Como a homossexualidade é vista pela espiritualidade
Esse texto foi escrito com todo o cuidado e carinho por um autor convidado. O conteúdo é da sua responsabilidade, não refletindo, necessariamente, a opinião do WeMystic Brasil.
A orientação sexual infelizmente é um assunto polêmico, especialmente para os adeptos das religiões tradicionais. Mesmo com tanta evolução tecnológica e acesso a informação, a escolha em se manter preconceituoso ainda é feita por muitos. Sim, uma escolha. Diferente da orientação sexual que não pode ser escolhida, ela simplesmente é, se manter na ignorância em tempos onde a informação está muito mais democratizada é uma escolha, e das piores.
No Brasil, temos índices alarmantes de homofobia e a agressão aos homossexuais ainda não é criminalizada; e a tendência nos próximos anos é de que a violência aumente, junto com uma perda de direitos e igualdade para essa comunidade.
“Não julgueis, pois, para não serdes julgados; porque com o juízo que julgardes os outros, sereis julgados; e com a medida com que medirdes, vos medirão também a vós.”
Mas, se Deus não erra, não seriam também os homossexuais parte do plano divino? Não seria a própria intolerância um pecado injustificável? Eu pelo menos nunca li em lugar algum Jesus dizer “atire a primeira pedra se você não for gay” ou “ame ao próximo como a ti mesmo, desde que este próximo não seja gay”. Aliás, foi com as minorias, com os excluídos e julgados pela sociedade as companhias escolhidas por Jesus. A alta sociedade, os que pertenciam à igreja da época e ao Estado, ao poder, Jesus deixou de lado e contra eles pregou.
Vamos então olhar para essa questão do ponto de vista espiritual? Homossexuais tem, na verdade, uma grande missão.
“Deus te fez assim”
A bíblia condena? Escolhendo as proibições
Uma das desculpas mais usadas para camuflar e moralizar preconceito é dizer que a bíblia condena. Esse argumento mostra não só ignorância, como uma certa, digamos, hipocrisia.
“A triste verdade sobre a intolerância é que a maioria das pessoas ou não percebem que eles são intolerantes, ou estão convencidos de que a intolerância está perfeitamente justificada”
De fato, existem duas ou três passagens bíblicas que se referem a orientação sexual: duas no Velho Testamento e a terceira no Novo Testamento, quando o apóstolo Paulo descreve os rituais dos gentios romanos. E não podemos esquecer que, apesar da força com que se propagou pelo globo, a crença na bíblia é só uma crença religiosa inspirada em um livro escrito por homens. A bíblia é sim um livro importantíssimo, de onde tiramos lições muito valiosas e onde está fundida parte da história humana, especialmente da porção ocidental do globo.
A bíblia é incrível.
Mas, como muitos sacerdotes da própria igreja católica sabem, ela foi escrita por homens, logo, é passível de erros de interpretação. O conteúdo é em forma de parábolas, uma linguagem mais acessível para a época (estamos falando de alguns mil anos atrás…), então, deve ser avaliada de acordo com o contexto, o pretexto e o texto.
Contexto seria o momento histórico e as crenças vigentes da época, que sem dúvida influenciaram quem estava escrevendo. Ainda dentro do contexto, temos todos os embates históricos sobre o que é considerado canônico e o que não é, quem decidiu que determinadas escrituras seriam consideradas sagradas e verdadeiras, enquanto outras, não. Todos esses fatores e decisões tomadas acerca de fatos fazem parte do contexto histórico. Lembrando que quase todos os apóstolos que escreveram estão relatando a vida de um Jesus séculos após ele ter caminhado na Terra. Logo, esse contexto só aumenta a possibilidade de imprecisão e distorção dos fatos.
Pretexto é, na verdade, o motivo pelo qual um texto é escrito: para relatar? Doutrinar? Combater uma outra fé? Esse segundo se confunde muito com o primeiro, o contexto histórico. Por fim, temos o texto em si, Que é o conteúdo, a mensagem. Será que ela deve ser levada a ferro e fogo? Será que devemos acreditar que a Terra tem 6 mil anos e que fomos feitos da costela de Adão?
Dito isso, vamos a parte da hipocrisia: a bíblia tem, além da condenação de uma determinada orientação sexual, muitas outras proibições. Mas muitas outras. Se ela for levada à sério, quem dá o direito de escolhermos o que de fato é condenável e o que não é? Baseados em quê? Se aquela é a palavra de Deus, quem somos nós, quem é você, para escolher o que vai seguir?
Em êxodo, temos menção à escravidão. Homens vendendo filhas como escravas, compra e contexto de servidão de escravos hebreus. Está, a escravidão, permitida por Deus? Onde posso adquirir meu escravo? Qual o valor seria justo pagar por um escravo na sociedade moderna?
Ainda em êxodo, lá está mais uma proibição: trabalhar aos sábados. Se seu vizinho não guardar o sábado, deve ser morto. Meu vizinho trabalha aos sábados, como devo matá-lo? E você, trabalha sábado?
Em levítico, qualquer um que plantar dois tipos de vegetais na mesma terra, lado a lado, está violando uma lei divina. Devemos assumir este como um pecador? Uma abominação? Usar dois tipos de tecido nas roupas também merece a condenação à morte. Você veste algodão e lã? Como prefere morrer? Talvez enforcado? Queimado? Se come carne de porco, pecador. Frutos do mar, pecador também. Faz a barba e corta o cabelo? Pecador, pecador, pecador.
“Quem seleciona da bíblia o que acreditar, acredita em si e não em Deus”
Temos também o querido Papa Francisco, que tem dado declarações a favor do combate a homofobia, respeito à orientação sexual de crianças e adultos e aceitação da comunidade gay na igreja e na sociedade. Então, até mesmo se esconder atrás da religião está ficando mais difícil…
Cuidado ao usar a bíblia para justificar a sua necessidade de tomar conta da vida alheia e camuflar seu preconceito. Talvez a abominação seja você.
Clique Aqui: Papa Francisco fala sobre casamento gay, abuso de sacerdotes e mais
Homossexualidade não é natural!
A natureza não tem as questões morais e religiosas que a nossa sociedade e também é, até onde sabemos, uma criação de Deus. Aliás, é onde ele mais pode ser encontrado, em sua maravilhosa perfeição, enormidade e exuberância. Quem nunca se emocionou ao ver um belo pôr do sol e pensou “Deus é tão perfeito”?
Mas, fique sabendo, na natureza perfeita de Deus temos animais homossexuais. Seja em cativeiro ou selvagens, macacos, leões, tigres, albatrozes, carneiros… O comportamento homossexual é bastante comum no reino animal, envolvendo de insetos a mamíferos.
A natureza não é natural?
E na história? Foi sempre assim?
Não, nem sempre a orientação sexual das pessoas foi um problema. Ao longo da história da humanidade, a homossexualidade oscilou entre a adoração e demonização, de acordo com as normas sexuais vigentes nas diversas culturas e épocas históricas. Especialmente após as religiões de matriz judaico-cristãs terem ganhado força, a perseguição aos homossexuais começou e eles passaram a ser marginalizados, tratados como pecadores considerados doentes e condenados à morte.
Embora nos dias de hoje parece inconcebível acreditar, até 1973 a homossexualidade foi considerada doença pela Associação Americana de Psiquiatria. No Brasil, somente em 1985 deixou de ser conceituada como um desvio sexual pelo Conselho Federal de Psicologia, um período muito recente. Pode-se dizer que nesse sentido ocorreu uma evolução, pois desde então passou a não ser mais vista pela ciência como doença que necessitava de cura, mas uma orientação sexual diante de uma diversidade de gêneros. Salvo exceções, não é mesmo? Ainda há quem insista neste discurso terrível de querer curar um gay. Lamentável.
“Se você não gosta do casamento gay, não se case com um gay”
Falando em avanços, outro ponto importante foi o reconhecimento pelo Estado das uniões homoafetivas, o que não ocorria antes. A igualdade de direitos entre quem se ama é muito importante não só para essa comunidade, mas para toda a sociedade em termos de evolução moral e espiritual.
O fato é que, quando examinamos a história da sexualidade humana, vemos que o preconceito é uma convenção que varia de acordo com os interesses políticos, sociais e religiosos de cada época, mas que deixam cicatrizes sociais que são carregadas pelas próximas gerações.
Evidências da sexualidade não binária na história datam de 5.000 a.C, onde registros arqueológicos mostram o homoerotismo representado em uma rocha encontrada em Addara, na Sicília. Nessa inscrição, homens e mulheres dançam ao redor de duas figuras masculinas com ereção e conclui-se que o registro represente uma relação homoerótica. Alguns anos mais tarde, em 2.800 a.C surge uma literatura homoafetiva, a mais antiga epopeia preservada pela história: a Epopéia de Gilgamesh. Escrita por um poeta desconhecido, a primeira história de amor homoerótica trata da relação de amor entre os personagens Gilgamesh e Enkidu.
Pouco depois, em 2600 a.C., na tumba do faraó Niuserré na 5ª dinastia do império egípcio, os cabeleireiros da grande casa Nyankh Khnom e Khom Hotep foram retratados numa pintura onde insinua-se um beijo homossexual entre esses dois homens.
A civilização Mochica da região dos Andes retratava a penetração per annum em 3% da coleção das cerâmicas, além de várias esculturas em ouro desta mesma região conterem representações do homoerotismo. Em aproximadamente 630 a.C temos a Grécia e toda uma cultura homossexual aceita, difundida e utilizada inclusive como controle populacional. As relações homoafetivas estão representadas em boa parte da produção artística grega. Em 350 a.C mais ou menos, nasceu uma das figuras histórias gays mais importantes e conhecidas: Alexandre, o Grande. Conquistador, líder de exércitos e gay, esta personalidade histórica teve como maior amigo e companheiro da vida inteira Heféstion, filho de um nobre macedônio e vice-comandante do seu exército.
Então, chegamos à época de Cristo. No século 1 d.C Nero torna-se imperador de Roma e, segundo a história, ele casou dois homens através de uma cerimônia legal com ao menos uma esposa concordando com as mesmas cerimônias de um César.
A partir daí já sabemos o que aconteceu para termos chegado até o séc. XX ainda acreditando que a homossexualidade é um pecado.
Clique Aqui: Espiritismo e transexualidade –a visão da doutrina sobre o assunto
Visão espiritual – Allan Kardec
Para quem acredita que somos espíritos e que existe uma vida após a morte, especialmente vidas após a morte, faz sentido a pergunta: será que espírito tem gênero? Será que em todas as minhas vidas sempre reencarnei mulher? Ou homem? Vamos partir do princípio que as pessoas não escolhem orientação sexual, ou seja, elas não podem direcionar como bem entendem para qual dos sexos sentem atração.
Outro ponto importante a ser dito é que, numa sociedade totalmente preconceituosa, a experiência da homossexualidade traz muito crescimento, mas muito sofrimento também. É, sem dúvida, uma grande missão.
Do ponto de vista reencarnatório, nós adquirimos um gênero específico de acordo com os planos daquela encarnação e com as experiências que precisamos viver para nos expandir, algumas vezes resgatar karma. Outras vezes, trata-se somente de uma experimentação do espírito, para passar pela roda das encarnações de maneira mais completa, experienciando de fato as diversas possibilidades e aspectos da vida da matéria. Então, como não há uma única vida, não há também uma experiência única de gênero. Mas o que isso significa?
Significa que o espírito imortal traz lembranças marcantes de muitas encarnações, ora como homem, ora como mulher. Essas experiências podem deixar impressões marcantes no espírito e em seus campos energéticos. Assim, dependendo dos gêneros assumidos em encarnações passadas, podemos trazer para a vivência atual algumas sensações, ainda ligadas à experiência passada. Imagine que, nas 5 últimas encarnações, você foi homem. Guerreiro, lutador, trabalhador, pai de família, ocupando diferentes papéis que a sociedade impõe ao gênero masculino. Quando você faz as passagens para o universo espiritual, essas vivências ainda ficam vivas em você. Somente quando você atingir a iluminação total, após muitas encarnações conseguir ascender, é que essas características, impressões, tendências e resquícios encarnatórios vão sumir, como a dissolução do ego. Então, a questão da homossexualidade pode ser meramente uma questão espiritual, onde trazemos de outra vida impressões e sensações de um outro gênero que vivemos.
Frente a tantas dificuldades e preconceitos a enfrentar, quem pode dizer que a missão e trajetória de vida dos homossexuais não é grandiosa? Quem pode negar que toda a sociedade só tem a aprender com o puro amor que eles vem nos ensinar?
Tudo está certo e dentro dos planos divinos. Pecado é julgar, diminuir, agredir e não respeitar. Deus ama a todos, inclusive você, preconceituoso.
“O mundo inteiro continua a falar sobre o amor. Os poetas passam a vida escrevendo sobre isso. Todo mundo acha que é a coisa mais maravilhosa. No entanto, quando se fala duas pessoas do mesmo sexo se amando, as pessoas esquecem de tudo e ficam com medo”
A grande mensagem que tiramos disso tudo é que o Amor pode estar em todos os lugares. Muitos são os caminhos que ele escolhe para unir duas almas se manifestar, e, sempre, onde ele estiver, Deus estará.
O respeito às diferenças é essencial e é nocivo ao humano qualquer tipo de preconceito.
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