Corona Vírus: O medo não é seu inimigo, o medo pode salvar você
Estamos enfrentando uma das maiores crises dos últimos tempos, em um momento em que o mundo se encontra ligado pelas rotas comerciais, turísticas e migratórias. Logo, a disseminação de um vírus altamente contagioso levou menos de 60 dias para chegar a todos os continentes. É, também, a primeira vez que passamos por uma pandemia com redes sociais. O que tem um lado muito bom, pois, o acesso a informação em tempo real fica muito facilitado, o que nos gera diferentes sentimentos. Hoje vamos falar do medo, e do medo que as pessoas têm de ter medo. O medo não é seu inimigo. O medo pode salvar você.
O medo positivo e o medo negativo
Sim, é verdade que baixas vibrações podem enfraquecer nosso sistema imunológico. É verdade que o medo contamina, paralisa e leva ao pânico, pois é capaz de projetar os piores cenários e as tragédias mais catastróficas que a nossa imaginação consegue alcançar. Mas, é verdade também que o medo nos foi dado para proteção, sendo um mecanismo que nos salva a vida. Quem não tem medo acaba sendo leviano, insensato e negligente.
“Quem quer vencer um obstáculo deve armar-se da força do leão e da prudência da serpente”
Há o bom medo e o mau medo. O medo de viver é ruim. O medo de arriscar mudanças positivas também, pois ele é limitante. Mas, quando tratamos de uma situação de vida ou morte, o medo é um membro essencial na soma dos elementos que resultam na vida ou na morte. E é esse o momento que atravessamos agora: a diferença entre viver ou morrer, entre preservar quem mais amamos ou contaminá-los com doença e com a nossa inconsequência. A prudência agora vem do medo e do entendimento correto da realidade que o mundo enfrenta agora. O medo bom preserva, pois vem do lugar onde fala alto o instinto de preservação perante uma realidade ameaçadora. O medo ruim é justamente o contrário, pois ele nasce da fantasia, da distorção da percepção da realidade. Ele cega. Esse é o medo que devemos combater. O outro, não. Devemos acolhê-lo e transformá-lo em fé, proteção e crescimento. Ao medo bom devemos dar nossa atenção, para melhor conhecê-lo e assim usá-lo em nosso benefício.
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Espiritualidade superficial
Em tempos de crise, o melhor e o pior de nós fica ainda mais forte. Quem é solidário se esforça ainda mais para ajudar o outro. Quem é mesquinho, fica ainda mais mesquinho. E com a fé acontece a mesma coisa! Há quem esteja produzindo conteúdo sobre como lucrar com a crise, enquanto outras pessoas se esforçam para divulgar projetos que arrecadam meios para levar socorro aos que precisam. A espiritualidade também pode ser mesquinha, egoísta e autocentrada, ou caridosa, benevolente, coletiva.
Muitos falam sobre a Transição Planetária agora, julgando que estamos presenciando a separação do joio e do trigo. E essas pessoas são sempre trigos. Nunca joio. Elas tendem ao estilo “coaching de quarentena”, vendendo cursos e produzindo conteúdos que não só não servem de nada, como geram ainda mais ansiedade. Vendem curas milagrosas e a ideia de que sua alta vibração pode te livrar da doença, e ensinam como a espiritualidade pode servir a você nesta hora dramática. São esses que tem medo do medo, repetindo o mantra “vai passar” enquanto aguardam pelo fim de tudo com suas mãos unidas em oração. Mas nada fazem. E chamam de negativos e alarmistas qualquer um – incluindo cientistas – que tente lhes mostrar que a situação é grave e o que devemos fazer para superá-la. Para eles, a alienação protege. É melhor negar do que enfrentar. E Deus os livre de entrarem em contato com qualquer coisa que não seja sobre eles, ou que mostre uma realidade que não é revestida de namastê.
“Quem luta com monstros deve zelar para que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro. E se tu olhares durante muito tempo para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti”
Eles geram muita ansiedade pois afirmam que, se você vibrar no medo, vai estar abrindo as portas para o vírus, quase como se a culpa fosse do doente e de mais ninguém. Dizem, ainda, que o vírus não existe, que é uma criação mental, assim como a doença que ele causa. Enquanto isso, já são milhares de mortos que “não sabiam vibrar no bem”. Gente idosa que passou pelas grandes guerras, mas que agora, coitadas, não sabiam vibrar na faixa correta para se proteger. Eles sabem como fazer e estão imunes, pois são altamente evoluídos (me pergunto o que fazem encarnados neste planeta) e “ajudam” as pessoas a passarem por essa crise voltadas apenas para si. Ser positivo e otimista é muito importante, desde que não esses sentimentos sejam condizentes com a realidade e não uma fuga alienante.
É normal sentir medo
Se você sente medo, parabéns, você é absolutamente normal. Humano. E estamos diante de uma ameaça real, então, sentir medo mostra que seus sentidos estão funcionando bem. Quem ama sua família sente medo, justamente porque ama sua família. Existe também o medo da crise econômica, da falta de comida, de empregos, medo de ficar doente e o medo de morrer. Todos eles são medos válidos e compreensíveis diante deste cenário.
É durante momentos como esse que vemos a importância do equilíbrio, já que entrar em pânico não ajuda e negar a realidade menos ainda. Ainda falando em equilíbrio, é muito fácil vibrar positivo fazendo sua aula de yoga ou sentado em uma rede numa linda tarde de domingo. Mas se manter equilibrado em meio a uma crise como a atual não é fácil e envolve lidar com o medo, nunca negá-lo. Precisamos admitir o medo, esse medo bom, que nos faz buscar proteção. Podemos buscar em Aristóteles uma explicação que é perfeita para o momento: a coragem é quando nós pegamos o nosso medo e agimos com ele e apesar dele. Mas quando desconsideramos o medo e a realidade, somos temerários, pois, ignoramos os riscos e não tomamos boas decisões. E quem se deixa dominar pelo medo e fica paralisado, é um covarde.
“Reconheça o medo, entenda que ele existe e retire dele a dose de prudência que faz com que a gente enfrente melhor a vida”
Quem você quer ser nessa pandemia? Covarde, temerário ou corajoso? Os corajosos sentem medo e não se envergonham dele. Eles caminham com medo e usam ele para progredir.
Ignorar o que está acontecendo é mortal
Por medo do medo, pela incapacidade de tomar conhecimento de uma realidade dura e sobre a qual pouco podemos fazer, muitas pessoas se posicionam como temerárias diante da pandemia, usando como esconderijos a espiritualidade, a economia ou sua grande saúde de ferro. Minimizam a situação, não acreditam que ela seja realmente grave ou que vá atingir o Brasil como atingiu outros países mais desenvolvidos. Espalham notícias falsas que dão conta de um golpe comunista para espalhar esse sistema pelo globo, destilam ódio contra a China e questionam cientistas e médicos, já que eles, do alto de sua insignificância, tem uma opinião a dar porque sacaram o que mais ninguém sacou. Que espertos! Ou pensam também que tudo não passa de uma fantasia para enfraquecer o melhor presidente da história do Brasil. Se tanta idiotice antes nos causava pena e fazia rir, hoje faz chorar. Seria ótimo se o vírus fosse chinês ou atacasse somente uma ideologia política, o que não é o caso. Sendo você comunista, socialista, capitalista, democrata, ditador, rico, pobre, brasileiro ou suíço, ele vai chegar até você. Claro, o que muda são as ferramentas que cada um tem disponível, tornando alguns claramente mais vulneráveis que outros.
Talvez a única qualidade que pode dar alguma vantagem é a inteligência: quem tem mais de dois neurônios e pode, está isolado, distante dos familiares que integram o grupo de risco e lavando as mãos sem parar. Aos outros, resta questionar a ciência e estocar papel higiênico. Não há dúvidas que os ignorantes serão os primeiros a serem infectados (há quem chame isso de seleção natural). É preciso ter certo discernimento para ser prudente e uma visão social não baseada no “eu” e nos “negócios” para compreender que é preciso ficar em casa também pelos outros.
Se a sua saúde é de ferro e você tem corpo fechado, lembre-se que alguns dos seus familiares podem não ter a mesma sorte. Talvez seu vizinho ou alguém que trabalha com você pode encontrar o fim da linha, só porque você “não acreditou” na pandemia ou não desprezou o distanciamento social. Ser estúpido agora é mortal, seja para você ou seja para quem convive com você. Tenha medo sim, mas enfrente ele. De que serve a espiritualidade se, nessas horas, as emoções mais humanas estão são negadas? Que força há em agir em condições perfeitas de temperatura e pressão? Que crescimento é possível dessa forma? Se agarrar irracionalmente às chamadas “boas notícias” também é bastante alienante. Elas existem, mas nesse momento infelizmente não são tantas quanto gostaríamos. É bom lembrar o pessoal “abençoado” que a China venceu o surto em apenas três meses porque tomou medidas drásticas. E essa janela de ação passou batida por todos os outros países. Portanto, esperar o mesmo resultado quando as decisões tomadas vão na contramão de tudo que proporcionou essa velocidade de contenção e recuperação é bastante ingênuo. Para a sorte do Brasil, alguns governadores agiram a tempo de evitar o pior, mas, como a China, nenhum país conseguiu reagir.
A verdadeira espiritualidade não mente. Ela não nega a realidade, ela aprende a lidar com ela. Ela não acumula, ela partilha. É feita de abundância, e não mesquinhez. Ela entende que o medo não é inimigo nessa situação, mas sim um aliado que nos faz ir em busca de proteção e nos faz agir com prudência. Não se sinta inferior porque você tem medo, nem muito menos pense que esse tipo de sentimento vai adoecer você. Tenha perspectiva e coragem, e compreenda que, no momento atual, devemos ouvir as autoridades que são os cientistas e médicos. Toda e qualquer opinião fora desse contexto é só uma mera opinião. E se vai contra o que diz a ciência, é uma mera e estúpida opinião.
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