Seu casamento vai sobreviver à quarentena?
São muitos os fenômenos que estamos testemunhando com a pandemia. O coronavírus colocou o mundo de joelhos e transformou completamente a nossa realidade, de uma maneira que nunca imaginamos que aconteceria.
Um deles é a quantidade de divórcios durante o isolamento. O que isso quer dizer? E o que a espiritualidade tem a ver com isso?
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Convivência que nos separa
Antes, separávamos por incompatibilidade de agendas, porque não tínhamos tempo em comum. Agora é o contrário: a obrigação de conviver 24hs por dia está separando muitos casais. Esse aumento do número de divórcios começou na China, mas, assim como o vírus, vemos esse padrão se repetir pelo mundo afora. Muitos casais parecem resistir à proximidade em tempo integral do confinamento.
O isolamento social nos obriga a ficar em casa, convivendo com aqueles entes mais próximos: pais, irmãos, filhos, cônjuges. E em qualquer relação há conflitos, o problema é que eles ficam mais intensos com o confinamento. Só o fato de enfrentarmos uma pandemia onde a cura acontece através do isolamento social, já temos motivos de sobra para estarmos estressados. E viver em prisão domiciliar não ajuda em nada. Além disso, as pessoas não lidam da mesma maneira com a incerteza, com a pressão, o que também pode criar discussões. Realmente não é um momento fácil. Não mesmo.
Mas, quando casamos, não prometemos uma união que perdure na riqueza e na pobreza? Na saúde e na doença? Seria demais esperar que ele também se mantivesse estável na liberdade e no confinamento?
Por que casamos?
A primeira coisa que vem a sua mente é certamente o amor. Mas não é bem assim. Casar por amor é um privilégio moderno. Casar foi, por quase toda a nossa história, um acordo comercial. Casar porque encontramos felicidade na complementaridade do casal é algo muito novo.
Sim, o casamento tem uma história. Nem sempre casamos por amor. Aliás, a nossa relação com a família também é histórica, ou seja, ela mudou (e muito) através dos tempos. Não existia o conceito de adolescência na Idade Média e as crianças não eram amadas como hoje. Parte disso era cultural: os índices de mortalidade infantil do passado não permitia muito apego aos filhos. Era comum, inclusive, que as crianças trabalhassem. O casamento passou de um contrato social a uma união de amor com a ascensão da burguesia e a criação do ideal romântico. A partir daí era preciso casar e ser feliz nesse casamento. E quando chegou a possibilidade do divórcio, novamente tivemos uma transformação na maneira como lidamos com essa união.
“Tão bom morrer de amor! E continuar vivendo…”
O casamento deixou de ser para toda a vida, um enorme progresso social. Nos libertamos das amarras religiosas e ficamos mais livres para buscar a felicidade e reparar certos erros. Mas isso também fez com que a ideia de casamento enveredasse por caminhos não tão genuínos quanto os do amor: há pessoas que gostam da ideia de casamento, não especificamente das
pessoas envolvidas no casamento. Você certamente já deve ter conhecido uma noiva que parecia mais empolgada com sua festa e seu vestido de princesa, do que com o dia seguinte, com a convivência, com a partilha de vidas que constrói um casamento sólido. Aí começam os problemas que vemos agora emergir na quarentena.
Formamos casais pelos motivos errados
A vida moderna é muito dinâmica e muito individualista. E cada vez mais esse individualismo reflete em nossas relações afetivas, especialmente no casamento. Mais importante do que ser feliz é encontrar um “bom partido” ou “uma boa moça”. Você também deve conhecer pessoas que abriram mão do amor verdadeiro para seguir padrões, escolhendo a estabilidade ao invés da incerteza. Isso ainda acontece muito no oriente, onde o casamento ainda continua significando a honra familiar e um contrato social/comercial. Sem o consentimento da família, quase sempre da matriarca, indianos e muçulmanos simplesmente não se casam.
Depois das redes sociais, as aparências tomaram ainda mais força. Admiramos casais bonitos, que postam fotos bonitas, mas pouco sabemos sobre a convivência deles. Não baseamos essa admiração em valores, e sim em aparências. E esse movimento mental também acontece quando escolhemos um parceiro: procuramos estabilidade, depositamos no outro a nossa felicidade e não percebemos que devemos casar com alguém com quem desejamos dividir a vida até o fim dela. Casamento é difícil, não é romântico e exige uma troca que poucas pessoas são capazes de fazer. Então, quando a relação deixa de ser conveniente, abandonamos o barco. Às vezes basta um primeiro temporal para distanciar um casal. Pessoas se tornaram objetos, “coisas” que descartamos quando elas não nos servem mais. As pessoas se casam procurando conveniência, não amor.
“Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?”
Mas o casamento é muito mais do que viagens e fotos bonitas no Instagram. Casar exige muita maturidade, casar exige de nós encontrar prazer em se negar algumas coisas para que o outro possa ser feliz. Casar é estar disposto a ceder e enxergar a compaixão como forma de felicidade. Casar é enfrentar muito mais momentos difíceis do que alegrias. É por isso que o primeiro dogma do casamento quebrado é o que diz que devemos ser felizes na riqueza e na pobreza. Sem dinheiro, um casamento moderno fica muito ameaçado.
A correria moderna era um esconderijo
A dinâmica social que criamos nos faz correr de um lado para outro o tempo todo. Quem disser que tinha tempo pra si antes da quarentena ou era rico e não trabalhava, ou era dessas pessoas que acordavam às 4:30 da manhã para começar o dia. Não, não tínhamos tempo e é por isso que agora não sabemos o que fazer com todo esse tempo que ganhamos com o isolamento.
Antes da quarentena, os conflitos eram diluídos pela falta de convivência e também de responsabilidades domésticas. É fácil ser casado quando você não convive com a pessoa e passa a maior parte do dia trabalhando. E depois do trabalho tinha o happy hour, a academia, algum curso, uma festa, um aniversário. E assim acabava o dia. As tarefas da casa eram terceirizadas, assim como a criação dos filhos. Agora, os filhos estão o dia inteiro em casa. Agora, as empregadas se foram. Agora, é preciso cozinhar, lavar, limpar, organizar. É chocante ler entrevistas de pessoas como a Angélica e Luciano Huck, que se dizem orgulhosos porque descobriram que eram capazes de cuidar da casa, cozinhar e cuidar dos filhos sem ajuda. Infelizmente, isso diz muito sobre nós, sobre a nossa história como país e a profundidade dos vínculos afetivos que estabelecemos.
É isso que está enlouquecendo as pessoas: ter de lidar com a família sem ajuda, durante o dia inteiro. Enquanto estamos ocupados com o trabalho, as tarefas domésticas, a escola, as atividades dos filhos, acabamos por prestar menos atenção aos nossos sentimentos e necessidades, bem como aos sentimentos e necessidades da pessoa que está ao nosso lado. Antes nos escondíamos nos compromissos, na correria. Agora não podemos mais. As diferenças entre os integrantes de uma família estão muito evidentes e não há para onde fugir. Ou enfrentamos, superamos, ou nosso destino é o divórcio.
Dicas para evitar o divórcio na quarentena
Se uma quarentena pode separar um casal, é verdade também que ela pode torná-los ainda mais fortes, mais unidos. E tudo na vida é construído. Para quem está disposto a fazer da quarentena um momento de profunda união e crescimento, aqui vão algumas dicas!
A pandemia tem começo meio e fim
A primeira coisa que devemos ter em mente é que a pandemia não é eterna, ela tem começo, meio e fim. Isso significa que nosso agora pode estar diferente, pode estar difícil, mas é uma fase.
“Não há bem que sempre dure nem mal que nunca se acabe”
Só precisamos passar por esse momento e usar toda essa mudança para crescermos ainda mais. Vai passar e as coisas vão se ajeitar. Aguente firme!
Busque a paz em você, não no outro
Esse é um momento que nos tira a paz de espírito. Temos medo da doença, medo da morte, medo de perder quem amamos, medo da crise econômica. Não sabemos qual será o mundo que nos espera e isso tudo pode causar muito sofrimento psíquico. Então, tendemos mais do que nunca a depositar no outro a nossa felicidade e responsabilizar o outro pela nossa tristeza. Mas não. Está errado. A nossa felicidade é interna e depende de nós. É preciso trabalhar a nossa independência afetiva para suportar a quarentena sem rompimentos amorosos e familiares.
Fortaleça a empatia
Nesse momento é essencial olhar para o outro, enxergar o outro. Precisamos nos colocar no lugar do outro e conhecer as suas preocupações, o que o inquieta, o que lhe faz falta. Se formos capazes de ver a pessoa que está ao nosso lado, reconhecendo e valorizando as suas emoções, resolver conflitos fica muito mais fácil. Esqueça o que é certo ou errado e ouça como o outro se sente. Não se sinta atacado com críticas e cobranças, e ao invés de se defender, ouça. Abra o coração para dar ao outro o que ele precisa.
Divida as tarefas
Quando uma das pessoas da casa está sobrecarregada, a relação vai enfraquecer. Mulheres-maravilha que fazem tudo sozinhas enquanto o marido assiste televisão no sofá já não existem, esse modelo não sobrevive mais na realidade atual. Ele foi superado. Dividir a vida significa dividir responsabilidades e tarefas também. Tarefas domésticas são uma obrigação de todos que moram na casa, não só da mulher.
Peça desculpas
Quando erramos, quando magoamos, devemos nos desculpar. Esperar a crise passar só gera mágoas e mal-entendidos. Não deixe que eles apodreçam seu casamento. Tente resolver as coisas através do diálogo e esteja sempre pronta para perdoar e pedir perdão. Dê o primeiro passo.
Crie uma rotina de lazer
Isso serve também para a convivência com os filhos! Estamos sob tanta tensão que podemos esquecer do nosso lazer. E criar atividades em conjunto, que nos façam passar o tempo com qualidade, pode ajudar muito a aliviar o estresse do confinamento e aproximar casais, pais e filhos. Um pouco de endorfina pode ser a salvação!
Use a espiritualidade a seu favor
Tem momentos que o mundo espiritual é nosso único consolo e também nossa fonte de crescimento. Especialmente agora, durante a pandemia, voltar os olhos para o mundo espiritual é essencial. E quando se trata de casamento, ele também tem muitas respostas e pode nos ajudar a superar grandes crises. Meditar, rezar, pedir por respostas e solicitar ajuda pode fazer a diferença entre separar e manter a união. Não perca de vista a dimensão espiritual da sua vida e da sua relação e use a espiritualidade a seu favor.
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