Podemos confiar em médiuns e videntes? Como distinguir os charlatões?
Esse texto foi escrito com todo o cuidado e carinho por um autor convidado. O conteúdo é da sua responsabilidade, não refletindo, necessariamente, a opinião do WeMystic Brasil.
O tema desse artigo é polêmico, é verdade.
Mas serve de alerta para quem busca respostas do mundo espiritual para os problemas da vida. Quem nunca?
A verdade é que devemos ter cuidado, muito cuidado, com aquilo que escutamos de entidades. Nunca devemos levar a ferro e fogo qualquer tipo de mensagem do além. Mediunidade é uma realidade, mas, nem todas as mensagens espirituais e médiuns devem ser poupados de um pouco de ceticismo.
Desenvolvendo a mediunidade
“Se um homem tiver realmente muita fé, pode dar-se ao luxo de ser cético”
O problema começa aí. Você procura um centro espírita, espiritualista, de candomblé, umbandista ou seja lá qual for a linha espiritual do local e escuta que possui mediunidade e precisa desenvolver. O que é uma notícia incrível para quem vive a espiritualidade de perto e procura esse apoio para direcionar a vida. E lá vai você, frequentar aulas de desenvolvimento ou, dependendo do caso, vai direto participar das incorporações.
Até aí, tudo bem. Mas veja, quase nenhum diretor de centro ou médium é clarividente. A clarividência é uma habilidade rara de se encontrar. O que significa que, a maior parte dos direcionamentos de uma casa são passados pelas entidades incorporadas e poucos médiuns (às vezes nenhum) está de fato vendo quem está ali, quem é mesmo aquela entidade. E nisso, há muitos lugares recebendo aconselhamento de encostos, kiumbas, ou seja lá o nome que a linha em questão utilize. E sempre vão dizer “aqui não existe isso”, mas, se você mesma não está vendo o que está acontecendo, desconfie sempre.
“A mediunidade faz parte da natureza. Todos somos médiuns, uns mais, outros menos desenvolvidos, e trocamos energias uns com os outros.”
E mesmo para aqueles que veem os espíritos, nem sempre é fácil identificar quem são as personalidades que se apresentam. O encosto tradicional, o estereótipo de “espírito sofredor” de fato existe, mas nem só deles é feito o umbral.
Há muitos espíritos inteligentes e poderosos que habitam o umbral e que conseguem plasmar formas, identidades e passar aconselhamento como se fossem entidades da luz. O ego dos médiuns (que não é maior nem menor que o ego da natureza humana) sempre vai dizer “eu sei identificar” ou “eu sinto a energia, não tem como eu ser enganado” ou, ainda “eu confio nos meus guias”, mas a verdade é que todos estamos sujeitos a esse tipo de assédio mais inteligente. Waldo Vieira e outros médiuns já trataram desse assunto, que ainda parece ser um tabu nas casas espiritualistas. Por isso, cuidado.
Animismo está sempre presente
Essa é uma outra questão que devemos levar em conta quando tratamos do universo mediúnico: o animismo. Saiba nesta publicação a diferença entre animismo e mediunidade. Sim, ele está sempre presente, seja de forma mais intensa ou menos intensa. O animismo nada mais é do que a interferência da consciência do médium nas mensagens passadas. Essa questão está descrita no Livro dos Médiuns, de Allan Kardec (capítulo XIX).
A pergunta feita por Kardec foi: As comunicações escritas ou verbais podem ser também do próprio Espírito do médium?
A resposta obtida foi a seguinte:
“A alma do médium pode comunicar-se como qualquer outra. Se ela goza de um certo grau de liberdade, recobra então as suas qualidades de Espírito. Tens a prova na visita das almas de pessoas vivas que se comunicam contigo, muitas vezes sem serem chamadas. Porque é bom saberes que entre os Espíritos que evocas há os que estão encarnados na Terra. Neste caso, eles te falam como espíritos e não como homens. Porque o médium não poderia fazer o mesmo?”.
Se partirmos do princípio que a maior parte dos médiuns são semi-conscientes, isso significa que a maioria deles está ali, consciente, enquanto a entidade acopla e usa o corpo do médium para se comunicar. Isso não significa dizer que os médiuns inconscientes não possam sofrer com animismo, porque podem.
Mas é, de fato, mais difícil, uma vez que eles ficam totalmente inconscientes durante o transe mediúnico e não se lembram de absolutamente nada que foi dito durante o atendimento. Mas ainda assim há um encontro de consciências, ou seja, o espírito ainda depende um pouco da base de conhecimento do médium para se comunicar.
Um exemplo muito comum que podemos perceber com facilidade é a própria linguagem: um médium fala errado uma palavra específica e, quando incorporado, continua falando essa mesma palavra de forma errada. Portanto, podemos afirmar que nenhuma mensagem espiritual advinda de uma incorporação ou qualquer outro fenômeno espiritual está livre de animismo, o que torna esse universo ainda mais nebuloso. Por isso, é sempre muito necessário investigar sobre a seriedade não só do médium que está aconselhando, mas também da casa que você está frequentando. Mantenha-se atenta sempre, confie desconfiando.
Charlatanismo é uma realidade
Os dois tópicos acima dizem respeito a médiuns de fato, ou seja, pessoas que são capazes de se comunicar com espíritos. Se eles são da luz ou o grau de animismo que sofrem é discutível, mas estamos tratando com médiuns de fato. Já nesse tópico o alerta é para o fato de que existem muitos charlatões no esoterismo, muitos.
Gente que alega poder mundos e fundos e que, na verdade, só está enganando você para fazer um dinheiro em cima da sua ingenuidade. Isso é mais velho que andar para frente e existe em todas as áreas humanas, e com a espiritualidade não seria diferente.
“Uma faculdade mediúnica não pode ser um motivo de suspeita, pois existe uma aptidão real. O correto é agir sempre de muita boa-fé para obter um resultado satisfatório. Infelizmente, qualquer coisa pode tornar-se um objeto de exploração; não há charlatanismo desinteressado. Se alguém se sentir coagido, o melhor a fazer é mostrar o desinteresse; a mais peremptória resposta que se pode oferecer aquele que nos deseja lograr”
Há, inclusive, muitas técnicas usadas por esse tipo de pessoa e que são conhecidas daqueles que estudam a espiritualidade um pouco mais a fundo. Quer conhecer algumas?
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Efeito Forer
Efeito Forer tem a ver com a abertura mental que temos naturalmente em receber mensagens astrais, até porque, quase sempre somos nós que as procuramos. Assim, já temos uma receptividade imensa que nos faz acreditar que uma descrição genérica feita a partir do conhecimento adquirido sobre da mente humana, é, na verdade, uma descrição altamente fiel à nossa personalidade. Parecem muito assertivas e exclusivas, mas, na verdade, elas caberiam a maior parte das pessoas que vivem na Terra. Quer ver alguns exemplos?
“Você é extrovertido com os amigos, mas gosta de ficar sozinho em alguns momentos”;
“Você costuma pensar de uma forma independente. Não aceita qualquer coisa que te dizem sem ter uma mínima prova que seja”;
“De vez em quando Você não consegue dormir, porque fica pensando em todas em coisas que gostaria que acontecessem ou nos seus problemas”;
“Você perdeu alguém que ama”;
“Algo está te incomodando, você está com um problema”;Todas essas frases são exemplos clássicos de afirmações que parecem pessoais, mas são totalmente vagas para qualquer um. E como a validação é sempre subjetiva, ou seja, feita por nós, isso nos torna ainda mais suscetíveis a crer no que dizem os charlatões.
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Efeito Hans
No final do século XIX, início do século XX, o matemático alemão Wilhelm von Osten tinha um cavalo chamado Hans. O matemático alegava que seu cavalo sabia fazer cálculos e dava respostas numéricas através das batidas de sua pata. Mas, graças à investigação do psicólogo alemão Oskar Pfungst, tornou-se evidente que o cavalo não calculava nada, mas sim, respondia à linguagem corporal da pessoa que o perguntava: quando a quantidade de toques se aproximava da resposta correta, a pessoa que fazia a pergunta ficava tensa e, quando o cavalo chegava no número correto, a pessoa relaxava. Então, Hans parava de bater suas patas.
Charlatões podem usar esse mesmo método com muita agilidade. Por exemplo, podem dizer: “Ultimamente, você tem tido problemas com um ho… não, com uma mulher”. Eles jogam um verde baseados nos problemas mais comuns dos consulentes, como dinheiro e amor, e, antes de finalizarem a frase observam a expressão do consulente. Assim, conseguem conduzir a mensagem com um nível mais alto de assertividade, usando você mesma como guia. E você não disse uma palavra sequer! Pois é. Você pode não ter dito conscientemente, mas suas expressões servem como guia para que o charlatão siga um ou outro caminho na condução da mensagem do além. Parece espiritual, mas é pura enganação.
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O escolhido
Esse truque é bem manjado.
Os charlatões usam essa artimanha para ganhar sua confiança durante uma consulta. Eles dizem algo muito positivo a seu respeito, colocando você em uma posição de destaque na vida. Algo como “você tem um potencial incrível e não está aproveitando, mas sabe que ele existe“. Quem não quer ouvir que é como o Neo, de Matrix? O escolhido, o diferente, o cheio de potencial? Pois é. Veja que nunca será dito que você é uma pessoa horrível ou algo do gênero. Sempre é positivo e diferenciador, que mexe com nosso ego. Se ouvir algo nessa linha, coloque seus dois pés para trás, pois as chances de você estar sendo enganado são altas.
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As trocas
Essa é, de todas as técnicas, a mais delicada de se observar. Sim, é verdade que podemos usar de trabalhos espirituais como forma de nos relacionar com o mundo espiritual. Mas, quando lhe oferecem trocas como forma de alcançar qualquer que seja seu desejo, especialmente quando ele é fútil ou mundano, desconfie. Oferecer comida, sacrifício animal ou realizar rituais fazem parte de algumas religiões, mas um bom centro sempre vai te orientar a resolver seus problemas através do crescimento que existe escondido nas dificuldades. Ultrapassá-las usando um caminho mágico e fácil não faz parte da luz e pode te custar muito caro. A espiritualidade não barganha e não troca, acredite. Se esta for a solução apresentada e, especialmente se ela custar uma alta quantia em dinheiro, desconsidere e procure outro lugar.
Como saber quando se trata de uma mensagem da luz?
Essa resposta é fácil: observe a mensagem.
Primeiro veja se ela faz sentido na sua vida, se de fato é algo que lhe foi revelado e que coincide com o que você está vivendo ou buscando. Quanto mais secreta for a revelação, maior é a chance de você estar mesmo diante de uma entidade ou de um fenômeno mediúnico. E, se o conteúdo envolver dinheiro ou prejudicar terceiros, você já sabe a resposta.
Apesar de fácil, aplicar essa ideia quando se trata da mediunidade e da vidência é um pouco mais complicado do que parece. Nosso desejo e nosso ego sempre tendem a acreditar, especialmente quando a mensagem parece atender nossos anseios ou nos dar esse senso de pertencimento, de “o escolhido”.
Se a solução oferecida for fácil e não envolver o seu próprio crescimento, você está no lugar errado, ouvindo a pessoa errada. Deixe seu ego de lago e abandone seus desejos na hora de fazer esse julgamento. Outra dica é tentar sempre dizer o mínimo possível sobre você e não confirmar nem questionar o que está sendo dito.
Controle suas expressões e deixe o vidente ou médium falar sem esboçar emoções. E lembre-se quem nem tudo que é dito é uma sentença imutável! O médium pode ter dito algo baseado em uma probabilidade, portanto, pode ser que as coisas mudem. Não se apegue!
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