Cura: nós dependemos uns dos outros
Se tem uma coisa clara na pandemia é o quanto dependemos uns dos outros. Nunca a expressão “somos todos um” fez tanto sentido. É lindo termos consciência que estamos interligados, mas nosso comportamento até agora não tem sido esse.
Chegou a hora de mudar. Nossa saída é coletiva. Nossa lição é social. A cura é planetária. Se voltarmos ao que éramos antes, tudo terá sido em vão. Nós dependemos uns dos outros.
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A cura material
Quando pensamos em cura, pensamos logo na vacina ou em tratamentos que evitem que a doença se agrave. Essa é a cura da matéria e é por ela que vamos começar. Nenhum país faz nada sozinho, nenhuma nação trabalha só. Desde o início da pandemia na China, é a troca de informações entre cientistas do mundo inteiro que nos possibilita conhecer o vírus e testar tratamentos.
“Dêem, ricos! A esmola é irmã da prece”
Quando pensamos em estrutura, é a cooperação entre os países que se destaca. Muitos enviaram ajuda médica, máscaras e materiais de proteção para quem tinha menos recursos. Infelizmente durou pouco. Entramos agora em uma guerra comercial que disputa esses itens e estamos vendo como a influência econômica consegue confiscar os materiais de outros territórios. Ainda assim, precisamos uns dos outros, da produção industrial uns dos outros. Nenhum país consegue atender sozinho a demanda médica estabelecida pelo coronavírus. Ninguém é autossuficiente nesse momento. É a união da produção industrial mundial que vai nos salvar, é a união que está fazendo a força. Quando olhamos para a economia, encontramos o mesmo cenário: empresas desesperadas atrás do Estado. O liberalismo naufragou terrivelmente nesse cenário, pois é o Estado o nosso protagonista. As gargantas dos liberais estão sem voz. Com o rabo entre as pernas, para preservar o deus dinheiro, agora eles correm desesperados atrás do Estado como crianças que se escondem na barra da saia das mães. Antes, criticavam até os sistemas de saúde pública, mas agora dependem deles. Estado mínimo uma ova! Bendito seja o SUS. Aliás, essa relação de “parceria” não é nenhuma novidade. Estado máximo para empresas e mínimo para o povo, é essa a realidade do que acontece na prática. Políticas sociais não, mas quando quebram é o Estado quem socorre. Bolsa família nem pensar, que se ensine o povo a pescar. Mas quando se trata de dívidas, é o grande pai Estado que os libera de pagar. Repare: se você não pagar a prestação do seu carro o banco toma ele de você. Se você não pagar a parcela da sua casa, o banco toma ela de você. Se você não pagar os impostos da sua pequena empresa, o Estado vai fechá-la. Mas o que acontece com as dívidas bilionárias das empresas? Trabalhistas ou ambientais, por exemplo? Nada. Ou melhor, perdão. Perdão das dívidas é o que acontece. O povo que se vire sozinho e dá-lhe meritocracia. Quando são eles que sangram, chamam o “papai”para socorrer. Mas esse Estado pai é só deles. Liberalismo falso, canalha e mentiroso, isso sim. Se tem alguém que mama nas tetas dos governos é a indústria, a iniciativa privada, os bancos. Para nós, nem as migalhas mais têm sobrado.
Mas nem o Estado é autossuficiente, ele também precisa das empresas. O Estado também pede ajuda. Estamos vendo acontecer bem em frente dos nossos olhos essa união, essa dependência entre todas as instituições e poderes. O que antes nos escapava, agora é inegável. Espero que a gente aprenda a lição e comece a entender um pouco mais do que acontece nos bastidores do mundo, pois é esse mundo que precisamos mudar.
Querem salvar a economia? Salvem as pessoas
É trágica essa rivalidade criada entre economia e vida. Não deveríamos nem estar tendo esse tipo de discussão enquanto há países empilhando corpos. Não, não deveríamos mesmo. Mas estamos. Quem nunca ligou para o povo, agora se diz preocupado com o desemprego e a fome. Sei. Por a mão no bolso para ajudar ninguém quer. Usar reservas para manter salários também não. Mas sair correndo atrás de ajuda do governo ninguém precisa pedir que façam. Essa gente é como o Tio Patinhas: sentados em cima de uma caixa forte repleta de ouro, nadando em dinheiro, se perguntam quem irá nos salvar.
“Os ricos fazem de tudo pelos pobres, menos descer de suas costas”
A economia foi criada para garantir o bem-estar social, não para servir ao capital. E foi criada por pessoas, logo, sem as pessoas, tudo que é humano deixa de existir. Economia é feita de pessoas, do trabalho das pessoas e do quanto elas consomem. Sem consumo e sem trabalho não existe a economia. Não entendo como os apaixonados pelo dinheiro não perceberam isso. Ou melhor, perceberam, mas continua sendo mais importante para eles preservar lucros do que vidas. Eles estão acostumados a pensar somente neles e nos deles. Se assim não fosse, não teríamos mais a África nas condições que temos. Foi explorando o trabalho, os recursos de países mais pobres, fazendo acordos e pagando propinas que eles chegaram lá. É assim que se fazem os grandes negócios. Quem te disse que foi por talento e mérito, mentiu. Trabalho mesmo nunca enriqueceu ninguém, porque a parcela que sobra para nós é minúscula. Divisão de renda é o nome disso.
Também não entenderam que quanto antes pararmos mais cedo saímos da crise. A cada semana em que o coronavírus se multiplica é mais um ou dois meses de crise no futuro. Quem parou logo vai retomar as atividades econômicas mais cedo. Mas eles não aceitam perder nem um centavo, nem um mísero centavo, e como os cegos que sempre foram, não perceberam o risco que correm incitando o povo às ruas e ao trabalho. Vão aprender da pior forma, infelizmente. O custo humano será alto. Quando houverem corpos nas ruas, a ira do povo vai ser grande e não vai haver muros capazes de proteger essa gente. A guilhotina um dia chega na Bastilha.
Salvar vidas não é só uma questão humana, é também econômica. Nós dependemos uns dos outros!
A cura espiritual
Os resultados da sociedade que criamos estão aí. Tivemos que correr para reparar nossos erros, providenciar uma renda universal decente para os que precisam, levar comida para quem tem fome. Se nem a economia se mantém sozinha, se nem o Estado é capaz de dar conta da crise, o que podemos dizer de nós enquanto humanidade?
Se desejamos a cura espiritual temos que entender que ninguém faz nada sozinho, que a nossa jornada é coletiva. Estudar para nós não vale de nada. Trabalhar para nós não vale de nada. Ter belas casas, jatinhos, roupas caríssimas e jóias não serve de nada. Tente matar o vírus com um diamante e veja o que acontece. Se o sistema de saúde colapsar, você, que paga um plano de saúde caro, vai saber o que é esperar horas em uma fila para receber socorro. Seu dinheiro não vai te proteger agora. Essa é a grande lição da pandemia: de nada adianta você ter, se mais da metade do mundo é miserável. Você pode se isolar em casa, mas se o caixa do mercado ficar doente você vai pegar o vírus. Se o entregador de comida está contaminado, você vai pegar o vírus. Se sua empregada adoecer, você também vai pegar o vírus. E se não houver hospital… Você, rico, abençoado e cheio de “coisas”, vai morrer da mesma forma que o mendigo: sem ar. Dinheiro não se respira, dinheiro não se come. É hora de entendermos isso.
“Quando a última árvore tiver caído, quando o último rio tiver secado, quando o último peixe for pescado, vocês vão entender que dinheiro não se come”
Enquanto continuarmos vivendo só para nós, enquanto tivermos metas pessoais, não vai ter cura. Não vai ter ascensão, não vai acontecer transição para luz. Se queremos um mundo melhor, cabe a nós fazer deste mundo melhor. Tudo que tem de errado com ele é criação nossa, resultado das nossas ações. Mesmo quando o mundo parou na II Guerra Mundial, por exemplo, as bombas caíam dos céus mas os rios continuavam correndo para o mar. A chuva continuou caindo, o sol continuou nascendo. Os pássaros não deixaram de cantar. Não há mal no mundo. Nós é que somos o mal do mundo. E só nós podemos dar um fim nisso tudo, só nós podemos consertar o que quebramos. Depende de nós, de todos nós. O planeta não precisa ser salvo. Nós sim.
Transformação da matrix
Nunca entendi muito bem como podemos fazer um mundo melhor meditando. Nunca compreendi como vamos acabar com a fome orando. A meditação, para mim, é uma ferramenta para poder suportar essas dores mundanas, para conseguir continuar a viver em meio a tanta injustiça, tanta tragédia, guerra, fome. É para mim a meditação, é da minha iluminação que ela trata. É em mim que ela age quando me dá força mental e espiritual para não pirar com tudo isso. Para o coletivo, a não ser que todas as pessoas meditem ao mesmo tempo, ela não tem efeito.
“Também somos ricos das nossas misérias”
Falamos em transição, em transformação do planeta, mas continuo me perguntando que transformação é essa se continuamos elegendo demônios como representantes. Continuamos apoiando tudo aquilo que não presta e que faz do mundo o lugar que é. Continuamos valorizando coisas e não pessoas, nacionalidades e não pessoas, religião e não pessoas. Nossos heróis são influenciadores que vendem imagem e estimulam consumo e líderes autoritários, corruptos, cheios de ódio e preconceito. Nossas igrejas mais parecem empresas. A exclusividade e o sucesso estão no dinheiro, não nas virtudes. Um mundo melhor, que caminha para a evolução, não elege Bolsonaro, não elege Trump. Quem está desperto, quem tem um mínimo de espiritualidade, entende que ódio não é caminho para ninguém. Quem já despertou respeita as mulheres, etnias, religiões, nacionalidades. Quem ouve Jesus não se importa com orientação sexual, com ideologia de gênero, com o recato da mulher direita. Gente evoluída não tem medo da diferença. Quem já avançou na jornada sabe que é compartilhando que vamos chegar lá e que acumular é para os que têm um deserto dentro de si. Quem ama Deus constrói pontes, não muros.
“E ainda vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus”
Quem acha que a pandemia está separando os bons dos ruins não está prestando atenção. Quem pensa que economia vale mais que a vida não entendeu nem uma vírgula da mensagem de Jesus, de Buda, nem do padre da paróquia da esquina. Essa semente precisa de terreno fértil para germinar e nesse terreno dinheiro não floresce. É provável que um dia essa iluminação chegue, mas, olhando para o mundo agora, quem pensa que esse momento chegou é o pior tipo de joio que existe: o que pensa que é trigo. Quem quer salvar o mundo com positividade e meditação só pensa em si. Quase sempre quem é muito “namastê” não sabe o que é limpar a própria privada e não prepara as próprias refeições. Essa é a nossa realidade. E se quisermos ultrapassá-la, precisamos para de negar nossas sombras e maquiar nossas trevas com orações quânticas enquanto desviamos de mendigos nas ruas.
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