Seu despertar é individual ou coletivo?
Esse texto foi escrito com todo o cuidado e carinho por um autor convidado. O conteúdo é da sua responsabilidade, não refletindo, necessariamente, a opinião do WeMystic Brasil.
Como saber se o seu despertar é individual ou coletivo? Temos dois caminhos para escolher: crescimento individual e crescimento coletivo. Qual você escolhe? Será que é preciso escolher? Ou esses caminhos se cruzam em nossa jornada?
Despertar é individual ou coletivo? O crescimento individual é só seu
É na espiritualidade e no autoconhecimento que descobrimos se o despertar é individual ou coletivo e encontramos as respostas que a ciência não nos dá. As dores da alma e nossos desejos surgem de acordo com a nossa necessidade de aprender e, conforme vamos expandindo a consciência vamos também transcendendo a matéria e conseguindo enxergar o todo através de novas perspectivas.
“Caminhar nas trevas do mundo é fortalecer os pés descalços para a ascensão do espírito nas mais altas esferas das estrelas”
A meditação, a yoga e outras práticas espirituais são ferramentas, presentes dos deuses para o nosso despertar, para que a gente tenha ajuda para entender a roda de carma que alimentamos como sistema de aprendizado nesse planeta. É o que os mestres orientais chamam de Roda de Samsara. Quando paramos de girar essa roda, ascendemos.
Mas é importante dizer: evolução pessoal não muda o mundo. Ela serve a nós, exclusivamente a nós. Por mais alinhados que estejam seus chakras, por mais que você ore e tenha práticas espirituais, a fome do mundo não recua um centímetro sequer. Uma favela não deixa de existir porque você aprendeu a respirar e descobriu sua missão de vida. O mundo melhor que desejamos depende de ações concretas, de uma interferência na matrix, de uma mudança radical da sociedade que vivemos. Meditar e esperar que o mundo se transforme é como esperar o papai noel no Natal.
Crescimento coletivo é para o bem de todos
Quando pensamos no bem-estar comum, estamos falando da coletividade, da sociedade em geral. E não falta Deus nela, já temos muitas religiões e escolas filosóficas espirituais. O mundo é o que é apesar de Deus. É por nossa causa, por causa daquilo que valorizamos que nos organizamos em uma sociedade tão cruel. E essas ações têm a ver com política, com igualdade, com diversidade, respeito, empatia e amor. Essa é a lição divina que esquecemos de trazer para a realidade.
Sabemos que Jesus nos mandou amar o próximo. E ponto. Não teve um “ame o próximo desde que esse próximo mereça”. Ou “ame o próximo desde que esse próximo tenha a mesma religião que você”. Ou ainda “ame o próximo desde que ele tenha a orientação sexual que você considera correta”. Não. Jesus se cercou de prostitutas, de miseráveis, de pecadores. Foi a eles, aos excluídos dessa sociedade de valores tão distorcidos que Jesus se aproximou e dedicou seu amor. E foi essa sociedade desvirtuada que conseguiu transformar a bíblia em um livro com tantas partes violentas, que hoje serve de base para sustentar preconceitos, autoritarismo e a recusa em aceitar a diversidade da vida, o outro. É usando Jesus que muitos fazem arminha com as mãos e esperam salvar o país. É usando a bíblia que gays são espancados, que mães de santo tomam pedradas e casas espíritas são atacadas. É usando o alcorão que uma minoria islâmica radical corta cabeças ocidentais e perpetuam como cultura a violência contra a mulher. Não, não é falta de Deus. É falta de caráter, de empatia, de amor mesmo.
“Quem acredita na possibilidade do crescimento infinito num mundo finito ou é louco ou é economista”
Conhecer deus não significa tê-lo no coração. Ler a bíblia não traz nem um pingo de empatia para um coração seco. Meditar também não. O que transforma a matéria é a ação e a expressão dela chama-se política. Quer um mundo melhor? Traga a política para o pensamento espiritual. Comece a olhar o mundo com o reflexo da nossa consciência coletiva e entenda que qualquer transformação possível só será possível quando mudarmos o sistema. E o sistema é político.
Despertar é individual ou coletivo? Todos somos parte do problema
Somos todos um. Certo? Repetimos isso, mas nossas ações são contrárias a essa ideia. As pessoas (pelo menos boa parte delas) reconhece que o mundo é um lugar mau, mas não se sente parte desse problema. Errados são os políticos, mas esquecem que eles não chegam no poder sem o voto. Desmatamento é terrível, mas não entendemos que a comida que compramos no mercado é a responsável por esse desmatamento, assim como os móveis que colocamos em casa. Sabemos que a poluição faz mal para nós e para o planeta, mas continuamos favorecendo as fábricas, as petroquímicas, e comprando carros que usam petróleo como combustível. Conhecemos o trabalho escravo, mas nem pela cabeça nos passa que aquela peça linda e barata vendida na fast-fashion do shopping tem essa origem.
“Seja você a mudança que quer ver no mundo”
Alimentamos uma fantasia de que o nosso deus é mais forte, de que somos abençoados e que o mundo (o outro) é que está errado. Não nos vemos como parte do problema. E a maior parte dos discursos espirituais passam essa ideia: o planeta está se transformando, o que significa que serão levadas daqui as almas que não possuem mais afinidade energética com essa transformação de luz. Basta esperar, basta meditar e a nova era vai chegar como um presente para quem foi bonzinho. Só que ninguém é bonzinho. Ninguém que encarna aqui é evoluído. A Terra é um planeta escola e viemos aprender. Quem não tem mais o que aprender, segue a jornada evolutiva em outras dimensões, não aqui.
Se você não vive em uma chácara isolada, faz suas próprias roupas e vive daquilo que planta, você é parte do problema. Se você acha que só seu deus salva, você é parte do problema. Se você pensa que família é composta por um homem e uma mulher, se você não aceita os homossexuais, se você perpetua machismo e racismo, você é mais do que parte do problema. Somos todos um e o mundo é o reflexo da soma de todas as consciência que vivem nele. Somos o problema, mas também somos a solução.
Nossa missão é material
Somos espíritos vivendo uma experiência material, não o contrário. Nossa essência é espiritual, mas, enquanto encarnados, nossas lições se dão na matéria. Nossa missão é com o mundo: é através da transformação da realidade que nos cerca, que nosso espírito consegue evoluir. A iluminação individual ajuda a perceber o mundo, mas é a interferência das nossas ações que podem realmente transformar nossa realidade.
O que faz o mundo são as ações, que são guiadas pela percepção da realidade que se dá em cada mente, em cada consciência. Os comportamentos que expressamos em sociedade são fruto da forma como vemos a existência e as crenças que alimentamos em relação a ela. Essa percepção tem a ver com educação, cultura, família e sociedade, por isso ela varia tanto de indivíduo para indivíduo. Entendemos de dimensões, de física quântica, carma, reencarnação, chakras e projeção astral, mas poucos se dedicam a compreender o mecanismo que faz do mundo um lugar tão injusto. São poucas as pessoas que percebem como é importante conhecer o sistema que nos rege para poder transformá-lo, melhorá-lo. É esse sistema que deve ser alterado para que pessoas não morram mais de fome, tenham onde morar e consigam acesso à saúde e educação. O básico. Mas isso se faz com cultura e educação, áreas sociais organizadas pelo sistema político.
“Somos o que pensamos. Tudo o que somos surge com nossos pensamentos. Com nossos pensamentos, fazemos o nosso mundo”
Entre a oração e a justiça social, há um abismo. E o que poderia ser a nossa prioridade espiritual, senão fazer justiça social? Fazer do mundo um lugar melhor para todos? É agindo que transformamos, é mudando a realidade do mundo que podemos expressar a espiritualidade e o que ela nos ensina. A matrix que vivemos só pode ser transformada através de atitudes materiais. Quando espíritos, agimos espiritualmente. Quando encarnados, são as ações materiais que tem de fato influência.
Enquanto usarmos a espiritualidade somente para o crescimento espiritual, não vai ter transformação e nem despertar individual ou coletivo . Enquanto entendermos como fracasso, como incapacidade de “cocriar” realidades e repetirmos a falácia da meritocracia para justificar a pobreza, não vai ter transformação. Enquanto não conseguirmos perceber que as favelas, a África e toda essa miséria e desigualdade é fruto do sistema que alimentamos, não vai ter transformação. Enquanto acharmos que política suja a aura e que ela não tem nada a ver com espiritualidade, não vai ter transformação.
A prática espiritual nos ajuda, mas é a espiritualidade na prática que abre nossos olhos para a realidade e planta em nós a indignação que precisamos para agir. Só a ação transforma.
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