Bhagavad Gita: as respostas de deus para o guerreiro Arjuna
O Bhagavad Gita é um texto hindu muito antigo, considerado uma escritura sagrada universalista que nos ajuda a enxergar além da nossa realidade material. Para quem está no caminho do despertar, o Bhagavad Gita é uma leitura obrigatória.
No texto, temos o diálogo entre a divindade Krishna e Arjuna, instantes antes do início da grande batalha final do Mahābhārata. O diálogo entre os dois se dá em 700 versos, dentro da narrativa do Mahābhārata, que possui aproximadamente 100 mil versos. O protagonista Arjuna escuta diretamente de Krishna como desenvolver a śraddhā, a bússola interior que acompanha o movimento da compaixão, do amor e da verdade, iluminando a razão e facilitando a meditação na práxis do mundo; a espiritualidade pura, a fé interior, o ardor do amor em ação e o poder do coração que fortalecem a vontade e a confiança em si mesmo e a energia que promove o controle mental e o sentimento da comunhão com a verdade e o sagrado. Esses conhecimentos são tidos como necessários para quem deseja sair do seu “estado de ilusão e confusão mental” em relação à realidade material, para dar sequência ao processo de individuação do ser e, consequentemente, de comunhão com o sagrado.
“Maior que a conquista em batalha de mil homens mil vezes é a conquista de si mesmo”
Bhagavad Gita é o mais célebre texto sobre autoconhecimento da tradição milenar indiana! Para se ter uma noção da importância deste texto, lembramos que Gandhi se referia à Gita como “a sua mãe”. O jovem Gandhi, que perdeu a sua mãe verdadeira enquanto criança, buscava consolo e sabedoria nas palavras dessa grande obra. Conheça os valores espirituais dessa obra e acelere sua jornada de iluminação!
Sobre o Bhagavad Gita
Bhagavad Gita significa “canção do bem-aventurado”. É um texto religioso hindu, faz parte do épico Mahabharata, embora seja de composição mais recente que o restante do livro. A versão do Mahabharata que inclui o Bhagavad Gita é datada do século IV a.C. Ou seja, tudo que está ali é realmente bem antigo, registrado séculos antes de Cristo. E essa informação é sempre muito importante, pois, infelizmente, no ocidente fomos induzidos a pensar que não existia vida antes de Cristo e quase toda a filosofia religiosa vigente é baseada no cristianismo. Mas a verdade é que existe uma riqueza imensa antes da vinda desse mestre, que demorou demais para chegar ao lado ocidental da Terra.
O texto, escrito em sânscrito, relata o diálogo de Krishna, a suprema personalidade de Deus, verdade absoluta e inconcebível, com seu discípulo guerreiro Arjuna em pleno campo de batalha. Arjuna representa o papel de uma alma confusa sobre seu dever e recebe iluminação diretamente do Senhor Krishna, que o instrui na ciência da auto-realização ao explicar-lhe o sustentáculo do Reto Agir. A guerra da qual Arjuna participa é uma guerra fratricida, onde Arjuna luta contra membros de sua própria família para recuperar seu reino. No Mahabharata, é contado que a batalha conhecida como Guerra de Kurukshetra, durou 18 dias, durante os quais vastos exércitos de toda a Índia lutaram em ambos os lados. Os hindus acreditam que a batalha de Kurukshetra foi um evento histórico, ocorrido entre o ano de 3102 A.C. e 800 da nossa era, com base em cálculos astronômicos e informações do Mahabharata.
Arjuna, um dos líderes, se vê em maus lençóis nessa guerra. Ele tem dúvidas se deve ou não guerrear contra irmãos, se o sangue é uma justificativa para a recuperação do reinado e se ele deve mesmo liderar a batalha. Arjuna tem, portanto, dilemas éticos e morais que aparecem no decorrer da conversa com desenrolar da conversa com Krishna, que aparecem como filosofia e ensinamentos espirituais vindos direto da fonte. A obra é uma das principais escrituras sagradas da cultura da Índia e compõe a principal obra da religião Vaishnava, que envolve várias ramificações de fé em Vishnu ou Krishna, dentre as quais o popularmente conhecido movimento para consciência de Sri Krishna, que a difundiu, a partir de 1965, no ocidente, através de Bhaktivedanta Swami Srila Prabhupada.
“O reino da quietude que os sábios conquistam pela meditação é também conquistado pelos que praticam ações; sábio é aquele que compreende que essas duas coisas – a consciência mística e a ação prática – são uma só em sua essência”
A obra foi traduzida e comentada sem adulteração, com bênção do Parampara, dando origem ao Bhagavad-Gita, que os principais ensinamentos do Dharma, religião Bhagavata e instruções a respeito do serviço devocional a Krishna, segundo os preceitos de inúmeros escritos sagrados védicos. Dentre esses preceitos, o livro apresenta a ciência da auto-realização e da consciência em Krishna através do serviço devocional da bhakti-yoga.
O Bhagavad Gita é a essência do conhecimento védico da Índia e um dos maiores clássicos de filosofia e espiritualidade do mundo. A filosofia perene do texto tem intrigado a mente de grandes pensadores da humanidade, influenciando inúmeros movimentos espiritualistas.
As respostas de deus
Como Arjuna está dialogando com Krishna, expondo a ele seus dilemas e questões, podemos considerar que as respostas que Arjuna recebe vem direto da mente criadora. Desta forma, através de um processo de amadurecimento interno, o buscador é levado a ver além das informações captadas pelos cinco sentidos, das experiências mundanas e da realidade do mundo material. Quem procura descobrir o que está por detrás do véu da ignorância e responder às questões básicas – como “quem sou eu, quem criou esse mundo, qual o meu papel na sociedade e como me relaciono com os outros?” – tem, na Bhagavad Gita, respostas incríveis e surpreendentes, repletas de conhecimento, capazes de anular o vazio existencial que, por vezes, invade os nossos corações e gera muita aflição perante a vida e o sentido da existência.
Cada um desses valores é capaz de iniciar uma transformação imensa naquele que os conhece. Como uma flor de lótus que, nascendo na lama, desabrocha à superfície da água e se dirige ao Sol, assim é a realização do ser humano que, após ter vivido por algum tempo aquém das suas infinitas possibilidades, num turbilhão de anseios, desejos e frustrações, desperta para sua própria luz. O ser é colocado como algo que transcende a matéria, um Ser imaterial, que em momentos de meditação ou contemplação, podemos sentir vivo, desperto e conectado diretamente com tudo que existe e com a própria criação.
Esses valores são como modelos, um guia para o agir e pensar que iluminam a mente e desnudam as verdades do mundo físico e espiritual. A intenção desses valores é levar o indivíduo a “ver por detrás do pano”, identificar-se com o todo, a causa primeira, o Ser além do nome e das formas. Depois de ler o Bhagavad Gita, a vida parece assustadoramente mais clara e interessante!
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Os valores do Bhagavad Gita e a espiritualidade
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Ausência de orgulho, ausência de pretensão, não-violência, acomodação, retidão, dedicação ao mestre, pureza, persistência, autocontrole (BG 13.8).
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Desapego dos objetos dos sentidos, ausência de egoísmo e percepção da dor como sofrimento inerente ao nascimento, à morte, à velhice e à doença (BG 13.9).
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Não-dependência, ausência de apego ao filho, mulher, lar, etc., manutenção constante do equilíbrio mental, seja alcançando o desejado ou o não desejado (BG 13.10).
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Devoção firme [ao Ser] sabendo que não há outro [além do Ser], frequência de um lugar sossegado, ausência da necessidade de companhia de pessoas (BG 13.11), busca constante do conhecimento (do Ser) e apreciação do sentido do conhecimento da verdade (BG 13.12).
O que você vai aprender lendo o Bhagavad Gita
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Vitimização
Sofrer e questionar são parte do crescimento, mas se prender ao sofrimento e não agir contra ele no coloca na posição de vítimas. E vítima nesse sentido não quer dizer que você não esteja sofrendo de fato com os atos de terceiros, mas sim o movimento que coloca você como único sofredor do mundo que não consegue agir a partir da frustração.
Esse papo de que não existem vítimas é a maior falácia moderna da autoajuda. Arjuna teve seu reino roubado, algo que gera muita dor e frustração. E foi preciso uma grande batalha para recuperar o reino perdido, apesar do sofrimento que Arjuna enfrenta. Arjuna é uma vítima, mas não se vitimizou. Agiu, enfrentou a guerra e fez o que era preciso para reparar o erro cometido por outros, sem se entregar a dor. A dor é apenas o veículo da consciência, um mecanismo que obriga o espírito a crescer. Negá-la e fingir que ela não existe também não é saudável, assim como viver apenas essa dor e deixar de encarar o que é preciso para sair dela e restaurar sua vida.
“Não importa o que a vida fez de você, mas o que você faz com o que a vida fez de você”
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A mudança é uma lei do Universo
Nada dura para sempre. Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe. Certo? A tendência é sempre que nada fique como está. O reinado de Arjuna, por exemplo, não foi eterno. Ele foi roubado, e foi necessária uma guerra para que a justiça fosse feita. Logo, o sofrimento só pode se sustentar quando tem apego. Arjuna teve que se despir de todo seu apego, especialmente emocional, para conseguir liderar a batalha em nome do seu reino. E não haviam garantias de que ele teria êxito. Quanto mais nos agarramos ao que temos, mais dolorosa é a “perda” ou a sua transformação. Isso acontece não somente com bens materiais como casas, carros e joias, mas também com velhos ressentimentos, paixões desenfreadas, medos e raivas antigas. Sem a morte ou a mudança, não há espaço para o novo.
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Cuidado com os pensamentos e emoções
A promiscuidade, a raiva e a ganância são a porta para a autodestruição. Tudo o que vemos, ouvimos, sentimos e percebemos como realidade são, na verdade, uma percepção subjetiva, logo, são ilusões criadas por nossos sentidos. Tudo que sentimos e pensamos pode somar ou subtrair nos seus resultados da nossa evolução.
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A ação é o segredo
Com dor, sem dor, vítima ou não, é o agir que nos leva para frente. Krishna disse: “A inatividade não leva à perfeição”. Isso quer dizer que só aprendemos verdadeiramente algo através da repetição. Não há atalho. Não há religião ou curso algum que vai te transformar se você não colocar a mão na massa. Não existem milagres nem fórmulas mágicas. O que existe é o crescimento pessoal e o esforço mental da desconstrução dos padrões, o que de fato gera transformações.
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A escolha pelo bem é sempre nossa
Novamente, não importa o que aconteça e o que você tenha que fazer para progredir. Você sempre vai ter a escolha de agir na luz ou nas trevas do seu ego. Sempre podemos escolher.
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Conheça a sua essência
O ser humano tem a tendência a querer conhecer a espiritualidade e Deus sem nem compreender a realidade que o cerca.
E, para compreender isso tudo, é preciso conhecer a nossa própria essência. Por isso, as religiões são tão cegas e cometeram ao longo da história erros terríveis. Elas não conhecem a essência espiritual humana, a consciência, vida como uma transição e constante evolução. Desconsideram a reencarnação, os aprendizados, e focam no pecado e na vida eterna que é concedida por um deus vingativo, punitivo, ou extremamente salvador e compreensivo.
Nosso corpo é apenas um estado transitório e a nossa essência está na alma, imortal, pura e indestrutível, que vivencia diversas experiências rumo à iluminação. Parece tão simples essa percepção, mas não é.
E é a falta dela que faz o mundo ser como é e abrigar nele consciências tão primitivas. Saber que tudo é transitório e fruto de aprendizado fornece uma outra dimensão de compreensão da vida, mais próxima do que é de fato a espiritualidade e a nossa missão na Terra.
“Conheça a ti mesmo e conhecerás deus”
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