Pare de esperar por salvadores: a ação é quem salva
É um fato que a transição planetária acordou muitas mentes, e fez muitos se voltarem para questões mais espirituais. Com isso, nos deparamos com uma legião de salvadores, gurus e mestres que prometem uma salvação através de seus ensinamentos, quase sempre em troca de grandes quantias de dinheiro. Eles comovem multidões e mobilizam seguidores até mesmo fora do território nacional. Sim, há quem venha de longe para se consultar com esses gurus, como acontecia com João de Deus. E, quase sempre, a decepção é certa. Escândalos financeiros e espirituais quase sempre acabam vindo à tona e chocando as pessoas. Bem, nem todas, pois, ainda tem quem defenda esses caras.
Aprender sim, mas salvação? Pare de esperar por salvadores. Ninguém pode te salvar além de você mesmo.
Repensando a salvação
Vamos começar pensando sobre esse termo: salvação. O que significa mesmo “ser salvo”? Primeiro, é preciso ter em mente que essa prometida salvação só existe para quem segue as três principais religiões (e todas as suas ramificações): catolicismo, judaísmo e islamismo. Elas são as responsáveis por incutir nos fiéis a ideia de que só existe uma chance e, caso você não passe no teste, será condenado a arder nos mármores do inferno. E para sempre, por toda a eternidade, sem possibilidade de redenção. Logo, faz sentido que eles se apressem em vender “um lugar no céu”, garantindo que somente aquela religião é capaz de te encaminhar ao paraíso. Mas será que isso faz algum sentido? Um Deus que não conhece o perdão?
“Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca”
Se esse Deus punitivo e ressentido realmente existe, talvez o inferno não seja assim tão ruim. Provavelmente todas as pessoas que eu amo seriam mandadas para lá, pois não aceitaram Jesus como único salvador, não usam um véu para cobrir os cabelos e quase todas trabalharam ou trabalham aos finais de semana. Essa salvação não existe, nunca existiu. Ela nasceu de um lugar que só conhece o controle e o poder, e não de corações voltados para a luz e para o espírito. Ninguém vai ser salvo por outra pessoa, nem muito menos por uma figura religiosa.
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Encarnação: o inferno é aqui
O inferno é uma narrativa religiosa, ou seja, é uma concepção restrita a determinadas crenças. Logo, para um brasileiro católico a ideia de salvação e de inferno tem bastante significado, mas para um budista esse sentido se esvazia de imediato. Pois bem. Pare um minuto e olhe ao seu redor, analise sua rotina e quantos leões você mata por dia. Olhe para o mundo um segundo e perceba que, em pleno 2020, ainda temos guerras e um fantasma de um conflito mundial que insiste em nos assombrar. Há fome, miséria, doenças, muita violência, sofrimento e conflitos. Não é nada fácil viver. Não é fácil se relacionar, manter a família unida, os amigos por perto e uma mente saudável com tanto trabalho, obrigações sem fim e pouco dinheiro. O mundo não pára, não importa o quanto você esteja sofrendo, quebrado, sangrando. Os boletos vão chegar. O trabalho vai te demitir, seus pais vão morrer, sua relação pode chegar ao fim. Um dia, em uma esquina qualquer, sua vida pode valer menos que um celular e acabar. São poucos exemplos que mostram que o mundo é um lugar hostil, e que sempre foi assim e provavelmente será. Só quem está muito autocentrado e mergulhado em privilégios dentro de sua bolha, que fica cego e prefere pintar um mundo cor-de-rosa.
Viemos aqui para evoluir, não para sermos felizes. E isso já diz muito sobre o que é a experiência da vida. Muitas pessoas rejeitam essa ideia e preferem acreditar na felicidade plena e constante, especialmente quando elas têm seus desejos (quase sempre mundanos) atendidos. Se sentem abençoadas por Deus por possuírem beleza, fama ou bens materiais, mesmo quando estes são conquistados por mérito próprio, o que quase nunca acontece. Todos possuem ajuda, especialmente familiar, e não há nada de errado nisso. Mas será que Deus fala através das contas bancárias? Será que é mesmo uma benção aquela viagem dos sonhos para Disney? Provavelmente não…
Mas isso não significa que a felicidade não faça parte da vida. Pense nela como uma escola: você, quando criança vai lá para aprender, não para ser feliz. Você começa do começo, até que passa por diversos estágios até que se forma. E, nesse caminho, o foco é sempre o aprendizado, porém, os momentos alegres e de diversão também fazem parte da escola. Você socializa, faz amizades para vida, se apaixona, ri e chora. E nem por isso o objetivo da escola passa a ser diversão e felicidade. Com a vida acontece o mesmo! Viemos aprender, evoluir, aperfeiçoar, e parte disso é a felicidade. Mas não viemos aqui para isso, caso contrário, o mundo não seria esse inferno na Terra que é. E, se para você não é bem assim, sorte a sua. Mas não ignore o sofrimento que te rodeia baseada na sua experiência pessoal.
A salvação é uma escolha
As suas ações e a sua evolução pessoal é que vão te levar para um bom ou um mau lugar após a sua morte. E isso nada tem a ver com a religião que você tinha em vida, com sua orientação sexual ou com a cor da sua pele. É você quem toma decisões e comanda sua vida, e depois, como responsável, responde por elas. Gera karma, dharma, créditos e débitos, e a soma desse contexto é que determina para onde vai seu espírito após o desencarne. Não existem “escolhidos”, existem escolhas; logo, você mesmo se “autoescolhe”.
“Se Allan Kardec tivesse escrito que fora do Espiritismo não há salvação, eu teria ido por outro caminho. Graças a Deus ele escreveu ´Fora da Caridade´, ou seja, fora do Amor não há salvação”
O que você faz em vida (ou deixa de fazer) é que leva você para as dimensões mais elevadas. Só cabe a você. Por isso, ninguém além de você mesmo pode te ajudar a evoluir. Não há guru, mestre ou guia espiritual que possa fazer isso por você, e é esse pensamento também a fonte da plena consciência de que é preciso beber de várias fontes de conhecimento para termos um vislumbre do que é a nossa realidade espiritual. Quem quer que você se desenvolva, te ajuda a pensar sozinho e te deixa livre para buscar outros caminhos e conhecer outras verdades. O verdadeiro guia vai dizer “não acredite em nem uma palavra do que eu digo; vá, viva e veja você mesmo”.
“Só sei que nada sei”
Quem te aprisiona em um discurso e gosta da fidelização de seguidores, geralmente pensa ser o detentor da única verdade possível. O que não existe, obviamente. Ninguém é escolhido, contatado por seres ou recebe dons espirituais além do comum para construir em torno de si os famosos templos de pedra. Quem faz isso é o ego humano, e, quando ele está envolvido, é porque a verdade já se perdeu há tempos. Ninguém tem a visão do todo, ninguém desvendou todos os mistérios divinos e nenhum guru tem procuração divina para falar em nome de Deus. Cada um recebe, de acordo com sua missão, informações parciais que devem ser compartilhadas em forma de conhecimento, nunca de doutrinação. Essa história de tutores, de beijar pés e ser glorificado pelos súditos nunca acaba bem. Tenha sempre isso em mente! Pense por você. Viva e se permita experimentar, conhecer outros pensamentos e outras visões de mundo. Nunca se prenda a uma única doutrina, nem muito menos a uma pessoa. Se liberte, evolua e sua salvação vai chegar. Pare de esperar por salvadores!
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