A escolha de Sofia: o que você faria?
Esse texto foi escrito com todo o cuidado e carinho por um autor convidado. O conteúdo é da sua responsabilidade, não refletindo, necessariamente, a opinião do WeMystic Brasil.
Você tem dificuldade para fazer escolhas? Há pessoas que se veem em maus lençóis quando precisam escolher entre alguns sabores de sorvete. Imagine então ter que tomar decisões que afetam a vida de outras pessoas… A vida é transformada a partir desse momento, de acordo com o rumo que decidimos dar as coisas. A cada escolha, desescolhemos também; quando escolhemos abrir uma porta, estamos escolhendo não abrir tantas outras. Mas tem coisas que não se escolhe, há coisas que a nossa vã filosofia e nosso emocional frágil não suportam decidir.
Um dia, em uma história, houve uma mulher que teve que fazer uma escolha desse tipo, que marca a alma até o fim dos nossos dias. Mas 2020 deu vida a muitas Sofias, infelizmente, e essa escolha terrível saiu dos livros e virou realidade. A questão é que, diferente da história, nós podemos ajudar essas Sofias a não terem que fazer certas escolhas. Não é mais uma escolha só de Sofia, é uma escolha de todos nós.
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Quem foi Sofia e o que ela teve de escolher
Anos 40. Uma imigrante polonesa chamada Sofia, agora ruma em direção a Nova York para tentar refazer sua vida. Já nos Estados Unidos, Sofia conhece um biólogo judeu que tem um emocional extremamente denso e conturbado, com quem ela vive uma enorme paixão. Até aí, nada de mais. Parece uma história de amor… Mas o passado de Sofia é sombrio, é insuportável.
A certa altura da história, Sofia relata a escolha que ninguém, nunca, jamais, deveria ser obrigado a fazer nessa vida. Polonesa, Sofia foi enviada a um campo de concentração com sua família após a Alemanha invadir a Polônia. O que já é trágico por si só, e deixou os sobreviventes desse horror dilacerados para sempre. Mas Sofia sofreu ainda mais, muito mais. Sofia foi obrigada a fazer uma escolha assim que chegou ao campo de concentração, acompanhada de seus filhos: um soldado pediu a ela que escolhesse o filho que seria enviado para a câmara de gás e aquele que seria mandado para o campo de trabalhos forçados. Ou seja, ela teve que escolher qual dos filhos iria viver e qual deles iria morrer. Não é preciso ser mãe para saber o que significa sequer pensar em fazer uma escolha como essa. E se você é mãe, sei que seu coração está doendo nesse momento, talvez seu corpo esteja tremendo e seus olhos úmidos só de imaginar essa situação. Felizmente, até onde sabemos essa história faz parte de um romance, de uma ficção. Mas em meio a tanto horror, é possível imaginar quantas Sofias existiram de fato nessa época em que o mundo perdeu sua humanidade.
O livro fez tanto sucesso que virou filme também e marcou toda uma época. E então nasceu, baseada nessa história, a expressão que até hoje entendemos muito bem o significado: sempre que alguém é obrigado a tomar uma decisão difícil, sob pressão e com enorme sacrifício pessoal, dizemos que essa pessoa terá que fazer “a escolha de Sofia”.
A escolha de Sofia e a pandemia
Apesar do horror nazista, a escolha de Sofia sempre fez parte do imaginário, da filosofia, da ficção descrita nas páginas de um livro e depois animada nas grandes telas do cinema. Isso até 2020. Foi nesse ano que assistimos, com enorme pavor, pessoas na Europa e em outras partes do mundo sendo obrigadas a fazer uma escolha parecida, uma escolha como a feita por Sofia. Um vírus apareceu na China e rapidamente se espalhou pelo mundo. Mas apesar do claro exemplo científico e histórico da eficácia da quarentena, alguns países europeus como a Itália se recusaram a fazer isolamento. Coincidência ou não, a propaganda do governo da cidade de Milão, por exemplo, dizia “Milão não pode parar”. E não parou, até que a epidemia ficou tão descontrolada que causou o colapso do sistema de saúde e também do sistema funerário. E esse privilégio não foi só da Itália, pois o fenômeno da falta de leitos se repetiu em outros países, que, não por coincidência, também menosprezaram a pandemia e não tomaram as medidas consideradas eficazes para combatê-la.
“O destino é uma questão de escolha”
Com os hospitais lotados e não podendo salvar a todos, médicos se viram obrigados a fazer a uma escolha terrível, assim como Sofia. Por sorte não escolhiam entre os seus, mas precisavam decidir qual doente receberia ajuda e qual não. Foi quando a escolha de Sofia deixou de ser uma história e virou uma triste realidade. Nas ruas, tudo parece normal. Com a reabertura do comércio, além das máscaras de proteção não há mais muitos sinais da pandemia. Mas é nos hospitais que ela reina absoluta, castigando quem se contamina e também uma legião de profissionais da saúde. É nesse ambiente que nascem as Sofias. E quem está na rua, quer queira, quer não, contribui para que mais escolhas tenham que ser feitas.
O que você faria?
Se você não é médico e não está na linha de frente, talvez não seja tão impactado por essa situação. Até porque ela parece distante, acontecendo em um mundo que não faz parte da sua rotina. Mas você está participando de tudo, pode apostar. Primeiro porque sabemos que trocamos energia com o mundo o tempo todo, por isso sofremos os impactos do que acontece aos outros, mesmo que esses outros estejam distantes de nós. Se o seu vizinho está sofrendo, mesmo que você não o conheça a energia que ele emana chega até você. Somos todos um, certo? Essa ideia precisa urgentemente deixar de ser só uma ideia.
“Quem sabe o que é correto age corretamente. O verdadeiro conhecimento leva a agir corretamente”
O segundo ponto é que estamos diante de uma escolha importante: ficar em casa por nós e pelos outros, ou decidir pelo outro caminho. Esse outro caminho resulta, sem sombra de dúvida, na escolha de Sofia. Quanto mais gente na rua, mais o contágio acelera e mais cheios ficam os hospitais. Para todos eles, seja no centro econômico do mundo como Nova York ou em nossa bela e úmida Manaus, há um limite estrutural da rede hospitalar pública e privada. Nenhum país tinha estrutura para deixar a doença seguir seu curso natural, sem tomar as mínimas providências. É por isso que ficamos em casa, não para acabar com a pandemia de imediato, mas para fazer ela caber nos sistemas de saúde. Sim, sem vacina é provável que muita gente (incluindo eu e você) seja contaminado em algum momento, e não há nada que possamos fazer para evitar além de rezar para que alguma vacina seja eficaz e que tenhamos acesso a ela. O lance é fazer com que o contágio atrase o suficiente para que os hospitais não entrem em colapso, para quem ficar doente possa ser tratado como merece.
O que eu faria? Essa é a pergunta que sempre temos que nos fazer. Quando nos colocamos no lugar do outro é que temos uma perspectiva que não a nossa própria, centrada em nós mesmos, nossas crenças e desejos. Como você se sentiria em um hospital, com sua mãe, pai, irmão ou alguém querido doente, sem ar, vendo que o médico vai escolher outro paciente para socorrer? Se seus familiares têm idade e as coisas continuarem como estão, é provável que você veja isso acontecer bem de perto. Entre seu avô e um pai de família mais jovem, nem preciso dizer quem vai para UTI quando o sistema de saúde entrar em colapso. A vítima da escolha de Sofia pode ser você.
“Cada escolha, por menor que seja, é uma forma de semente que lançamos sobre o canteiro que somos. Um dia, tudo o que agora silenciosamente plantamos, ou deixamos plantar em nós, será plantação que poderá ser vista de longe…”
É por isso que quando decidimos se vamos passear na rua ou não, estamos participando disso tudo de uma maneira muito negativa. Espiritualmente, carmas estão sendo gerados com toda certeza. Se somos todos um, em uma situação como essa devemos pensar em todos, não em nós mesmos. Claro que há pessoas que precisam trabalhar, já sabemos disso. Mas desde o início da pandemia que as ruas brasileiras estão cheias e não demorou para que os shoppings fossem reabertos enquanto batíamos recordes de mortes. Não há partido, não há decisão possível nesse cenário que não considere a ciência. É simples de compreender: com gente em casa o contágio diminui, desacelera. Com gente na rua, ele fica descontrolado rapidamente. É uma escolha, uma escolha muito importante. E quem está desperto e consciente, não tem dúvidas e age por todos. Quem ainda dorme, quem ainda tem valores mais materiais e menos espirituais pensa em si mesmo, segue suas vontades e prioriza o dinheiro ao invés da vida. Em um caso darma, em outro, carma. O que você escolhe?
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