las-ei!”. Então, ela mandou a menina para a roda de fiar e o rapaz ficou encarregado de buscar água em uma peneira para encher a banheira.
A irmã, assustada, chorava enquanto utilizava a rodar de fiar, tecendo um longo fio. Logo ela percebeu que alguns ratinhos se aproximaram dela dizendo: “Doce menina, não chore. Dá-nos estes biscoitos e nós te ajudaremos”. A menina mais que depressa deu biscoito aos ratinhos, que disseram: “Agora vá encontrar o gato preto que está faminto. Entregue a ele uma fatia de presunto e ele te ajudará”. Ao ir em busca do gato, a menina viu seu irmão angustiado por tentar encher a banheira com uma peneira sem qualquer sucesso.
Os passarinhos que sobrevoavam a floresta então resolveram ajudar dizendo: “Filhinhos de bom coração, dá-nos algumas migalhas e nós vamos orientá-los.”. O menino deu-lhes algumas migalhas e eles retribuíram dizendo: “Utilizem argila e água, crianças queridas!”. Eles entenderam o recado, taparam os furos da peneira com argila e água e assim foi possível encher a bacia.
Ao voltar para a cabana, encontraram à soleira o gato preto, dizendo: “Querido gatinho, preto e bonito, diga-nos o que fazer, para fugir da tua dona bruxa?”
O conselho do gato preto
Muito sério, o gato então entregou aos irmãos uma toalha e um pente e disse: “Vocês devem fugir para bem longe, mas não se deixem apanhar, pois se ela encontrar vocês, devorá-los-á! Amarrem essa toalha nas costas, como uma capa, caso ela apareça atrás de vocês, joguem a toalha no chão e a partir dela surgirá um rio. Ela não poderá cruzar pois bruxas não podem com água corrente. Caso ela consiga perseguir vocês, joguem o pente no chão e dele brotará uma grande árvore negra, entrem dentro dela e protejam-se.
Nesse momento, Baba Yaga chega e vê que as crianças conseguiram cumprir as tarefas que ela havia determinado. Ela diz: “Não é maravilhoso? Tudo deu exatamente certo! Hoje vocês foram corajosos e inteligentes e conseguiram terminar os trabalhos. Vamos ver amanhã, pois o trabalho será mais difícil e eu espero que possa comê-los”. As crianças foram então dormir em cima de palha coberta com panos velhos.
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A fuga das crianças
Logo pela manhã, Baba Yaga ordenou que todo o fio fosse convertido em tecido pela menina e que o menino trouxesse grandes feixes de lenha da floresta para aquecer a casa. Sem saber como executar essas tarefas, eles resolvem seguir os conselhos do gato e fugir. Mas eles não sabiam que a bruxa tinha grandes cães ao redor da casa. Para distraí-los, os meninos jogaram alguns biscoitos que haviam sobrado. Ao chegar aos portões, verificaram que estavam duros e enferrujados. Mas logo buscaram óleo de uma bétula que estava ao lado e conseguiram abrir as portas. Correram pela floresta escura até chegarem em campos belos e ensolarados.
A bruxa descobre a fuga
Ao chegar em casa, a Bruxa encontra o gato destruindo todo o fio criado pela menina e nota a falta das crianças. “Por que deixou-lhes partir, gato traiçoeiro? Por que não lhes atacou e arranhou-lhes os rostos?”. O gato respondeu que em muitos anos, a bruxa não havia lhe feito nenhum agrado, mas as crianças haviam lhe dado uma bela fatia de presunto. A bruxa então repreendeu os cães, que também não conseguiram impedir a fuga das crianças. Eles responderam: “Tu nunca nos fizeste um favor, mas os órfãos foram gentis conosco e nos deram biscoitos”.
Baba Yaga ficou furiosa e resolveu sair à procura das crianças. As crianças então ouviram ela chegar, e então jogaram a toalha no chão. Um grande e largo rio se formou. Baba então encontrou uma árvore caída, fez de ponte e atravessou o rio.
As crianças viram que ela conseguiu atravessar e derrubaram o pente. Na mesma hora, uma grande floresta apareceu! Uma floresta escura, sombria, com árvores que fechavam os caminhos com suas raízes e copas largas. A bruxa tentou encontrar as crianças, mas foi em vão. Ela desistiu e resolveu voltar para casa.
A volta dos filhos para casa
Os meninos conseguiram fugir da floresta e encontrar a casa dos seus pais. Chegaram lá e encontraram o pai desolado pela ausência dos filhos, que ficou imensamente feliz em lhes ver. Mais que depressa o irmão perguntou: “Pai querido, por que vocês nos ama menos do que os nossos irmãos e irmãs?”. O pai ficou chocado e logo notou que havia ali uma armação de sua mulher para separá-los.
Por isso, ele expulsou a mulher e passou a viver apenas com os seus filhos gêmeos e os filhos que teve com ela, que eram bons e amavam seus irmãos. Dizem que a madrasta, ao vagar floresta adentro, foi encontrada por Baba Yaga e devorada por ela, pelo seu coração impuro.
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