Irmã Dulce: a primeira santa brasileira
É com um orgulho imenso que a nação brasileira recebeu essa notícia! Nossa querida irmã Dulce foi canonizada e ocupa agora o posto de santa. Nada mais justo! Irmã Dulce iniciou a vida religiosa ainda muito jovem, e desde a infância vivia para ajudar quem quer que precisasse de apoio e conseguiu construir a maior obra social do país.
Vamos conhecer a história dessa alma extraordinária?
A Santa Dulce dos Pobres: o anjo da Bahia
Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes nasceu em Salvador, em 1914, filha de Dona Dulce Maria de Souza Brito e do Dr. Augusto Lopes Pontes, dentista e professor da Universidade Federal da Bahia. Já desde muito pequena se relacionava de forma intensa com a religião e costumava rezar bastante. Muito devota de Santo Antônio, Irmã Dulce costumava pedir sinais a esse santo, pois, já tinha dúvidas em seu coração sobre seguir uma vida normal, casar e constituir família, ou se dedicar à vida religiosa.
“Miséria é a falta de amor entre os homens”
Ainda adolescente a menina tinha profunda empatia pelos menos favorecidos e já costumava visitar áreas carentes e prestar assistência àqueles que pouco possuem. E, quanto mais ela se envolvia com a caridade, mais crescia em seu coração o desejo de se dedicar inteiramente a vida religiosa. Sempre que havia uma oportunidade, ela ajudava mendigos, enfermos e qualquer pessoa em situação de vulnerabilidade, uma postura incomum para uma adolescente. Ainda com treze anos de idade, Irmã Dulce procurou o Convento de Santa Clara do Desterro, pois queria participar das atividades do local. Por ser ainda muito jovem, foi recusada e voltou a estudar como uma adolescente comum. Esse convento foi escolhido a dedo pela menina, pois era o berço das Três Santas do Desterro: Madre Vitória da Encarnação, primeira religiosa brasileira com fama de santidade, Madre Maria da Soledade e a Madre Margarida da Coluna, grandes modelos para Irmã Dulce.
Com a ânsia de ajudar o próximo e com o consentimento da família, Irmã Dulce foi transformando sua própria casa no bairro de Nazaré em um centro de atendimento às pessoas necessitadas. A casa ficou conhecida como “a portaria de São Francisco”, tamanha a quantidade de pessoas que batiam na porta atrás de ajuda e conforto. Ela se dividia entre os estudos e a assistência, até se formar professora primária em 1932. Após adquirir esse título, Irmã Dulce entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, em Sergipe, onde iniciou oficialmente sua vida de devoção a religiosidade. Após 6 meses na congregação, Irmã Dulce fez sua profissão de fé e votos perpétuos, tomando o hábito de freira e recebendo o nome de Irmã Dulce aos 19 anos de idade. Sua primeira missão como religiosa foi ensinar em um colégio mantido pela sua congregação, além de assistir as comunidades pobres da região. Com apenas 22 anos, ela fundou a União Operária São Francisco, primeiro movimento cristão operário da Bahia. No ano seguinte, criou o Círculo Operário da Bahia, mantido com a arrecadação de três cinemas construídos através de doações. Em maio de 1939, Irmã Dulce inaugurou o Colégio Santo Antônio, voltado para os operários e seus filhos. No mesmo ano, para abrigar doentes que recolhia nas ruas, Irmã Dulce invadiu cinco casas na Ilha do Rato, em Salvador, mas infelizmente foi expulsa dos locais e precisou peregrinar para conseguir instalar os doentes que ela cuidava. Então, após um período de andanças, ela transformou em albergue o galinheiro do Convento de Santo Antônio, que mais tarde deu origem ao Hospital Santo Antônio, centro de um complexo médico, social e educacional que continua atendendo aos pobres até hoje.
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A benção do papa e a indicação ao Nobel da Paz
A boa fama de Irmã Dulce chegou até o Papa João Paulo II, que, quando visitou o Brasil em 1980, fez questão de conhecer essa alma tão caridosa. Irmã Dulce foi convidada a subir no altar para receber uma bênção especial do papa. João Paulo II retirou do bolso um rosário e ofereceu a ela dizendo: “Continue, Irmã Dulce, continue”. E assim ela fez, até os últimos dias de sua vida.
“O amor supera todos os obstáculos, todos os sacrifícios. Por mais que fizermos, tudo é pouco diante do que Deus faz por nós”
Além da bênção do papa, as boas ações de Irmã Dulce lhe renderam uma indicação ao Prêmio Nobel da Paz, em 1988. A indicação ao prêmio foi feita pelo então presidente José Sarney com o apoio da rainha Silvia da Suécia.
No início do século, nos anos 2000, Irmã Dulce foi presenteada pelo Papa João Paulo II com o título de Serva de Deus, uma grande honra para uma freira.
A doce partida
Irmã Dulce faleceu em março de 1992, em um quarto do hospital que ela mesma fundou, o Hospital Santo Antônio. Foi em 11 de novembro de 1990, com 76 anos, que Irmã Dulce começou a apresentar problemas respiratórios. A princípio foi internada no Hospital Português da Bahia, depois transferida à UTI do Hospital Aliança e finalmente ao Hospital Santo Antônio, local de imenso significado para ela. Ali permaneceu muitos meses, até que foi levada ao convento onde passou grande parte de sua vida. E, em 20 de outubro de 1991, em seu leito de morte, Irmã Dulce recebeu a segunda visita do Papa João Paulo II de quem recebeu a extrema unção.
O “anjo bom da Bahia” morreu em seu quarto, de causas naturais, aos setenta e sete anos, às 16:45 do dia 13 de março de 1992, ao lado de pessoas muito queridas por ela. Seu corpo foi sepultado no alto do Santo Cristo, na Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia, e depois transferido para a Capela do Hospital Santo Antônio, centro das Obras Sociais Irmã Dulce. Sua morte foi tão doce quanto sua vida.
Beatificação e canonização de Irmã Dulce
Irmã Dulce foi declarada venerável pela Congregação para as Causas dos Santos do Vaticano em 21 de janeiro de 2009, deixando-a muito próxima da beatificação. Em 3 de abril do mesmo ano, o Papa Bento XVI aprovou o decreto de reconhecimento de suas virtudes heróicas, mais um passo para o reconhecimento de Irmã Dulce como a santa que sempre foi. Em 9 de junho de 2010, o corpo de Irmã Dulce foi exumado, velado e sepultado novamente, como último estágio do processo de beatificação. Em 27 de outubro do mesmo ano, o cardeal arcebispo de Salvador, Dom Geraldo Majella Agnelo anunciou a beatificação da religiosa, em uma coletiva de imprensa realizada na sede das Obras Sociais Irmã Dulce.
O anúncio foi sucedido pelo decreto de 10 de dezembro de 2010, logo após o reconhecimento de um milagre concedido através da intercessão de Irmã Dulce na recuperação de uma mulher sergipana, que havia sido desenganada pelos médicos após sofrer uma hemorragia durante o parto. Ao dar à luz, Cláudia dos Santos, hoje com 41 anos, sofreu uma hemorragia ao longo de dezoito horas e acabou desenganada pelos médicos. Ela conta que um padre foi visitá-la no hospital e lhe perguntou se acreditava que Irmã Dulce poderia salvá-la. A resposta foi sim. Segundo Cláudia, o religioso clamou por sua vida e o sangue estancou. No dia 22 de maio de 2011, Irmã Dulce foi beatificada em Salvador e passou a ser reconhecida como “Bem-Aventurada Dulce dos Pobres”. A Solene Eucaristia de Beatificação foi presidida pelo enviado especial do Papa Bento XVI, Dom Geraldo Majella Agnelo, arcebispo emérito de Salvador. Nessa mesma solenidade foi declarado o dia 13 de agosto como a data de sua festa litúrgica, que é comemorada em Salvador e em pelo menos 28 igrejas e capelas de outros estados. A data foi escolhida pois, neste mesmo dia em 1933 Irmã Dulce fez sua profissão de fé e votos perpétuos e tornou-se freira.
Em 13 de maio de 2019, o Vaticano reconheceu um segundo milagre de Irmã Dulce, que foi a cura de uma pessoa cega. Exatamente, uma pessoa cega! Irmã Dulce conseguiu devolver a visão a uma pessoa que estava enterrada na escuridão. Essa pessoa é o maestro José Maurício Moreira, de 50 anos, que afirmava ser deficiente visual até que certa vez pediu em pensamento para a Irmã lhe aliviar a dor do glaucoma. E, de um momento para o outro, passou a enxergar normalmente. Já não era preciso mais nada para que Irmã Dulce fosse considerada santa. Quase dois meses depois, em 1 de julho, a Santa Sé anunciou que a data de canonização seria 13 de outubro do mesmo ano, no Vaticano. O rito de canonização ocorreu na celebração da missa dominical de 13 de outubro de 2019 no Vaticano pelo Papa Francisco. E o Brasil ganhou sua primeira santa!
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Irmã Dulce e os poderosos
Um santo usa as armas que tem. E Irmã Dulce soube se cercar de empresários e políticos para construir sua obra social. Irmã Dulce era muito próxima do ex-presidente José Sarney, amigo que a ajudou em muitas ocasiões e foi o responsável por sua indicação ao Prêmio Nobel da Paz.
“Sou indigno de fazer outra coisa, senão lhe beijar os pés”
Irmã Dulce também tinha um relacionamento próximo com o ex-governador Antônio Carlos Magalhães, em quem encontrou grande apoio para suas obras. Irmã Dulce soube cercar-se dos donos do poder e, por intermédio deles, ajudava quem a procurasse. E eram muitos os que a procuravam! O escritor Paulo Coelho, por exemplo, fui em busca de ajuda quando fugiu de uma das internações psiquiátricas impostas pelo pai, no Rio de Janeiro. Ao final da conversa, Dulce soube que aquele desconhecido jovem de 17 anos não possuía dinheiro para retornar a sua cidade. Ela deu a ele um papel onde escreveu “vale uma passagem”, que Paulo Coelho recebeu sem compreender bem. Pois quando chegou na rodoviária e mostrou o papel que havia recebido de Irmã Dulce, o motorista do ônibus deixou o escritor embarcar no mesmo instante.
“Eu nunca estive em posição de dizer não a ela. Não era possível porque ela chegava com aquela doçura capaz de desarmar o coração mais duro. Muitas vezes ela me abraçou e acariciou com ternura e eu conhecia o interesse que ela tinha em ajudar aos pobres”
A doçura do coração iluminado de Irmã Dulce conquistou todo o Brasil! Políticos, poderosos, personalidades e especialmente os anônimos foram beneficiados pelo presente que foi a vida dessa consciência tão evoluída e que veio a Terra para ajudar.
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