Papa Francisco aceita a Teoria do Big Bang
Será que é preciso negar a ciência para acreditar em Deus? As religiões tendem a se afastar dos preceitos científicos e se fechar para qualquer revisão em sua metafísica. Mas será que é necessário desconsiderar a ciência para conceber a ideia de um criador?
“A ciência sem a religião é manca, a religião sem a ciência é cega”
A teoria do Big Bang é a explicação científica aceita para a formação do Universo, baseada na observação do cosmos e das pistas que os próprios astros revelam. E deveria ser encarada como a forma de Deus agir, sem precisar, necessariamente, matar Deus. Por outro lado, a maior parte das doutrinas religiosas tradicionais também se opõem a essa teoria, adotando como gênese o criacionismo mesmo que ele não tenha qualquer sustentação racional. Não, a Terra não tem 6 mil anos, os dinossauros não partilharam o espaço com os homens das cavernas e, acima de tudo, não viemos de Adão e Eva.
Mas é chegado o tempo em que ao menos a igreja católica tem feito esforços para elevar o nível da racionalidade de sua crença: segundo as palavras do Papa Francisco, representante máximo da igreja católica, o Big Bang não vai contra Deus. Pelo contrário.
O que diz o Papa Francisco
Papa Francisco tem se mostrado moderado, um pontífice que está tentando modernizar a igreja e a fé católica. Ele sempre reforça e valoriza o papel dos cientistas, especialmente os cientistas cristãos”, incentivando que seja questionado o futuro da humanidade e do mundo. Sobre o Big Bang, em mais de uma ocasião Francisco declarou que não só aceita a teoria, como vê que ela própria exige a figura de um criador.
“O Big Bang, a teoria científica que hoje explica a origem do Universo, não contradiz a intervenção criadora divina, pelo contrário, a exige”
A visão do Papa é a de que tanto Jesus Cristo quanto Deus estão presentes na natureza, e a física, por exemplo, é a ciência que estuda as leis naturais. Logo, qualquer resultado que obtenham trata de uma conclusão baseada no mecanismo divino que move o mundo. Ele ainda alerta para o perigo de, através da leitura das escrituras, cairmos na tentação de imaginar Deus como um mago, que a tudo criou com uma varinha mágica. Para o Papa Francisco, Deus criou todos os seres e deixou que se desenvolvessem segundo leis internas que deu a cada um, para que chegassem a sua plenitude. A palavra “desenvolvessem” é um sinônimo para “evoluir”, preceito no qual se baseia a teoria de evolução das espécies. Ele não coloca em competição a narrativa científica e religiosa, pelo contrário, busca o complemento que se dá através da junção dessas duas visões de mundo.
E não faz todo sentido pensar que Deus usou o Big Bang para criar o mundo?
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A academia de ciências da igreja católica
Muitos não sabem, mas a igreja católica não é inimiga da ciência. Aliás, ela mantém em Roma desde 1603 a Pontifícia Academia das Ciências, instituição formada por 80 acadêmicos pontifícios nomeados pelo papa, sob indicação do próprio corpo acadêmico. Para essa seleção não existe nenhum tipo de discriminação, pois, muitos cientistas não são sequer católicos e existem mulheres membros. Para termos uma ideia, o primeiro diretor oficial da instituição foi Galileu Galilei; além dele, fez parte da academia Stephen Hawking, um dos mais brilhantes físicos da história. Entre os nomes dos membros que fizeram parte da academia ao longo dos anos, podemos encontrar muitos ganhadores do Prêmio Nobel. Fazem parte da academia algumas das mentes mais brilhantes do mundo.
Promover a pesquisa e examinar questões científicas de interesse da igreja são objetivos da Pontifícia Academia das Ciências, que tem um caráter intelectual e científico. Os encontros anuais da instituição discutem temas da vanguarda da ciência, como por exemplo o bóson de Higgs. Aliás, a primeira notícia que confirmava a existência dessa partícula foi anunciada pelos cientistas da Organização Europeia para a Investigação Nuclear (CERN) em um encontro sobre física subnuclear realizado na Casina Pio IV, a sede da Academia.
Parece até mentira, mas é a pura verdade: tem mais ciência na igreja do que supõem os próprios cristãos. É uma pena que essa tradição esteja restrita à cúpula católica, não se refletindo no dia-dia, nas paróquias de bairro, por exemplo. A Pontifícia Academia das Ciências é uma ponte entre a ciência, a fé e o mundo, uma prova de que o conhecimento científico não precisa negar a presença de Deus.
Contexto, pretexto e texto
Astrônomos e cosmólogos integram o time de cientistas da Pontifícia Academia de Ciências. Muitos deles têm uma abordagem mais racional e moderna quanto ao conteúdo da bíblia, pois afirmam com serenidade que a palavra não deve ser levada a ferro e fogo, embora seja sagrada. Como justificativa, apresentam a ideia de que Cristo teria usado de parábolas adequadas a intelectualidade da época, para passar sua mensagem e se fazer compreender. Outro ponto importante levantado por essas mentes brilhantes é o fato de que não podemos esquecer que as traduções e até mesmo o início do cristianismo se deu séculos após a vinda do Mestre Jesus, sofrendo, nesse tempo, perdas narrativas e influências históricas e políticas.
Assim, a interpretação da bíblia deve ser feita levando em consideração o contexto, ou seja, o momento histórico em que foi escrito e as influências e interesses que impactam seu conteúdo; o pretexto, como sendo os interesses que governavam as mãos de quem escrevia e, por fim, o texto, que seria o conteúdo em si. Quando fazemos essa análise, obtemos um panorama muito abrangente e a bíblia se torna ainda mais interessante e rica, pois revela não só uma das faces divinas como também parte da história ocidental. Nesse sentido, se torna ainda mais plausível pensar no Big Bang como um evento divino, como o mecanismo e ação do próprio Deus no Universo.
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O Big Bang e a evolução: obras divinas
O Big Bang é a explosão ocorrida há cerca de 13,8 bilhões de anos que deu origem à expansão do Universo. Já a Teoria da Evolução, proposta pelo britânico Charles Darwin, prega que os seres vivos não são imutáveis e se transformam de acordo com sua melhor adaptação ao meio ambiente, sobrevivendo e se aprimorando através de um processo chamado seleção natural.
Para avançar com a teoria do Big Bang, os cientistas buscam há décadas pelas ondas produzidas pela gravidade, mas, devido a sua sutileza (a gravidade é bilhões de vezes mais fraca que as forças elétricas) não tiveram sucesso até o momento. Alguns acreditam que um instrumento com uma sensibilidade adequada possibilitaria detectar essa mudança gravitacional aguda e as ondulações causadas pelo Big Bang.
Esse é o momento em que divergem a igreja e os cientistas materialistas: para eles, uma explosão; para os religiosos, a evidência de que Deus criou o céu e a Terra.
“Cada palavra escrita na Torá [Antigo Testamento] se encaixa nas descobertas científicas mais recentes. Elas estão em harmonia exata com as palavras da Torá. ”
Entretanto, os cientistas que convivem em paz com a metafísica divina apostam na explosão conhecida como Big Bang como sendo o momento exato em que Deus disse: “Haja luz”. Aliás, não são poucos os cientistas que afirmar que a criação da luz foi essencialmente a criação do Universo e reconhecem na Torá uma descrição verídica e exata das descobertas científicas mais recentes. Muda a linguagem, mas a mensagem é a mesma e de uma sincronia assustadora. Para eles, teríamos não um Big Bang, mas sim o Big Banger, ou seja, “o grande explodidor”, que nós chamamos de Deus.
A verdade está no meio. Nessa zona nebulosa entre o que a religião prega e a ciência não explica. Se quisermos saber sobre a nossa origem, sem fantasia nem a ilusão do materialismo, devemos considerar tanto a narrativa religiosa quanto a científica, sabendo aproveitar de cada uma as pérolas que oferecem.
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