Pedir calma para alguém não ajuda em nada
Essa é a frase que muitas vezes ouvimos quando passamos por uma situação difícil ou estressante. Fique calma! Não precisa ficar tão estressada! Nunca vi alguém ficar mais calmo ao ouvir esse conselho, e também jamais alguém respondeu “tem razão, estou me estressando à toa, vou relaxar” após ouvir essa frase. Além de pouco empática, ela é também egoísta.
“Empatia não é sentir pelo outro, mas sentir com o outro. Quando a gente lê o roteiro de outra vida. É ser ator em outro palco. É compreender. É quando a gente não diminui a dor do outro. É descer até ao fundo do poço e fazer companhia pra quem precisa. Não é ser herói, é ser amigo. É saber abraçar a alma”
Se você costuma pedir calma para que está a sua volta durante as turbulências da vida, reveja seus conceitos. Essa não é a melhor decisão e a forma menos eficaz de ajudar quem está sofrendo. Se você realmente quer ser útil durante as horas de aflição, comece pela empatia e ofereça sua compreensão.
Pedir para alguém manter a calma é um julgamento
Sim, muitas vezes que tenta acalmar o outro tem as melhores intenções. Não há como negar isso. Mas, quem recebe essa afirmação pode se sentir tudo, menos ajudado. E porque continuamos repetindo essa sugestão se ela é inútil? Infelizmente, repetimos essa frase automaticamente, mas pouco pensamos a respeito do que ela realmente significa e do impacto que ela pode causar.
“O que as pessoas mais desejam é alguém que as escute de maneira calma e tranquila. Em silêncio. Sem dar conselhos. Sem que digam: “Se eu fosse você”. A gente ama não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. A fala só é bonita quando ela nasce de uma longa e silenciosa escuta. É na escuta que o amor começa. E é na não-escuta que ele termina. Não aprendi isso nos livros. Aprendi prestando atenção”
A começar pelo que está implícito nessa frase, que é “você está perdendo a cabeça”. E, com isso, passamos uma ideia errada de que aquela situação não é digna de que se perca a cabeça. Talvez não seja para você, mas para o universo emocional do outro uma determinada situação pode ser a gota d’água. Nunca sabemos pelo que os outros estão passando e qual a dimensão emocional que um acontecimento pode atingir, qual o impacto que uma perda, um término ou uma doença podem ter na vida do outro. Logo, pedir calma pode ser uma atitude inocente, mas ela brota do julgamento e do controle que tentamos exercer sobre o outro. Muitas vezes o que chamamos de ajuda, é só um incômodo em lidar com o descontrole emocional de alguém próximo, especialmente quando representamos uma figura de apoio. Esse mecanismo é inconsciente e, na maior parte das vezes, não fazemos por mal e sequer percebemos que estamos julgando ou incomodados.
E esse julgamento invalida as emoções do outro, invisibiliza o sofrimento do outro.
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Não deixe suas crenças atrapalharem
Além de pedir calma, também é terrível quando essa invalidação das emoções do outro vem através da crença em diferentes narrativas religiosas. Por exemplo, uma situação que desequilibra completamente uma pessoa é quando ela enfrenta uma grande perda na família. E essa pessoa tem uma religião tradicional, que não compreende a vida após a morte e outros conceitos que fazem tanto sentido quando confrontados com os dogmas fracos e aprisionantes da maior parte religiões. Para você e a compreensão que você tem acerca do mundo espiritual, aquela partida pode ter um peso menor do que tem para aquela pessoa, pois há, em seu coração, a certeza do reencontro. Mas nem todas as pessoas acreditam na mesma coisa que você, e dar esse tipo de conselho pode soar arrogante e novamente passar a ideia de desprezo em relação à dor do outro.
Sendo o outro ateu, por exemplo, a separação da morte é definitiva. É o “nunca mais”, o “para sempre”, e esse pensamento dói demais. Por mais que a intenção seja boa, a manifestação de interesse pelo que acreditamos deve partir do outro, nunca de nós, especialmente em situações de conflito ou muita dor como a morte. O amor e a compreensão são as melhores maneiras de lidar com a dor alheia, se colocando sempre a disposição e validando toda e qualquer emoção que o outro sinta.
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6 passos para oferecer um consolo útil
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Escute
Escutar é o primeiro passo, a ponte que vai conectar você com o que o outro está sentindo. Mas, essa escuta deve ser passiva e sem julgamentos. Apenas ofereça ao outro seu colo, seu ombro amigo, seus ouvidos. Algumas vezes as pessoas só precisam desabafar, externalizar uma dor ou um cansaço que as está corroendo por dentro. Basta estar ali, presente, mostrar interesse pela situação e não fazer nenhuma sugestão que invalide a dor, diminua a situação ou mostre pouca empatia. Nunca assuma que você sabe o que o outro está sentindo e jamais menospreze a dor alheia.
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Procure ajudar a pessoa a nomear as emoções
Quando você pergunta como a pessoa se sente em relação a algo ou adianta uma emoção que está claramente presente, você faz uma conexão com a pessoa e ela se sente compreendida, acolhida. Por exemplo, a mulher está narrando com uma voz e gestos alterados uma atitude do marido que ela considera terrível. É visível que ela está sentindo raiva. Então, antes que ela pronuncie essa palavra, você enquanto ouvinte diz “nossa, e como você se sentiu quando ele fez isso? Ficou com raiva, né? Eu também provavelmente ficaria”. Pronto. Você criou uma conexão verbal com a pessoa e a sensação de acolhimento talvez a acalme naturalmente.
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Mostre que o sentimento do outro é natural e compreensível
Seguindo o raciocínio do segundo passo, o terceiro passo envolve você mostrar como, dada as circunstâncias, o sentimento daquela pessoa é completamente compreensível, esperado e aceitável. Quando ela mesma conseguir verbalizar e classificar as emoções, embarque com a pessoa nessa jornada de mãos dadas. Ofereça apoio, e compreensão, além da empatia, é claro.
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Mostre que quase todas as pessoas se sentiriam da mesma maneira
O espectro das emoções humanas envolve tanto as emoções mais elevadas como o amor e a gratidão, por exemplo, como também as emoções mais densas como a raiva, ódio e revolta. Todo mundo já se sentiu assim um dia e negar esses sentimentos é negar a natureza humana. Portanto, reconhecer que a maior parte das pessoas se sentiria da mesma forma é essencial. Nosso ego tende a julgar e a nos colocar em um patamar de superioridade em relação ao outro, e sempre pensamos que a nossa reação seria diferente. Mas nunca é. Aproveite a situação para fazer um exercício de humildade e empatia, se colocando realmente no lugar do outro. Isso mostra interesse e uma aproximação emocional que vai, de fato, confortar quem está sofrendo.
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Apresente uma solução
Se for possível, apresentar uma solução para o problema pode ajudar, mas, somente nos casos em que houver de fato uma solução. Pois, até mesmo uma solução pode ser interpretada como desprezo, dependendo da maneira como é dita. E, para chegar a alguma conclusão que possa solucionar a questão, é necessário ter ouvido primeiro para conseguir compreender o que de fato está ocorrendo e quais são as soluções possíveis. Em outras palavras, é preciso avaliar e validar o que está sendo dito. Só depois de encontrarmos aquilo que precisa ser aceito, é que pode ser útil procurar por possíveis soluções e oferecer saídas para a pessoa.
“Amai-vos uns aos outros”
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Deixe fluir o amor
Nenhuma ajuda, palavra ou atitude pode superar a força do amor. Quando lançamos um olhar incondicional sobre o outro, não há nada que possamos falar ou fazer que não sirva de apoio real para as situações mais difíceis que possamos imaginar. Quando enchemos o coração de amor, a empatia, a compreensão, a humildade e tantas outras virtudes são apenas uma consequência da emoção mais elevada que podemos sentir, que é, diga-se de passagem, o grande objetivo de toda e qualquer encarnação.
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