Entenda a ligação entre os santos católicos e os orixás
A religião predominante no Brasil é – e sempre foi – o catolicismo, e por isso é muito comum que as crenças que fujam dessa doutrina, em especial as de matizes africanas, ainda sofram com o preconceito e ignorância. Infelizmente não faltam casos de intolerância religiosa, nos quais terreiros de umbanda são queimados e praticantes do candomblé são hostilizados por suas vestes e costumes.
Curioso, porém, é que as entidades cultuadas no candomblé tem seus equivalentes na religião católica. A ligação entre os santos católicos e os orixás vem de longa data, mais especificamente do período colonial brasileiro.
O que os orixás têm em comum com os santos católicos?
Para entender essa ligação entre santos católicos e orixás é preciso voltar no tempo, quando a escravidão era legal e cerca de quatro milhões de negros africanos foram trazidos pelos europeus à força para trabalhar no Brasil.
A maioria dos africanos eram de origem iorubá, povo que ocupava a região onde hoje ficam localizadas a Nigéria, Benin e Togo, e sua religião oficial era o candomblé. Com isso, os escravos tinham suas crenças e costumes, completamente diferentes daqueles adotados pelos europeus, que logo foram repreendidos e proibidos de serem exercidos em solo brasileiro.
A solução foi “adaptar” os cultos, danças e cantos para poderem exercer sua religião livremente, e aí começa a ligação entre os santos católicos e os orixás. Os orixás são as entidades cultuadas no candomblé e na umbanda, que passaram a ser associados com divindades católicas como forma de burlar a proibição e seguir com a tradição e costume adotados em seu local de origem.
Essas práticas deram origem ao início das religiões africanas em solo brasileiro e à criação da umbanda, genuinamente brasileira, em solos cariocas na década de 30.
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Divergências na associação entre santos e orixás
O candomblé e a umbanda são muito fortes especialmente na Bahia e Rio de Janeiro, além de algumas regiões de São Paulo. Como o número de santos católicos é grande, alguns orixás podem ser associados com mais de um santo, dependendo da região do país.
- Exu, orixá mensageiro – Santo Antônio
- Ogum, orixá guerreiro – São Jorge
- Oxossi, protetor das matas – São Sebastião
- Ossaim, orixá das ervas medicinais e plantas – São Roque
- Obaluaiê e Omulul, orixá das pestes e doenças de pele – São Lázaro e São Roque
- Oxumaré, orixá da sorte, da fartura e da fertilidade – São Bartolomeu
- Ewá, orixá das chuvas, mistérios e magia – Nossa Senhora das Neves
- Xangô, senhor da justiça – São Jerônimo, Santo Antônio, São Pedro, São João Batista, São José e São Francisco de Assis
- Oxum, rainha dos rios, cachoeiras, ouro e amor – Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora Aparecida e Nossa Senhora das Candeias
- Iansã, deusa guerreira, senhora dos ventos, das tempestades e dos raios – Santa Bárbara
- Logun-Edé, filho de Oxum com Oxossi – São Miguel Arcanjo e Santo Expedito
- Obá, uma das esposas de Xangô – Santa Catarina, Santa Marta e Santa Joana D’Arc
- Iemanjá, orixá da harmonia em família, a rainha dos mares e a mãe dos orixás – Virgem Maria, em especial Nossa Senhora dos Navegantes e Nossa Senhora da Conceição
- Nanã, orixá feminino mais velho, mãe de Oxumaré e Obaluaiê, protetora dos doentes desenganados – Santa Ana, mãe de Maria
- Ibeji, orixás gêmeos, protetores das crianças e da família – Cosme e Damião.
- Oxalá, pai de todos os orixás, responsável pela criação do mundo e dos seres humanos – Jesus Cristo
Entre as diferenças mais conhecidas na ligação entre os santos católicos e os orixás, São Sebastião é Ogum e São Jorge é Oxóssi na Bahia, enquanto no Rio de Janeiro é o contrário.
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