Poliamor: as dificuldades e barreiras de uma relação livre
A sociedade moderna tem estado cada vez mais consciente de sua diversidade, de modo que também tem crescido o respeito ao próximo e as escolhas alheias ao então padrão social, sendo o poliamor uma delas.
O próprio nome já diz muito sobre esse tipo de relação, pois o termo “poli” origina-se do grego “vários”, sendo essa a principal característica do poliamor, uma relação íntima que envolve mais de duas pessoas. O mais importante neste modo de amar é que tal união não deve ser comparada ou confundida com um relacionamento aberto, pois enquanto em uma relação aberta os dois estão livres para ter múltiplos parceiros individualmente, no poliamor isso não acontece. Seguindo o princípio de sua nomenclatura, ele é de fato uma relação amorosa entre três ou mais pessoas, onde todos têm conexões em algum nível.
Há de se saber que a característica poligâmica dos relacionamentos já existia desde os primórdios da humanidade, sendo ainda hoje presente em diversas culturas. O caráter monogâmico que as relações amorosas adquiriram teve origens políticas e religiosas, as quais buscavam um maior controle sobre a população e um fortalecimento de certas relações diplomáticas.
O que é o poliamor?
Atualmente nos vemos diante de uma maior reflexão sobre o que acontece quando se ama duas pessoas simultaneamente. Esse amor que ocorre em simultâneo é a principal característica do poliamor, sendo muito importante perceber que ele não consiste nos mesmos princípios de um relacionamento livre ou aberto, os quais tem como objetivo simplesmente obter novos parceiros sexuais.
O poliamor é caracterizado pela criação de vínculos entre mais de 2 pessoas, indo estes muito além do contato sexual; na relação, os parceiros convivem juntos e promovem relações muito próximas. Apesar de parecer simples, é muito comum a interpretação errônea dessa forma de amar, onde as principais ocorrem ao relaciona-la como uma relação de swing, ménages e relacionamentos abertos.
O poliamor pode sim envolver mais de três pessoas, porém esse número é o mais comum entre os adeptos. Em uma relação poliamorosa tudo acontece de modo consensual e o mais importante é que que todos convivem em conjunto; não necessariamente devem existir relações sexuais entre todos os envolvidos, como em um ménage, mas ao menos um dos indivíduos tem relação com os outros 2 e estes convivem e se aceitam.
A construção mais encontrada deste molde de relação é a de um homem com duas esposas ou namoradas, mas também são comuns encontrarmos mulheres que convivem com dois maridos. Em casos mais raros também podem existem até mesmo relações que envolvam três homens ou três mulheres.
O estabelecimento de um relacionamento de fato entre todos os participantes, é o que o diferencia de outras modalidades de relacionamentos ditos alternativos. Isso tanto é verdade que em muitas situações a relação poliamorosa acaba por culminar na formação de uma família, onde existem filhos e até mesmo netos. Quando há a presença de filhos, todos os envolvidos participam da criação e desenvolvimento da criança. Nestes casos, entretanto, é preciso uma sólida estrutura e um diálogo muito franco, com aplicação quase que diária para garantir o bom entendimento de todos e a segurança emocional dos filhos perante a visão da sociedade.
Isso torna-se ainda uma espécie de resgate cultural, já que em muitas culturas e civilizações, as formações familiares incluíam múltiplos relacionamentos, pois assim existiam mais pessoas para ajudar na criação dos filhos e na manutenção da estrutura familiar.
A aceitação do poliamor na sociedade
Esse tipo de relação está cada vez mais presente em nossa sociedade, onde o número de adeptos se multiplica em uma velocidade realmente surpreendente, talvez pelo próprio fato de existir hoje uma maior compreensão sobre a existência de diferentes sexualidades, assim como o direito de cada um em expressa-las. Os casais hoje sentem-se mais livres do que nunca para explorar sua própria sexualidade, testar seus desejos, fantasias e assim conhecerem melhor a si mesmos, sem o antigo sentimento de culpa perante a sociedade.
A busca pela felicidade difundida tanto entre os mais velhos quanto entre os jovens, talvez seja o fator principal dessa equação, de modo que alguns psicanalistas criam até mesmo uma expectativa de que, em cerca de 10 a 20 anos, o poliamor, assim como outras formas de relacionamentos que fogem a monogamia convencional, devem ser um grande tendência. Vale lembrar que na pequena cidade de Tupã, no interior de São Paulo, já foi registrada em cartório ainda em 2012 a primeira união estável entre três pessoas.
Dificuldades encontradas diante do poliamor
O poliamor é uma forma de construção dos relacionamentos não tão nova quanto se possa imaginar, encontrando-se a cada vez mais presente e aceita pela sociedade. Em tempos de rompimento de conceitos, tabus e a reflexão sobre como tudo isso muitas vezes torna-se um empecilho na busca pela felicidade, novas modalidades de se relacionar intimamente com outras pessoas vem aparecendo.
Possivelmente, seja com um amigo ou consigo mesmo, o impasse do coração dividido entre dois amores já ocorreu mais de uma vez. Diante disso, fica clara a dificuldade na escolha, onde o maior sofrimento consistia em ter de abandonar um dos pretendentes. Essa situação é tão comum que sua recorrência é tema de filmes e novelas, mas é importante frisar que a necessidade da escolha em alguns casos pode ser apenas uma questão social, de modo que muitos optam por abandonar essa imposição pelo único amor e acabam por formar um relacionamento sincero, respeitoso e completo com ambos presentes em sua vida.
Ainda que sua essência pareça de muito simples execução, um relacionamento construído como poliamor exige muito equilíbrio, maturidade e barreiras precisam ser ultrapassadas antes que este firme-se como deve ser. Esse tipo de relacionamento exige um excelente trabalho de diálogo e muita sinceridade entre todos os envolvidos, pois qualquer falha de comunicação ou mal-entendido pode sair com um resultado realmente desastroso.
É possível construir uma Família?
Primeiramente devemos esclarecer que o poliamor se trata de um relacionamento entre mais de 2 pessoas, devendo ser tratado como tal, onde todos os envolvidos têm igual importância e requerem igual atenção. Isso quer dizer que é possível a formação de uma família, mesmo que fuja ao modelo tradicional; para isso é necessário que todos os membros dessa relação estejam em perfeita sintonia e preparados para lidar com uma situação a qual não se está acostumado, nem a sociedade.
A Aceitação Social – uma barreira gigante
A sociedade tradicional é provavelmente a maior barreira a esse tipo de relacionamento, já que apesar de todo o progresso conquistado, ainda engatinhamos rumo a uma sociedade livre de preconceitos ou discriminação quanto às formas de amar.
Os Ciúmes
O ciúme pode ser um problema mesmo para quem está inserido em uma relação poliamorosa, uma vez que não é fácil nos livrarmos de certos conceitos após sermos bombardeados por conceitos familiares tradicionais por quase toda a vida. Assim como em todo e qualquer relacionamento, é preciso saber aceitar e, principalmente, aprender a expressar nossa insatisfação e dizer aquilo que incomoda. O diálogo deve ser a maior arma contra as barreiras encontradas pelo poliamor.
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