Quem é o Cupido? Um anjo ou um deus?
Faz parte do imaginário comum a ideia do Cupido, aquele “anjinho” de aparência dócil e infantil que carrega as flechas do amor. E quando ele acerta o coração das pessoas com uma dessas flechas, elas se apaixonam perdidamente e decidem ficar juntas para sempre.
“Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?”
Mas pensar nele como um anjo é uma adaptação ocidental, influenciada pelo cristianismo e está equivocada. Vamos conhecer a verdadeira história do Cupido?
Mitologia: a mãe do Cupido
A história do Cupido começa na Antiguidade Clássica, na mitologia Grega, onde Cupido era um dos deuses mais antigos do Olimpo. Sua primeira aparição se deu por Hesíodo, que o definiu como um dos três seres primais, junto com a Gaia, a Mãe Terra, e Caos, a Matéria Primordial.
O Cupido é, na verdade, Eros, deus do amor e do erotismo. Era filho de Afrodite, deusa da beleza, e Ares, deus da guerra. Por ser o deus do amor, era considerado o mais belo dos deuses, capaz de despertar o amor nos mortais através de suas flechas envenenadas com paixão e amor.
A figura infantil do Cupido é uma simbologia ao verdadeiro amor, eterno e imutável. Por esse motivo, ele nunca cresce e transforma. E sua companheira, Psiquê, é a entidade que significa a essência da alma humana. E como vamos ver a seguir, a história que eternizou o Cupido começa do amor entre ele e Psiquê, a mais bela das mortais.
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O mito dos enamorados
Mesmo sendo a representação do amor, conta a lenda que o Cupido também sofreu as dores do amor. Para começar a história, basta dizer que Cupido se apaixonou perdidamente por uma mortal, chamada Psiquê, o que tornou quase impossível essa união. Das dificuldades vividas por Eros para viabilizar o seu amor, veio sua vontade de unir os corações dos mortais eternamente.
Psiquê era uma mortal belíssima que despertou a fúria de Afrodite, mãe de Eros. Isso, pois, sua beleza indescritível estava fazendo com que os homens deixassem de frequentar seus templos para adorar uma simples mortal. Basicamente, Psiquê estava roubando a cena, o que fez Afrodite tomar algumas providências: a deusa mandou Eros atingir Psiquê com suas flechas, para que ela apaixonasse pelo mais desprezível dos seres mortais. Mas, ao contrário do esperado, Eros acaba se apaixonando por Psiquê, enfeitiçado por sua beleza ou, talvez, por um acidente que faz com que ele se espete com o veneno de uma de suas próprias flechas. Acidente ou não, ao invés de flechar o coração de Psiquê e algum mortal insignificante -conforme as ordens de sua mãe Afrodite-, Eros fica ele mesmo perdidamente apaixonado por Psiquê.
Separados pela mortalidade
Psiquê, que deveria ter sido atingida pela flecha do Cupido, acaba sozinha e sem um amor. O pai de Psiquê, preocupado com a solteirice de sua filha mais bela, decide consultar o Oráculo de Apolo para investigar o que o destino reservava a sua linda filha. A resposta que recebe dos deuses (induzidos por Eros), é que sua filha estava destinada a se casar com uma entidade monstruosa. Como o oráculo não podia ser contrariado, Psiquê foi levada ao alto de um rochedo e deixada à própria sorte, até adormecer e ser conduzida pelo vento Zéfiro a um palácio magnifico, que daquele dia em diante seria seu. Ela não sabia, mas quem construiu o palácio foi o próprio Eros.
“Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura”
O palácio parecia vazio mas era tão suntuoso, que Psiquê se acostumou rapidamente com o ambiente. A noite, uma voz suave começou a chamá-la e ela se entrega às delícias do amor nos braços do próprio Amor. Mas, apesar disso, um abismo os separava: por ser mortal, Psiquê não podia olhar diretamente para Eros, que ficava invisível em sua presença. Essa foi a maneira que ele encontrou de manter sua identidade em sigilo e proteger sua relação e a própria Psiquê do ciúme de Afrodite.
Tudo ia bem, até que Psiquê sente saudades de casa e decide se encontrar com suas irmãs, almas muito invejosas. A princípio, as irmãs de Psiquê demonstraram empatia pela irmã, que vivia “sozinha” em um enorme palácio sem conhecer a face de seu marido, a quem todos julgavam ser um monstro. Porém, a inveja é sempre muito poderosa e, através dos conselhos mentirosos das irmãs, Psiquê decide que à noite, quando Eros adormecesse, ela descobriria sua face. E assim fez. Mas, quando Psiquê vê o belo jovem de rosto corado e cabelos loiros, fica muito surpresa e, em um momento de descuido, deixa pingar uma gota de azeite quente sobre o ombro de Eros. Ele acorda imediatamente e o lugar onde caiu o óleo fervente se transforma numa grande chaga: o Amor está ferido.
Quando percebe a traição de Psiquê, Eros fica enlouquecido e foge, gritando alto: “o Amor não sobrevive sem confiança!”. Psiquê fica sozinha, desesperada, arrependida e decidida a consertar seu terrível erro e reconquistar Eros.
“Tão bom morrer de amor! E continuar vivendo…”
A amor perdido e o perdão de Afrodite
Enquanto Eros fugia, Psiquê tenta segui-lo mas cai da janela e fica desmaiada no chão. Então, todo o castelo desaparece, como um sonho que se desfaz. Desolada, Psiquê volta para a casa dos pais onde vive muito entristecida, caminhando sem rumo e recusando alimentação. A certa altura, ela avista um lindo templo no cume de uma montanha, e, pensando que lá encontraria Eros, decide escalar a montanha. Porém, quando Psiquê chega no topo, ela encontra montes de trigo, centeio, cevada e ferramentas, e decide separar os itens e organizá-los. Esse templo pertencia a deusa Deméter, que, grata pela ajuda de Psiquê, dá a ela uma pista do que ela poderia fazer para reconquistar Eros: conseguir o perdão de Afrodite, sua sogra.
Psiquê vaga pelo mundo a procura de Afrodite, até que a encontra. Mas a deusa já ciente da desobediência do filho e de tudo que sucedera, decide impor à Psiquê uma série de tarefas, esperando que ela nunca as terminasse ou que sua beleza e juventude se desgastasse a medida que ela trabalhasse noite e dia.
Psiquê cumpre as tarefas uma a uma, até chegar a última delas: pedir um pouco da beleza de Perséfone, a rainha do reino dos mortos governado por Hades. Quando Afrodite determina a Psiquê essa tarefa, ela tem certeza que Psiquê jamais voltaria viva desse encontro com Hades e Perséfone. Mas ela estava enganada! Psiquê consegue convencer Perséfone a encher uma caixa com a sua beleza para entregar a Afrodite. No caminho, Psiquê decide abrir a caixa e pegar um pouco da beleza para si, e, assim que abre a caixa, cai em um sono muito profundo. Eros, já recuperado de sua ferida, vai em busca de Psiquê para ajudá-la. Ele coloca todo o conteúdo de volta na caixa, desperta Psiquê e a manda entregar a caixa para Afrodite.
Enquanto Psiquê entrega a caixa a Afrodite, Eros vai ao encontro de Zeus, o pai de todos os deuses, e implora para que ele o ajude a resolver a situação com Psiquê para que eles pudessem viver o amor em paz. Zeus concede o pedido a Eros, consegue a aprovação de Afrodite e resolve os impedimentos para que o Amor e Psiquê pudessem viver em paz. Zeus também ordena que Hermes traga Psiquê até a Assembleia Celestial, para que ela se torne também imortal.
Assim, Psiquê vira uma deusa e consegue viver com Eros, com quem tem uma filha, Hedonê, a deusa do prazer.
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