Cigano Diego – o cigano orfão que encontrou seu povo
A história do Cigano Diego
A história do cigano Diego é uma história muito triste, mas que no fim, teve um final feliz. Diego foi uma criança que, desde sempre lembrava-se de morar em um orfanato, uma instituição de freiras que acolhia crianças vindo de todo lado, a maioria filhos de pais que morreram em guerras. Eram milhares de crianças que não viviam, apenas sobreviviam. As freiras que deveriam cuidar delas, as maltratavam, batiam, davam pouquíssima comida, praticamente uma lavagem aos pequenos. Muitos adoeciam, morriam de fome, de diversos males pela fraca nutrição e falta de higiene. Todos os dias morriam crianças e chegavam mais crianças.
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O segredo de Diego
Entretanto, a mesa das freiras estava sempre farta. Elas comiam do bom e do melhor e davam apenas os restos às crianças. Entre elas, era uma verdadeira guerra pela sobrevivência. Só quem era mais forte conseguia alcançar a comida, e o pequeno Diego era magro e mal conseguia pegar o suficiente para não morrer de fome. Pelas suas feições, as outras crianças o chamavam de “cigano” e ele detestava. Não conhecia as suas origens, e junto da alcunha de cigano, chamavam-lhe também de ladrão, de filho de rameira e de outras coisas piores. O menino ia definhando. Até que decidiu tentar pegar comida das freiras para sobreviver. Ele viu onde é que elas guardavam toda a comida – que na realidade era destinada às crianças mas não eram devidamente repassadas e pensou: “essa comida deveria ser minha, então vou pegá-la e guardá-la para não morrer de fome”.
Todos os dias, depois que todos iam dormir, Diego ia até o armário, pegava um pouco de comida, e guardava em um buraco que havia atrás da sua cama. Não era muita comida, mas assim conseguiria não adoecer e não morrer de fome. Ele não dividia sua comida com ninguém, além de ter medo de ser denunciado, ele não tinha amigos pois todos o xingavam de “cigano”. Sempre que a caravana de ciganos passava na frente dos portões do orfanato, as crianças se espremiam entre as grades para olhar, alguns ficavam admirados, outros xingavam, chamavam-nos de ladrões, de putas e falavam com o Diego que ele deveria ir atrás daquela caravana, que sua mãe deveria estar dormindo com aqueles homens. Diego alimentava ódio desse nome, “cigano”, sem saber da sua origem.
O fato de Diego comer comida escondido fez com que ele não passasse fome nem adoecesse, o que surpreendeu às freiras e às outras crianças. Então, além de cigano, passaram a chamá-lo também de bruxo. Por causa disso, as crianças armaram uma emboscada para Diego. Fingiram que dormia, para esperar que o menino fosse buscar a comida. Quando ele voltou, estava acordados e, além de lhe tomarem a comida, deram uma verdadeira surra em Diego. Ele teria sido morto pelas outras crianças se não tivesse sido pela intervenção das freiras, que afastaram a confusão, mandaram as crianças para a cama e carregaram o menino dali. Mas, apesar de salvar a sua vida, as freiras ainda lhe bateram mais um pouco por ter roubado a comida e o jogaram em um porão horrível, escuro, úmido, cheio de baratas e ratos. Diego achou que ia morrer. Tinha fome, tinha sede e estava gravemente ferido. Amanheceu e o menino esperava que alguém o viesse buscar, mas isso não aconteceu. Ele ficou ouvindo o som das crianças no pátio enquanto ele ficou preso no sotão, com fome, frio e dor.
A mensagem cigana que salva sua vida
Até que uma certa hora da tarde, uma freira abriu a porta e coloque um pão e um jarro de água. Depois jogou no chão algo que ele não conseguiu enxergar tamanha escuridão, e disse: “Tome isso cigano, isso é seu, se você morrer pelo menos vão identificar quem você era.” O menino comeu o pão duro, bebeu a água e buscou o objeto. Era uma estrela de 6 pontas, uma estrela Cigana de cobre. Ele não sabia o que era, mas colocou o cordão com a estrela no peito como se aquilo o fosse proteger. Ele conseguiu dormir mas logo que pegava no sono ouviu uma voz doce e feminina dizendo:
– “Cigano”! “Cigano”! – bem baixinho
– Como ele não gostava desse apelido, não respondeu. Mas continuou a olhar muito fixamente para aquela aparição muito clara, de uma mulher no sotão.
– Cigano porque você renega seu passado? – perguntou a voz
O menino não entendeu nada.
– Quando eu digo passado, ciganinho, quero dizer suas raízes, sua gente, seus antepassados.
– Qual passado? Eu não sei nada sobre o meu passado, estou aqui desde sempre!
– A partir de hoje você deve se orgulhar do que é, deve respeito aos seus pais embora não os tenha conhecido, deve honrar toda a nação cigana.
– E o que eu sou senhora?
– Você é um cigano. Não sente vontade de ser livre? Não se sente discriminado por todos?
Não sofreu na própria pele a maldade dos homens? Guarde o seu tesouro menino ele te levará ao teu povo.
– Como assim? Me levará ao meu povo?
– Dê tempo ao tempo cigano, você não está sozinho.
Então aquela luz foi se apagando aos poucos e voltou a escuridão. A voz era de um anjo, de um enviado de Deus que foi ali para dar forças ao menino cigano e foi isso que aconteceu. No dia seguinte, as freiras vieram recolher o menino, e por uma razão que ele desconhecia, trataram bem dele. Alimentaram, cuidaram das feridas, deram banho até que ele se recompusesse. As demais crianças do orfanato passaram a respeitar o menino cigano, por ele ter sobrevivido à aquela situação.
Mas a vontade de liberdade de origem cigana bateu muito forte, e quando se recuperou, Diego foge do orfanato na calada da noite. Ele sabia que uma caravana cigana havia passado na frente do orfanato há poucos dias e queria tentar alcancá-los.
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A fuga de Diego
Ele pulou o muro e foi andando pela estrada, sem saber ao certo o que buscava. Dormiu embaixo de uma árvore, com fome e frio. Ao acordar, viu de novo o seu anjo, que o perguntou como ele se sentia: “Tenho fome, tenho frio, mas estou feliz como nunca por estar livre e ir ao encontro do meu povo!”.
Depois seguiu sua caminhada, encontrou um milharal no caminho, onde pode matar um pouco de sua fome. Pouco depois, uma carroça se aproximou e um homem lhe perguntou:
-Aonde você vai, menino?
Ele teve medo de responder, pois poderia ser uma pessoa preconceituosa contra os ciganos, mas como essa era a sua única chance, ele disse a verdade:
– Sou cigano, estou indo atrás da caravana que passou aqui há pouco dias.
Por sorte, o homem era um comerciante que fazia muitos negócios com os ciganos e estava indo ao encontro da caravana. O menino subiu na carroça e foi contando a sua história ao comerciante, que ficou impressionado.
Ao longe, já avistava a fumaça da fogueira, a música dos violinos, o cheiro da comida.
O reencontro com o seu grupo cigano
Quando chegaram, o comerciante chamado Lourenço foi até o Cigano Ramon e contou a história do pequeno menino que ele trazia consigo. O cigano Ramon então convidou o menino para ir até a tenda, indicou-lhe uma bacia para tomar um banho e deixou para ele umas roupas: “São do meu filho, ele tem mais ou menos o mesmo tamanho que você, deve servir”.
Então, Ramon serviu uma refeição ao menino, que comeu sem ao menos respirar. Ramon o esperou na entrada da tenda e disse que iria lhe levar ao encontro do Pai Grande.
O menino passou pelo acampamento achando tudo muito lindo, mas os ciganos olhavam para ele curiosos, querendo saber quem era aquele menino. O menino chegou à tenda do Pai Grande, o líder do grupo com o coração saindo pela boca. Ao chegar, ele se levantou e abraçou o menino com muita alegria, e o menino caiu no choro, de alegria. O Pai Grande, disse:
– Seja bem vindo filho de Ramires, eu nunca perdi a esperança que um dia você ia entrar nesta tenda.
– Filho de Ramires? Quem? Eu?
– Isso mesmo menino, Ramires foi o teu pai, ele e tua mãe já não estão mais conosco, pelo menos em corpo, mas tenho certeza que em espírito devem estar radiantes pela tua chegada. Lourenço me contou toda a sua história e tenho a certeza que você é o filho de Ramires que estava perdido. A história dos seus pais é tão triste quanto a sua, você está preparado para ouvi-la?
– O menino estava em lágrimas mas acenou que sim.
O Pai Grande contou que Ramires era o líder do bando na época, e que ele, sua esposa e o pequeno bebê de menos de um ano saíram de carroça em busca de mantimentos para o grupo. Mas no meio do caminho, eles sofreram uma emboscada. Saqueadores roubaram tudo que eles haviam comprado e ainda coloram fogo na carroça e nos corpos. Encontraram os corpos de Ramires e sua esposa, mas nunca o do bebê. As autoridades nada fizeram para encontrar os culpados nem o bebê, pois eram ciganos e eles não se importaram. E desde então, o bando espera ansiosamente por esse dia.
O cigano Ramon interrompeu e perguntou:
– “Pai Grande, como o senhor tem tanta certeza que é esse mesmo o filho de Ramires?
– “ Eu senti no momento em que ele entrou na tenda. Mas há outra coisa que confirma: o cordão com a Estrela Cigana”.
Ramon levou o menino para que todo o grupo o conhecesse, mostrando a estrela e dizendo que o filho de Ramires estava vivo e estava de volta! Todos fizeram uma enorme festa, deram-lhe muitos beijos e abraços, serviram uma comida maravilhosa, um verdadeiro banquete. Diego sentiu-se como um rei. E desde então, passou a ter orgulho de suas raízes, viveu como um legítimo cigano e tornou-se, na maturidade, o líder do seu grupo até o fim da vida.
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