Jano, o deus do passado e do futuro
Para quem gosta da narrativa mais metafísica da vida, é sempre um prazer conhecer os deuses dos nossos antepassados e ampliar a visão sobre espiritualidade, história e cultura humana.
E um grande marco do pensamento religioso e espiritual da humanidade são as lendas da Roma Antiga, um sistema de crenças mitológico usado para explicar a formação do mundo, a natureza, o conhecimento, os sentimentos e sensações físicas dos humanos.
“E o futuro é uma astronave, que tentamos pilotar, não tem tempo, nem piedade
nem tem hora de chegar. Sem pedir licença, muda a nossa vida e depois convida
a rir ou chorar… Nessa estrada, não nos cabe conhecer ou ver o que virá. O fim dela, ninguém sabe bem ao certo onde vai dar…”
Por mais de mil anos, as relações entre os seres, o mundo e o divino foram orientadas por um panteão de deuses criados pelos romanos, mas também incorporados de outras culturas como a egípcia. E uma das divindades mais interessantes da mitologia romana é Jano, considerado o deus responsável pelas transições ocasionadas da relação entre passado, presente e futuro.
Na mudança se esconde a paz
Jano, ou Janus, como todos os deuses mitológicos, tem muitos poderes, papéis e atribuições. Algumas energias presentes na matéria são associadas a ele como virtudes, o que dá início ao culto e veneração de qualquer entidade espiritual. Jano está associado a portas, transições, inícios, decisões e escolhas, além da já citada relação entre passado e futuro, como reforça sua representação artística feita através de uma face dupla. Jano olha constantemente em direções opostas, para o que foi e para o que ainda está por vir.
“Em todas as épocas o Homem tem se inclinado sobre o seu destino, fazendo a si mesmo a tríplice pergunta: “Quem somos?, De onde viemos?, Para onde vamos?” – Se não podemos ainda antecipar sobre o futuro ou preconceber sobre o devir, isso se deve na verdade a uma razão bem simples: não conhecemos a outra face de JANUS, que é a do passado, ou antes, julgamos ver seu rosto, e esse rosto, entretanto, continua afogado na sombra”
As lendas contam que Jano era um homem mortal que nasceu na Tessália, na Grécia, filho de Apolo e Creusa. Ao se mudar para o Lácio, se casa com a rainha e divide com ela o reino. A certa altura, a rainha falece e Jano passa a governar sozinho, dedicando sua vida ao desenvolvimento científico, leis, aprimoramento do cultivo, moedas e outros elementos que ajudassem a organizar a comunidade e trouxessem algum tipo de progresso ou evolução. Ou seja, transformação. A região do Lácio se tornou próspera e pacífica durante o reinado de Jano. Após sua morte é que Jano adquire o status de deus.
O templo de Jano só abriam as portas durante tempos de guerra. A adoração a sua figura era comum em momentos de nascimento, casamentos e épocas de plantio e colheita. Além disso, situações marcadas por transições também são representadas pelo deus, exemplo da relação campo e cidade, primitivismo e civilização, assim como paz e guerra. Assim, Jano adquire também uma função de regulador da paz e do conflito humano, ora abençoando uma mudança como criadora de paz, ora rejeitando transformações através de conflitos e resistência. Mas a ideia de Jano está mais associada às transformações positivas, dando a ele a atribuição de promover a paz.
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Jano é o pai dos portais
Que transformação maior pode haver além da passagem do estado físico para o espiritual? Altera-se o estado e a dimensão, e esse processo de mudança tem de ser supervisionado pela entidade responsável pelas mudanças. Jano é considerado o Deus das Portas e Portais, das entradas e saídas.
“Se queres prever o futuro, estuda o passado”
Algumas das simbologias associadas a Jano é o oculto e o conhecido, a verdade e a mentira, a Lua e o Sol, o passado e o futuro, ou seja, tudo o que é dual e se complementa e se equilibra através dos opostos. Em nós mesmos essa indecisão de caminhos brota do universo dos nossos sentimentos, nos confundindo e embaralhando as ideias e a capacidade de raciocinar. Essa é a hora de apelar para Jano, o melhor orientador para momentos em que decisões com grande impacto precisam ser tomadas.
Janeiro é o mês de Jano
Janeiro, o primeiro mês do ano leva o nome de Jano. Um mês que tem em si um pouco do passado e a promessa do futuro que o início do ano marca, é na tradição a energia manifesta de Jano, momento em que a relação entre o deus e os mortais fica mais estreita.
A Jano se consagram todos os inícios, pois ele era o portador das chaves e guardião das soleiras, um deus que simboliza começos, fins, recomeços.
Essa é a simbologia de Janeiro, a energia que o primeiro mês do ano nos traz. É a hora de pensar no futuro, sem esquecer o passado e principalmente as lições aprendidas. Se abre diante de nós uma página em branco, um momento de início de novos planos com a possibilidade de reflexão sobre o que se viveu até o momento.
Ritual de Jano: a chave que abre portas
Ao final do ano, podemos utilizar as portas abertas para novas oportunidades e transformações, para um ritual focado e que canalize uma atenção especial dessa energia.
Para isso, você só precisa de uma chave. Então pense em dois desejos, um que esteja relacionado a algo que te tranca, impede de fluir, algo que você deseja se livrar. Pense também em algo que você quer obter e se aproximar cada vez mais, uma realização muito esperada e desejada e que pode mudar sua vida. Com o desejo em mente, pegue a chave que escolheu para atribuir a Jano, e mentalize esse objeto como um receptáculo da egrégora desta deidade, depositando nela a força e poder que também carregamos dentro de nós. No momento em que começarem a soltar os fogos em comemoração ao ano que inicia, levante a chave na direção do terceiro olho enquanto pensa em Jano e nos seus desejos. Para ajudar, você pode recitar em voz alta:
“Jano, Jano, Jano,
Eu te evoco e com sua egrégora realizo a transição do ano.
E todo dia primeiro será teu, Jano.
Um desejo realiza para mim e outro desejo é para me garantir o fim.”
Visualize Jano olhando para seus desejos e sinta essa energia fluir. Aproveite a energia do momento, atraindo para si toda a alegria, positividade e esperança daqueles que estão comemorando o novo ano e imagine toda essa energia se concentrar na chave. Quando achar que está forte o suficiente, sele com uma cruz e guarde sempre com você.
Especialmente quando sentir que uma porta se fechou, renove a fé na sua chave consagrada a Jano e aguarde por novidades. No próximo ano, é recomendado refazer o ritual e renovar tanto os pedidos quanto a energia em uma nova chave.
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