Cuidado e empatia: o mês das mães pode ser diferente
Esse texto foi escrito com todo o cuidado e carinho por um autor convidado. O conteúdo é da sua responsabilidade, não refletindo, necessariamente, a opinião do WeMystic Brasil.
O mês das mães é recheado de propagandas e homenagens que valorizam a culpa e abnegação materna. Com o passar do tempo, o que antes era exaltado, passou a ser questionado: será que deixar a saúde mental de lado no maternar é correto? É o melhor?
A resposta é não! A saúde mental da mãe é muito importante e deve ser priorizada. Esse é o tema do Maio Furta-Cor, um movimento que promove ações para mães e discute a importância da saúde mental materna no geral e em situações da maternidade. Trata-se de um período para ter empatia, debater assuntos pertinentes ao tema e mostrar que o sofrimento materno não é bonito e não pode ser banalizado. Segundo a Fiocruz, uma a cada quatro mulheres apresenta quadros de depressão no período de seis a 18 meses do nascimento do bebê. Pela falta de debate sobre a realidade materna, muitas mulheres chegam ao mundo da maternidade com outra visão. É o caso de Cecília França, jornalista e mãe de Joaquim, de cinco anos e João, de dois. Ela conta que, no início, não sabia como o cansaço extremo mexe com a saúde mental e física. Com o primeiro filho, a jornalista conta que vivenciou momentos de profunda tristeza por um conjunto de questões: uma via de parto que não era a esperada e dificuldades na amamentação.
A psicóloga Aline Pimentel explica que essa quebra de expectativas é muito comum na maternidade e o fato de ser pouco evidenciada a potencializa. Pimentel cita que, mesmo com o assunto entrando nas mídias, o acesso real às mães ainda é pequeno. Assuntos como o corpo, por exemplo, ainda são tidos como ‘tabus’ e esse também é um dos motivos para a decepção com a maternidade.
Outro sentimento que acompanha as mães é a culpa que, de acordo com a psicóloga, nasce junto ao parto, com os questionamentos de estar fazendo a coisa certa, ter a criação correta, mas isso é potencializado com a sociedade. Na posição de mãe, França percebe que o julgamento acerca de atos simples como matricular crianças pequenas em uma escola traz mais peso e o maternar “é tratado como desleixo”. Ela diz que existe uma maior facilidade em se livrar da culpa quando se tem a noção de que isso não interfere na qualidade da maternidade, mas que muitas vezes é cansativo e ela acaba desistindo dessa busca.
A priorização da saúde mental também gera mais culpa. França pontua que essa culpa está ligada aos papéis estabelecidos pela sociedade patriarcal às mães e se priorizar não faz parte disso.
Como solução, Pimentel indica buscar uma relação saudável na criação. Se permitir sentir o que a maternidade oferece, mas de forma respeitosa consigo mesma, com autocuidado. O cuidado é um dos pontos principais do Maio Furta-Cor. O movimento que se define como uma onda de cuidado, afeto e legitimação dos sentimentos do maternar transformados pela avalanche de dor e sofrimento da maternidade. As programações incluem rodas de conversa com assuntos variados, como o luto materno, relação com o corpo, gestação de risco fazem parte dos debates.
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