Gandhi e os 7 pecados da sociedade
“A lei de ouro do comportamento é a tolerância mútua, já que nunca pensaremos todos da mesma maneira, já que nunca veremos senão uma parte da verdade e sob ângulos diversos”
O grande pensador e revolucionário Gandhi foi uma grande personalidade da Índia. Conhecido pela defesa de seus valores e da não-violência como meio de protesto, ele ficou conhecido pelos seus estudos sobre a essência humana. Mas o que Gandhi dizia sobre a sociedade?
Em 22 de outubro de 1925, Mahatma Gandhi – um dos santos do século XX – publicou no jornal semanal Young India, uma lista que chamou de Sete Pecados Sociais. Os 7 pecados sociais definidos por Gandhi são uma compilação de atitudes que causam graves danos a uma sociedade. O líder político e espiritual acreditava que a moral é uma força superior. Portanto, quis indicar quais eram os comportamentos que minavam a moral da sociedade.
Os pecados sociais se contrapõem à ética e configuram situações que enfraquecem a sociedade. Quando não se tem valores fortes, as respostas em momentos de crises ou dificuldades são fracas. Conheça abaixo, quais são os 7 pecados sociais e o que eles têm a nos dizer.
Gandhi e a sociedade: e os pecados sociais?
Muito foi discutido sobre os pecados humanos e todas as virtudes de nossa raça. Mas quando se tratava de sociedade, Gandhi não deixava de refletir. Aliás, ele a via com muita importância visto que, para a criação de um coletivo é necessário a individualidade. No seu estudo dos pecados sociais, Gandhi descreveu de maneira minuciosa os pecados que podem corromper uma sociedade, deixando-a impura.
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Religião sem sacrifício
Apesar de Gandhi se referir exclusivamente à religião, este princípio pode ser aplicado a qualquer tipo de crença espiritual. Quando se professa uma crença, se assume que o que está no coração e na mente deve ser traduzido em ação. A religião sem sacrifícios é vista como um dos pecados sociais, pois as crenças sem atitudes perdem grande parte do seu valor. Quando acreditamos em algo de coração, devemos estar dispostos a nos entregar por completo.
Quando temos uma crença, a necessidade de renunciar a algo é sempre inerente a ela. Ou seja, quando se há uma crença, seja ela física ou espiritual, sem renúncia, o ser humano adoece e, consequentemente, toda a sociedade. É sempre necessário se podar para se encaixar em um determinado meio.
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Prazer sem consciência
Buscar pelo prazer é totalmente legítimo. Os seres humanos têm o direito de querer o que os faz bem, o que lhes traz satisfação física e espiritual. Isso é diferente de cair em excessos. O mesmo prazer que traz o bem, pode causar grandes danos. Para Gandhi, a moderação é uma grande virtude. O prazer com consciência é aquele que encontra o equilíbrio. Não podemos deixar que essa busca se torne um excesso vicioso e assim, prejudicar outros valores.
A busca do prazer sem moderação é um dos maiores perigos do mundo. Não apenas no campo físico e sexual, mas também no campo mental e moral. Não é possível gozar sem responsabilidades. Cria-se uma loucura, um descontrole prejudicial.
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Ciência sem humanidade
É difícil acreditar nessa ideia, mas a Ciência também pode ser considerada um dos pecados sociais. Embora ela sirva à humanidade, também existem muitos casos em que suas intenções não são legítimas. Por exemplo, quando ela é usada para desenvolver armas químicas; quando são usados animais para teste de forma inescrupulosa; quando são divulgadas informações imprecisas ou falsas baseadas em investigações fraudulentas, entre outros casos.
Quando a ciência se afasta da humanidade, ela começa a morrer. Não é possível que avanços não sejam em prol do homem, visto que foi justamente o homem que os criou. Às vezes, a ciência se envereda por caminhos ruins contra o ser humano, como no caso das fake news.
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Educação desprovida de caráter
Hoje fala-se muito sobre educação. Quando educamos alguém sem o caráter, este aprendiz se torna quase um robô, com uma aprendizagem automática e desprovida de valores. É sempre necessária uma educação humanitária e repleta de emoção. O acúmulo de conhecimento nem sempre significa que uma pessoa é bem-intencionada, generosa e compassiva. Muitas vezes, o conhecimento pode mascarar uma grave falta de caráter.
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Riqueza sem trabalho
Quando nos esforçamos, conseguimos alcançar o bem-estar. Para isso, é necessário que haja uma força, uma pressão, um esforço. O conforto e bem-estar sem esforço é em vão, pois não há a valorização e dignidade. A sociedade que apenas se conforta e não se esforça, também se definha.
O trabalho não é só uma forma de ganhar dinheiro. Ganhar a vida com o trabalho é um ato que nos torna dignos. Quando vivemos do trabalho de outras pessoas, podemos deteriorar o nosso ser. Assim, nos tornamos parasitas sociais. Os momentos de bem-estar devem ser conquistados por nosso próprio esforço. Essa é uma realidade correta. As pessoas que passam a vida sem ter uma função, sem ser prestativas, não costumam se sentir muito bem. Acontece o contrário, essa pessoa se torna insaciável, nada é bom suficiente, as coisas não têm sentido aos seus olhos.
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Negócios fora da ética
As negociações fora da moralidade são hediondas, pois corrompem toda a sociedade. Hoje em dia, existe uma ideia de que negócios e vida pessoal não se misturam, entretanto, é necessário que haja o caráter humano e a ética para que os negócios não sejam frios e concretos, pois nisso acontece a desumanização dos seres.
A ambição é um sentimento positivo, mas também pode nos levar a pecados sociais. Quando priorizamos apenas nosso bem-estar, tendemos a acreditar que nossos objetivos justificam qualquer ação. A busca pelo sucesso pessoal se tornou um pretexto para recorrer a comportamentos nada louváveis. Até quem acredita ser uma pessoa do bem pode acabar achando que essa postura é normal, que apenas estão sendo práticas. Temos uma tendência a chamar alguém de sonhador ou idealista quando acredita em valores morais. Esta atitude nos leva a reduzir ainda mais os limites e acaba regendo uma espécie de “lei da sobrevivência”.
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Política sem valores
Quando pensamos ou falamos de política, prontamente imaginamos os políticos. O tema se tornou um motivo para criticar os governantes e chamá-los de corruptos. Esse argumento serve como uma desculpa para não participarmos da política. Entretanto, nos esquecemos que fazemos parte deste regime que tanto questionamos. Graças a nós ele é mantido, seja através de nossas ações ou por nossa omissão. Todos nós estamos envolvidos na política, de forma ativa ou passiva. A grande questão que devemos avaliar é se a nossa participação contribui para melhorar os valores da política ou não.
É comum ouvirmos as pessoas meterem o pau em políticos, chamando-lhes de ratos, porém não podemos nos esquecer que a classe política existe pois foi formada por nós mesmos. Ou seja, quando reclamamos da corrupção, estamos criticando a nós mesmos. Para isto é necessário que comecemos a mudar nós mesmos: “Seja a mudança que você quer ver no mundo.” (Mahatma Gandhi)
A lista dos 7 pecados sociais veio à tona através de uma correspondência que Gandhi tinha com alguém que era identificado como “amigo honesto”. Ele publicou a lista sem qualquer comentário, exceto pela seguinte frase: “Naturalmente, o amigo não quer que os leitores saibam essas coisas meramente através do intelecto, mas conhecê-las através do coração, de modo a evitá-los.
Em 1947, o quinto neto de Gandhi, Arun Gandhi, recebeu do avô um pedaço de papel com a lista dos pecados sociais, dizendo que ali estava “os sete erros que a sociedade humana comete e que causam toda a violência”. Três meses após, Gandhi foi morto pelos tiros disparados por um extremista hindu.
O mais importante é que a vida deste líder espiritual foi um exemplo de luta contra comportamentos destrutivos. Através de toda a sua doação, ele conseguiu aplicar seus princípios aparado por sua força moral.
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