Como enfrentar a pandemia com depressão?
Uma pandemia como essa é de botar medo e tirar o sono de qualquer pessoa. Quem tem depressão e ansiedade tem ainda mais dificuldade de lidar com a ameaça do vírus e o isolamento.
Como enfrentar a pandemia com depressão? Se esse é o seu caso, leia esse artigo. Você não está só.
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O mal do século
A depressão é um transtorno psiquiátrico terrível. Os números da Organização Mundial da Saúde são assustadores, assim como a quantidade de vítimas que ela faz. Infelizmente cada vez mais pessoas perdem essa batalha. Chamada de “mal do século”, a depressão encontra terreno fértil nessa loucura que chamamos de sociedade moderna. E com a pandemia, as estatísticas não param de crescer.
A depressão é um transtorno grave que pode ser tratado com autoconhecimento e do ponto de vista espiritual, mas o acompanhamento médico dos doutores da Terra é essencial. A medicina tradicional, apesar das falhas, também é uma ciência divina que está ao nosso dispor e nunca deve ser ignorada. Os benefícios da aliança entre terapias alternativas e acompanhamento psicológico e psiquiátrico são o caminho para a cura deste mal.
“Quem nunca quis morrer, não sabe o que é viver”
A depressão sempre existiu. Mas existe um fator específico que faz dela o mal do século: depressão pode ser desenvolvida pela interação com o meio. E a maneira como nos relacionamos com o externo, os valores e hábitos que adotamos como sociedade, são tóxicos para nossa saúde mental e sufocam as nossas necessidades mais profundas. Vivemos a cultura do eu, da beleza, da juventude, do consumo, da produtividade e do sucesso. Tudo isso com muito coaching, positividade e meritocracia, para tornar tudo mais agradável. Nosso narciso interno floresceu e está no comando. Se no passado ostentar era deselegante, agora exibimos com orgulho conquistas materiais. A ditadura da felicidade também tem muito a ver com o adoecimento da nossa alma: não é mais permitido sofrer. Quem sofre não produz, o sofrimento é inconveniente nessa sociedade do eu.
O sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman chama nossa era de modernidade líquida: sociedade onde as relações sociais, econômicas e de produção são frágeis, fugazes e maleáveis, como os líquidos. A revolução industrial conseguiu criar valores econômicos que se tornaram mais fortes que as relações sociais e humanas. A lógica do consumo passou a nos orientar, e fez as relações entre pessoas e instituições ficaram muito frágeis. Os indivíduos são agora definidos a partir daquilo que compram, não do que são. Com as redes sociais, tudo isso só ficou ainda mais evidente. Tudo é volátil, queremos respostas imediatas, prazer imediato. A vida em sociedade (familiar ou entre amigos) acompanha esse compasso. Com tanta informação, fluidez e rapidez, nada que é sólido pode durar.
O trabalho e internet não ajudam
Essa sociedade 100% conectada à internet desconhece a noção de individualidade e intimidade. É uma sociedade que institucionalizou a violação da privacidade como um estilo de vida, onde comunicamos onde estamos, o que fazemos, quem amamos, o que escolhemos vestir diariamente e o que comemos. Alimentamos a indústria mais cara do mundo moderno: a indústria de dados. É essa indústria que está arrasando nossa democracia e trazendo para nós tanto sofrimento. Nossos ídolos também não são dos melhores: a cultura influencer diz muito sobre nós e porque nossa saúde mental é tão afetada nas redes. Seguimos pessoas que tem coisas e que vivem de mostrar essas coisas. Não são todos, pois existem influenciadores formadores de opinião. Mas não é o padrão. A maioria vende a imagem e influencia hábitos de consumo, quase sempre fora do alcance financeiro da maioria. E não é difícil perceber que o consumo está destruindo não só a nossa sanidade mental, como o planeta que vivemos. O consumo está ameaçando a nossa vida.
“As redes sociais são uma armadilha”
Nossa relação com trabalho também é um problema. Trabalhamos cada vez mais e recebemos cada vez menos. Ou a maioria de nós recebe cada vez menos, porque alguns poucos recebem cada vez mais. Empreendedorismo virou sinônimo de “vestir a camisa da empresa” e um bom empreendedor tem horário para entrar, mas não tem hora para sair. Sair no horário é de um mau gosto terrível. Você deve ser altamente produtivo, inovador, apresentar uma infinidade de títulos. É preciso cursar a universidade, falar línguas, ter especializações, mestrado, doutorado, MBA. Antes um bom diploma já era suficiente para sustentar a família por 50 anos. Agora, ele mal garante uma vaga de assistente. E aquela coisa de “começou como entregador e agora é o diretor” já não acontece em lado nenhum. O mercado agora é dinâmico e um currículo se faz com experiências, não com registro em carteira de uma vida. Estabilidade agora é sinônimo de preguiça, de falta de ambição. Somos levados a acreditar que a felicidade e o sucesso estão sempre no próximo estágio, no próximo emprego, na próxima promoção. E assim perseguimos essa cenoura imaginária por anos a fio. Com sorte, conseguimos. Mas é preciso ter tempo, muito tempo disponível. Se tornou comum em entrevistas (especialmente com mulheres) perguntar se temos filhos, se desejamos ter filhos e com quem ficam os filhos. É preciso dar seu sangue, sua alma e um pouco mais. Desconheço quem receba um salário que realmente vale o preço que pagamos.
Aparentemente hoje somos mais livres, mais autônomos, mas temos parâmetros muito severos sobre o que é o “ser ideal”, o que é o sucesso, o que é ser feliz. Vivemos sob constante pressão, somos escravos da nossa criação. Estar triste e angustiado é um efeito colateral.
Ansiedade e TOC
A depressão nunca anda sozinha, ela gosta de companhia. Quem tem ansiedade ou TOC, por exemplo, também enfrenta um grande desafio com essa pandemia. Quem sofre de claustrofobia também pode vivenciar novas crises neste momento. E como segurar a ansiedade com esse tanto de informação? Fica difícil. Em alguns países é quase impossível.
A manifestação de sintomas de ansiedade e de patologias comportamentais ativadas pelo novo coronavírus tendem a aumentar. E o Brasil, um país que não é para os fracos, tem o maior número de ansiosos no mundo de acordo com dados da OMS: são 18,6 milhões de brasileiros (quase 10% da população) que convivem com o transtorno. E quem antes não era ansioso, após a pandemia pode ficar. Entre 2002 e 2003, a Sars (síndrome respiratória aguda grave) levou à morte 800 pessoas e o pânico causado pela epidemia deixou 42% dos sobreviventes com algum tipo de transtorno mental. É o que mostrou uma pesquisa publicada na revista East Asian Arch Psychiatry, em 2014. Na China, um estudo publicado há poucos dias por pesquisadores da Universidade Médica Naval de Shangai também mostra que o sofrimento psíquico tende a aumentar após uma pandemia: 20% dos chineses apresentam sinais de transtorno de estresse pós-traumático e ansiedade.
“Depressão é coisa muito séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem razão aparente – as razões têm essa mania de serem discretas”
Confusão, raiva, tristeza, ansiedade e episódios de pânico são sentimentos que tendem a aumentar com uma pandemia. E a instabilidade financeira só piora essa situação. Por isso, é essencial cuidar da saúde mental durante a quarentena.
Aproveite a quarentena para cuidar de você
Aqui vão algumas dicas do que fazer para literalmente não surtar com a pandemia. Aproveite a quarentena para cuidar de você. Lembrando que é muito importante não abandonar o tratamento com medicamentos e a psicoterapia, que pode ser realizada virtualmente. Práticas espirituais, meditação, yoga e técnicas de respiração são essenciais agora.
“Antidepressivos tratam a dor depressão, mas não curam o sentimento de culpa e nem tratam a angústia da solidão”
Informação
Podemos diminuir a aflição e a ansiedade através da informação. Quanto mais informação, mais segurança. É assim que funciona uma mente ansiosa. Mas é preciso ter atenção e recorrer a fontes confiáveis e não sensacionalistas. E também é preciso controlar o tempo que dedicamos a essas informações para evitar o consumo excessivo de mídia. Indo além, é indicado avaliar todo tipo de leitura, filme, séries e até as músicas que ouvimos, para evitar os famosos gatilhos que podem desencadear crises.
Pratique atividade física
Quem tem depressão pode ter mais dificuldade para conseguir estabelecer uma rotina de atividades físicas. Mas é importante tentar pelo menos. Exercitar o corpo é um dos melhores remédios contra qualquer sofrimento psíquico. Não faltam lives e canais dispostos a ajudar e basta escolher o tipo de exercício que é mais fácil para você. Uma boa dose de endorfina e serotonina caem muito bem na pandemia.
Use a respiração para se acalmar
É impressionante esse fato, mas nós não sabemos respirar. E usar técnicas de respiração pode ajudar até mesmo a amenizar crises de pânico. Existem muitas técnicas disponíveis na internet e aplicativos que direcionam a respiração. Respirar é fundamental!
Evite a compulsão
Os vícios e maus hábitos devem ser combatidos, pois influenciam nosso estado mental. Abandoná-los pode não ser viável agora, mas é preciso estabelecer limites. Se você faz uso de tabaco ou álcool, por exemplo, evite os excessos. Se você tiver TOC, defina um tempo e frequência de atos de higiene. Lavar as mãos é um dos componentes essenciais da prevenção ao coronavírus, mas lavar as mãos repetidamente, por mais de 20 segundos, pode indicar que você está entrando no terreno da compulsão. Hábitos destrutivos merecem toda a nossa atenção e carinho, pois a carga que carregamos já é grande.
Crie uma rotina de lazer
Precisamos de momentos de lazer, precisamos sentir prazer e alegria mesmo em isolamento. Nessa situação tão incomum, pode ser que tenhamos que fazer algum esforço para que isso aconteça. Assistir filmes, ler livros, pintar, desenhar, dançar, jogar, enfim, seja qual for a atividade que te traz felicidade, essa é a hora de praticar. A mente precisa desses momentos para desligar da tensão. Os chamados hormônios da felicidade são muito importantes agora.
Procure o sol
Se você tem uma janela, uma varanda, uma saca, um quintal, qualquer espaço em que bata sol, seja como um girassol. Reserve alguns minutos do seu dia para sentar ao sol, relaxar e produzir vitamina D. A falta dessa vitamina aumenta o risco de depressão.
Vitamina D ajuda a manter sua saúde mental em dia!
Use as redes sociais como aliadas
O isolamento é social, mas não é afetivo. E nesse aspecto a tecnologia pode exercer um papel muito positivo, pois são um importante elemento de interação com os amigos e a família. A própria OMS recomenda permanecer conectado por e-mail, redes sociais, videoconferência e telefone. Falar com pessoas, ter contato com amigos e familiares é muito importante agora e a única forma que temos de fazer isso é usando a tecnologia.
“Fora da caridade não há salvação”
Seja solidário
A solidariedade é a mais incrível das virtudes. Ela nasce do amor, do amor pelo outro e pela dor do outro. A solidariedade é também um presente para nós, pois impacta as dimensões mais profundas do nosso ser. Ajudar é um benefício para quem recebe e para quem dá. Se você pode, ajude.
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