Rei Salomão: entre o céu e o inferno
Rei Salomão é uma figura famosa e controversa, ligado aos mistérios divinos e outros nem tanto assim. Salomão foi um rei de Israel filho do heróico David com Bate-Seba, “ungido” e escolhido para ser o sucessor de Davi desde o seu nascimento, governando por cerca de 40 anos por volta de 970 a.C. Famoso por provérbios bíblicos, é também o criador da goétia, sistema mágico e ritualístico utilizado para invocação de 72 espíritos conhecidos no meio ocultista como goécios.
“Há mais mistérios entre o céu e a terra do que pode imaginar nossa vã filosofia.”
Salomão é sempre lembrado por sua sabedoria e pela riqueza monumental de sua corte e seus tesouros, além de lendas e grandes feitos que fizeram dele uma das figuras mais conhecidas da história.
Vamos saber mais sobre essa figura fascinante?
As lendas e feitos salomônicos
Salomão foi o rei responsável pelo famoso julgamento entre duas mulheres que alegavam ser mãe de um bebê, muito retratado no cinema e séries televisivas. Para resolver o problema de quem era a verdadeira mãe, Salomão teve uma ideia inteligente, porém, inusitada: ordenou que cortassem a cabeça do bebê ao meio. Ele esperava que, com essa sentença um tanto cruel, a verdadeira mãe da criança tomada pelo amor incondicional materno, jamais permitiria essa atrocidade e abdicaria da criança. Assim, a mulher que se opôs à mutilação e morte do bebê foi considerada a verdadeira mãe.
Salomão foi também o responsável pela construção de um dos templos mais famosos da história, o Templo de Salomão. De acordo com a bíblia hebraica, o Templo de Salomão, também conhecido como Primeiro Templo, foi o templo sagrado construído na antiga Jerusalém, dedicado a Javé, em cujo interior habitava a também muito conhecida Arca da Aliança. A arca é descrita na bíblia como o objeto em que as tábuas dos dez mandamentos e outros objetos sagrados teriam sido guardados, como também veículo de comunicação entre Deus e seu povo escolhido. Foi utilizada pelos hebreus até seu desaparecimento, que segundo especulações, ocorreu na conquista de Jerusalém por Nabucodonosor.
Não há certezas acerca da existência da arca, embora este seja um artefato muito procurado ao longo da história e tema de discussões entre pesquisadores e historiadores. Há quem acredite que a Arca da Aliança foi levada para a Babilônia junto com os demais objetos sagrados do templo, porém, não há evidências históricas que comprovem sua localização. De qualquer modo, ela tem sido um dos tesouros arqueológicos mais cobiçados pela humanidade e inúmeras expedições à Mesopotâmia e à Palestina foram realizadas em sua busca, todas sem sucesso.
Esse tesouro perdido foi retratado em filmes e outras produções, mas destaca-se como a mais relevante delas o longa Indiana Jones e Os Caçadores da Arca Perdida, dirigido pelo cineasta George Lucas. Além da arca, outros tantos mistérios envolvem o Templo de Salomão até os dias de hoje, como o posicionamento pedras gigantescas que foram cortadas de modo desconhecido pela ciência atual, além de móveis, utensílios e estruturas arquitetônicas que desafiam historiadores.
Entre as narrativas lendárias, encontramos também histórias sobre o anel mágico de Salomão, que lhe conferia poderes sobrenaturais que tornaram possível a construção do mítico Templo de Jerusalém, obra cercada de mistérios e episódios fantásticos. Relatos dão conta também que o Rei Salomão possuía magnífica e incrível nave voadora, sua “carruagem celeste”, que teria inspirado a concepção dos tapetes voadores que vemos hoje em dia em desenhos animados.
O monarca teria, ainda, realizado expedições marítimas que em parceria com o rei de Tiro (Fenícia), teriam alcançado as terras da América do Sul. Possuía grande conhecimento sobre astrologia e tantas outras ciências, fatos inexplicáveis para um homem de seu tempo.
São relatos impressionantes e que fazem de Salomão uma criatura sobre-humana, fazendo com que muitos atribuam a ele uma condição extraterrestre ou alguém que, no mínimo, mantinha contato com essas entidades.
Salomão – Mestre dos Magos
Salomão, apesar de ser uma figura do antigo testamento, tinha um lado oculto muito forte que não é retratado na bíblia. Era considerado um mestre entre os magos, que atribuem extrema importância à ciência contida nas famosas Chaves de Salomão, testamento do rei a seu filho Roboão, no qual registra o conhecimento da realidade metafísica da natureza e suas potências: anjos, gênios, demônios que podem ser invocados a fim de auxiliar o homem em operações de magia.
“Lembre de Deus em tudo o que fizer e ele lhe mostrará o caminho certo.”
Para esotéricos de várias tendências, Salomão era um “iluminado”, um “iniciado” nos mistérios da tradição mágica, o que explicaria grande parte dos enigmas que envolvem os feitos do rei.
O episódio da “graça da sabedoria” que Salomão recebeu de Deus não é muito explorado na bíblia e não transmite a grandeza dos poderes mágicos que ele também teria recebido diretamente do criador. Já na escritura das Chaves de Salomão, fica evidente que rei foi contemplado não apenas com o saber das coisas visíveis, mas que também teve acesso aos segredos ocultos do mundo. O fato é que, mago ou não, Salomão era uma pessoa muito além do comum e que expressou sua grandiosidade de diferentes formas.
Goétia e os 72 demônios
Em termos mágicos, a goetia é a principal herança salomônica e fez dele um grande mestre entre os ocultistas. Antigos textos apócrifos registram a lenda de que Salomão desenvolveu por graça angélica, um sistema que lhe dava controle e poderes sobrenaturais sobre os arquidemônios da Terra e por extensão sobre todos os espíritos malignos governados por eles. Ele teria escravizado 72 demônios e os forçado a construir o templo em honra a Deus.
“Querer sem temer e sem desejar é o segredo da vontade onipotente.”
A Arte da Goécia, geralmente chamada apenas de goetia, encontra-se na primeira parte das Chaves de Salomão. Ali, são descritos todos os 72 espíritos infernais que podem ser conjurados, bem como como todos os detalhes dos instrumentos e métodos que supostamente foram desenvolvidos e usados pelo próprio Salomão. Mas existem outras quatro partes: Ars Theurgia-Goetia, Ars Paulina, Ars Almadel e Ars Notoria, que descrevem em mais detalhes as entidades, contam como eles foram invocados e quais os símbolos usados para prendê-los. Estes 72 espíritos são também conhecidos como “daemons” e, apesar de serem 72 entidades, há 76 “sigilos” ou carântulas de evocação, pois quatro dos demônios possuem dois sigilos.
Muitos acreditam que parte do poder e da sabedoria de Salomão teriam origem nestes 72 seres, não tendo chegado até ele como uma graça divina. Diz a história que ele teria conseguido atrair e prender dentro de um vaso de bronze esses espíritos, que a partir desse momento passaram a obedecê-lo, tendo ele controle total sobre os seres. Selado com símbolos especiais, o vaso nunca poderia ser quebrado pois poderia libertar os demônios.
O vaso daria a Salomão uma série de poderes: obter informações dos mais próximos, destruir totalmente os inimigos, ouvir e entender a natureza, encontrar tesouros ocultos e curar doenças. Por isso, o vaso tornou-se, assim como a Arca da Aliança, um objeto procurado por arqueólogos e magos, interessados em adquirir o poder conquistado pelo rei.
Ferramentas usadas na goetia
Os rituais de invocação e conjuração dos seres envolvem muitos acessórios e ritos, entretanto temos alguns que são fundamentais:
Hexagrama
Também conhecido como selo, o desenho é colocado sobre uma roupa branca nova para fazer o daemon se manifestar e funciona também como amuleto.
Anel mágico
Além do amuleto, um anel de ouro ou prata é consagrado e combinado com o amuleto. Eles protegeriam dos possíveis ataques dos daemons, e, quando apontado contra eles, os obrigaria a realizar qualquer pedido ou desejo.
Vaso de cobre
Depois de controlar os demônios, Salomão teria usado um vaso de cobre e o selado com símbolos especiais, onde cada um funcionaria como uma fechadura para cada ser. Se ele não obedecesse, o selo seria destruído e ele ficaria preso pela eternidade.
Existem mesmo demônios?
Bem, isso depende muito. Dentro da concepção judaico-cristã, Salomão teria sim evocado demônios, seres malignos do universo espiritual que seriam, nesta ótica, rejeitados por Deus e serviriam a Lúcifer. Mas isso somente pela ótica cristã, que acredita que exista um inferno, morada dos mortos condenados por seus pecados ao sofrimento eterno.
A origem do termo é latim: infernum, que significa “as profundezas” ou o “mundo inferior”. Seria o local comandado por Lúcifer, o anjo caído que desafiou Deus. Quem nasceu em berço cristão sempre ouve que só existem 2 caminhos a seguir: um nos levaria ao céu, à graça divina eterna, ao paraíso, e o outro, ao inferno. Nesta tradição, Deus é julgador, vingativo e pouco misericordioso, nos dando uma única chance de existir e que pode nos levar ao sofrimento eterno da condenação infernal, sem a chance de perdão ou uma nova oportunidade. Aliás, aí está o cerne cristão: o pecado. E quase tudo é pecado. Deve-se temer a Deus, levar uma vida quase monástica, jamais cultuar nenhuma outra fé e aceitar Jesus, caso contrário, danação eterna será o seu destino. Pois bem, só existem demônios se existir O Diabo, chefe de todos os outros demônios, que conhecemos como Lúcifer.
Lúcifer era um querubim da guarda que sentia inveja de Deus e desejou ser igual a ele, o que provocou sua expulsão do paraíso pelo criador. Porém, quando foi expulso, ele trouxe consigo um terço dos anjos de Deus e seriam estas criaturas que habitam o inferno, responsáveis por todo mal no mundo e, no caso, alguns deles passíveis de invocação pela goetia.
“Não há necessidade de grelhas, o inferno são os outros”
A crença em demônios como seres maléficos e satânicos é uma concepção religiosa. Obviamente que o mal existe e espíritos deformados moralmente tem seu lugar no astral, porém, a casa deles não precisa ser o inferno tradicional como conhecemos e dificilmente eles possam ser invocados, aprisionados e escravizados para realizar desejos humanos.
Então, a percepção de evocação de demônios da goetia e até mesmo a existência deles vai depender muito da crença religiosa e espiritual de cada um. Que Salomão provavelmente tinha contato com entidades não tradicionais é bem possível. Mas a classificação demoníaca que é atribuída a eles é uma construção histórica e religiosa.
Você tem coragem de tentar comunicação com algumas dessas 72 entidades?
Eu, pelo sim pelo não, prefiro endereçar meus pedidos ao reino divino e angélico, acreditando que a vontade de Deus é feita mesmo quando não sou atendida.
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