Casamento no Marrocos – conheça as ricas tradições e comemorações
Cada cultura e crença religiosa possui um ritual matrimonial diferente. Por mais que exista semelhanças, toda cerimônia tem suas particularidades. O Casamento no Marrocos envolve muito mais do que a cerimônia do matrimônio em si. Com ricas tradições, os rituais e comemorações começam até três semanas antes da celebração religiosa. Os costumes podem variar de comunidade para comunidade, de acordo com as influências que cada uma absorveu das culturas árabe, berbere e ibérica. Porém, a influência dos megorashim – judeus de origem ibérica – foi a mais forte nas cidades da costa norte e se espalhou por todo o país. Diversos costumes relacionados à celebração do casamento são seguidos ainda hoje por judeus que vivem no país, e por aqueles que vivem em outros lugares. Conheça como era celebrado o Casamento no Marrocos pela cultura judia.
As preparações pré-nupciais do Casamento no Marrocos
O compromisso de noivado era realizado por um acordo verbal entre as famílias judias no Marrocos. Em torno de uma semana antes do casamento, o pai da noiva e o noivo iam até o sofer do Bet Din, o escriba do Tribunal Rabínico local, para oficializar o compromisso. A partir de então, o noivo assumia o compromisso de sustentar e zelar pela futura esposa e o pai da noiva reafirmava o valor do dote acordado previamente. O documento que contém o acordo, redigido pelo sofer diante do Bet Din, servia como base para a Ketubá, contrato nupcial lido na cerimônia de casamento, sob o chupá – pálio nupcial.
Quando terminava a celebração religiosa, o pai da noiva convidava todos os presentes para admirarem o enxoval da filha em sua casa. Entre eles, roupas, joias e objetos que levava para o seu novo lar. Logo após, familiares, amigos e vizinhos eram convidados para a comemoração. Enquanto isso, os judeus de Tânger, não realizavam nenhum compromisso prévio, o acordo era feito na própria ocasião das bodas.
Nas semanas que antecediam o Casamento no Marrocos, eram realizadas diversas festividades nas casas dos pais dos noivos. Eram celebrações em que familiares e amigos se reuniam para apresentar o jovem casal, dando os votos de uma vida próspera e feliz. Os convidados costumavam ofertar presentes à noiva como bandejas com doces e enfeites para adornar o arranjo que usaria na cabeça no dia do casamento. Outros presentes simbólicos eram usados para trazer bons augúrios, felicidade, fecundidade e prosperidade ao novo casal.
É costume no Marrocos realizarem casamentos nas quartas-feiras à na noite. No dia anterior, ocorre na casa dos pais da noiva a “Festa da Hena”, com participação dos familiares e amigos. Nesta celebração, a noiva, que por vezes está vestida de vermelho, tem as mãos e pés pintados de hena, planta que produz tinta vermelha. O objetivo é proteger a jovem do “ayin’ará”, o mau-olhado. Na mesma noite, era comum o noivo também celebrar em sua casa, porém sem hena.
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O “Grande vestido”, El-keswa el-kebira, de Casamento no Marrocos
Nos locais onde se fixaram os judeus e espanhóis, os trajes da noiva eram repletos de preparativos e suntuosidade, comparado aos preparativos de uma rainha para se coroada. O vestido da noiva era elaborado e rico, semelhante aos trajes utilizados pelas rainhas da Espanha. Conhecido como “El Gran vestido”, ou pelo seu nome árabe, el-keswa el-kebira, durante séculos foi usado sob o chupá por grande parte das noivas marroquinas, o que era um indício dos Sefarditas sobre as comunidades do Marrocos.
O “Grande vestido” era composto pela zeltita, uma farta saia-envelope comprida, feita com veludo de seda vermelho ou marrom e ricamente bordada com fios de ouro, algumas vezes com pedras semipreciosas incrustadas. A parte superior tinha um corpete de veludo da mesma cor da saia, gombazh, ornado com bordados e sete botões de prata. Por baixo, as kemam et-tesmira, mangas longas estufadas e tramadas com fios de ouro. O traje era complementado com um cinturão largo, que podia ser ornamentado com fios e pérolas.
O traje era repleto de significados. As curvas bordadas em fios de ouro que subiam da bainha representavam a fertilidade. Círculos dourados no colete simbolizavam o infinito ou o sol. Os setes botões de prata do corpete representavam as “Sete Bênçãos” da cerimônia de casamento, que eram repetidas no fim de cada uma das refeições festivas, ao longo da semana das Sheva Berachot que se segue à chupá.
O arranjo da cabeça era variado, podendo ser um turbante feito com lenços coloridos trançados, uma coroa de prata incrustada com pedras preciosas ou tiaras bordadas. A noiva levava ainda um festul, longa echarpe de seda branca ou verde, coberta por um pequeno véu branco transparente, o elbelo, ao ser entregue ao noivo.
Diferente de como era em alguns lugares da Diáspora, no Marrocos a noiva usava um véu fino, para não impedir que o noivo visse seu rosto. Os judeus do Marrocos acreditavam que a mulher tinha que ser sempre vista e “homologada” pelos familiares e amigos de convívio do noivo nas diversas cerimônias, como uma forma de confirmação da sua identidade.
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O dia do Casamento no Marrocos
O ritual de vestir a noiva era designado às mulheres que tivessem conhecimento das tradições. Em alguns povos, as mulheres coloriam as pálpebras da noiva e penteavam seus cabelos com duas tranças. Também pintavam em seu rosto símbolos contra o “ayin’ará” e, em suas mãos, desenhos ou letras hebraicas com hena.
Era costume a família do noivo ir à casa do pai da noiva para busca-la e levar para a casa de seu noivo. Ao recebê-la, o noivo a levava até o talamon – um tipo de trono em que a sogra esperava a futura nora ao som do “Baruch Habâ”, entoado pelos presentes. Eram acesas velas diante do trono, iluminando o caminho da jovem noiva que se descortinava à frente do casal.
A Ketubá, contrato nupcial da cerimônia de casamento, lido sob o chupá (pálio nupcial) é preparada anteriormente e quase sempre escrita à mão por um sofer. Depois da celebração do casamento na chupá, a noiva se senta no talamon, a cadeira nupcial, e é erguida pelos familiares realizando um passeio pelo local, enquanto são tocadas alegres melodias. Depois, os noivos recebiam presentes dos convidados, que eram anunciados um a um em voz alta. No próximo dia, é costume a mãe da noiva colocar sonhos, mel e leite no lado de fora do quarto do casal, desejando “que dulce lo vivas”, ou seja, que tivessem uma vida juntos doce como mel, rica e límpida como o leite.
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Os dias da alegria pós Casamento no Marrocos
Durante “sete dias de alegria” após o casamento, ou Sheva Berachot, um jantar especial era realizado em cada noite. Na última noite, era celebrada a Seudat ha-Dag, a refeição do peixe, um dos pratos obrigatórios no cardápio. A família toda participa e traz seus votos de uma vida próspera para os recém-casados. Além disso, como o peixe representa a fertilidade, os convidados desejavam à noiva: “Que sejas tão fértil quanto os peixes”.
Existem muitos costumes que marcam a entrada da noiva pela primeira vez em sua casa no Marrocos. Porém, todos têm o mesmo propósito: atrair os bons augúrios para uma vida fértil e próspera, guiada “por las costumbres y las hadas de los nuestros” e “bendecida por los Sadikim, por Abram Abinu y por El D´os de Israel”.
Este artigo foi livremente inspirado nesta publicação e adaptado ao Conteúdo WeMystic.
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