Frei Galvão: a vida extraordinária do primeiro santo brasileiro
Esse texto foi escrito com todo o cuidado e carinho por um autor convidado. O conteúdo é da sua responsabilidade, não refletindo, necessariamente, a opinião do WeMystic Brasil.
Se você gosta de histórias inspiradoras, esse artigo é para você. Conhecer a história dos santos, as chamadas hagiografias, servem como um norte para a nossa jornada. Nos inspirar neles traz um grande crescimento consciencial e, especialmente quando se trata de um brasileiro, vemos que nossa terra também é fértil na criação de santos.
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O santo de Guaratinguetá
Antônio de Sant’Ana Galvão nasceu no ano de 1739, na cidade de Guaratinguetá, interior de São Paulo. Não existem registros oficiais do dia em que ele veio ao mundo, embora lhe seja atribuída a data de 10 de maio para seu nascimento. O pai, Antônio Galvão de França, nascido em Portugal, era o capitão-mor da Vila de Guaratinguetá. Sua mãe, Isabel Leite de Barros, era filha de fazendeiros, bisneta do famoso bandeirante Fernão Dias Paes Leme, o “caçador de esmeraldas”. Antônio viveu com seus irmãos em uma bela casa, já que seus pais gozavam de prestígio social e influência política. Devido a essa condição abastada, o menino com 13 anos foi enviado para o Colégio de Belém, na Bahia, que pertencia a padres jesuítas. Era o início da vida beata de Frei Galvão.
“Vos peço pela paixão, morte e chagas do Vosso Filho, pela Vossa pureza e Conceição Imaculada”
Aos 21 anos, Frei Galvão decidiu se tornar noviço no Convento de São Boaventura de Macacu, em Itaboraí, Rio de Janeiro. Era o começo de uma vida dedicada a fé, religião, espiritualidade e a todos que sofrem. Se tornou franciscano, filósofo, arquiteto e construtor, dentre outras tantas coisas. Morreu com 83 anos em 23 de dezembro de 1822, recluso no Mosteiro da Luz, em São Paulo, que ajudou a idealizar e construir. A edificação foi declarada Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO e no local também está localizado o Museu de Arte Sacra de São Paulo, que abriga um dos mais representativos acervos do patrimônio sacro brasileiro.
“O melhor modo de venerar os santos é imitá-los”
Dons sobrenaturais de Frei Galvão
Como todo santo, Frei Galvão foi presenteado com dons sobrenaturais, os quais jamais usou em interesse próprio. Pelo contrário, sempre os colocou à disposição dos aflitos. Dentre eles temos a bilocação, telepatia, premonição, clarividência, levitação, telepercepção e cura. Conheça os casos que envolvem as habilidades extraordinárias do santo mais querido do Brasil!
“Não se esqueça de que os santos são pecadores que continuam tentando”
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Levitar
Há muitos relatos sobre a capacidade de levitação de Frei Galvão. Um dos mais conhecidos é de uma senhora que, caminhando por São Paulo, teve a sorte de cruzar o caminho do frade. Enquanto andava, a senhora percebeu que na direção oposta vinha Frei Galvão e voltou a ele sua atenção. Segundo ela, Frei Galvão vinha pela rua tão recolhido que parecia levitar ao invés de andar. Espantada, a senhora perguntou: “Senhor, vossemecê anda sem pisar no chão?” O frade sorriu, cumprimentou-a e seguiu, deixando para trás uma senhora admirada com o milagre que viu.
Segundo Thereza Maia, fundadora do museu constituído na casa onde nasceu Frei Galvão, em Guaratinguetá, há nas paredes da casa quadros que relatam essa capacidade do frade. Histórias dão conta de que era comum que crianças se apinhassem ao redor da casa, observando através dos buracos de fechadura e frestas nas portas os momentos em que Frei Galvão se recolhia para orar, pois, era especialmente nesses momentos que ele levitava.
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Chuva? Não durante as pregações de Frei Galvão
Frei Galvão costumava viajar entre as vilas e cidades próximas a pedido dos párocos, para pregar e celebrar missas. Frei Galvão era capaz de controlar a natureza e evitar que tempestades caíssem sobre as cabeças dos devotos, que eram tão numerosos que não cabiam dentro das igrejas. As missas eram realizadas ao ar livre e ficavam sujeitas às intempéries climáticas. Mas não havia clima que pusesse fim às palavras de Frei Galvão. Um desses milagres aconteceu na própria Guaratinguetá, após o frade iniciar seu sermão. Formou-se no céu uma tempestade, e os fiéis amedrontados começaram a dispersar, até que Frei Galvão lhes disse que ficassem, pois, não haveria chuva. E assim foi. Choveu sim, torrencialmente, ao redor do local onde todos estavam, mas na praça onde ficava o altar e os fiéis nem uma gota de água foi derramada. Milagre? Com certeza.
“O silêncio é o maior dos martírios; nunca os santos se calaram”
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Em dois lugares ao mesmo tempo
Por volta de 1810, diante dos olhos de dezenas de testemunhas, Frei Galvão apareceu em dois lugares ao mesmo tempo. Ele estava em São Paulo fazendo uma pregação para dezenas de pessoas, quando interrompeu o evento e pediu que todos rezassem uma Ave Maria direcionada a um moribundo. Terminada a oração, ele continuou sua pregação normalmente. Acontece que em Jaú, no interior de São Paulo, um cruel capataz chamado Manuel Portes havia castigado severamente o caboclo Apolinário. Como era compreensível, o caboclo reagiu e atacou o capataz pelas costas com um facão, ferindo de morte Manuel Portes. Aflito e consciente de sua morte iminente, o capataz começou a gritar que não poderia morrer sem se confessar e chamava por Frei Galvão. Eis que então se ouve um grito, anunciando a todos que um frade se aproximava. Era Frei Galvão, que se materializava em Jaú, ao mesmo tempo em que estava pregando em São Paulo. Segundo as testemunhas, Frei Galvão se aproximou do capataz, pôs a cabeça dele em seu colo, lhe falou algo em voz baixa e, em seguida, encostou seu ouvido próximo a sua boca. Ficou assim por alguns instantes, ouvindo o que aquele homem à beira da morte tinha a dizer. Por fim o abençoou, se levantou, fez um gesto de adeus e se afastou da mesma forma misteriosa que tinha aparecido. No momento em que Frei Galvão desapareceu, Manuel Portes fechou seus olhos e dormiu o sono eterno.
Ainda sobre a capacidade de bilocação, outro caso nos chama a atenção na história de Frei Galvão. Os familiares de um senhor que adoeceu gravemente em Taubaté, disseram que ele precisava se confessar como preparação para a grande viagem. O senhor então contou que já havia se confessado com Frei Galvão, mas foi desacreditado, já que todos sabiam que o frade não estava na região na época. Foi então que o enfermo tirou do travesseiro um lenço, que pertencia ao Frei Galvão, como prova de que havia estado na presença do frade e tinha se confessado. Segundo ele, Frei Galvão esqueceu o lenço em cima de sua cama durante a confissão. Como o dom de bilocação do frade já era conhecido, todos acreditaram que o senhor havia realmente encontrado o frade e se confessado.
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Revolução em Portugal
Antigamente era comum que as vilas e cidades anunciassem grandes acontecimentos tocando os sinos das igrejas fora de hora. Foi em São Paulo que, certo dia, os sinos do Mosteiro da Luz tocaram informando que algo importante estava acontecendo e a população correu para o mosteiro para ouvir a mensagem. Chegando lá encontraram Frei Galvão, que a todos informou: uma grande revolução estava acontecendo em Portugal. Com uma riqueza de detalhes assombrosa, ele começou a narrar o que se passava, como se estivesse presenciando tudo pessoalmente. Tratava-se da Revolução Liberal do Porto, que eclodiu em 24 de agosto de 1820 e teve repercussões importantíssimas tanto na história de Portugal quanto na história do Brasil. Somente semanas mais tarde é que chegaram notícias oficiais vindas de Portugal, confirmando os relatos feitos por Frei Galvão.
“Quando os convido a ser santos, peço que não se conformem em ser de segunda linha, mas que aspirem a um “horizonte maior. Não se conformem em ser medíocres”
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Milagres em pílulas
Frei Galvão foi procurado por um senhor aflito, pois, sua mulher estava em trabalho de parto e corria perigo de perder a vida. O frade escreveu em três pedacinhos de papel o versículo do Ofício da Santíssima Virgem: Pos partum Virgo, Inviolata permansisti. Dei Genitrix intercede pro nobis (Depois do parto, ó Virgem, permaneceste intacta. Mãe de Deus, intercedei por nós). Deu ao homem, que os levou à esposa. Ela ingeriu os papéis, que Frei Galvão enrolou como se fossem pílulas. Resultado? Nenhuma morte e duas vidas salvas. Outro caso idêntico aconteceu com um jovem que se contorcia com dores provocadas por cálculos vesícula. Frei Galvão fez pílulas semelhantes e deu-as ao moço. Após ingerir as pílulas, o jovem expeliu os cálculos e ficou curado. Frei Galvão distribuiu muitas curas em forma de pílulas, pois passou a ser muito procurado por seus devotos em aflição. Até hoje o mosteiro as fornece para quem têm fé na intercessão do santo.
Os milagres da beatificação e canonização
Quase dois séculos se passaram até que a igreja reconhecesse os dons de Frei Galvão como excepcionais. Foi em 25 de outubro de 1998, que Frei Galvão se tornou o primeiro religioso nascido no Brasil a ser beatificado pelo Vaticano. A canonização e elevação ao status de santo aconteceu em 11 de maio de 2007, dez anos após a beatificação, durante a visita do Papa Bento XVI ao Brasil. Frei Galvão se tornou a primeira pessoa nascida no Brasil a ser canonizada pela Igreja Católica, em uma cerimônia realizada no Aeroporto Militar Campo de Marte, em São Paulo, que reuniu cerca de 800 mil pessoas. A constatação oficial da santidade de Frei Galvão se deu após a igreja reconhecer que ele havia, de fato, realizado pelo menos dois milagres.
O milagre da beatificação: o caso Daniela
Foi em São Paulo, em 1990, que o milagre de Daniela aconteceu. A menina com 4 anos de idade teve complicações bronco-pulmonares e crises convulsivas graves, precisando ser internada na UTI do Instituto Emílio Ribas. O diagnóstico era gravíssimo: encefalopatia hepática por consequência da hepatite A, insuficiência hepática grave, insuficiência renal aguda, intoxicação por causa de metocloropramida e hipertensão. Segundo os médicos, não havia esperança para Daniela. Os sintomas só pioravam, até que a menina teve uma parada cardio-respiratória que evoluiu com epistaxe, sangramento gengival, hematúria, ascite, broncopneumonia, parotidite bilateral, faringite e mais duas infecções hospitalares. Após 13 dias de UTI, familiares, amigos e religiosas do Mosteiro da Luz deram a menina as pílulas de Frei Galvão. Em 13 de junho a menina deixou a UTI e, em 21 de junho, teve alta do hospital considerada curada. O pediatra que a acompanhou atestou perante o Tribunal Eclesiástico que atribuía à intervenção divina não só a cura da doença, mas a recuperação total da criança. Quando um médico diz que houve um milagre, é porque houve um milagre.
Milagre da Canonização: o caso Sandra
Nove anos após curar Daniela, outro milagre foi realizado por Frei Galvão. Em 1999 foi Sandra Grossi de Almeida, também na cidade de São Paulo, que encontrou sua razão de viver através da intercessão divina de Frei Galvão. O sonho de Sandra era ser mãe, mas ela não podia. Por três vezes ela engravidou e três vezes perdeu os bebês, devido a um problema de má formação do útero. A ciência médica dizia que era o fim da linha para Sandra e que os médicos nada podiam fazer. O útero de Sandra era bicorno, com duas cavidades muito pequenas e assimétricas, condição que não podia ser corrigida através de cirurgia e que tornava impossível qualquer gestação chegar ao final. E, mesmo que chegasse, o parto certamente teria complicações fatais.
Mas Sandra tinha fé e acreditava no poder divino atribuído a Frei Damião. Ela procurou pelas pílulas distribuídas no Mosteiro da Luz, na esperança de engravidar e conseguir levar a gestação até o final. Os médicos a desencorajaram, claro. Mas Sandra engravidou e contrariou os prognósticos que davam como certa a morte do bebê antes do 5º mês de gestação. Ela rezava e tomava as pílulas de Frei Galvão durante a gestação. Na 32º semana uma cesariana foi realizada após a ruptura da bolsa, sem nenhuma complicação. E veio ao mundo, sob as bênçãos de Frei Galvão, Enzzo de Almeida Galafassi. Após o nascimento da criança, mais um milagre: Enzzo foi diagnosticado com uma condição respiratória de alto risco, porém, um dia após seu nascimento, ele não apresentava nenhum vestígio da doença e recebeu alta do hospital alguns dias depois. Podemos dizer que o milagre de Sandra foi um milagre triplo!
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