Por que as pessoas recorrem à quebra-cabeças para aliviar o estresse?
Durante o isolamento causado pela pandemia do Coronavírus, muitas pessoas adotaram o hábito de montar quebra-cabeças. Não é incomum vermos nas redes sociais indivíduos que estão montando quebra-cabeças de 1000 peças ou muito mais. Mas por que as pessoas recorrem à quebra-cabeças para aliviar o estresse?
“Não tema, nem se apresse. Uma hora todas as respostas se unem como em um quebra-cabeças. E este é a chave da escolha do seu caminho”
Por que as pessoas recorrem à quebra-cabeças para aliviar o estresse?
Acredita-se que o hábito de montar quebra-cabeças já estava voltando antes da pandemia, mas, o afastamento social parece ter acelerado esse processo. Aqueles que nunca compraram um quebra-cabeças estão passando noites de sábado trabalhando neles e alguns ficam orgulhosos ao postarem que conseguiram montar 1000 ou 2000 peças. Existem até hashtags no Instagram para posts relacionados ao hobby.
Para muitos, esse hábito pode ser apenas um passatempo, mas psicólogos acreditam que os quebra-cabeças são muito mais que isso. A psicóloga americana Danielle Levanas, que trata pessoas com distúrbios alimentares, diz que a atividade pode funcionar como um exercício de atenção plena, trazendo boas recompensas por permanecer calmo e concentrado na tarefa.
A professora da Bentley University, Angela Garcia, pesquisa quebra-cabeças há mais de 20 anos e afirma que as emoções, memórias e processos de pensamento que as pessoas experimentam montando-os podem levar a algo que ela nomeia como “devaneio guiado”. A especialista acredita que a atividade pode metaforicamente encolher os problemas da vida.
Em um artigo publicado em 2013, no International Journal of Play, Garcia escreveu que as pessoas que gostam de montar quebra-cabeças podem se enquadrar em quatro categorias: detetives, exploradores, domadores de leões e casamenteiros. Os detetives o usam como uma resolução de problema; os exploradores encontram motivação para descobrir ou criar algo novo; os domadores de leão lutam pela ordem no processo de montagem e até criam regras adicionais, e os casamenteiros estão ligados ao conteúdo, estética e complexidade da imagem.
Garcia usava quebra-cabeças para aliviar o estresse do dia, quando voltou a trabalhar depois de uma licença médica. Ela levou o quebra-cabeças para o escritório e deixou-o em uma mesa, indo até ele quando tinha um momento livre. Ela percebeu que os quebra-cabeças não estavam apenas ajudando a controlar o estresse, mas mudando sua forma de ver o mundo ao redor. Começou a prestar mais atenção aos detalhes, reconhecer cores no mundo real e até sua forma de ver sombras das árvores tornou-se diferente.
Sua pesquisa descobriu que o cérebro se envolve em vários tipos de pensamento durante o trabalho com quebra-cabeças. “Ao executar o processo que você teve para encontrar peças e testar se elas se encaixavam ou não, você realiza uma atividade incorporada que é parte intelectual e parte mecânica”, diz Garcia.
A pesquisadora também constatou que a atividade nos coloca em um ambiente no qual a incompletude e imperfeição no caminho para a conclusão são aceitáveis. Isso pode ajudar as pessoas a serem pacientes e viverem com incertezas. Descobrir para onde vai cada peça, categorizar, classificar e procurar peças funciona como uma “terapia de jogo”, que pode aliviar a ansiedade e outros estressores.
“A satisfação de criar ordem a partir do caos é terapêutica e a conclusão do quebra-cabeça é satisfatória”, afirma Garcia em sua pesquisa. “Nos permite experimentar o fechamento e o sucesso que nem sempre conseguimos experimentar na vida real.”
Os quebras-cabeças para aliviar estresse são semelhantes aos livros de colorir para adultos, que ficaram populares nos últimos anos. Com mais pessoas em casa, uma fabricante de quebra-cabeças de Los Angeles, Inner Piece, passou de vender aproximadamente 15 quebra-cabeças por semana a 50 a 70 vendas online por dia. A cofundadora da fábrica, Amanda Khale, conta sobre a sua experiência com a atividade: “Os quebra-cabeças são uma maneira de engajar, você muda o foco, deixa de pensar nas coisas que deram errado no seu dia e deixa de pensar na sua lista de tarefas amanhã”, diz Kahle.
Se você não é fã de quebra-cabeças, pode tentar outras atividades que o ajudem a desconectar e encontrar um momento de foco e atenção plena como sudoku, livros para colorir ou um simples exercício de respiração.
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