Divórcio e separação são pecados?
Esse texto foi escrito com todo o cuidado e carinho por um autor convidado. O conteúdo é da sua responsabilidade, não refletindo, necessariamente, a opinião do WeMystic Brasil.
Quando casamos na igreja, dizemos sim ao outro até que a morte nos separe. Para o catolicismo, o casamento é indissolúvel e a igreja não vê com bons olhos a separação de um casal. A qualquer custo, devem permanecer juntos. Mas e quando esse “custo” é muito alto? Será que divórcio e separação são pecados?
Religião é uma coisa, espiritualidade é outra. Deus não segue religiões. Então, será que aos olhos do divino, a separação entre duas pessoas é aceita com naturalidade ou devemos, independente das circunstâncias, manter uma relação? Será que é saudável, é a vontade de Deus que a gente anule nossos sentimentos, desejos e sonhos em função de religiões? Será que é mesmo uma ocupação e preocupação divina o nosso estado civil?
Divórcio e separação são pecados? O que diz a Igreja católica
Para a igreja católica, Deus abomina, odeia o divórcio. O conflito já começa aí: devemos ter amor no coração, perdão incondicional, mas seguimos um “deus que odeia”. Esse deus é demasiado humano, não? Ele odeia, pune, se vinga, derruba inimigos, castiga, tem ciúmes e não permite que outro deus seja adorado. Aliás, ele precisa tanto da adoração que o sentido da criação é praticamente esse: adorar – e temer- a ele. Criamos um deus cheio de sentimentos humanos, dos mais primitivos.
Para o catolicismo, o casamento é indissolúvel. Divórcio e separação são pecados. Embora seja permitido em função da “dureza” do coração dos homens, mesmo que deus “odeie”, somente o adultério seria razão suficiente para justificar a separação.
“Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos concedeu separar-se de vossas mulheres. Mas não tem sido assim desde o princípio”
Ou seja, se houver traição, está permitido separar apesar do ódio de deus. Agora, em casos de violência, talvez seja melhor aguentar. Até a morte. Não há nada na bíblia que proíba a violência doméstica; o mais próximo disso seria o mandamento “não matarás”, em contraposição à muitas passagens que naturalizam a violência, escravidão e outros temas que estamos até hoje tentando superar.
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Judaísmo e islamismo
No judaísmo, é apenas possível o divórcio por parte do homem, uma visão ainda mais parcial do que a católica.
Já o islamismo reconhece -na teoria-, o direito de ambos os parceiros pedirem o divórcio, embora para a mulher o processo seja consideravelmente mais complicado: enquanto para o homem basta repetir três vezes “eu te repudio”, para a mulher é exigida alguma falta grave do marido, e as instituições costumam menosprezar e não autorizar as solicitações femininas para o término do casamento.
Ou seja, concluímos o que já era esperado: homens escreveram as leis de deus, então vemos refletido nos textos religiosos essa condição. A princípio, deus não se agradaria da separação, entretanto, o homem tem mais direito de fazê-la.
E no budismo?
Como vivemos em um país católico, temos a impressão que vivemos a única verdade possível. Que a bíblia é, literalmente a palavra de deus e todo o resto do mundo está em pecado. Mas, será que deus condenaria metade do planeta? Mandaria um salvador apenas para o ocidente, condenado à danação eterna os hindus e budistas, por exemplo?
O budismo é uma filosofia muito mais interessante e em sincronia com as emoções humanas. Há mais liberdade no pensamento budista, de maneira que possamos aprender com nossos erros e encontrar deus dentro de nós mesmos, nunca no externo e sem a necessidade de intermediários. Assim, é claro que o budismo não repreende quem está infeliz, seja qual for o motivo, e deseja recomeçar a vida. A separação e novo casamento é visto com naturalidade, como parte da jornada de evolução humana.
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Espiritualismo: podemos ou não separar
O espiritualismo não costuma apoiar dogmas e nem muito menos imposições, especialmente quando vão contra a natureza humana. Segundo as visões mais evoluídas, não estamos aqui para temer ou adorar Deus, mas sim para evoluir, expandir a consciência e poder “encontrá-lo”.
E parte desse caminho existe a felicidade, quase sempre um pecado nas religiões. Podemos e devemos ser felizes, buscar satisfação, desde que não prejudique ao outro. Traição, por exemplo, é sempre uma ação que irá responder a Lei do Retorno e não é louvável. Enganar, trair e mentir são atitudes que estão longe de serem divinas. A sinceridade, acima de tudo, deve ser preservada e estar entre as nossas prioridades.
“O divórcio é tão natural que, em muitas casas, dorme todas as noites entre os dois cônjuges”
Sinceridade até mesmo quando ela pode levar a uma separação. Se duas pessoas não estão mais felizes juntas, fazendo infelizes inclusive os frutos dessa relação, qual o sentido em continuarem insistindo? Se o que as uniu, que é o amor, não existe mais entre elas, qual seria o motivo de dar continuidade ao casamento? Para agradar a “deus” e uma religião? Não. Não façam isso.
Separar ou não separar? Eis a questão
É claro que não podemos negar que tem existido uma banalização do divórcio, no sentido de que a facilidade com que ele é concretizado pode contribuir para que as pessoas tentem menos manter suas relações. Enquanto na época de nossas avós casava-se para sempre, nos tempos modernos separa-se por tudo. Isso tem muito a ver também com a modernidade e a forma imediatista que as pessoas desejam encontrar felicidade. Tudo deve ser fácil, rápido e me agradar. Ao invés de lidar com situações, termina-se com elas, escolhendo o caminho mais fácil. Mas veja, todas essas situações são aprendizados, e essas lições são o que de mais importante temos.
“Talvez você case, talvez não. Talvez tenha filhos, talvez não. Talvez se divorcie aos quarenta, talvez dance ciranda em suas bodas de diamante.
Faça o que fizer não se auto congratule demais, nem seja severo demais com você, as suas escolhas têm sempre metade das chances de dar certo, é assim para todo mundo.”
Casar, amar, formar família, ter a decência de ser sincero, separar, trair. Todos trabalham aspectos da nossa humanidade e com cada uma das situações vamos aprender, na medida exata, o que precisamos para crescer. Essa ideia de deus que odeia e que precisa ser agradado e temido, que permite que uma batalha eterna se trave entre o bem e o mau, é um deus falido, arcaico.
Tudo que existe e acontece, é pela ordem divina. Em tudo há propósito. Quem não enxerga isso, chama a falta de propósito de pecado, mas não há nada que exista ou aconteça que seja em vão. Deus nunca vai se restringir a legislar em torno de estado civil; pouco importa se somos casados, solteiros divorciados! Desde que sejamos bons. O que importa mesmo é se, através dessas experiências, estamos nos tornando pessoas melhores. Mais conscientes, caridosas, que tratam bem aos outros, especialmente ao outro que está em posições inferiores. Se damos atenção de qualidade aos filhos, se respeitamos nossos pais, se mantemos o preconceito e o julgamento longe do coração. Amor incondicional, ajuda ao próximo, caridade, desapego, respeito, perdão. Esses são os objetivos através dos quais Deus de expressa. Nosso estado civil não importa mais do que a experiência que tiramos deles.
Separe-se. Junte-se. Case, case outra vez, separe de novo. Tudo vale se é para o crescimento da alma e o bem da família. Esqueça dogmas criados pelos homens e viva a sua realidade, a sua verdade. Ninguém sabe melhor do que você sobre o que te acontece entre quatro paredes. Aliás, sabe sim, Deus. Ele sabe exatamente o que vai em seu coração e sempre vai encaminhar a sua vida em torno daquilo que é melhor para você. Seja uma boa pessoa casada ou separada. Ame. O amor é o que importa! Ele não tem gênero nem estado civil.
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