O que você prefere: uma mentira que console ou uma verdade que machuque?
A verdade nem sempre agrada.
“As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras”
Pelo contrário, na maior parte das vezes ela pode ser devastadora para nós. Há quem prefira ser enganado e viver no mundo da fantasia, mas há quem prefira a reflexão e a quebra de padrões de uma boa verdade.
E você? O que prefere?
A era das fake news
Sabemos o papel das fake news na nossa sociedade e o efeito devastador que elas têm. Nunca se mentiu tanto, nunca acreditamos em tanta besteira. Fazia séculos que a Terra era redonda, mas agora existem pessoas que se sentem no direito de questionar essa verdade incontestável. As vacinas que antes salvavam vida, agora são alvos de críticas totalmente estapafúrdias de pessoas que colocam em risco a saúde pública quando se recusam a vacinar os filhos. Sarampo, por exemplo, voltou a se tornar epidêmico após anos de descanso.
Criamos bolhas e nos deixamos cegar pelo chamado viés de confirmação, um nome bonito para explicar porque algumas pessoas preferem uma mentora consoladora a uma verdade que machuque, que faça pensar, que desconstrua. Não, ninguém quer desconstruir. Ninguém quer refletir, as pessoas querem confirmar suas ideias.
“Prefiro a verdade dura à fantasia consoladora, pois, no cômputo final, os fatos geralmente revelam-se mais consoladores”
Não, opinião não é argumento
Argumentos são elementos concretos, objetivos, que podem ser expostos e verificados. É através do argumento que nos aproximamos da verdade e é através da opinião que a fantasia se perpetua. É no terreno da opinião e da persuasão que sobrevivem as fake news. Os grupos das redes sociais são essas bolhas, uma reunião de pessoas que reforça uma maneira de ver as coisas e que fazem de tudo para preservar essa falsa verdade.
Essas pessoas se identificam com a mesma ideia e acabam também se identificando com pessoas. Enquanto a ciência exclui, pois não consegue construir um discurso que seja compreendido por todos, a fake news une. A dor da exclusão do discurso acadêmico e do conhecimento é que torna uma fake news tão atrativa, tão real. É um discurso que reverbera e reproduz o que eu penso, então eu vou ficando mais convencido de que é algo é verdadeiro. Uma mentira dita mil vezes e contada por muitas pessoas ganha ares de verdade.
O grupo reforça o chamado “viés de confirmação”, ou seja, ele confirma o mundo como eu gostaria que fosse e retira todas as falhas do meu pensamento através da unanimidade do grupo. Essas pessoas escolhem a mentira consoladora todos os dias. A verdade já não importa, desde que eu me sinta feliz.
Informação não é formação de verdade
Outra coisa que devemos ter em mente na era das narrativas e das fake news é que, assim como opinião não é argumento, a informação não é formação. Infelizmente estamos confusos com esses termos e o resultado é uma internet que está conseguindo fazer ruir as estruturas mais básicas da nossa democracia.
“Informação não é formação. Houve uma capilarização do conhecimento, não houve um aumento da compreensão…e as escolas ainda são arcaicas, elas ainda acham que o importante é a transmissão do conhecimento, quando, na verdade, o desafio hoje é a retenção e a formação do conhecimento”
Nunca tivemos tanta informação disponível. Tudo está na internet, absolutamente tudo. Mas informação não forma ninguém, não dá autoridade para ninguém sobre nenhum assunto. Um médico se faz com formação. Alguém pode ler e compreender tudo sobre a medicina através dos livros e da internet, mas isso jamais vai fazer da pessoa um médico. Ela vai continuar sendo uma pessoa distante da medicina, mas que reuniu grande quantidade de informação.
Quando estamos tendo um ataque cardíaco queremos um médico, não um leitor de medicina. Quando vamos construir uma casa queremos um engenheiro, não alguém que leu sobre engenharia. Quando temos um problema jurídico queremos um advogado, não alguém que leu sobre as leis. Sempre vai haver uma autoridade em qualquer assunto e elas devem ser respeitadas.
Informação nunca será formação. Fazer isso é sempre escolher a verdade que machuca e não a mentira consoladora.
O despertar espiritual está na verdade
Quanto mais alimentamos as fantasias, mais distante fica o despertar.
Como abrir a consciência se mal conseguimos compreender a realidade que nos cerca? Que ideia podemos fazer do invisível e nem mesmo o que está bem diante dos nossos olhos nos escapa? Quando procuramos o conforto de uma mentira, estamos sabotando nosso próprio crescimento.
A realidade existe independente de você gostar dela ou não, dela estar alinhado ou não com a sua ideologia. É preciso certa coragem para desconstruir pensamentos e crenças, especialmente quando eles apresentam uma realidade que é desconfortável para nós. Mas também é preciso muita coragem para decidir se alienar do mundo e criar perspectivas falsas sobre ele. Só crescemos, só despertamos quando conseguimos nos despir das nossas vontades e olhamos para a realidade como ela é. Caso contrário, estamos só perdendo tempo e gerando ainda mais carma.
A verdade sempre foi importante, mas agora ela é uma questão de vida ou morte. Negar a pandemia, achar que é só uma gripe, que o clima vai segurar o vírus e que já temos um remédio salvador é viver de fantasia. Quem é a autoridade no assunto vírus são os cientistas, não economistas e presidentes da república. Se a ciência diz para você ficar em casa, acredite. Mas acredite sem questionar, sem politizar a ciência, pois ela não tem ideologia nem partido, diferente daqueles que tentam desacreditá-la.
Não é a ciência que mente para você agora. São as pessoas que possuem interesses políticos e financeiros que estão mentindo agora, minimizando a pandemia e incitando o povo a sair às ruas. E seguir essa desorientação, essa desinformação pode custar sua vida, a vida de alguém que você ama ou a vida de alguém que você nem conhece.
E isso tudo gera carma, pode apostar. Se você não se cuida, pega o vírus e passa ele adiante e alguém morre nessa cadeia de contágio fortalecida por você, você vai arcar com esse carma pode ter certeza. Acreditar em mentiras, preferir a mentira que consola pode matar e o carma é todinho seu e você vai ter que lidar com isso cedo ou tarde.
Despertar significa exatamente isso, abrir os olhos, superar as ilusões da matéria. O processo de despertar exige a verdade de nós, exige a maturidade de lidar com realidades que não agradam, de entender como essas realidades são construídas e como podemos modificá-las. Mentir para você mesmo não te leva a lugar algum, não desperta sua mente. Pelo contrário, afunda você ainda mais nas trevas de si mesmo.
Se você quer despertar, busque a verdade. Busque a ciência, busque as autoridades e resista à tentação da mentira que consola. Respeite a ciência, abra mão das convicções e seja flexível, resiliente. Aceite que pode estar errado, que você não sabe tudo, e esteja disposto a enterrar seus heróis.
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