Primeiro texto de 2021, por Gabhishak
Foram tantas coisas escritas em 2020.
Cinquenta e nove artigos.
Cerca de trinta e três mil palavras.
E, se entre duas palavras temos um espaço, ou dito de maneira diferente, um intervalo, havemos de concluir que estamos diante de mais de dezesseis mil intervalos.
Dezesseis mil.
É um número significativo.
16.000 oportunidades para que ocorra ao leitor um certo insight.
Ao leitor e ao escritor também.
A ambos, uma excelente oportunidade de dar-se conta.
Dar-se conta de quê?
Daquilo que é verdadeiramente importante em tudo isso.
Nesse negócio de escrever, de dirigir-se a alguém.
De tentar alguma espécie de comunicação.
Lembrando que, nessa história de comunicação existem três partes.
Emissor, receptor e a mensagem em si – aquilo que é dito (escrito, ‘in casu’)
Eu, na tentativa de emitir, não tenho a mínima ideia se a mensagem tem chegado ao seu destino, quais sejam, os receptores/leitores do portal WeMystic Brasil.
Isso significa que escrevo sem saber onde tudo isso vai dar.
Como se, à moda daquele velho conto, eu simplesmente atirasse a mensagem ao mar dentro de uma pequena garrafa de vidro.
Se ela vai chegar a alguém, se vai ser lida em algum momento por alguma pessoa em algum lugar do planeta não se sabe.
Mas isso não me impede de continuar escrevendo, coisa que faço independentemente do objeto a que se destina.
Significa dizer, perdoe-me a sinceridade, que pouco importa se alguém vai ler ou não.
Novamente, aqui e agora, detido no ato, não estou a escrever – estou a meditar.
É uma catarse, estou atirando palavras fora.
É uma limpeza; o ato de escrever a funcionar como uma faxina mental.
Sabe aqueles fantasmas que volta e meia ficam transitando de um lado para o outro na cabeça? Aquele ruído incessante que não nos deixa em paz nem quando tombamos o corpo para dormir?
Pois. É para me livrar desse lixo mental que escrevo.
O amigo leitor, existente ou não, existe para mim.
Tão real quanto as teclas do computador que recebem os toques dos meus dedos nesse exato momento.
Tenho que confessar: o leitor me ajuda mais do que eu a ele.
Só parece que estou escrevendo para alguém.
Parece que sou o emissor dirigindo a mensagem para algum receptor.
Mas não é assim.
Se você já experimentou a meditação um pouquinho mais a fundo talvez compreenda aquilo que estou dizendo.
Se você já esteve com um mestre vivo, desperto e iluminado, quiçá, poderá me compreender.
Eu escrevo para mim mesmo.
E, muitas vezes, quando escrevo, não escrevo.
E, em outras tantas, quando escrevo, não há quem receba.
Veja só a loucura disso tudo.
Não há emissor, tampouco receptor, mas a mensagem permanece.
E é aí que voltamos ao início.
Fica apenas a mensagem e, depois, nem ela.
Não sobra absolutamente nada, a não ser o intervalo entre uma palavra e outra.
Uma palavra que ninguém disse a alguém que não ouviu.
Nisso, ela própria, a palavra, desaparece no vazio.
Cai na vazio, despenca e some.
Não há quem diga, não há quem ouça, não há mensagem.
Resta o intervalo.
Então, ao suposto leitor que supostamente esteja lendo essas supostas palavras, fica a dica: esqueça essa baboseira toda e fique apenas com os intervalos.
É tudo que importa.
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