A humanidade merece os cachorros?
Os cachorros são grandes companheiros, um caso de amor de milênios. Quase todas as pessoas adoram esses “anjos de quatro patas” e fazem dessa relação mais uma forma de amar uma vida. E o que recebem em troca é fantástico! A relação é mesmo muito profunda, tanto para eles quanto para nós. A vida de quem tem um cachorro tem mais alegria e mais amor.
Se existe uma espécie que levou a sério os ensinamentos de Jesus, é o cachorro. Eles respondem com o mais puro e genuíno amor seja ao ódio, violência ou maus tratos. Claro que podem ficar traumatizados e mudarem seu comportamento natural amigável, mas basta receberem novamente amor para recuperar rapidamente a alegria tradicional. Abanam o rabo para seus algozes e esquecem por completo o que de mal lhes foi feito, sem vingança, ego ou qualquer tipo de ressentimento. São profundos perdoadores. Só querem amor.
O amor incondicional do cachorro
Para amar, um cachorro não encontra medidas, julgamentos ou barreiras. Eles não fazem distinção de raça, não se importam com dinheiro e vivem em função de seus donos, sejam eles pobres, ricos, deficientes, gordos, magros, altos, baixos, ateus ou crentes. Basta chegar em casa e lá estão eles, com um enorme sorriso expresso no abanar do rabo e felizes como nunca em ver o dono regressar. É até engraçado, pois a alegria e euforia com que nos recebem após algumas horas fora mais parece que eles ficaram anos sem nos ver.
“Um cão abana a cauda com o coração”
E essa relação é antiga, muito antiga. Há milhares de anos o homem domesticou o cão: aproximadamente 30 mil anos que existe essa relação entre eles e os seres humanos. Mesmo que no início o objetivo não fosse ter um pet, o resultado foi essa infinidade de raças e uma convivência baseada no amor que parece transcender os limites da vida. Eles são um grande presente para nós! Mas será que nós merecemos os cachorros? Será que retribuímos na mesma medida? É um caso a se pensar. E minha sensação é de que nós não fazemos jus a esse presente tão precioso.
A missão dos cachorros
Espiritualmente, tudo que vive cumpre uma função. Todas as formas de vida são conscientes, embora cada uma delas tenha uma consciência diferente e adequada ao reino que pertence. O ser humano é muito presunçoso quando pensa que somente ele pode determinar o que é consciência, baseado em sua própria experiência. Nós nos achamos o único ser inteligente e consciente do mundo, e colocamos abaixo de nós nessa cadeia todas as outras formas de vida. Será?
Cachorro definitivamente não são humanos e possuem diferenças na capacidade de comunicação e interação com o meio, mas são seres igualmente conscientes, que sentem, percebem tudo ao seu redor, sabem ler emoções e tem sua própria espiritualidade.
E como existem no mesmo mundo que nós, nossas vidas estão interligadas e eles têm uma linda missão conosco. Essa relação não se estabeleceu ao acaso e a relação que temos com eles nos serve, e muito, em nossa jornada evolutiva. Primeiro, vamos falar do amor. Com eles aprendemos sobre o amor incondicional, sobre alegria e lealdade. Não há animal mais leal do que um cachorro. Gatos também podem ser leais, mas, como eles foram domesticados há menos tempo ainda guardam uma natureza mais selvagem. Mas existem histórias incríveis de gatos que salvaram crianças do fogo, gatos que dormem sobre o túmulo dos donos, que morreram de depressão após serem abandonados ou depois do falecimento dos cuidadores. Gatos também são incríveis, mas têm uma energia diferente da dos cachorros.
Os cachorros percebem a nossa tristeza e tentam nos alegrar. Eles são, de fato, terapeutas emocionais: se nos veem tristes, estão sempre prontos para lamber nossos rostos e nos deixar de bom humor novamente. A Pet Therapy, por exemplo, é praticada em muitos hospitais; o simples movimento da cauda de um cão faz qualquer um sorrir. Afagar um cão libera serotonina, baixa a pressão arterial, aumentar as vibrações e a sensação de bem-estar, fatores essenciais para a recuperação e tratamento de quem perece com alguma enfermidade.
“Não há nenhum psiquiatra no mundo como um cão que lambe o teu rosto”
Cachorros têm poder sobre as energias
Eles são, além de terapeutas, grandes protetores e focos de energia. Eles absorvem de nós e dos ambientes as vibrações que não estão em equilíbrio, transmutando o que é negativo em positivo. A vibração deles é muito elevada, assim como a sensibilidade espiritual que possuem, pois podem perceber e observar muito mais do que nós mesmos conseguimos. Eles têm uma sensibilidade auditiva impressionante, sem falar do olfato e da visão, o que lhes permite ver outras dimensões ou níveis de consciência que dificilmente percebemos.
Eles podem remover energia negativa acumulada em nosso corpo, ajudando em nosso equilíbrio espiritual. Assim que dormimos, eles absorvem essa energia parada e limpam toda a nossa vibração. Alguns dizem até que, quando a energia da casa é muito densa, eles ficam obesos e não conseguem dar conta de liberar toda a carga que absorvem. Eles também nos protegem durante a noite contra espíritos indesejáveis, evitando que esses seres entrem em nosso quarto. Por isso é que eles gostam tanto de dormir na nossa cama.
Eles também nos dão um alerta claro sobre nossas relações: quando trazemos uma pessoa ruim, negativa ou invejosa para dentro de casa, o cachorro se manifesta também de forma negativa. Já reparou como eles podem amar ou detestar desconhecidos? É porque eles veem além do que nos é permitido.
Quando um cachorro de rua te escolhe como dono, te seguindo ou invadindo sua casa, é porque você precisa de um cachorro nesse momento em particular e aquele ser se ofereceu como voluntário para te ajudar. Nunca recuse ou ignore esse sinal e, mesmo que você não possa ficar com ele, deve ajudá-lo a encontrar um lar.
Nós merecemos os cachorros?
Cachorros são grandes presentes que recebemos para atenuar as dificuldades da existência na matéria. Infelizmente, a julgar pela forma que o mundo em geral os trata, chego a conclusão de que não merecemos esses anjos entre nós. Cometemos diversos abusos contra esses inocentes, que mostram quem é que realmente não está evoluído e quem está; gostamos de dizer que somos animais racionais, mas a irracionalidade é uma constante em nosso comportamento não só em relação aos cachorros, mas a todos os animais.
“Todo o conhecimento, a totalidade de todas as perguntas e de todas as respostas está contida no cão”
Para começar, impomos grande sofrimento e exploração no sistema que utilizamos de reprodução das raças. Poucos são os canis que mantém as matrizes em condições minimamente aceitáveis, com certa liberdade de locomoção, limpeza e respeitando os limites naturais das fêmeas para reprodução. Infelizmente, a maior parte dos criadores aprisiona os cachorros, engravidam as fêmeas infinitas vezes mais do que elas aguentam e grande parte vive aprisionada em jaulas e gaiolas, chegando ao ponto de algumas nunca terem tido a oportunidade de correr livremente. Fezes, doenças e fome imperam nesses ambientes.
Não faz muito tempo, a ONG de Luisa Mell fez uma operação em um dos criadouros mais importantes de São Paulo, responsável pela venda de filhotes para pet shops famosos. As cenas são de cortar o coração e muito revoltantes. São verdadeiras fábricas de animais e seguem a lógica do capital: vale o lucro ao invés do respeito à vida. E o martírio não para por aí: os filhotes são vendidos para os pet shops e ficam aprisionados em vitrines, assim como seus pais. Não é a toa que muitos países já proibiram a venda de filhotes em pet shops e estão valorizando os direitos dos animais ao bem-estar e condições mínimas e básicas de sobrevivência.
Pior do que a reprodução, usamos animais como cobaias. Muitas indústrias fazem testes em cachorros, especialmente a indústria da beleza, e fazem não porque não existem alternativas mas porque usar esses inocentes no processo produtivo é muito mais barato e lucrativo. Mas não só a indústria é capaz de ultrapassar os limites do que é considerado humano: pessoas comuns e sem nem mesmo a desculpa da “produtividade, economia e lucro” são capazes de cometer atos terríveis contra esses anjos. O abandono é o pior deles… Em época de festas, por exemplo, o índice de abandono cresce assustadoramente. Depois do advento das câmeras, são muitas as imagens capturadas de pessoas que dirigem até um certo ponto, abrem a porta do carro e despejam o cachorro na rua, como quem joga um saco de lixo fora. E muitas vezes vemos o animal correr atrás do carro, querendo voltar para seus donos. Meu coração chora cada vez que vejo esse tipo de imagem. Mas o que dizer? Se somos capazes de fazer o mesmo com humanos, de abandonar crianças totalmente indefesas, porque teríamos misericórdia quando se trata de animais?
O problema da cultura
A cultura é parte determinante em relação ao tratamento que uma nação dá aos animais. E, nesse ponto, a discussão fica difícil, pois a cultura deve sempre ser respeitada e o que é certo ou errado vai depender muito do ponto de vista. Um grande exemplo é o festival Yulin, que acontece na China, uma celebração anual em que os frequentadores do festival comem carne de cachorro. O festival começou em 2009 e abrange cerca de dez dias durante os quais se estima que sejam consumidos entre 10 mil e 15 mil cães. A tradição do consumo de carne de cachorro no país começou há milênios e tem apoio da medicina: os praticantes da popular medicina tradicional chinesa acreditam que a carne de cachorro ajudaria a afastar o calor sentido durante os meses de verão. E o problema vai além da questão de se alimentar deles, pois não só o festival como o próprio hábito sustenta uma indústria terrível baseada nos maus tratos e muita violência contra os cachorros.
Para nós ocidentais, ver a imagens do festival é terrível. Imaginar que eles comem os seres que para nós são sinônimo de amor é quase inaceitável. Mas será que pensaríamos o mesmo se tivéssemos nascido na China? Será que não causamos a mesma impressão quando comemos vacas, sagradas na Índia? O que pensaria de nós um indiano quando visitasse um matadouro de vacas? As condições a que submetemos esses deuses indianos não são nada humanas.
A verdade é que, não importa a cultura, o ser humano tem uma soberba terrível quando se trata do valor que dá a vida dos animais. A indústria alimentícia é totalmente desumana e negligencia animais e humanos também. O sofrimento que infligimos aos animais é sintoma da doença e da ignorância que carregamos conosco. Se precisamos nos alimentar deles ou não é uma outra discussão, mas o fato é que esse sofrimento é totalmente desnecessário e só serve ao lucro. E vamos além do lucro: somos caçadores! Caçamos por puro prazer! Como é possível? Extrair prazer de um lazer que se sustenta pelo sangue de seres vivos? É simplesmente incompreensível e um sintoma do atraso espiritual em que nos encontramos. E talvez seja essa a missão dos animais: nos mostrar, através do sofrimento, que qualquer vida importa e provocar nossa evolução.
“O cão é a virtude que, não podendo fazer-se homem, se fez animal”
Para a infelicidade desse amor em forma de bola de pelos, ainda estamos muito longe de nos conscientizar sobre a urgente mudança em nossa cultura e forma de conviver com os animais e a natureza em geral, pois, além do sofrimento, estamos destruindo essa casa que chamamos de planeta. Nem mesmo o risco de extinção da vida humana faz parar as máquinas do capitalismo e do lucro.
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