Você conhece os “experienciadores”? Quem são eles?
Esse texto foi escrito com todo o cuidado e carinho por um autor convidado. O conteúdo é da sua responsabilidade, não refletindo, necessariamente, a opinião do WeMystic Brasil.
De um lado, a ciência. De outro, fenômenos espirituais. Mas é através dos experienciadores, um termo que vem sendo cada vez mais estudado por cientistas, que esses dois mundos se encontram. Experienciadores são pessoas que passaram por alguma vivência psíquica, como um surto psicótico, por exemplo, mas que aconteceu com contornos espirituais. Aliás, é justamente a classificação desses fenômenos como unicamente uma patologia que está sendo revista e criticada atualmente, por profissionais da área de psicologia, psiquiatria e antropologia. Eles propõem que seja considerada em certos casos uma conexão entre o quadro clínico de determinadas pessoas e o universo espiritual.
Essa conexão precisa ser reconhecida, já que cada vez mais pessoas relatam ter tido experiências psíquicas que são também espirituais, porque quando acontecem essas “crises” elas sentem uma conexão muito intensa com outras pessoas, uma sensibilidade muito maior a certos ambientes, sensação de profunda conexão e pertencimento a algo maior e também a presença de seres ou espíritos. Em um mundo tão louco, é muito animador e reconfortante que a loucura esteja sendo repensada.
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O caso Anderson: entendendo o que é um experienciador
Para compreendermos o que é um experienciador e essa mudança enorme dos paradigmas da psiquiatria e psicologia, vamos conhecer a história de Anderson Pires, um experienciador que hoje ministra palestras contando sua história e a relação que existe entre alguns transtornos mentais e a espiritualidade.
Hoje com 48 anos, Anderson é professor de Yoga, pratica meditação e está sempre em estado de auto-observação. Mas quando tinha 19 anos, viveu uma experiência assustadora e, ao mesmo tempo, profundamente transformadora. Ele teve o que a ciência tradicional classifica como um surto psicótico. O momento que o jovem enfrentava na época não era dos melhores, pois seu lar estava sendo desfeito através da separação de seus pais. Certo dia, Anderson conta que começou a se sentir diferente do habitual: seus pensamentos estavam muito acelerados e ele não conseguia adormecer. Era um estado de euforia e ansiedade, que muitas pessoas provavelmente já experimentaram. Quem nunca teve uma crise de ansiedade, que atire a primeira pedra! Mas a experiência de Anderson foi muito mais além da tão comum ansiedade. Anderson pensava e falava sobre coisas muito profundas, como se estivesse compreendendo os mistérios da vida. Ele também sentiu que estava ali junto dele um familiar muito querido, que ele infelizmente não chegou a conhecer em vida. Mas a presença dessa pessoa naquele momento era certeza para ele. Anderson também teve visões, que mostravam coisas que iam acontecer no futuro.
“Nunca existiu uma grande inteligência sem uma veia de loucura”
Como é de se esperar de uma sociedade ainda muito primitiva, Anderson foi levado por seus pais a um hospital psiquiátrico, onde ficou internado e recebeu o diagnóstico de bipolaridade. Mas Anderson sabia que seu “surto” tinha algo a mais, um “quê” de realidade espiritual, que trouxe à tona muito de sua essência e abriu caminhos para sua evolução consciencial. Seu surto não era loucura, era uma experiência extraordinária e incomum. E depois desse primeiro episódio vieram outros, sempre com esse fator espiritual. Após anos de estudo, Anderson afirma com segurança que geralmente quem rotula esse tipo de experiência como loucura, não tem menor ideia do que está falando. São pessoas que nunca passaram por nada parecido e precisam encaixar essa narrativa naquelas caixinhas mentais dos “padrões aceitos”. Um surto em que se sente a presença de espíritos? Só pode ser loucura.
“Se o doido persistisse na sua loucura tornar-se-ia sensato”
Aliás, não é preciso ter um “surto” para ser tido como louco. Qualquer pessoa sã que alegue possuir mediunidade e se comunicar de alguma forma com os espíritos, corre um risco alto de ser medicada, diagnosticada com algum transtorno mental e até mesmo internada. Se elas não estiverem dentro das igrejas consideradas “certas”, também serão julgadas do ponto de vista espiritual como amigas de Satanás. A ignorância espiritual é forte entre os mais simples, mas também é muito comum entre os diplomados.
Foi através da união entre matéria e espiritualidade que Anderson conseguiu encontrar seu equilíbrio. A Yoga, a meditação, terapia e uma baixa dosagem de remédios foram os elementos que deram a Anderson a possibilidade de levar uma vida estável e continuar sua evolução consciencial usando o que aprendeu com essas experiências para ressignificar sua vida.
Novas perspectivas sobre a loucura
Felizmente a ciência não trabalha com crenças, mas sim com fatos. Apesar da rejeição e negação científica para tantos fenômenos espirituais inegáveis, nossa sorte é que a ciência evolui e se permite mudar de ideia. Com os dogmas, por exemplo, os mesmo não acontece. Por isso é que certas visões de mundo permanecem iguais por milênios, enrijecidas, ultrapassadas, muitas vezes tóxicas. Mas não com a ciência. E é o que estamos vendo acontecer com tantas áreas humanas, e o caso dos experienciadores é um grande exemplo. Classificar certas experiências como patologias já não basta para alguns profissionais.
Se pensarmos bem, até que essa quebra de padrões aconteceu rapidamente. Até o século XIX e a revolução de Freud, pouco sabíamos sobre a nossa própria mente e o quão vasto e ativo é nosso inconsciente. Tudo que escapava do considerado normal era loucura, bruxaria ou possessão demoníaca. Se nossa história é milenar, quanto tempo da nossa existência passamos acreditando nessas besteiras? Entretanto, bastaram dois séculos para passarmos da completa cegueira ao ponto de percebermos a complexidade da nossa mente, da nossa subjetividade, e o quanto tudo está intrinsecamente ligado à nossa essência espiritual. Vai chegar o dia em que a ciência reconhecerá que não somos, de forma alguma, o nosso cérebro. E estamos muito, mas muito próximos disso.
O psiquiatra tcheco Stanislav Grof, co-fundador da Psicologia Transpessoal, é um exemplo dessas pessoas que percebeu que existe muito mais entre o céu e a Terra do que sonha nossa vã filosofia. Ele também compreendeu que existe algo além dos limites do conhecido acontecendo com os experienciadores. Trabalhando há anos em grandes universidades dos Estados Unidos, Grof investigou a fundo os estados alterados da consciência ao longo de sua carreira e criou o termo “crise de emergência espiritual” ou “crises psicoespirituais” para definir o processo que acontece com os experienciadores. Isso porque, muitas vezes, essas experiências podem acontecer devido a um surto psicótico, a partir de um evento muito estressante ou traumático, através do uso de alguma substância que amplia ou altera a consciência, pela prática de meditação, mas também podem surgir de forma totalmente espontânea.
“Quem vive sem loucura não é tão sábio como pensa”
Nesses casos, o que consideramos como loucura são chaves que abrem caminhos para dentro de nós mesmos, para os mistérios das nossas origens. Se essas experiências forem acolhidas de forma carinhosa e respeitosa, deixando de lado os estigmas dos diagnósticos das doenças mentais, elas se tornam eventos positivos, benéficos e curativos. Eles fazem emergir autoconhecimento, traumas e muitas questões que, uma vez na superfície do nosso consciente, podem finalmente ser tratadas de forma profunda e definitiva, nos impulsionando para uma evolução de consciência sem precedentes.
Mas quando suprimimos esses sinais e mensagens através da incapacitação da pessoa com internação compulsória ou excesso de medicação, as consequências podem ser desastrosas. Isso não significa, é claro, que não existam quadros psíquicos que necessitem do tratamento medicamentoso tradicional. Há pessoas que podem colocar a própria vida e a vida de outros em perigo, e remédios e tratamento adequado são essenciais e salvam vidas. A questão é que nem todo fenômeno psíquico deve ser tratado dessa forma, e nem toda habilidade mental fora do comum ou experiência transcendental precisa ser classificada como loucura. Há muito mais, nós somos capazes de muito mais. Em breve, a ciência vai deixar de engatinhar nesse tema e vai alcançar a grandeza da nossa consciência.
E você? Já teve alguma experiência psicoespiritual? Você faz parte do grupo dos experienciadores? Conta para nós!
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