Cansada de esperar “o tempo de Deus”?
Esse texto foi escrito com todo o cuidado e carinho por um autor convidado. O conteúdo é da sua responsabilidade, não refletindo, necessariamente, a opinião do WeMystic Brasil.
A vida é feita de conquistas, de momentos que vivenciamos durante a nossa caminhada na Terra. E essas conquistas não são só materiais, aliás, as que fazem parte do mundo subjetivo e emocional são justamente os marcos mais preciosos da vida. Casar, ter filhos, conseguir a casa dos sonhos, a promoção na carreira que muda a nossa vida, uma viagem especial… São muitas as conquistas que nos proporcionam felicidade e nos fazem ter prazer em viver.
“Eu sei que é difícil esperar, mas Deus tem um tempo, para agir e para curar. Só é preciso confiar… não desista do amor, não desista de amar, não se entregue a dor porque ela um dia vai passar”
É difícil, então, segurar a ansiedade.
Queremos as coisas, e queremos na hora. Decidimos, nós mesmos, qual o melhor momento para cada coisa, mas esquecemos que nem tudo vai acontecer no tempo esperado. Existe o tempo de Deus, a hora certa para cada acontecimento. E isso pode gerar uma certa frustração, uma sensação de fracasso ou de esquecimento, quando olhamos ao nosso redor e vemos outras pessoas conseguindo aquilo que desejamos e que não está rolando para nós. Nem sempre é fácil conseguir esperar o tempo de Deus, mas a verdade é que ele sabe de todas as coisas!
Nós não sabemos da missa a metade
É muito fácil ter a sensação de que somos abençoados quando conseguimos realizar um desejo, mas rapidamente esquecemos dessa sabedoria da espiritualidade quando não conseguimos algo. Ficamos frustrados, às vezes revoltados, especialmente quando sabemos que fizemos o possível para atingir um objetivo, e mesmo assim não conseguimos alcançar nosso desejo. Mas, é justamente nessas horas que devemos ter ainda mais certeza de que tudo acontece por uma razão e na hora certa.
“Dedica-se a esperar o futuro apenas quem não sabe viver o presente”
Além disso, somos prepotentes muitas vezes e pensamos que sabemos de tudo, mas a verdade é que não sabemos nada. Nem sobre nós mesmos, nem sobre o mundo e nem muito menos sobre a espiritualidade. Achamos que sabemos o que é melhor para nós, mas a verdade é que só temos uma visão muito parcial sobre os elementos que envolvem a nossa vida.
Existe o carma, existe o merecimento e também é muito comum desejarmos coisas que parecem maravilhosas, mas que só vão nos fazer mal. Um exemplo bem bobo é com trabalho. Eu mesma já passei por isso, quando desejei com muita força conseguir uma vaga em uma determinada empresa. Eu mantinha relações profissionais com essa empresa, e fazia o meu trabalho com a mais alta qualidade, sempre na esperança de que essa disposição e alta performance chamasse a atenção desse cliente e eu conseguisse fazer parte do quadro de funcionários daquele local. Tudo era perfeito lá. As pessoas, os salários, a progressão de carreira, os benefícios, e, principalmente, a cultura da empresa. Isso era o que mais me chamava atenção, pois o RH vendia uma imagem muito sedutora das políticas internas dessa multinacional.
Mas, nunca acontecia o que eu esperava, por mais que eu me esforçasse e fizesse o melhor trabalho possível. Com o tempo, parei de atender essa empresa e inclusive mudei de área. Muita coisa aconteceu na minha vida, até que em dado momento eu me dei conta de que aquele lugar que antes era o meu objeto de desejo, não tinha absolutamente nada a ver comigo. Era uma empresa envolvida até o pescoço com corrupção, e nada daquela imagem perfeita que era passada era realmente verdadeira. E não havia dinheiro suficiente que pagasse o tempo que eu teria que ter dedicado ali, sabendo como é que os salários eram pagos. Há quem não se importe com isso e eu não culpo essas pessoas. Mas a minha personalidade que teima e sempre encontrar um sentido maior para tudo, ficaria muito ferida e em conflito sabendo como as coisas realmente aconteciam por lá. Com certeza eu não teria sido feliz ali, e eu não fazia a menor ideia onde estava querendo entrar. Mas Deus sabia.
“Descanse no Senhor e aguarde por Ele com paciência”
Outro exemplo muito comum é com relacionamentos.
Nos apaixonamos e queremos aquela pessoa de qualquer forma! Fazemos de tudo para que a relação prospere, e que chegue ao ponto de juntarmos as escovas de dente. Pensamos em filhos, em construir uma família e sonhamos com esse momento. Até que despencamos das alturas do céu quando de repente essa relação acaba. É uma nuvem de lágrimas sem fim e perguntas como “porquê?” são constantemente feitas, especialmente para a espiritualidade. Nos sentimos traídas pelo mundo espiritual, isso quando não somos de fato traídas na relação.
Aí o tempo passa, você se apaixona novamente e casa. Tem filhos, constrói a tão esperada família e sente na pele o que é um casamento e a responsabilidade de criar uma criança. Então, olha para trás e sente até calafrios só de pensar que você poderia ter casado com aquela pessoa que te abandonou, e que hoje você enxerga de uma forma completamente diferente, pois já é capaz de ir além da paixão e perceber a verdadeira personalidade da pessoa. Você não sabia, mas Deus, sabia. Nós, na insignificância da nossa encarnação, não sabemos da missa a metade. É difícil esperar o tempo de Deus, mas vale sempre a pena.
Abrir mão de ter o controle é essencial
Quanto mais controle você acha que tem, mais frustrada vai ficar.
E a vida vai fazer questão de esfregar na sua cara que não adianta fazer muitos planos, porque a vida quase sempre atropela eles e faz as coisas acontecerem no tempo dela. Por isso, a primeira coisa que alguém cansada de esperar o tempo de Deus deve fazer é abrir mão de ter o controle das coisas.
Devemos, é claro, nos planejar no sentido de agir e criar condições para que as coisas aconteçam, pois, nada cai do céu. Se você não trabalhar, nunca será promovida. Se não jogar na loteria, nunca vai ganhar. A espiritualidade é poderosa e tudo pode, mas sempre temos que fazer a nossa parte. Mas essa parte tem sempre que incluir a noção de que as coisas podem não acontecer, ao menos não da forma como esperamos.
Planejar é diferente de controlar. Nós não controlamos absolutamente nada! Inclusive, não sabemos sequer até quando estaremos aqui. Esse é o maior indicativo de que não somos nós que comandamos totalmente a nossa vida. Esse conceito é, inclusive, um ensinamento em muitas doutrinas orientais, que dizem que é preciso correr conforme o rio, se deixar levar pelo fluxo da vida se você quiser ter algum sucesso nela. E sucesso é muito mais do que a realização material que a maior parte das pessoas associa a esse conceito. Abra mão do controle. Deixe as coisas acontecerem e confie na vida, tenha fé na espiritualidade, principalmente quando você não consegue o que você quer.
Esperar até quando?
Talvez para sempre.
Talvez seja a hora de pensar em desistir de alguma coisa, ou pelo menos tirar o foco dela e direcionar a atenção para outros aspectos da sua vida. Essa ideia de que você nunca deve desistir de nada é completamente errada. Nem todos podem tudo, nem tudo vai acontecer como você quer. E ficar dando murro em ponta de faca não é nada inteligente.
Há momentos em que devemos insistir no sonho, claro, pois abrir mão de tudo no primeiro não também não é inteligente. Aliás, a vida inteira é feita de obstáculos, e às vezes parece até que a vida testa a nossa vontade. É como se ela dissesse, através das dificuldades “o quanto você quer mesmo tal coisa”? É é justamente a nossa persistência e esforço que vão gerar o merecimento para que uma determinada porta se abra. Mas nem sempre é assim. Nem sempre insistir é o que a vida espera de nós, pois, às vezes, os sinais que recebemos estão gritando para nós que o caminho que escolhemos não é o melhor.
Em alguns momentos, é justamente esse “não” que vai desencadear um outro processo que vai trazer algo ainda melhor para você, que talvez você não tenha sequer sido capaz de sonhar que aquilo era possível. E você estava lá, perdendo seu tempo à-toa, insistindo na sua teimosia. A sociedade, infelizmente, incentiva esse tipo de comportamento, como se os heróis nunca desistissem ou abrissem mão de nada que desejam. Ora, se pensarmos bem, é bastante egoísta e prepotente esse comportamento. Algumas vezes, abrir mão de algo é o melhor que podemos fazer por nós.
É preciso ter humildade para atingir essa visão de mundo, onde nem tudo pode ser realizado. É preciso também ter a mente mais desperta para compreender que o nosso desejo nem sempre é o desejo de Deus, e que existem muitos outros caminhos que podem nos levar a atingir um mesmo objetivo. Dizer que você vai esperar para sempre é obviamente uma brincadeira, uma maneira de dizer que talvez o seu tempo não chegue em certos aspectos, e que é preciso olhar para os outros lados da vida para se realizar.
Deus e o tempo
Quando falamos em tempo, em nosso tempo e tempo de Deus, estamos falando de uma das questões mais complexas da teologia. Alguns filósofos entendem que Deus criou o tempo, e nesse sentido o tempo faz parte do reino da criação. Já outros percebem o tempo como um relacionamento existente em Deus antes da criação, visto que Ele é eterno, e o próprio conceito de eternidade inclui o tempo. A única coisa que sabemos, com certeza, é que Deus está fora do tempo, no sentido de que ele controla e transcende o que conhecemos por tempo. O tempo é um conceito material, uma das coordenadas que nos localizam na chama 3D, ou terceira dimensão, onde o tempo e o espaço são determinantes. Mas basta estudar minimamente a física quântica, para perceber que matéria, tempo e espaço não existem nesse universo.
“Um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos é como um dia”
O tempo de Deus, portanto, jamais será o mesmo que o nosso.
E querer as coisas “agora”, é ser como uma criança que não consegue compreender as regras mais básicas da vida. E quantas vezes não agimos exatamente como uma criança birrenta, que bate os pés e exige ser atendida? E as teologias que se criaram em torno da física quântica incentivam essa imaturidade, algo que devemos combater se quisermos despertar. Temos sim um certo protagonismo, mas o Universo não existe para atender aos seus desejos. E não estamos aqui para sermos felizes, mas sim para aprender. E é através do aprendizado que encontramos a felicidade, não através do desejo.
Um dos ensinamentos de Buda para atingir a iluminação e acabar com o sofrimento na vida é exatamente abrir mão dos desejos. Você consegue imaginar Buda “mandando” no Universo, para que ele seja atendido? Pois é. É claro que não somos nem Buda, nem santos, e vamos ter desejos, vamos querer coisas. É quase impossível viver uma vida comum sem desejar. E não há nada de errado em querer algo e se sentir feliz e até orgulhoso de si quando consegue, pois muitas conquistas são fruto do nosso esforço e do nosso desenvolvimento. Mas daí a pensar que somos atendidos somente pela vontade que temos, nos prende nesse ciclo de desejos que nunca tem fim e que gera o que a filosofia e a psicologia chamam de vazio existencial, a condição mais cruel da vida na Terra. E o pior é que tentamos preencher esse vazio com coisas, com elementos materiais, que nunca vão nos completar. Por isso, vemos tantas pessoas famosas, ricas e bem sucedidas com depressão.
“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar; tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar”
Tenha coragem.
Tenha humildade, trabalhe o seu interior e use a sua frustração para seu crescimento pessoal.
Se for para acontecer o que quer que seja, vai acontecer. E se não for, aprenda com isso e siga em frente!
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