Quem não é batizado vai para o inferno?
Você já deve ter ouvido que as portas do céu estão fechadas para as crianças não batizadas. E claro, quando falamos em batismo, sendo o Brasil um país católico, estamos falando de um dos sacramentos da igreja católica. Segundo o catolicismo o santo batismo é o fundamento de toda a vida cristã e o acesso aos demais sacramentos. Por meio dele, somos libertados do pecado e regenerados como filhos de Deus, tornamo-nos membros de Cristo, incorporados à igreja e sua missão.
Para a salvação da alma, é preciso ser batizado. Por isso, as mães se apressam para batizar seus bebês, pois ninguém gosta de pensar que o céu não vai receber o seu filho caso o pior aconteça. Mas será que realmente a igreja católica diz que quem não é batizado vai para o inferno? Será que a igreja tem o poder de condenar quem é salvo e quem não é?
Confusão dentro da igreja
Essa ideia de que é necessário ser batizado para entrar no reino dos céus não é bem a realidade que encontramos na igreja. Provavelmente essa afirmação é herança de tempos em que a igreja buscava impor a sua força a todo custo, em um mundo em que não havia separação entre Estado e religião. Tempos difíceis que foram parcialmente superados. Embora algumas pessoas ainda tenham esse pensamento, não é bem isso que diz a própria igreja.
Antigamente, dizia-se que as crianças que morrem antes de ser batizadas vão para o limbo. Mas, se buscarmos referências ao limbo não encontraremos nenhuma. A existência do chamado “limbo” nunca foi uma verdade de fé. Era uma solução teológica para um problema que se apresentava diante das crianças que morriam sem receber o sacramento do batismo. Pensava-se que elas não poderiam ir ao céu, porque a graça é um dom gratuito que se recebe com o batismo e, ao não recebê-lo, o acesso à glória era negado. E é aí que começa a confusão, pois, se essas crianças não poderiam ir para o céu, para onde mais iriam então? Para o inferno não fazia sentido, pois só são enviadas para lá pessoas que cometeram pecados. E uma criança não pode ter cometido nenhum pecado. Surge então o limbo, um lugar imaginário criado para conseguir acolher esses órfãos da fé. E esse limbo foi, com a passagem do tempo, tomando contornos de inferno na cultura popular.
Mas, no catecismo da própria igreja a mensagem que encontramos não é bem essa. No 1261 do texto encontramos a seguinte orientação: “Quanto às crianças que morrem sem batismo, a igreja não pode senão confiá-las à misericórdia de Deus, como o faz no rito do respectivo funeral.”. E continua: “De fato, a grande misericórdia de Deus, ‘que quer que todos os homens se salvem’ (1 Tm 2, 4), e a ternura de Jesus para com as crianças, que o levou a dizer: ‘Deixai vir a mim as criancinhas, não as estorveis’ (Mc 10, 14)” aponta um caminho mais brando e acolhedor para uma criança que parte sem receber o batismo. Faz sentido pensarmos que exista um caminho de salvação para as crianças que morrem sem batismo. Somente Deus pode condenar ao inferno ou abrir as portas do céu!
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Céu e inferno não existem
O batismo e os outros sacramentos da igreja católica não passam de rituais inventados pelo homem. A igreja católica é só uma entre as muitas religiões que existem, embora tenha reinado soberana durante séculos. Mas não mais. No Brasil (e em outras partes do mundo), a igreja católica perde cada vez mais fiéis para as religiões evangélicas. No panorama mundial, o islamismo tem, em números de adeptos, quase a mesma quantidade de fiéis que a igreja católica. Enquanto o cristianismo conta hoje com aproximadamente cerca de 2,2 bilhões de adeptos, o islamismo vem logo atrás com 1,6 bilhões. E, enquanto a igreja católica encolhe, o islamismo só cresce.
“Até Deus tem um inferno: é o seu amor pelos homens”
Não precisa ser muito inteligente para perceber que as religiões são criações humanas, embora tenham uma inspiração divina. E todos os dogmas que encontramos em cada fé tem muito mais a ver com a cultura local e os interesses dos governantes e líderes religiosos do que com a verdade de Deus. Todas elas querem, no fundo, poder. Infelizmente foi nisso que se transformaram as mensagens trazidas pelos grandes avatares como Jesus, Buda, Moisés e outros. Jesus ainda foi bem claro quando disse “não construam templos de pedra”. E o que fez o homem? Construiu mais e mais templos de pedra onde regras rígidas tentam comandar a vida das pessoas e ditar como elas devem se comportar e se relacionar não só com Deus, mas umas com as outras.
“Não há outro inferno para o homem além da estupidez ou da maldade dos seus semelhantes”
Céu e inferno, portanto, entram nessa gama de dogmas religiosos que não podem ser questionados. E essa concepção de céu e inferno que temos é cristã, ou seja, outras religiões têm ideias diferentes sobre o que nos acontece após a morte. Está tão entranhado em nós essa ideia, que às vezes nos esquecemos de que o céu glorioso e a danação eterna não passam de uma das muitas narrativas religiosas que existem. E que se pensarmos bem, nem fazem assim tanto sentido. Batizados ou não, é bem provável que ninguém vá para o inferno e nem muito menos passe a eternidade pagando pelos pecados cometidos em vida. A misericórdia divina uma hora alcança todas as almas, mesmo aquelas terrivelmente doentes de maldade. Um Deus que não dá chances e condena eternamente não faz o menor sentido.
Deus não deixa ninguém para trás
Todos os caminhos levam a Deus. Aliás, o único caminho possível para o que pode ser considerada uma salvação é trilhado por nós e pelas nossas ações, não pela religião que escolhemos. Aliás, diga-se de passagem, a maior parte das pessoas não pode nem escolher sua religião! A criança nasce e logo é batizada. Se nasceu judia, a força da cultura é tão grande que ela provavelmente morrerá judia. Uma criança islâmica tem ainda menos chance de ter qualquer liberdade de pensamento religioso. E um Deus que permite que tantas religiões existam, e vendo que boa parte das pessoas não têm sequer a liberdade de escolha, estaria sendo no mínimo injusto mandando para o inferno eterno quem não seguiu uma determinada religião.
Deus não deixa ninguém para trás. Cada uma das mensagens divinas que chegaram a nós através dos seres de luz encarnados com essa missão, têm um discurso adequado não só a determinada cultura, como também ao período histórico em que as revelações acontecem. Ninguém vai para o inferno por não seguir Cristo. Nem mesmo os ateus correm esse risco. Seja você católico, evangélico, hindu ou budista, é você mesmo que determina através das suas ações como vai ser recebido pela espiritualidade após a sua morte.
“As pessoas que me dizem que eu vou para o inferno e elas vão para o céu de certa forma deixam-me feliz de não estarmos indo para o mesmo lugar”
É o que carregamos no coração que nos torna dignos da “salvação”. É o mal ou o bem que causamos aos outros que nos abrem ou fecham portas. Mais vale um ateu de caráter do que um evangélico que atira pedras em quem veste branco.
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