Kintsugi – a arte japonesa da imperfeição
O termo kintsugi ou kintsukuroi pode ser traduzido como “emenda de ouro” ou “reparo com ouro”. Na cultura japonesa, a técnica é utilizada para reparar peças de cerâmica com o uso de uma laca especial e ouro, platina ou prata. Assim, as partes que foram quebradas ganham um novo visual, destacando uma beleza inédita: a da imperfeição.
A estética japonesa do kintsugi é baseada no “wabi-sabi”,que possui uma percepção do belo a partir de uma perspectiva mais profunda, aceitando a transitoriedade da vida. Além de restaurar aquilo que foi quebrado e poderia ser descartado, a técnica propõe um novo significado para a peça, transformando-a em algo belo e aceito, com todas as suas imperfeições.
“Banir a imperfeição é destruir a expressão, parar o esforço, paralisar a vitalidade”
Do que é feita a laica?
A laica, que é um dos materiais usados no kintsugi, é uma incrustação resinosa, produzida a partir de determinadas árvores, como resultado da secreção de insetos como Coccus Lacca, encontrados em países do oriente como China e Índia.
Qual a origem do kintsugi?
A técnica do kintsugi se tornou comum entre os séculos XVI e XVII, quando as taças de chá e cerâmica se popularizaram na sociedade japonesa, tornando-se objetos realmente valiosos. As taças eram feitas de forma artesanal, pintadas e decoradas à mão, tendo um grande valor agregado.
O trabalho manual no Japão sempre foi valorizado como algo que depende de muita dedicação, cuidado, amor e atenção. Desta forma, não gostavam de jogar fora nenhum destes artefatos ainda que se quebrassem e o kintsugi trouxe a solução para isso.
Acredita-se que a técnica chegou ao Japão no período Muromanchi, quando o shogun Ashikaga Yoshimitsu (1358-1408) quebrou uma de suas peças de chá e enviou para que fosse consertada na China. Quando recebeu a peça de volta, não gostou das remendas em metal e solicitou que seus artesãos encontrassem uma solução melhor. Assim, surgiu a técnica do kintsugi.
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A filosofia do kintsugi
Como filosofia, o kintsugi é semelhante à filosofia japonesa wabi-sabi, que fala sobre a aceitação do imperfeito ou defeituoso. A estética japonesa dá valor às marcas de desgaste pelo uso de um objeto. Isso explica porque optam por manter um objeto mesmo após ser quebrado e é uma justificativa para o próprio kintsugi, que destaca as rachaduras e reparos como um evento da história do objeto, em vez de descartá-lo por seu dano.
Esta linha de pensamento prega a não importância, que engloba os conceitos de não-apego, aceitação de mudanças e destino como aspectos da vida.
Um pouco mais sobre o Wabi-sabi
Wabi-sabi é uma visão japonesa abrangente do mundo, uma abordagem estética que foca na aceitação da imperfeição e transitoriedade. Tal concepção estética acredita que o belo é imperfeito, impermanente e incompleto. Trata-se de uma idealização artística desenvolvida no século XV, durante o período Muromachi, baseada nos ideais do zen budismo. O conceito derivado dos ensinamentos budistas possui três marcas da existência:
- anicca (impermanência);
- dukkha (sofrimento);
- anatta (não-eu).
As particularidades estéticas do wabi-sabi incluem:
- assimetria;
- aspereza (rugosidade ou irregularidade);
- simplicidade;
- economia;
- austeridade;
- modéstia;
- intimidade;
- valorização da integridade ingênua de objetos e processos naturais.
O wabi-sabi aprecia a estética do despojamento, usada por Sen no Rikyu na cerimônia do chá. Ela se refere a viver com despojamento, com insuficiência ou imperfeição e está diretamente ligada à filosofia budista.
Tais conceitos são representados na produção artística através do aspecto natural, do rústico, do imperfeito e do monocromático. O wabi-sabi permite alcançar o vazio da mente que traz tranquilidade. Wabi significa “quietude”e sabi “simplicidade”e isso se expressa através do desejo dos japoneses por simplicidade e sutileza.
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