Intuição: uma voz interior?
Quantos de nós já não nos encontramos em situações em que nossa voz interior tenha interferido diretamente na maneira como respondemos à elas? Mas e aí, isso é intuição ou simplesmente ou seu ego falando mais alto?
Definida pelos dicionários como a “capacidade para entender, para identificar ou para pressupor coisas que não dependem de um conhecimento empírico, de conceitos racionais ou de uma avaliação mais específica”, a intuição costuma ser considerada uma poderosa aliada nas decisões cotidianas de muitas pessoas. Mas como entender esta voz interior como intuição de fato, ou apenas a manifestação de nosso ego?
Intuição x Ego
Grandes filósofos, empresários e até mesmo gênios da ciência como Albert Einstein já atribuíram responsabilidade a este “sexto sentido” que nos persegue afirmando, inclusive, sobre a necessidade de não apenas ouvi-lo, mas de confiar nele. Porém a mente humana, numa breve analogia, é uma máquina complexa e até os dias de hoje seu potencial máximo ainda não fora mapeado, logo, compreender a intuição não é uma tarefa simples.
Segundo o psiquiatra austríaco Sigmund Freud, em sua publicação “O Ego e o Id”, apresentado em 1923, a mente humana (ou seja, sua psiquê) pode ser compartimentada em três partes. São elas:
O Ego: Comandada pelo “princípio da realidade”, essa parte é aquela que mostramos aos outros. Fortalecido pela razão, o ego está “preso” entre os desejos do id (tentando encontrar um jeito adequado de realizá-los) e as regras ditadas pelo superego.
O Id: Responsável pelos nossos impulsos mais primitivos: as paixões, a libido, a agressividade, o id (“isso”, em alemão) está conosco desde que nascemos e é norteado pelo “princípio do prazer”, mas seus desejos são frequentemente reprimidos.
O Superego: Também chamado de “ideal do ego”, tem a função de conter os impulsos do id. Suas regras sociais e morais não nascem com a gente: nós as aprendemos na sociedade para que possamos conviver nela corretamente.
Portanto, segundo as definições acima o ego acaba sendo o grande responsável pelo orgulho, pelo senso de realização e protagonismo que podemos experimentar quando nos dispomos a realizar algo.
Muitas vezes é o espelho de nossa racionalidade inconsciente no cumprimento de tarefas desejadas pelo id, no prazer que tais tarefas poderiam proporcionar. Mas esse mecanismo inconsciente do ego serve a outros propósitos, como evitar as dores da decepção, da insegurança, tudo para garantir que o prazer do id continue sendo alimentado e, por vezes, em função disso, acaba se disfarçando de intuição.
Diante disso, devemos estudar nossa intuição e compreender até que ponto não se trata da manifestação do ego.
Segundo a psicologia analítica criada pelo psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, o homem experimenta quatro funções psicológicas, são elas: sensação, pensamento, sentimento e intuição.
A sensação nos diz que algo existe, o pensamento nos diz o que é esse algo, o sentimento dá valor e um propósito e a intuição nos mostra as possibilidades do que fazer com esse algo. A intuição, no entanto, está no campo da percepção, portanto é irracional e se baseia em processos inconscientes e subliminares, se torna a função mais próxima dos arquétipos.
Diferente de Freud que se debruçou sobre o inconsciente individual, Jung observou o inconsciente coletivo e chegou ao conceito de arquétipo que seria um primeiro modelo sobre conjuntos de imagens primordiais que dão sentido às histórias passadas entre gerações, formando o conhecimento e o imaginário do inconsciente coletivo. Nascimento e morte, por exemplo.
Mas, diante disso tudo e da materialidade de nossas existências, há quem acredite que a intuição seja uma conexão direta com o Universo, com Deus, entidades benfeitoras que existem em outras dimensões interagindo conosco por intermédio de alinhamentos energéticos, de padrões de pensamento e gostos.
Os espiritualistas acreditam que a intuição é uma forma de se comunicar e conectar com essas energias, e que ouvir a voz da intuição seria o mesmo que ouvir os conselhos de mãe. Há neles um amor incondicional que pode nos livrar de situações de perigo nas quais nos colocamos sem saber.
“Todo o conhecimento humano começou com intuições, passou daí aos conceitos e terminou com ideias”
6 maneiras para saber se é intuição ou ego
Para céticos e espiritualistas a intuição continua sendo uma realidade a depender do prisma que a enxergamos. Desta forma, podemos estabelecer 6 maneiras para saber quem está falando, se a intuição ou o ego. Confira abaixo:
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A intuição não é a voz mais presente em nossas mentes
Portanto, se pensarmos friamente sobre nossos pensamentos, vamos descobrir que muitos não pertencem a nós mesmos, mas sim a um inconsciente coletivo conforme refletiu Jung. Este inconsciente seria a camada mais profunda da psiquê. Ele é constituído pelos materiais que foram herdados, e é nele que residem os traços funcionais, tais como imagens virtuais, que seriam comuns a todos os seres humanos. Logo, a intuição é a última das vozes que percebemos, a mais silenciosa, resultado da nossa percepção irracional sobre algo. Para os espiritualistas, é aquele conselho que ouvimos por vezes, mas ignoramos por começarmos a racionalizar tudo e abrir brechas às interferências que nos rodeiam.
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Ela não nos obriga a fazer nada
Se a intuição é uma percepção irracional sobre uma determinada situação que vivemos, ela nunca será uma voz a nos dizer “faça isso e o resultado esperado será…”. Ao contrário. A intuição é uma resposta muitas vezes imediata a uma circunstância atendida por nós. Como um estalo para saltar de um ônibus em função de uma medo irracional. Você pode atender à ela ou simplesmente respirar fundo e racionalizar a questão. A intuição é, portanto, mais responsável por nos fornecer ideias que linhas de ação em função de resultados. Para os espiritualistas pensamentos que não parecem nossos, tentando nos obrigar a fazer algo nunca serão de fato bons. Ao contrário. Poderão ser traduzidos em processos obsessivos de espíritos ignorantes que por alguma razão conseguiram se conectar conosco.
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Mesmo que não percebamos, estará sempre conosco
Uma coisa não mudará. A intuição é parte integrante de nós. Portanto, para aqueles que gostam de confiar na intuição, basta exercitar ouvir a voz silenciosa diante das situações mais variadas ao longo da vida. Vale lembrar que cada escolha que você faz, e todos os resultados que você experimenta, tem sua função na sua jornada evolutiva enquanto indivíduo pensante, parte de uma comunidade. Tanto os acontecimentos bons quanto os ruins são preciosas lições que devem ser aprendidas. Segundo os espiritualistas, não há um indivíduo na Terra, encarnado, que não tenha ajuda do plano espiritual. A questão é o quão conectados estamos com nós mesmos e com energias benfeitoras. Logo, a intuição – como um canal de comunicação e ajuda – estará sempre disponível.
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A intuição pode ser exercitada
Ouvir a intuição pode ser um exercício para silenciar o ego. Praticar a meditação, buscar o autoconhecimento são maneiras de discernir o que é intuitivo do que é egóico. Minimizar o protagonismo do “eu” pode auxiliar muito para que possamos intuir coisas nas mais diversas situações. Mas a intuição é irracional, portanto, cuidado. O mesmo se aplica às influências espirituais. Saber com certeza quando e quem nos fala, é muito árduo. A única maneira eficaz para minimizar equívocos é estar conectado às coisas boas da vida.
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A intuição não evita o sofrimento
Lembre-se, a intuição é um processo natural e normal de nossa psiquê. Mas não quer dizer que devemos ser guiados por ela 100% do tempo, nem que as escolhas baseadas em nossas intuições nos levarão para uma vida sem sofrimentos, plena de alegrias. Já falamos sobre como o ego, em sua racionalidade cruel, pode produzir fantasias e até mesmo se passar por intuição. Nossa vida é um constante processo de aprendizado equilibrado entre as forças do bem e do mal dada nossa natureza imperfeita. Nem sempre as nossas provas serão brandas, dirão os espiritualistas. A porta estreita, escolhida em detrimento da porta larga, pode nos apresentar ao sofrimento, que talvez fosse maior se não a tivéssemos escolhido.
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A intuição nos serve mais para como ser que como fazer
A intuição não deve ser o mecanismo de escolha em sua vida. Somos seres sapientes, pensantes. Capazes de promover escolhas mediante nossas realidades de maneira bastante simples. Portanto, se a “intuição” estiver lhe apresentando escolhas demais sobre que trajeto fazer, que emprego se candidatar, onde ir ou quando voltar, desconfie. A intuição é um processo panorâmico que se baseia em experiências herdadas, arquétipos. Ela não nos dá visões sobre como fazer, mas como ser. Quando perguntados, os espiritualistas dizem que as influências espirituais que sofremos são inúmeras e a todo tempo. Porém, é unânime que somente espíritos ignorantes, entidades de baixo padrão vibratório querem nos dizer como fazer as coisas, porque dentre os evoluídos moralmente, o respeito pelo nosso livre arbítrio permanece sagrado.
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