A Lei da atração pode ser mais forte que a Lei do Karma?
Desde o livro O Segredo e, especialmente após alguns avanços da área quântica da física, criou-se no universo esotérico uma ideia altamente palatável e alinhada com a cultura moderna, que coloca o indivíduo no centro do palco dos poderes que regem a vida. Esse discurso tornou-se atomizado, o que significa dizer que vem sendo difundido de forma exaustiva, pois, atende a demandas baseadas no vazio existencial intrínseco ao ser humano.
Enfraquece a ideia de um deus controlador, some o Jesus julgador, e a crença passa a ser na minha própria vontade. Ao invés de “seja feita a vossa vontade”, algumas narrativas metafísicas trabalham com a ideia de que “seja feita a minha vontade”. Se sou injustiçado deus me vinga, o que conquisto é porque deus me confirma, deus me ama incondicionalmente e me compreende. Um deus totalmente customizado e subjugado à vontade do indivíduo, onde todos serão salvos e perdoados. Mais do que isso, esse deus teria nos criado unicamente para sermos felizes e realizados, colocando todo o universo ao dispor dos nossos desejos.
“O que eu penso, não muda nada além do meu pensamento. O que eu faço a partir disso muda tudo!”
Esse discurso não está completamente equivocado, pois, é inegável o poder que carregamos na alma e a força da positividade de pensamentos aliado ao esforço nas conquistas de vida, nas relações e principalmente na saúde do corpo. E a Física Quântica só vem comprovar que tudo que existe emite e troca energia, pois, nesse universo não existe matéria. No fim das contas, tudo o que existe é um aglomerado de partículas que interage com outros aglomerados de partículas, de acordo com certa afinidade. Logo, uma sintonia vibracional de amor só pode atrair amor, ódio naturalmente se afiniza com ódio e assim por diante. Mas será que podemos, de fato, tudo?
Leis que regem a vida
Para que a dinâmica encarnatória do planeta se mantenha, é necessário que algumas leis universais existam e à elas estamos todos submetidos. Entretanto, o pensamento mágico da atração se mostra incompleto quando ele passa a impressão de que tudo é regido somente por uma lei, a Lei da Atração. Ela é uma realidade e uma das leis mais atuantes na constituição da vida na matéria e também do universo espiritual. Porém, ela não é a única.
“Age sempre de tal modo que o teu comportamento possa vir a ser princípio de uma lei universal”
Alguns esotéricos dizem que são 7 as leis universais, outros quantificam como sendo 21 as normas que permitem que a vida exista. Mas, sem dúvida, entre essas leis podemos citar como as mais importantes a Lei do Retorno, a Lei da Atração, Lei do Livre-Arbítrio, Lei da Harmonia, Lei do Amor, Lei da Resistência e a Lei da Constante Evolução. Cada qual tem seu peso e âmbito de atuação, sendo uma lei não pode se sobrepor a outra. E é nesse ponto que a Lei da Atração como é colocada por esses discursos, peca gravemente.
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Querer não é poder
Essa afirmação pode ser bastante indigesta, mas faz parte do crescimento espiritual conseguir encarar de frente o que não nos agrada sobre nossa condição, e compreender não só a nós mesmos como o funcionamento geral daquilo que nos rodeia.
“Tudo que te agrada, te engana”
Somos como crianças querendo colo e exigindo atenção quando internalizamos a ideia de que o Universo responde aos nossos anseios, e que tudo está acessível através da vontade. É um pensamento infantilizado crer que o Universo existe ao nosso bel prazer e que basta pedir, desejar com extrema força e vontade, que seus desejos serão atendidos. Essa é a maior tolice que o pensamento místico e esotérico produziu, mesmo após anos e anos de descobertas e a infinidade de conhecimento sobre o mundo astral e a espiritualidade. Como poderia a nossa vontade ser maior do que o karma que carregamos? Débitos que somatizam karma são oriundos de vidas passadas, logo, jamais estariam submetidos ao que de bom fazemos nesta vida ou o quanto desejamos algo através da vibração de otimismo e da força do pensamento. Nosso aprendizado depende, inclusive, desses resgates, o que significa que há coisas que não estão acessíveis.
Podemos começar pelas limitações físicas, pois, até o momento ainda não há notícias de que pensamentos positivos fizeram crescer um membro ou, que durante uma queda de avião, uma passageira otimista tenha se jogado da janela e conseguido voar para se salvar da tragédia. Somos altamente limitados pela nossa condição física, que tende a se deteriorar conforme avança o tempo. Somos também moderados pelo nosso nível consciencial, bem como pela cultura de que fazemos parte e pela religião que professamos. Muitas escolhas que fazemos e valores que entendemos como nossos, são, na verdade, criações sociais impostas sutilmente ao longo dos anos em forma de cultura. Isso fica evidente quando estudamos culturas muito diferentes das ocidentais, onde o casamento, a família, a carreira e as relações sociais e afetivas são regidas por valores totalmente diferentes dos nossos. Por exemplo, em países islâmicos e hindus a prática dos casamentos arranjados é ainda muito presente, e o casamento por amor é considerado uma perdição ocidental. E a forma como as pessoas nesses países fazem escolhas é orientada pelos valores sociais com os quais são criados, assim como ocorre no ocidente, onde um casamento arranjado em pleno século XXI está totalmente fora de questão.
Existem ainda barreiras sócio-econômicas, de nacionalidade, gênero, raça e orientação sexual, por exemplo, que não devem ser ignoradas. O que não significa dizer que elas não possam (e devam) ser vencidas, mas está claro na concepção de mundo espiritualista que o planejamento de uma encarnação leva tudo isso em consideração.
Lei do Karma versus Lei da Atração
Pensamento negativo e vitimismo são realmente terríveis para a evolução do indivíduo, podem travar o desenvolvimento e prejudicar muito a evolução de um espírito na jornada da vida. Mas daí a pensar que o Universo nos atende ou que podemos ativar o DNA da riqueza de forma quântica, serve somente para enriquecer quem professa esse tipo de discurso.
Podemos muito, mas não tudo. Se, por exemplo, em uma vida passada você fez mau uso do dinheiro e programou para esta encarnação uma vida mais simples e pautada pelo crescimento gradual através do esforço, sem um acúmulo material significativo, não há pensamento positivo quântico que possa te libertar desse planejamento. Um outro exemplo é a vida amorosa: se nesta vida não está programado o encontro com sua alma gêmea e um desfrute ensandecido da paixão correspondida, a física quântica não vai poder ajudar em nada.
Isso porque é lógico pensar que a Lei do Karma é uma das mais fortes e é justo que assim seja. Resgatar débitos regressos é uma das expressões mais inteligentes do criador e a forma mais amorosa de aprendermos e evoluirmos enquanto consciências. Aliás, essa é a regra mais básica que rege também a Lei da Atração, pois, não existem castigos e tudo é efeito das nossas próprias escolhas. Nós atraímos para a nossa vida uma série de facilidades e dificuldades, de acordo com o que o nosso espírito precisa vivenciar para crescer. Logo, o que desejamos não tem assim tanta relação com a forma que certas coisas ocorrem em nossa vida. Entretanto, nosso poder é mesmo imenso e através dele podemos de fato materializar “coisas”. Nosso pensamento vibra, conforme afirmam esses discursos, e encontram sintonia com determinadas faixas de vibração no Universo. Assim, podemos facilitar, dissolver ou bloquear eventos, incluindo atrair obsessores e espíritos de baixa frequência para perto de nós. Mais do que isso, a fé somada ao otimismo pode curar doenças terríveis como o câncer. Muitos são os relatos de curas milagrosas nesse sentido, e todas, absolutamente todas, têm a fé como elemento comum.
Mas dizer que esse poder criativo do pensamento serve de gatilho para a realização de desejos é uma distorção da espiritualidade e vai contra as leis divinas mais básicas. Não é a nossa vontade que rege o Universo, mas sim um propósito maior que escreve certo por linhas tortas e que se faz misterioso diante da pequenez de nossa consciência. A Lei do Karma existe por uma razão e ela não está submetida aos desejos humanos.
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O egoísmo do pensamento positivo
Basta parar para analisar a natureza dos desejos garantidos pelo pensamento positivo, para constatar o egoísmo que move as vontades humanas. Prosperidade, progressão e destaque na carreira e uma vida amorosa satisfatória são os campeões da lista de palestras e cursos que movimentam o pensamento mágico da atração e da vontade. Vemos uma prevalência do ego nesse universo que se diz espiritual, mas a fraternidade, abnegação, ética e moralidade nem sempre possuem a mesma força. Se todos usassem o pensamento positivo quântico para desejar a paz, o fim da fome e a cura de doenças, já teríamos transitado para a quarta dimensão a tempos. Mas, ao invés disso, distorcemos as leis divinas para satisfazer desejos egoístas e materiais, passando a impressão de que o Universo existe mesmo para atender aos nossos anseios, nos colocando no centro de poder da criação e da dinâmica da vida.
“Uma vida não analisada não é digna de ser vivida”
Devemos refletir sobre a natureza do pensamento positivo. Não só para desmistificá-lo, como também para acelerarmos nosso crescimento e a evolução do mundo que habitamos. É inegável que atualmente o discurso da atração pela vontade serve somente ao indivíduo, voltado principalmente para o sucesso profissional e financeiro. Vibre positivo, pensando unicamente em você e o céu vai se abrir porque você pode e nasceu para ser feliz. Ora, nada mais denso, egoísta, material e contrário a espiritualidade do que esse individualismo.
Vibrar pela transformação do mundo, pelos aflitos, pela elevação consciencial de todos no discurso da ditadura do pensamento positivo dão lugar ao eu, ao meu desejo, às minhas aflições e a minha felicidade. Um mindset bem mundano e de baixíssima vibração.
A salvação vem através da intervenção
Só há uma coisa que pode, de fato, aliviar ou zerar por completo um karma: a intervenção. Ela sim nos coloca em uma sintonia vibratória capaz de transformar a nossa vida, mas ela só acontece quando colocamos a nossa força em favor de outros, nunca de nós mesmos.
A intervenção significa que outras entidades podem intervir em nosso favor, chegando ao ponto de zerar um karma específico. Vamos pensar em uma pessoa que enfrenta graves problemas financeiros desde que nasceu, sendo este um débito acumulado de outras vidas. Mas, além da resiliência em aceitar essa condição e humildade de viver conforme essa possibilidade, sempre se esforçando para melhorar essa situação, essa pessoa é capaz de ajudar outros e dividir o pouco que tem com aqueles que possuem ainda menos. É aquela pessoa que passa fome, mas ajuda a manter a família do vizinho que é ainda mais pobre e têm mais filhos; que apesar do trabalho pesado que provavelmente desempenha, arranja tempo para fazer trabalho voluntário e dar apoio a quem sofre. Quando uma pessoa tem ações abnegadas em favor do próximo, os mentores espirituais desse próximo e a própria espiritualidade pode intervir para abrandar o fardo dessa consciência, e, dependendo da magnitude das ações, um determinado karma pode ser aliviado ou extinto.
“O homem é livre; mas ele encontra a lei na sua própria liberdade”
Mas isso só é possível quando agimos em favor de terceiros, jamais quando usamos leis espirituais para satisfazer nossos próprios desejos. Essa é a parte falha da Lei da Atração pregada tal como é. Aliás, a fraternidade e abnegação são valores espirituais de altíssima vibração, opostos a natureza do ego que rege os desejos humanos mais materiais. Não viemos aqui para sermos felizes, embora a felicidade faça parte do projeto. Não existimos para sermos satisfeitos, mas sim para evoluir. Se assim não fosse, quem já está pronto e não necessita de aprendizado não estaria aqui encarnado e viveria em uma outra dimensão.
Não caia na sedução desse tipo de discurso. Abuse deles no sentido de aprendizado, pois, eles trazem muito conhecimento sobre espiritualidade, energias, vibração e poder do pensamento sobre a existência. Mas estudando a própria espiritualidade você irá se confrontar com a certeza de que riqueza, bens materiais e destaque profissional podem ser atingidos por esforço pessoal, mas dependem de uma série de fatores que não estão necessariamente atrelados a nossa vontade e otimismo, embora eles ajudem muito em nosso caminhar.
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