O nascimento dos especiais – amor além da vida
Quando um casal aguarda a chegada de um bebê, surgem muitas expectativas e sonhos que se plantam no coração dos pais, que logo já começam a imaginar o futuro daquela criança e a projetar nela todo o tipo de sentimentos, desejos e realizações. No entanto, quando recebem a notícia de que seu filho possui alguma deficiência, a sensação parece ser de que nada mais será possível e eles podem ser tomados pela desilusão e pelo medo. Além disso, os esforços realizados para o desenvolvimento dessa criança são muito grandes e muitos não se sentem capazes de enfrentar esses obstáculos.
“Há muitas pessoas de visão perfeita que nada veem. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido”
Esta é a realidade de muitos pais de família que, no entanto, encontraram um novo sentido para a vida a partir dessa circunstância inesperada.
Amor além da vida
Amor, amor, amor. É tudo que existe, o objetivo, a causa primeira. Em tudo há o amor divino.
Aliás, o amor é a única coisa que levamos conosco da experiência terrena; no fim, tudo que aprendemos, todas as experiências que vivemos, estão ligadas ao mais sublime sentimento de todos. Ele não conhece barreiras, nem tempo. Ele supera qualquer adversidade, até mesmo a morte. É uma conexão tão profunda que sobrevive ao tempo e a morte, mantendo o laço entre as pessoas que deles desfrutam pela eternidade.
No caso das crianças especiais, o amor está presente mais do que nunca. Infelizmente, nem todos conseguem enxergar dessa forma e é muito comum as pessoas encaram a deficiência como um castigo, seja para a alma que encarna com limitações, seja para os pais que recebem aquele espírito em condições adversas.
Um exemplo onde vemos isso e que me parte o coração é quando dizem que somos “abençoados” por Deus quando temos filhos perfeitos. Primeiro de tudo, o que é perfeição? Quais são os padrões? Baseados em quê? Sabemos que as intenções de quem diz isso são as melhores e que buscam, talvez, elogiar alguém ou alegrar frente a alguma dificuldade. Especialmente quem enfrenta a depressão, é comum que o deprimido não encontre compreensão social e escute, muitas vezes “Você tem tudo. Olhe seus filhos, são saudáveis. Agradeça”. Claro que, não se trata da gratidão, que obviamente devemos ter somente pelo fato de estarmos vivos, o que já significa que estamos tendo uma oportunidade. Mas, por trás dessa afirmação, esconde-se uma compreensão de Deus equivocada.
Essas simples palavras podem calar fundo o coração de uma mãe que enfrenta dificuldades para criar uma criança com necessidades especiais. Mais do que isso, está implícita nessa frase que Deus, este ser magnânimo, não abençoou a elas por algum motivo. Escolhe, de forma arbitrária, quem terá a benção de gerar frutos íntegros e quem não terá esse direito. Incorre, ainda, na ideia de castigo, forma que muitas vezes essas famílias são olhadas: “o que será que fizeram para merecer?” questionam alguns. Como se Deus fosse essa entidade punitiva que desse a alguns todas as bençãos e a outros, percalços.
Na verdade, receber uma criança especial é para poucos. Trata-se de pais com uma evolução espiritual tamanha, que aceitam receber esses espíritos mesmo sabendo o quão profunda é a ignorância humana e o sofrimento que irão enfrentar, para além das aflições que qualquer condição de saúde pode trazer. Sofrem muito mais com comentários, olhares e discriminação social do que com as dificuldades que enfrentam quando encaram essa linda missão.
A maldade humana chega a tal ponto que algumas mães recebem mensagens de ódio na internet, pelo simples fato de estarem mostrando seu amor pelos filhos nas redes sociais. Ao meu ver, essas mães são tão especiais quantos os filhos que geraram e prestam um serviço sem preço para a sociedade, quando demonstram não só seu amor, mas o lado bom que há em tudo. Todos passamos por dificuldades e criar filhos não é tarefa fácil para ninguém. Bravamente elas transbordam sem amor por meio de fotos, textos e, muitas vezes, criando associações e redes de apoio para outros pais na mesma situação. Porém, não raro, se deparam com comentários maldosos de seres tão trevosos que chegam a sugerir que a eutanásia seria a melhor solução para aquela criança e sua família. Dizem, do alto da mais profunda ignorância, que aquela mãe é egoísta por manter uma criança em condições adversas. Não há lágrimas suficientes que possam demonstrar o quão monstruosas são essas afirmações e provavelmente essas pessoas. Elas não conhecem o amor. Talvez, não amem nem a si mesmas nem a seus próprios filhos, pois se assim fosse, saberiam que o amor dos pais, especialmente o materno, é incondicional e é a experiência que mais se aproxima de Deus na Terra. São almas que desconhecem o propósito da vida , estando presas a conceitos tão fúteis e transitórios como a aparência física.
São, elas próprias, realmente deficientes, já que na deficiência física ou mental somente o corpo perece. Já essas pessoas carecem de qualidades morais e emocionais. São deficientes espirituais.
“Qualquer tipo de maldade é resultado de alguma deficiência.”
Mas então, qual a explicação?
Por mais duro que possa parecer o quadro, sim, acredito que tudo tem um propósito. Mesmo que nossa mente, tão limitada pela ignorância, não consiga perceber dessa forma. Deus nunca castiga, eles nos dá oportunidades. Se pensarmos que, de certa forma, participamos no astral do planejamento da nossa encarnação, tudo é acertado antes de nascermos e isso inclui não só a nós, mas também nossos pais. No meio espiritualista dizem que escolhemos nossos pais, nossa família, e que nascemos com as condições exatas para expandirmos nossas qualidades enquanto espíritos. Mas nós, enquanto pais e mães, também aceitamos esse plano. Dessa perspectiva, o quão amorosos e evoluídos são os pais que recebem crianças especiais?
Muito. São consciências com as quais temos muito a aprender e que sabem que a deficiência física ou mental está longe da deficiência do espírito, da alma, o pior tipo de deficiência que existe e a única da qual devemos nos envergonhar. Cada caso é um caso e não é possível determinarmos uma razão que consiga abranger a todos em sua ideia. Há aqueles que escolhem resgatar erros de outras vidas, apesar de não serem obrigados a tal. Até porque, que sentido teria? Se, em outra vida, com menos obstáculos aquele espírito não conseguiu cumprir seu propósito como era esperado, porque o faria em condições ainda mais severas?
Não faz sentido nenhum a ideia de castigo, de imposição divina. Há casos em que esses espíritos vêm nos ensinar lições e nos proporcionam aprendizado pelo exemplo que dão. São abnegados e possuem um amor pelo próximo tão grande, que decidiram encarnar em condições complicadas, somente por amor. Amam tanto sua família, que aceitam vir nessas condições para que a família aprenda algo.
“A existência do mal não se deve à falta de poder ou de bondade em Deus; ao contrário, Ele só permite o mal, porque é suficientemente poderoso e bom para tirar do próprio mal o bem”
Síndrome de Down é um ótimo exemplo. Pais de crianças com down geralmente relatam que a pureza e amor incondicional que estes serzinhos apresentam não são deste mundo. Muitos se sentem honrados em recebê-los na família e se consideram pais de sorte, até mesmo porque o retorno de amor que recebem é infinitamente maior do que os filhos sem down podem proporcionar.
Muitas correntes esotéricas, inclusive, afirmam que eles são mais evoluídos espiritualmente do que nós, não portadores, e que tem uma capacidade de expressão sentimental fora do comum.
Conto sobre Deus quando escolhe as mães
Aqui vai um lindo texto, de autor desconhecido, sobre como Deus escolhe as mães para receber crianças especiais. É um conto, claro, mas ele resume a ideia de que não há castigo e que os pais de crianças especiais são ainda mais especiais e escolhidos pelas suas virtudes, jamais pelos seus erros.
“A sabedoria superior tolera, a inferior julga; a superior alivia, a inferior culpa; a superior perdoa, a inferior condena. Tem coisas que o coração só fala para quem sabe escutar”
“Alguma vez pensou como Deus escolhe as mães das crianças especiais?
Eu já… Uma vez vi Deus a pairar sobre a Terra, selecionando o seu instrumento de propagação com grande carinho (…). Enquanto observava, instruía os seus Anjos a tomarem nota num grande livro:
– Para a Beth, um menino. Anjo da Guarda, Matheus.
– Para a Miriam, uma menina. Anjo da Guarda, Cecília.
– Para a Regina, gêmeos. Anjo da Guarda Geraldo, ele já está habituado. Finalmente, Ele passa um nome para o Anjo, sorri e diz:
– Dê a esta mãe uma criança deficiente. O Anjo, cheio de curiosidade, pergunta:
– Porquê ela, Senhor? Ela é tão alegre!
– Exatamente por isso, diz Ele. Como poderia eu dar uma criança a uma mãe que não sabe o valor de um sorriso? Seria cruel…
– Mas será que ela vai ter paciência?
– Eu não quero que ela tenha muita paciência – disse Deus – porque aí ela irá afogar-se no mar da autopiedade e desespero. Logo que o choque e o ressentimento passarem, ela saberá como conduzir a situação. Eu hoje estive a observá-la. Ela tem aquele forte sentimento de independência. O Anjo retorquiu:
– Mas ela terá que ensinar a criança a viver no seu mundo e não será fácil. Além do mais, Senhor, acho que ela nem acredita na Sua existência. Deus sorri, e diz:
– Não tem importância. Eu posso dar um “toque” nisso. Ela é perfeita. Possui o egoísmo no ponto certo. O Anjo engasgou-se:
– Egoísmo? E isso é, por acaso, virtude? Deus, acenou que sim e acrescentou:
– Se ela não conseguir separar-se da criança de vez em quando, ela não sobreviverá. Sim, esta é uma mulher que abençoarei com uma criança menos perfeita. Ela ainda não faz ideia, mas será, também, muito invejada. Ela nunca irá admitir uma palavra não dita, nunca considerará um passo como uma coisa comum. Quando a sua criança disser “mãe” pela primeira vez, ela pressentirá que está a presenciar um milagre. Quando ela descrever uma árvore com um pôr-do-sol para o seu filho cego, ela verá como poucos já conseguiram ver a minha obra. Eu permitir-lhe-ei ver claramente coisas como ignorância, crueldade, preconceito e ajudarei-a sempre a superar tudo. Eu estarei a seu lado a cada minuto da sua vida, porque ela vai estar a trabalhar comigo.
– Bom – disse o Anjo – e quem o Senhor está a pensar mandar como Anjo da Guarda? Deus, sorriu e disse:
–Dê-lhe um espelho. É o suficiente.”
(Autor desconhecido)
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