Estado de emergência mental: o que vamos aprender com isto?
Enquanto o mundo está parando e muitas nações declarando emergência, vemos também que é a mente de algumas pessoas que sofre de uma calamidade devastadora e mortal.
Como podemos nos defender disso? Ou melhor, o que podemos aprender com isso?
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Uma hecatombe de pensamentos
Observamos pessoas com muito estudo e pouco coração tomarem posições a respeito da pandemia que ultrapassam os limites do aceitável. Muitas estão unidas, dando ao mundo o seu melhor. Dessas, não esperamos menos.
“A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais será pedido”
Já a parcela que parece alheia a gravidade da situação, nos causa um choque profundo e enorme tristeza, pois é através desses posicionamentos que entendemos porque o mundo está como está e porque ele não vai mudar tão cedo. E são tantas, especialmente no Brasil, que chega a doer na carne. E justo em um país com uma tradição espiritual tão forte, que contraria o triste espetáculo que estamos assistindo. A vida e a morte são valores inegociáveis, que não devem ser colocados abaixo de absolutamente nada. E, quando são flexibilizados por pessoas que se dizem “de deus”, é ainda mais chocante.
Que um governante desgovernado tenda a priorizar a economia é monstruoso, mas previsível. Como disse, desses tipos não podemos esperar muita coisa. Mas é das pessoas comuns que está vindo a horda de desinformação, ódio, polarização, negacionismo e um egoísmo que não encontra fim. A ciência virou opinião e a opinião virou ciência. Que sabem eles? Perguntam os gênios do conhecimento. Uma pessoa próxima a mim que “não acredita” na gravidade do vírus e acha que toda a Europa está histérica, chamou de circo a montagem de hospitais de campanha, e ainda disse que iria rir muito quando a pandemia acabasse e eles não fossem usados. A preocupação da pessoa está mais ligada ao sistema político da China, como jogar a culpa neles e como podemos defender o Brasil do golpe comunista que eles estão tramando, através das aquisições de empresas e serviços que têm feito. Já eu, torço para que esses hospitais não sejam mesmo usados e enxergo isso como uma grande vitória, pois é sinal que o isolamento social funcionou e uma tragédia foi evitada. E agradeço ao fato de estarem sendo construídos, como forma de preparação para um cenário quase inevitável. Cenário esse que é realidade em quase toda Europa e que avança também no território da maior potência mundial, os Estados Unidos, que já trabalha com a hipótese de milhões de mortos.
Essas pessoas fazem parte de um anti-intelectualismo que tomou conta do país nos últimos anos. E isso aconteceu não porque os historiadores e cientistas estejam errados, mas porque eles apresentam uma realidade que é muito incômoda para quem tem privilégios a perder. Promovem uma avalanche de opiniões que soterram arquivos, textos, documentos, pesquisas, ciência e também a espiritualidade, causando vergonha em qualquer um que tenha o mínimo de bom senso. São verdadeiras hecatombes de pensamento, e não há em nosso vocabulário melhor palavra para definir as consequências dessas noções tão deturpadas: hecatombe é derivada do grego e significa o sacrifício de animais aos deuses da Grécia Antiga. É justamente isso que essas pessoas fazem: ao deus mercado, em nome do próprio lucro e privilégios, oferecem a vida daqueles que consideram descartáveis para evitar que a economia sofra. Têm pavor de colocar a mão no bolso, de perder patrimônio, de ver escoar pelo ralo os lucros de seus negócios que ficam vazios com o necessário isolamento social. Deus os livre de partilhar. Acumular é que que assegura privilégio e diferenciação, no país onde reina a exclusividade e o “VIP”. E dizem que estão pensando nos pobres, nos menos favorecidos, como se não fossem eles mesmos os responsáveis indiretos por tanta desigualdade, e que estivesse nas mãos deles o socorro financeiro que tantos precisam e que agora sobrecarrega o Estado e ameaça ainda mais a economia. Monstros. O Brasil sangra tanto pela emergência mental em que se encontra parte da população e seu presidente, quanto pelo vírus que se alastra silencioso e escondido atrás da falta de testes. Se não fosse por alguns governadores, nem isolamento social teríamos.
Que lição tiramos disso?
Muitas são as lições. Parte delas são políticas, sociais e sanitárias, mas outras tantas são espirituais. No país onde a espiritualidade é diversificada, é de se espantar que o intelecto do senso comum caminhe na direção oposta a todos esses valores durante uma pandemia. Aprendemos que estudar em colégios particulares caríssimos não é garantia de nada quando se trata de ética, moralidade e solidariedade. E vemos que a espiritualidade que alguns exalam pelos poros vem de um interior apodrecido pela ganância e pela ignorância. Dizem “gratiluz”, e “namastê”, mas trabalham para as trevas. Amor incondicional? Só pelo dinheiro e pelos seus.
“Por fora, bela viola, por dentro, pão bolorento”
Aprendemos também que, quando o pensamento é dominado pelo amor, pouco importa a crença ou religião que orienta uma pessoa. Nem mesmo o fato de ter ou não uma crença é capaz de influenciar o caráter, nem nos permite qualquer julgamento acerca da inteligência de ninguém. São as atitudes que contam. É a postura, as ações, a conduta e o comportamento que devemos considerar para saber quem é de fato uma bela viola e quem não passa de um pão bolorento. A espiritualidade pode ser uma inspiração, um horizonte de crescimento ou uma muleta, que ajuda a camuflar as injustiças do mundo e tornar as pessoas ainda mais egoístas. Palavras são só palavras. Orações podem ser tão vazias quanto a mente daqueles que pensam que a economia não pode parar por um punhado de gente que vai morrer. A crise nos tem mostrado o pior e o melhor dos seres humanos, e, infelizmente, o Brasil é desses países em que uma pequena minoria ignorante e odiosa consegue conduzir a nação a uma tragédia com custos humanos insuportáveis. Alguns bolsos vão se encher e muitas igrejas também, ao mesmo tempo em que vão faltar cemitérios para enterrarmos nossos mortos. E como não há diálogo possível com esse tipo de gente, a quem acredita na espiritualidade real só resta ajudar quem está ao alcance e rezar para que alguma luz possa adentrar nessa escuridão de almas. A emergência é financeira e sanitária, mas também mental e espiritual.
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