O encontro com o Mestre, parte 2 — por Gabhishak
Esse texto foi escrito com todo o cuidado e carinho por um autor convidado. O conteúdo é da sua responsabilidade, não refletindo, necessariamente, a opinião do WeMystic Brasil.
Houve um súbito rompimento com tudo. Trabalho, família, amigos, relacionamento; tudo foi deixado para trás. Não era possível estar com ninguém. Por alguns meses, mergulhei na solidão absoluta; talvez até alguns sintomas daquilo que modernamente se convencionou chamar depressão estivessem presentes.
A única coisa que eu sabia era que jamais voltaria a vestir uma gravata de forma compulsória na vida. Tal profecia se faz presente até hoje.
E quando as parcas reservas acabaram (nunca guardei nenhum tostão), o antigo conforto cedeu espaço para a escassez. Houve semanas em que não havia mais que cinco reais para comer. Cinco reais para sete dias.
Pedir emprestado? Ligar para algum parente? Voltar a trabalhar? De forma nenhuma. Não era uma alternativa.
E foram meses maravilhosos.
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Se existe algo que recordo com carinho foi a experiência de viver com bem pouco ou quase nada. Sem nenhuma obrigação social, familiar; nem mesmo de se alimentar havia necessidade.
Se houvesse comida eu comia; se não houvesse, não comia e tudo bem. O corpo não reclamava, a mente se aquietava.
Ainda lembro de passar horas deitado no sofá, outras vezes no chão olhando para o teto.
Folheava um livro ou outro. De Paulo Coelho a Platão. Mas sem nenhum objetivo, apenas pelo prazer de ler outras coisas fora dos textos técnicos e jurídicos que eram até então meus companheiros fiéis.
Quando tive contato com o primeiro livro do Osho fazia três dias que não comia mais que algumas bolachas e água morna. Era um momento de profunda introspecção. Eu li aquelas 368 folhas em algumas horas, sem parar, sem levantar da poltrona. Não me lembro sequer de ter piscado ou respirado; talvez não tenha.
E gritei, sozinho, no meio da sala: é isso!
Eu amei aquele homem desde o primeiro instante.
Quando fechei o livro, em meio às lágrimas, uma súbita energia tomou conta de mim. Saí correndo pela praia e corri por quase dez quilômetros; sem dores, sem câimbra, sem cansaço.
Foi tal como um renascimento.
Os dias seguiram até que a eletricidade foi cortada por falta de pagamento. O choque, o susto, o calor que subia pelas pernas fazendo o coração bater em ritmo acelerado após receber o derradeiro aviso pelo interfone ainda se fazem sentir quando revivo a lembrança.
E gradualmente a pulsação foi voltando ao normal. O corpo arrefeceu e momentos incríveis sucederam; à luz de velas, nem sequer o motor da geladeira trepidava. Nada. As madrugadas tão escuras quanto silenciosas e o sono, profundo e revigorante.
Não havia nada para sonhar, apenas dormia e dormia até que acordasse, sem compromissos.
Naqueles dias não havia da minha parte qualquer conhecimento teórico ou prático sobre meditação (exceção as primeiras palavras do Osho que havia lido). E quando olho pra trás com os olhos de hoje, sou obrigado a considerar aquela como uma das experiências mais meditativas que passei. Talvez a ausência de conhecimento intelectual sobre o tema tenha ajudado.
Sem saber, eu havia participado de um retiro espiritual solitário, entre quatro paredes.
E então, naturalmente, comecei a perceber que aquilo também precisaria chegar ao fim. Não era mais necessário continuar vivendo em tais condições. A lição já havia sido entendida.
Era hora, com algumas condições, de seguir adiante.
Condições das quais eu não abriria mão, não importando o que acontecesse.
A primeira delas era que eu nunca mais faria nada por obrigação. Não aceitaria nenhum trabalho apenas para ganhar dinheiro, pouco importando as consequências. Eu estava disposto a passar fome, mas não estava disposto a transigir. E continuo cumpridor dessa promessa até hoje, sem nenhuma intensão de abandoná-la.
A segunda foi que eu passaria a estudar outra ciência. Eu sairia do universo tecnicista do âmbito jurídico e passaria a me dedicar com todas as forças ao que podemos denominar ‘desenvolvimento pessoal’.
E foi a partir dessa segunda decisão, desse compromisso firmado tendo o universo inteiro como testemunha que mergulhei de cabeça no coaching, na PNL, na hipnose, na filosofia, na física quântica, metafísica, meditação, mindfulness e coisas do tipo. E não entrei pouco em cada uma, fui o mais profundo que consegui, cada metodologia em seu devido momento.
E desta forma, aquele que já reunia certo conhecimento em direito, engenharia ambiental e biologia, passou a adquirir ainda mais e mais, a acumular mais ‘saberes’, mais informação dos cursos, dos grupos, dos livros e professores.
Acabei me tornando um grande intelectual dos assuntos mais exotéricos. O circo estava armado.
Um copo cheio até a boca, tentando colocar ainda mais líquido – o que poderia resultar?
Rompimento, é claro.
A derradeira gota entrou no copo em meados de abril. O ano era 2015 quando pela primeira vez estive na presença de Satyaprem. Foi um encontro intensivo de quatro dias em São Paulo. A dor de cabeça, a falta de ar e ausência de palavras, dia após dia, deixaram evidente a impossibilidade de utilizar todo aquele conteúdo acumulado.
O mais incrível foi notar o transbordamento acontecendo no sentido inverso.
Uma gota entrou para que outras tantas pudessem sair.
Me senti com as mãos amarradas.
Suava, sem reação.
Imóvel. De corpo e mente.
Não havia como contestar, não era possível argumentar. Nenhum dos livros ajudava – nem mesmo os do OSHO. Tampouco as meditações poderiam socorrer.
Eu que já havia estado na presença de muitos professores, eruditos, padres, rabinos, monges e cientistas, pela primeira vez pude sentir a devastadora presença do silêncio.
Em muitos momentos, naqueles dias, naquele fatídico final de semana, a mente do Gabhishak (que ainda não era Gabhishak) se ausentou. Foram muitas vezes em que a mente deixava de estar.
Até então as meditações não haviam provocado tal fenômeno.
Melhor dizendo, foi ali que comecei a entender o sentido da meditação.
E tudo passou a mudar…
Pra melhor? Não, nem de perto.
Aquele mundo, o segundo mundo construído, do especialista em assuntos exotéricos também teve de ser revisto.
Foi o mesmo que se jogar em um abismo.
Escuro, silencioso, em paz!
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Fontes:
Os textos do autor, em geral, são baseados em sua experiência pessoal, no Livro The Book of Secrets, Volumes I ao VI, de OSHO, e na relação de discipulado com o Mestre Zen Satyaprem.
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