Moda pós-pandemia: novas formas de enxergar a indústria
Esse texto foi escrito com todo o cuidado e carinho por um autor convidado. O conteúdo é da sua responsabilidade, não refletindo, necessariamente, a opinião do WeMystic Brasil.
A pandemia do novo coronavírus influenciou muitas mudanças no comportamento humano, e, na moda, pode-se ver esses reflexos. Para discutir o futuro do mundo fashion, Thassi Miotto, coordenadora do curso de Design de moda na Universidade Estadual de Londrina e consultora de estilo, foi convidada para desvendar o que veio para ficar neste ano de 2020. E, definitivamente, as tendências não ficaram só nas roupas.
“Acredito que mais do que as tendências estéticas, as pessoas começaram a se conscientizar sobre o que é essencial e o que é supérfluo. Com a moda, foi a mesma coisa. A percepção de que uma roupa pode ser usada muitas vezes e de diferentes formas foi uma questão muito presente nesse período. Outra questão que acabou se tornando tendência estética também foi a percepção do conforto nas roupas, que acabou levando a “estética do pijama” para várias passarelas. Mas o que eu espero mesmo que se torne atemporal é a consciência sobre o consumo desenfreado”, expõe.
Durante esse período conturbado, muitas discussões ficaram em voga: pensar no meio ambiente e nas obrigações com ele foi uma das principais. “A sustentabilidade na moda é muito mais complexa que só mudar processos ou a sazonalidade das coleções. A indústria do vestuário é uma cadeia enorme, e se for considerar desde a produção da matéria prima até a produção pronta, seu uso, manutenção e descarte, não existir roupas, seria a forma sustentável de existir”, esclarece Miotto.
A especialista explica ainda que, lentamente, as indústrias tentavam diminuir os impactos ambientais em seus processos de produção. No entanto, a cultura do consumismo adota um estilo que acaba sendo um paradoxo para essas mudanças.
“Mas eu quero muito acreditar que, durante esse momento de isolamento, nossas prioridades de consumo tenham sido revistas, e que as pessoas, em geral, se preocupem com essas questões sobre sustentabilidade e a nossa vida aqui na Terra”, partilha a professora.
O consumo desenfreado é o motor da sociedade capitalista e, com isso surgem as tendências na moda, ou até mesmo, em outras indústrias de consumo. Miotto explica que esse ciclo do ‘tem que ter’ influencia o desperdício. “Acabamos gastando um monte de dinheiro que vai direto pro lixo, porque compramos e (não) usamos coisas que alguém indicou, mas não fazem parte de nós”.
Em 2020 cresceu o número de marcas independentes de produtores locais através do aumento de pessoas que buscam alternativas mais sustentáveis de consumir. A consultora de estilo acredita que apoiar negócios locais, pagar preços jutos e incentivar o empreendedorismo ainda não vai ser hábitos da maioria da população.
“Existe uma grande parcela de consumidores que ainda trabalham pra pagar as necessidades básicas. Pra esse público, a roupa é o luxo, mas, no fim do mês, não sobra mais que R$39,90 pra fazer compra em uma loja grande de departamento, que compete com preço no mesmo mercado que os pequenos produtores”, afirma Miotto.
Thaynara Junqueira, sob supervisão de Larissa Ayumi Sato.
Saiba mais :