Nosso livre-arbítrio é parcial? Existe de fato a liberdade?
Esse texto foi escrito com todo o cuidado e carinho por um autor convidado. O conteúdo é da sua responsabilidade, não refletindo, necessariamente, a opinião do WeMystic Brasil.
A liberdade que temos de fazer as nossas próprias escolhas é uma questão polêmica.
O que é vontade de Deus? Deus escreve certo por linhas tortas?
Existe ou não destino?
Até que ponto fazemos escolhas e até que ponto estamos seguindo o fluxo de um devir já estabelecido?
Compreender essa questão não é fácil e pensar sobre isso se complica ainda mais quando inserimos na equação as religiões. Cada uma delas alega ser detentora da verdade, única e absoluta, e também cada uma delas apresenta uma narrativa diferente quando a questão é a liberdade de escolha humana. Fala-se muito em livre-arbítrio, mas as implicações filosóficas desse conceito nem sempre são levadas em consideração.
Somos livres ou não? Até onde vai nossa autonomia?
A Liberdade é parcial
O estudo do pensamento religioso e metafísico me leva a crer que nossa liberdade é parcial. Temos certa liberdade para decidir, mas, obviamente, nem tudo está sob nosso controle. Somos como um cachorro preso em uma fazenda: dizemos que ele pode fazer o que quiser dentro da fazenda, o que dá a ele enorme liberdade. Porém, nem ele mesmo sabe que está restrito às cercas desta fazenda, por maior que ela seja. Ele tem controle sobre algumas decisões, mas não sobre todas. Ele não pode, por exemplo, sair dos limites das terras onde se encontra e decidir explorar o mundo. Por mais livre que pareça, ele está preso na fazenda.
“Nós temos que acreditar no livre arbítrio, nós não temos outra opção”
Para nós o processo não é muito diferente. Grosso modo, estamos todos presos em uma fazenda, mesmo que ela seja diferente para cada um de nós, forjada na medida exata das necessidades que cada consciência têm para poder evoluir. Assim funciona o livre-arbítrio; ele não é absoluto, mas relativo.
Por exemplo, tente trocar de corpo, ou de planeta, ou tente deixar de ser imortal. Você não conseguirá. Sabe porquê? Porque estamos submetidos a ciclos evolutivos correspondentes à nossa necessidade de aprimoramento e crescimento consciencial. Há leis maiores interagindo com nossas vidas. Contudo, no sentido individual, somos responsáveis por nossos atos e escolhas que fazemos.
A vida que nos foi imposta não é passível de controle ou escolha, mas como levamos a vida e encaramos os acontecimentos é de nossa inteira responsabilidade. O que plantamos, colhemos. E essa, a Lei do Retorno, é uma das leis universais e divinas que regem o mundo.
O universo responde aos nossos desejos?
O fato de que existem diversas leis que governam o universo serve para derrubar a ideia falsa de que o universo responde aos nossos anseios. Não responde. A Lei da Atração é uma realidade inquestionável e se torna cada vez mais tangível à medida que avançam os estudos na área quântica. Sermos otimistas e positivos faz parte, inclusive, da evolução espiritual, que se baseia na aceitação das adversidades e percepção de que elas respondem ao plano divino e escondem preciosas lições para nosso crescimento. A tristeza faz parte do processo, porém, a lamentação é paralisante e limitante. Entretanto, desejar não é o suficiente.
“E se eu mudasse meu destino num passe de mágica? Estranho, mas é sempre como se houvesse por trás do livre-arbítrio um roteiro fixo, pré-determinado, que não pode ser violado”
Como sabemos, algumas de nossas experiências são programadas e fruto de escolhas que fizemos no passado. É a tal da colheita, a Lei do Retorno agindo. Já encarnamos com um certo plano, com eventos programados e as condições de existência de acordo com a programação feita: limitações financeiras, culturais e físicas são exemplos de condições que desejo quântico nenhum altera.
Alguns nascem cheio de oportunidades e saúde perfeita, enquanto outros nem tanto. E não basta simplesmente desejar ou repetir a palavra “prosperidade” ou “abundância” para que a riqueza material se estabeleça. Se a energia do dinheiro estiver bloqueada pelo carma, pela Lei do Retorno, seu desejo jamais será atendido independente de quanto esforço físico, mental e espiritual você faça. Você atrai aquilo que precisa, e, se a riqueza não estiver em seu caminho, não há coaching ou transformação quântica capaz de reverter esse quadro.
“A vida é uma combinação de destino e livre-arbítrio. A chuva é o destino, a possibilidade de se molhar ou não, é sua”
Imagine a seguinte analogia: você aceitou e programou para sua encarnação que deve passar por uma tempestade. Ela fatalmente virá, seja você positivo ou não. Mas sua positividade e otimismo vão influenciar totalmente as condições do processo de tempestade que você vai passar. Sendo amoroso, resiliente e otimista, a tempestade vai passar e você vai sobreviver.
Pode ser que encontre abrigo, pode ser que encontre alguém pelo caminho oferecendo ajuda e que a intensidade dessa tempestade não te atinja tanto. Enquanto que, sendo negativo, denso e reclamando o tempo todo, o impacto desse evento pode ser muito doloroso. A enchente pode vir e levar tudo que você tem, incluindo sua vida.
Nesse sentido, podemos escolher como lidar com determinados eventos e até amenizar seus efeitos, e usá-los para nosso crescimento. Mas não está ao nosso alcance determinar como as coisas devem ser. E achar que viemos aqui para sermos felizes e satisfeitos em nossas vontades é de uma ignorância tremenda.
Não temos controle sobre o que nos acontece e pensar que basta desejar para obter é infantil, arrogante e egoísta, além de ignorante e herege, já que contradiz a ideia de que existe um universo espiritual que está no controle. Achar que podemos determinar certas coisas vai contra a ideia de Deus, sendo uma infeliz resposta ao imediatismo moderno e os lucros fáceis que se obtém através da exploração dos anseios das massas. Por isso essa onda de coach espiritual e reprogramação de DNA da riqueza.
O que podemos controlar então?
O único controle que temos e que faz sentido é em relação às nossas emoções, que se refletem em atitudes e todo um estilo de vida e visão de mundo.
Não é possível saber ao certo porque uma doença ocorre, por exemplo. Será uma programação cármica ou fruto da negligência com a saúde, má alimentação e vícios? Para quem está encarnado é impossível determinar. Porém, uma vez que se estabelece uma enfermidade, a capacidade e a natureza das emoções que vamos jogar sobre ela podem ser tanto a sentença de morte como a salvação e a cura.
E faz parte do programa da encarnação na matéria que não seja possível obter o conhecimento sobre todas as coisas. Nós mal somos capazes de lembrar de nossas experiências passadas, quanto mais de determinar o que deve ou não acontecer. Mas o controle das emoções frente aos acontecimentos da vida são, em essência, o crescimento e a única forma de controle possível para um espírito aprisionado na materialidade da encarnação na terceira dimensão. O “porquê’ não tem a menor importância, enquanto que o “como” é o segredo de tudo. Nesse sentido, temos total liberdade para fazer nossas escolhas. Cabe a nós decidirmos como enfrentar os problemas, as dificuldades e adversidades que surgem na vida.
“Temos a capacidade e a responsabilidade de escolher se nossas ações seguem um caminho virtuoso ou não”
Lembrando que todas as ações têm um impacto e uma reação, seja para nós mesmos ou para o outro. Tudo o que fazemos gera uma cadeia de eventos pela qual também respondemos. Assim funciona o livre-arbítrio e o poder de escolha que nos é dado, mesmo que seja parcial. Tomar consciência disso significa trilhar 50% do caminho evolutivo.
Clique Aqui: O que é ser livre? Entenda o conceito moderno de liberdade
Democracia e livre-arbítrio
A democracia é uma ótima analogia para entendermos qual liberdade nos cabe e a responsabilidade que temos sobre nossas escolhas. Liberdade de expressão é um direito incontestável pelo menos na maior parte dos países do mundo e devemos ter o direito de dizer o que pensamos, da forma como pensamos e na hora que bem entendermos. Se o conteúdo que expressamos é ofensivo ou criminoso, nosso direito de dizê-lo se mantém, porém, vamos arcar com as consequências disso. Um racista tem todo o direito de expressar seu racismo, mas deve saber que essa postura é criminosa e que ele vai responder judicialmente por seus atos.
“Na vida, não vale tanto o que temos, nem tanto importa o que somos. Vale o que realizamos com aquilo que possuímos e, acima de tudo, importa o que fazemos de nós!”
Todos tem a escolha sobre o que desejam manifestar no mundo, porém, essas decisões podem se chocar com algumas regras que governam o mundo. Não nos cabe mudar as regras, mas sim entendê-las. E, uma vez entendidas, a escolha de segui-las ou não é parte do nosso livre-arbítrio.
Não podemos esperar que um discurso racista seja proferido sem que a repressão caia sobre ele. Mas devemos esperar que o racista tenha a liberdade de expressar seu racismo, por mais terrível que seja esse ato. Assim é a democracia, ou deveria ser.
Nosso livre-arbítrio funciona de forma parecida.
Em relação a algumas atitudes e pensamentos a liberdade de escolha está em nossas mãos, porém, nem sempre queremos levar em consideração a represália que podemos sofrer através das leis divinas. Liberdade total seria se não precisássemos de nenhuma lei e pudéssemos fazer o quem bem entendermos. Mas aí já não estaríamos mais na Terra, pois já teríamos evoluído o suficiente para vivermos governados pelo amor. Assim, mais uma vez, não temos muita escolha, pois não moldamos as consequências dos nosso atos em nosso favor. Apenas sofremos com o retorno, e pior, somos tão cegos que na maior parte das vezes nos sentimos injustiçados e punidos quando chega a lição. Um racista nunca pensa que deve ser preso por falar o que pensa ser correto.
Evolução é uma obrigação da alma
Pensando em um nível mais filosófico, podemos dizer que não existe livre-arbítrio. Parece absurdo dizer isso, mas, quando analisamos a experiência humana sobre o prisma metafísico, assumindo que a vivência na Terra é uma jornada evolutiva, a conclusão de que não há livre-arbítrio faz sentido.
Ora, estamos aqui para evoluir e temos o apoio espiritual e o amor incondicional dos seres de luz para errarmos o quanto for necessário, até que tenhamos atingido a iluminação. Certo?
Pois bem. Cedo ou tarde vamos evoluir, pois esse é o único caminho possível, já que o sofrimento não pode ser eterno. Uma hora, mesmo o pior dos corações se rende ao amor divino, se arrepende de seus atos, entende a espiritualidade e recebe a chance de evoluir através das lições e dos resgates cármicos. A reparação dos erros é fundamental nesse sistema.
Assim sendo, a diferença é o tempo que vamos levar para evoluir.
Cinco encarnações?
Vinte?
Cem vivências na matéria?
Não importa quantas experiências, encarnações ou séculos uma consciência precise para alterar seu estado vibratório. O fato é que, cedo ou tarde, ela vai aprender, ela vai crescer. Nesse sentido, qual escolha nós temos? Felizmente, nenhuma. Na marra, eventualmente, todos vão chegar até a iluminação e o sistema foi criado para isso. Não nos resta escolha senão seguir a jornada do crescimento, mostrando mais uma vez que o livre-arbítrio é uma ilusão.
E essa conclusão não é ruim, pelo contrário!
É muito esclarecedora e nos faz perceber ainda mais o sentido da vida que levamos e o motivo pelo qual estamos aqui. Nos faz querer aproveitar totalmente cada possibilidade de crescimento que a vida oferece, para evitar ter que retornar muitas vezes. Somos livres para fazer essa escolha. Mas estamos limitados para fazer outras tantas.
Saiba mais :