O perigo das curas milagrosas: contra um vírus, não há milagre
Desde que o mundo percebeu que a Covid-19 era uma doença perigosa e com potencial pandêmico, a oferta de remédios mágicos na internet não parou mais de crescer. Em meio a uma pesada crise econômica, esse mercado parece não sofrer nenhum impacto; ao contrário, segue crescendo de vento em popa.
As curas milagrosas sempre foram um grande problema, mas, diante do pânico que tomou as pessoas durante a pandemia, os charlatões parecem se multiplicar como o próprio vírus. Um elixir milagroso para curar todos os males? Sim, “tão garantido quanto que o sol derrete o gelo”. Esta é uma das promessas de panfletos que circulavam no século XIX e garantiam que certas poções tinham propriedades curativas. Como vemos, não é de hoje que o temor das pessoas é um mercado lucrativo. É no medo que aqueles mal-intencionados encontram terreno fértil para ganhar dinheiro oferecendo curas milagrosas.
“No desespero e no perigo, as pessoas querem acreditar no milagre. De outra forma não sobreviveriam”
É preciso estarmos alerta. A oferta de qualquer tipo de cura por meio secreto ou infalível é crime praticado contra a saúde pública, com pena de detenção de até um ano e também uma multa.
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Contra um vírus, não há milagre
Seria ótimo se pudéssemos tomar uma garrafada mágica ou um soro imunizador para nos proteger do coronavírus. E temos inúmeras ofertas desse tipo circulando na internet, que prometem blindagem contra o vírus e uma turbinada no sistema imunológico. E muitas dessas ofertas são feitas por médicos e farmacêuticos, ou seja, profissionais da saúde. Isso torna ainda mais difícil identificar o charlatão, já que ele vem envolvido em uma aura de credibilidade em função de sua profissão.
Os chás milagrosos também figuram entre as substâncias mais procuradas, especialmente por aqueles que não possuem muitos recursos. Gargarejos com vinagre e sal, consumo de bebidas quentes, alho em grandes quantidades e suplementos vitamínicos também circulam adoidado pelos grupos de whatsapp, criando falsas esperanças em quem quer proteger a si mesmo ou a sua família. Nada disso tem efeito. É preciso ter em mente que, até o momento, não há um tratamento oficial para a Covid-19 e também não temos uma vacina. O único milagre possível é o do santo álcool e água e sabão.
O problema dos milagres que curam
Muitas dessas receitas podem até ser inofensivas à saúde, como é o caso dos chás e algumas vitaminas. Porém, é recomendado que exista sempre o acompanhamento de um médico antes da ingestão de qualquer composto medicinal. Interação medicamentosa, por exemplo, é um dos problemas que esse tipo de automedicação pode causar. Excesso de vitaminas também pode fazer bastante mal a saúde.
Mas esse não é o principal problema com esse tipo de oferta. O principal dano que elas causam reside na sensação falsa de segurança, que pode acabar gerando a contaminação e aumentar o contágio da epidemia. Pessoas que realmente acreditam que estão protegidas por causa de um soro imunizador, podem começar a tratar a situação de forma mais relaxada e achar que podem “sair só um pouquinho”, ou podem não lavar tanto as mãos como deveriam. Afinal, estão protegidas e cuidar para que um vírus não entre em nossas casas dá um trabalhão. E muitas pessoas já estão muito cansadas na quarentena, tendo que cuidar da casa, dos filhos e ainda trabalhar, administrando também a tensão natural que existe em uma pandemia. Lavar as compras que chegam do mercado, por exemplo, é uma medida de segurança muito recomendada mas ainda pouco seguida pelos brasileiros.
Quem busca fora da ciência qualquer tipo de auxílio neste momento está completamente enganado. Especialmente quem aposta nisso todas as suas fichas, deixando de lado a ciência e a medicina, pode sofrer na pele as consequências. E morrer não é a pior delas, já que fazer a passagem para o mundo espiritual não tem nada de ruim, pelo contrário. Mas o pior que pode acontecer é saber que contaminados alguém da nossa família, que acaba por falecer. Conviver com a dor dessa perda e a culpa por não ter tomado as medidas necessárias é um fardo muito difícil de carregar.
A importância das vacinas
É claro que existem inúmeros caminhos alternativos que funcionam bem em muitos casos, como a homeopatia por exemplo. Mas, há momento para tudo. Quando alguém tem uma pneumonia bacteriana, por exemplo, não há na medicina homeopática algo que dê conta do caso. É preciso um antibiótico. Não é possível combater uma infecção por bactéria sem o uso desse tipo de medicamento.
E podemos ir ainda mais longe. Essa cultura de distanciamento da medicina tradicional pode fortalecer movimentos antivacina. É pela falta de informação e de cultura, além do negacionismo científico, que esse movimento vem crescendo de forma assustadora e está fazendo ressurgir doenças que já haviam sido erradicadas há muito tempo no Brasil e no mundo, como o sarampo, a rubéola e a poliomielite. Esse posicionamento de não vacinar as crianças pode parecer uma decisão individual, mas, na verdade, é uma questão de saúde pública. Quanto menos crianças vacinadas, vai-se criando um grupo suscetível a contrair determinadas doenças. Como portadoras dos agentes infecciosos, elas acabam propagando enfermidades para outros grupos, como, por exemplo, quem não pode se vacinar por algum motivo ou aqueles que ainda não tem idade suficiente para se beneficiar dessa imunização. Com isso, a sociedade fica ainda mais exposta a surtos.
“Ciência é conhecimento organizado. Sabedoria é vida organizada”
E, quando analisamos o discurso das pessoas que alegam que as vacinas são nocivas, vemos que as curas milagrosas e tratamentos alternativos estão sempre em alta conta. O que estamos passando agora nos mostra uma coisa: como é o mundo sem vacinas.
A cura pela fé
Outra nuance dos milagres de cura vem da exploração da fé. Infelizmente, os charlatões muitas vezes estão vestidos de pastores, guias espirituais e gurus. Há quem prometa curar a depressão em apenas 1 sessão. Isso também é muito preocupante, pois, não só coloca em risco a vida das pessoas como ajuda a descredibilizar os grupos espirituais que realizam trabalhos sérios.
A assistência espiritual durante uma enfermidade é essencial. Usando a depressão como exemplo, vemos que o reiki, a meditação, a yoga e outras terapias são muito eficazes, mas elas nunca agem sozinhas. São um complemento. É, na verdade, a junção de várias frentes que proporciona a cura dessa doença: o remédio trata a química do corpo, a terapia tradicional a mente e as espirituais trabalham com a alma e o espírito. E, que somos nós, senão a junção desses três elementos? E para cada um deles há uma abordagem específica. Tratar só o corpo, quando sabemos que muito daquilo que nos acomete pode ter origens espirituais, não é suficiente. Assim como tratar somente o espírito significa negar que temos um corpo e negligenciar o tratamento adequado. Veja, quando quebramos uma perna ou sofremos um ataque cardíaco, olhar só para o espírito não ajuda em muita coisa.
“A ciência sem a religião é manca, a religião sem a ciência é cega”
Agora, estamos no meio de uma pandemia onde um novo vírus altamente contagioso está infectando mais e mais pessoas. Usar a espiritualidade nesse momento é muito necessário, pois nos ajuda a enfrentar psicologicamente a situação. Conseguimos canalizar uma força que nos ajuda inclusive a fortalecer o sistema imunológico, já que sabemos que o stress o enfraquece. São muitos os benefícios de ter uma crença e uma prática espiritual nesse momento. A fé move montanhas, sem dúvida. Mas ela não mata vírus. O que mata o vírus é quarentena e desinfetantes como álcool e água sanitária. A nossa fé tem que ser direcionada ao enfrentamento da situação do ponto de vista do espírito e da consciência, mas não pode jamais invadir o espaço da ciência e da medicina. Elas também são inspirações divinas e existem para cumprir um propósito, não devendo ser ignoradas jamais.
Por isso, devemos tomar muito cuidado para mantermos em equilíbrio os elementos fé, espiritualidade, cura, ciência e medicina.
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