O papel das avós na evolução humana: prata no cabelo e ouro no coração
Esse texto foi escrito com todo o cuidado e carinho por um autor convidado. O conteúdo é da sua responsabilidade, não refletindo, necessariamente, a opinião do WeMystic Brasil.
Quase sempre as melhores lembranças da nossa infância estão relacionadas com nossos avós, especialmente a nossa avó. Eu sou uma dessas pessoas premiadas com uma avó incrível, que criou para mim um mundo mágico que, até hoje, a saudade é tão grande que não consigo evitar as lágrimas. A começar pela casa onde ela morava, que ficava em uma vila com uma praça ao centro. Nessa praça, incontáveis crianças brincavam sem parar todo tempo. Tinha gente de todas as idades, e, enquanto as crianças brincavam, muitos adultos conversavam calmamente nos portões enquanto vigiavam os netos.
Neste lugar se soltava balão, pipa, e crianças viviam trepadas em árvores. Quase todas as brincadeiras aconteciam na rua, da forma mais saudável e mágica que só uma infância vivida nos anos 80 podia oferecer. Quando chegava junho, a vila inteira se iluminava e transformava com as decorações juninas e o cheiro de quentão, enquanto as barracas eram armadas para a festa. Todos ajudavam, todos participavam, mas sem dúvidas eram as crianças as criaturas mais ansiosas para que a festa começasse. Minha avó era daquelas que brincava junto, contava histórias e andava atrás de mim com um prato de comida na mão, enquanto eu brincava sem parar nem um minuto. Minha infância cheira a café com leite, quentão e amor, muito amor.
Às vezes me transporto para esse lugar. Sabe aquele tipo de meditação em que é pedido que você se imagine em um local em que sinta paz? Meu local é a praça. Me imagino deitada bem no centro dela, como tantas vezes fiz quando criança, olhando para o céu e contando as nuvens. De fundo, escuto a algazarra das crianças e os passarinhos, que sempre cantavam nas copas das árvores. Logo ali está minha avó no portão, me chamando para almoçar ou tomar o café da tarde. Essa é a minha paz. Ela era a minha paz. Infelizmente, só soube que o nome daquilo tudo era felicidade incondicional quando cresci. Mas eu com certeza seria outra pessoa se eu não tivesse tido a influência do amor da minha avó.
Agora a ciência confirma que os avós têm um papel essencial na evolução humana. Elas são fundamentais não apenas para cada um de seus netos, mas para a evolução da nossa espécie em geral. E isso não me surpreende! Quer saber mais? Leia o artigo até o final!
A menopausa existe para transformar as mães em avós
É isso mesmo. Estudos têm mostrado que é a natureza que determina que as avós existam, e, tudo que é natural tem uma razão de ser. A menopausa por muitos anos permaneceu inexplicada para a medicina, especialmente pelo fato de que não é nada comum na natureza que fêmeas percam suas capacidades reprodutivas tão jovens quanto as mulheres. A espécie humana é uma das poucas que, junto com as orcas e as baleias-pilotos, tem fêmeas que deixam de ser férteis após aproximadamente 45 anos de idade. Como o maior objetivo de qualquer organismo vivo é espalhar seus genes, a evolução da menopausa em mulheres sempre confundiu os cientistas.
A menopausa existe para tornar as mães, avós. É essa a conclusão de um estudo publicado na revista Proceeding, da Royal Society B. E tem mais: essa transformação natural e biológica que as mulheres sofrem na idade em que se transformam em avós, foi essencial para que a humanidade tenha se tornado o que é. Sem as avós, talvez nós fôssemos uma outra coisa, talvez não existisse humanidade da maneira como conhecemos, organizada em sociedade. A principal autora do estudo é a antropóloga Kristen Hawkes, e ela afirma que só conseguimos desenvolver toda uma gama de capacidades sociais e muitas outras características humanas -as bases da famosa evolução- por causa das avós.
“O brinquedo mais simples, aquele que qualquer menino é capaz de fazer funcionar chama-se avó”
As avós desempenham muitos papéis quando se trata de seus netos: são babás, enfermeiras, cuidadoras, companheiras de brincadeiras, amigas e até mesmo pais e professoras substitutas! Sua posição única de confiança e amor permite que elas ajudem a nutrir e moldar a vida de seus netos. Uma das coisas mais importantes que as avós fazem pelos netos é passar tempo com eles. Durante esse tempo com as avós, as crianças aprendem lições importantes que permanecerão com elas por toda a vida. Embora as avós adorem dar presentes e guloseimas aos netos, o maior presente que elas dão é o tempo que oferecem, pois, através dele é que conseguem passar valores, crenças e habilidades fundamentais.
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O efeito vovó
O “efeito vovó” tem a ver com a colaboração entre as gerações, fator também importante para a evolução humana. A hipótese do “efeito vovó” sugere que mulheres na menopausa ainda podem aumentar a pegada genética, apesar de não mais reproduzirem. Elas fazem isso ao ajudar seus filhos a terem famílias maiores, pois, através do crescimento da família é que a biologia compreende que a continuidade da espécie está sendo bem sucedida. Por exemplo, pais e filhos compartilham 50% dos genes, enquanto avós e netos, 25%. Isso significa que um aumento em dois netos seria quase o mesmo que ter mais um filho. E a teoria do efeito vovó não está baseada só na genética, mas sim em dados históricos populacionais, muito valiosos para estudar a hipótese das avós. O impacto positivo da presença de uma avó viva na família foi demonstrado em um estudo de populações pré-industriais no Québec, Canadá, chamando a atenção para mecanismos que podem explicar a evolução da menopausa.
Os dados usados no estudo tratavam de registros populacionais de ancestrais de canadenses-franceses de 1608 a 1799, construído graças à igreja católica que durante anos manteve registros meticulosos de nascimentos, casamentos e mortes. As famílias antigas eram muito grandes, mas sabemos também que a mortalidade infantil atingia quase 40% dos nascidos vivos. É aí que o estudo caminhou para a descoberta da importância da participação das avós na vida humana: as famílias que possuíam mais ajuda, ou seja, quando existia uma avó auxiliando as mães na criação dos filhos, a mortalidade infantil entrava em declínio. Um pouco de ajuda definitivamente fazia toda a diferença.
“É preciso uma vila inteira para criar uma criança”
Uma avó viva leva a mais netos. Ter uma avó materna viva e participativa aumentava o número de filhos da mulher em cerca de 20%. Também teve um impacto positivo no número de netos que sobreviveram até os 15 anos e chegaram à fase adulta. E essa amostra canadense não está isolada, pois análises de outras regiões do globo mostraram resultados parecidos, sempre associando a presença da avó materna com a saúde dos netos e o número de membros das famílias. Você que é mãe e está lendo esse artigo, deve estar pensando “mas é claro”! Já que sabemos o quão difícil é criar uma criança sem uma rede de apoio. Ainda no mundo moderno, em que os pais assumiram suas responsabilidades perante a família, é bastante intensa a chegada de uma criança. Imagina antigamente em que toda a responsabilidade recaída única e exclusivamente sobre a mulher, e não só as atividades relacionadas com os filhos, mas também todas as tarefas domésticas. Aqueles manuais da esposa dos anos 50, em que a mulher tem a obrigação de estar arrumada, cheirosa, alegre, com o jantar pronto, a casa arrumada e as crianças em silêncio, jantadas e de banho tomado quando o marido chega, me fazem querer vomitar.
Curiosamente, parece que a emancipação da mulher só minou a maternidade. Mesmo com ajuda dos avós, babás, faxineiras e pais presentes, a quantidade de filhos por casal vem diminuindo e as prioridades passaram a ser carreira, diversão e liberdade.
As avós contribuem, mas também se beneficiam
Conviver com os netos também têm efeitos muito positivos para a saúde e bem-estar das avós. Se, por um lado, crianças que têm relacionamentos fortes com os avós são mais bondosas, generosas e com menores taxas de ansiedade e depressão no futuro, maior desempenho escolar, a autoestima, e inteligência emocional, por outro lado as crianças também ajudam muito os idosos. Avós que têm a oportunidade de estar com os netos e servem como suporte funcional, ou buscam na escola, ajudam financeiramente e tomam conta das criança para que os pais possam trabalhar ou se divertir tem mais saúde psicológica e menos depressão do que aqueles que não fazem isso.
“Há pais que não amam os filhos, mas não existe um só avó que não adore o neto”
As avós ativas, portanto, possuem mais saúde do que as avós passivas que escolhem continuar vivendo uma vida individualista e distante da família. Até mesmo o risco do desenvolvimento de alzheimer e outros distúrbios cognitivos ficam muito reduzidos através da convivência e dos laços de amor que envolvem uma relação tão doce quanto das avós com seus netos. Cuidar dos netos dá a elas um novo significado para a vida, que pode ter se perdido com a passagem dos anos e o envelhecimento natural do corpo. Essas mulheres voltam a ter uma identidade, uma razão para viver e conseguem fazer planos para o futuro, pois desejam profundamente ver os netos crescer e chegarem a fase adulta. E o amor de um neto alimenta a alma de uma avó. É uma relação humana onde só existe amor e nenhum conflito, muito diferente de qualquer outra que conseguimos estabelecer.
“O amor perfeito às vezes não vem até o primeiro neto”
Ser avó é, sem dúvida, o papel mais importante e deliciosos que exercemos na vida!
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Cordel “Na casa da minha vó”
Para fechar esse artigo, nada melhor do que os encantos de um cordel para mexer com nossos corações e trazer a tona memórias da nossa querida infância. Esse trecho está no livro “Na casa da minha vó” de Abdias Campos.
Na casa da minha vó
Muita coisa boa há
Muitos primos, muitos tios
Muita comida que dá
Pra alimentar todo mundo
Que vive passando lá
E por falar em comida
A de lá sempre é melhor
Docinhos, bolos e tortas
Só na casa da vovó
Já tô com água na boca
Com cheirinho do bobó!
Quando a minha mãe viaja
Antes pergunta pra mim:
– Onde você que ficar?
E eu lhe respondo assim:
– Lá na casa da vovó…
Vai mamãe, diga que sim!
Vovó não briga com a gente
Com as nossas brincadeiras
Vou pro quintal tomar banho
Saio empurrando as cadeiras
Brinco com tudo que posso
Até com suas torneiras
Ela ri, achando graça
Com qualquer coisa que eu digo
Mesmo que eu faça uma trela
Nunca me põe de castigo
Todo vez que eu vou pra lá
Ela fica mais comigo
Minha vó também me conta
As histórias engraçadas
De toda a nossa família
E de algumas trapalhadas
Dela quando era criança
E eu dou muitas risadas
Me conta que um dia estava
No pomar da sua avó
Pegou uma corda e deu
Nessa corda um grande nó
Para prender seu cachorro
Que se chamava Totó
Ela fez uma armadilha
Pendurou numa mangueira
Esta corda com um laço
Como se fosse a coleira
Que era pra prender Totó
Era essa a brincadeira
Só que quando ela o chamou
Ele veio em disparada
E para se livrar dele
Vovó pulou na calçada
Mas meteu o pé na corda
Foi quem ficou amarrada
Histórias de minha mãe
Dos meus tios, meu avô
De quando mamãe nasceu
Isso ela já me contou
É como assistir a um filme
De tudo que se passou
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